quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A mamã é médica #4

O marido que frequenta este blogue escreveu acerca da sua fabulosa técnica de segurar chuchas: "A técnica consiste em agarrar a pega sem jamais tocar na parte reservada à Rita. É uma coisa só ao alcance dos verdadeiros profissionais. A não ser que o herpex simplex nãoseiquêsex seja recordista do salto em comprimento nas Olimpíadas Virais, estou relativamente confiante da minha inocência quanto à última maleita da minha filha. Até porque tenho pelo menos três excelentes álibis com menos de um metro e meio cá em casa."

Pois, caro esposo, tenho a dizer-lhe que, deixando de lado o facto de obviamente não haver qualquer hipótese de confirmar qual foi a causa da primo-infecção herpética da Rita (infecção inicial) e de eu me estar claramente a meter consigo, o vírus Herpes simplex 1 (causador do herpes labial comum) é muito  contagioso. E, já agora, muito frequente, pelo que 80-90% dos adultos portugueses são portadores do vírus, ainda que nunca tenham detectado vesículas típicas na sua pele ou mucosas. E os álibis que refere não se confirmam pois o nosso viral amigo já abancou nos neurónios dos seis habitantes da nossa casa (o vírus é neuroinvasivo e fica latente nas células nervosas, escondendo-se do sistema imune, sofrendo esporadicamente - ou não - episódios de reactivação).

Quer isto dizer que, com os orifícios que as novas chuchas têm para os bebés respirarem melhor e as propriedades escorregadias que a saliva (veículo de contágio do vírus) tem (não, não estou a dizer que se baba, apesar de haver uma relação comprovada entre a infecção pelo Herpes simplex e a Doença de Alzheimer), se quer ter a certeza de não contagiar mais nenhum bebé é melhor abandonar essa técnica inovadora. Uma vez que o vírus se transmite mais frequentemente por contacto directo da pele infectada ou pela saliva as outras causas de contágio mais frequentes são o beijo e a partilha de objectos pessoais (batons, escovas de dentes) ou copos/talheres.

Mas não se recrimine. O contágio ocorre, na esmagadora maioria dos casos, na primeira infância, pelo que a Rita, a viver nesta casa 100% infectada, iria receber a visita do herpezito mais tarde ou mais cedo. E agora, uma vez que a erradicação não é possível, temos que investir (como fazemos com os outros miúdos) em soporíferos para o vírus, para evitar que este acorde e provoque reactivações. São muitas as razões que parecem estar relacionadas com a reactivação: gripe ou outras infecções, febre, stress, exposição solar ou a frio intenso, alterações hormonais durante a menstruação ou gravidez, avulsões dentárias, ingestão de certos medicamentos ou alimentos... Por isso as regras básicas de promoção da saúde, que o nosso secretário de Estado recentemente referiu e que foram tão mal percebidas, também servem para evitar os surtos herpéticos. Mas isso são outras histórias.

Fiquemo-nos por lavar bem e frequentemente as mãos, usar protector solar, reduzir o stress, não partilhar objectos pessoais e deixar-mo-nos de beijoquices a pessoas que não conhecemos.

5 comentários:

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    1. Cara Hélia. Há uma pequena confusão com vírus da mesma família. O vírus causador do herpes labial comum é o Herpes simplex 1 que é da mesma família (Herpesviridae) do vírus Varicella-zoster responsável pela varicela e a vulgar zona. Também o vírus Varicella-zoster, depois de desencadear a infecção primária = varicela, fica latente no nosso corpo em estruturas nervosas, sofrendo em 10-20% dos casos reactivação (por instalação de situações de imunossupressão) desencadeando a doença vulgarmente conhecida por zona.

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  2. based evidence parenthood! não há como contrariar!!

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  3. Eu acho que a reactivação foi causada pelo stress de ter de beber o leitinho toda torta... de qualquer das maneiras a culta é do pai (eh, eh, eh)

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  4. Ah, odiei estudar a família herpesviridae em infecciosas... Embora em animais, haha :)

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