segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Regras universais sobre o que fazer com a chucha quando ela cai ao chão

A propósito deste post, uma leitura coloca a pergunta: "E quem passa [a chucha] por água?"

Eu agradeço a questão, mas a leitora manifestamente desconhece as regras universais da relação entre a higiene da chucha e o número de filhos, das quais já me referi num lado qualquer que não encontro. Por isso, aqui vão elas outra vez:

1. Quando a chucha do primeiro filho cai ao chão, nós esterilizamos a chucha e depois voltamos a colocá-la na boca da criança.

2. Quando a chucha do segundo filho cai ao chão, nós passamos a chucha por água e depois voltamos a colocá-la na boca da criança.

3. Quando a chucha do terceiro filho cai ao chão, ela vai directamente do chão para a boca da criança.

4. Quando a chucha do quarto filho cai ao chão, chamamos um dos irmãos para a apanhar.

A partir do quinto filho já não sei como é.


Um novo blogue a partir de amanhã

Os astros devem ter percebido que eu fazia 40 anos em 2013 e resolveram presentear-me com uma série de mudanças radicais na minha vida profissional. A crise dos 40 costuma bater nas pessoas a nível pessoal - dúvidas existenciais, a morte lá à frente, a juventude lá para trás, o que é que eu fiz da minha vida?, e patati, patatá. Pois a mim, em vez de me bater existencialmente (pelo menos até agora), bateu-me profissionalmente: saí do Correio da Manhã, entrei no Público, saí da Time Out, tornei-me freelancer, e agora chegou a vez deste blogue mudar.

Após cerca de um anexo com o Pais de Quatro na Clix, eu e a Teresa decidimos mudar para a Sapo. Sempre fomos tratados com muita simpatia na Clix - vai daqui um abraço e um obrigado para o Roberto -, mas no meio deste turbilhão de mudanças decidimos também imprimir um novo fôlego ao blogue junto de uma nova equipa. Assim, as caríssimas leitoras e os caros leitores passam a encontrar-nos aqui:


Por causa de todas estas mudanças o Pais de Quatro tem estado bastante gaguejante nos últimos tempos, mas agora irá certamente regressar cheio de força.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Sobre a hipersexualização das crianças

O Público traz hoje uma notícia interessantíssima sobre a tentativa de interditar em França os concursos de beleza para miúdas com menos de 16 anos. A medida já foi aprovada pelo Senado francês e terá agora de ser votada favoravelmente pelos deputados da Assembleia Nacional para entrar em vigor. A iniciativa é de uma antiga ministra e actual senadora, Chantal Jouanno, que tem vindo a levantar a questão da “hipersexualização” das crianças, sobretudo depois da enorme polémica envolvendo a jovem francesa Thylane Lena-Rose Blondeau e a sua produção fotográfica para a Vogue de Dezembro 2010/Janeiro 2011.

Sendo eu um liberal, considero que todas as interdições devem ser profundamente ponderadas, até porque está aqui em causa uma limitação à liberdade dos pais, e eu desconfio sempre que um qualquer Estado nos quer ensinar como nos devemos comportar com os nossos filhos. Mas neste caso, estou tentado em concordar com a medida de Jouanno. Felizmente, em Portugal não existe aquela tradição americana (e, pelos vistos, francesa) dos concursos de beleza infantil - os child beauty pageants -, que mais parecem inacreditáveis freak shows para polir o ego dos paizinhos de meninas loiras e de olhos azuis. Mas a questão da hipersexualização das crianças é uma realidade incómoda, e o exemplo da produção de Thylane Blondeau nas páginas interiores da Vogue, feita quando ela tinha nove anos, é um bom exemplo. Isto, mesmo para um liberal, é ir além dos limites do bom gosto:





Claro que eu odeio fundamentalismos nesta matéria, e há um politicamente correcto mais ou menos obsessivo, muitas vezes alimentado pelos casos de pedofilia, que a única coisa que serve é para escamotear a complexíssima questão da sexualidade no fim da infância e na entrada da adolescência. O tema é, aliás, tão sensível, que é quase impossível debatê-lo no espaço público sem se ser acusado disto ou daquilo. O caso da jovem Thylane Blondeau é particularmente interessante, porque é como se a tal hipersexualização não lhe pudesse ser arrancada da pele, mesmo quando está apenas a olhar para a câmara, como nesta foto (ainda que a posição daquele ombro não seja propriamente inocente por parte do fotógrafo):


Mas isto é conversa para outra altura. O que interessa aqui é que, complexidades etário-sexuais à parte, há códigos de imagem na moda que estão bem estabelecidos, e objectos que por si só estão hipersexualizados - e que por isso não faz qualquer sentido serem usados por uma criança em sessões fotográficas: lençóis com peles de leopardo, vestidos dourados com decotes intermináveis, sapatos com saltos agulha, baton vermelho-sangue. Sim, esta foi uma produção de muito mau gosto da Vogue. E no entanto, bastava a revista ter feito no interior aquilo que fez nesta capa:


Isto é uma criança a fazer de criança. Aquilo lá em cima é uma criança a fazer de sex symbol para adultos. Tal como pô-la em cima de um palco a competir com uma dúzia de meninas pelo troféu de A Mais Bonita é uma transferência das categorias estéticas dos pais para cima de miúdos que se estão naturalmente nas tintas para tudo aquilo se não forem espicaçados pelos progenitores. Portanto, proíba-se. As crianças têm o direito de ser apenas crianças.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Fish kissing

A nossa filha Carolina costuma tapar os olhos, envergonhada, quando apanha os pais a beijarem-se. Uma das últimas vezes resolveu classificar o nosso beijo como o de um peixe. E exemplificou:




Podia ser pior. Temos que ver a coisa pela positiva. O Tiago Guillul, pastor baptista panque-roquer, tem uma música chamada Beijas como uma Freira, e eu lembro-me de ter ouvido a sua mulher Ana Rute Cavaco a contar na televisão, muito embaraçada, que uma das filhas cantava habitualmente as canções do pai na escola. Mal por mal, antes beijar à peixe do que à freira.


O fim de um ciclo (e o princípio de outro)

Hoje é o meu primeiro dia oficial como jornalista freelancer. Por razões que não interessa estar aqui a explicar, até porque custa um bocadinho falar disso, resolvi deixar o cargo de director-adjunto da Time Out, empresa que ajudei a fundar e a trazer para Portugal em 2007. Desde que comecei a trabalhar no projecto até ao dia em que decidi sair foram mais de sete anos de muito empenho, muitas vezes nadando contra a corrente: a quantidade de gente que nos disse que a Time Out Lisboa nunca iria vingar foi bastante maior do que aquela que nos disse para seguir em frente.

Mas a verdade é que a revista se impôs, com um público fiel e um estilo muito próprio. Fomos capazes de criar uma marca de sucesso, que faz hoje semanalmente parte do mapa genético de Lisboa - mas não só: a revista também está no Porto (com periodicidade mensal), tem várias edições especiais para turistas e para miúdos, organiza umas festas de arromba, e tanto, tanto mais.

Mas, sobretudo - e é aquilo de que mais me orgulho -, conseguimos criar uma equipa coesa e muito unida, onde a amizade e a solidariedade foram frequentemente o combustível que permitiu ultrapassar o cansaço e a falta de meios. Sempre disse que essa era a parte mais fascinante de se ser uma espécie de empresário: reunimos pessoas que por causa de nós se conhecem, ficam amigas para a vida, começam a namorar, têm filhos. E depois, passados alguns anos, quando olhamos para trás, percebemos como de uma ideia muito simples - fundar a Time Out Lisboa - nasceu uma multiplicidade de ligações e de relações, que sem esse mini-Big Bang inaugural nunca teriam chegado a acontecer.

É uma maneira muito bela, e muito profunda, de tocar nas vidas dos outros. E no meio de tudo o que fica para trás, é disso que vou sentir mais falta.



Capa da primeira Time Out Miúdos, com ilustração do Bernardo Carvalho

Carrossel de gastroenterites

Nós sabíamos que isto ia acontecer - assim que a Rita pusesse um pezinho no infantário, os vírus e as bactérias iriam atirar-se a ela como cães a um osso. É o que dá estar um ano enfiada no ambiente protegido da sua casa e depois ser lançada (literalmente) aos bichos. No início do mês, ao fim de dois dias já estava com uma laringite. Depois nós fomos para Nova Iorque e ela recuperou alegremente em casa dos avós. No final da semana passada, regressou ao infantário. Ao fim de dia e meio estava com uma gastroenterite. E das boas - a dita cuja já deu cabo de mim, da mãe e do Gui (até ver).

É um carrossel de gastroenterites que invariavelmente se transforma num carrossel de noites mal dormidas, a acorrer a um porque vomitou a cama, a outro porque a diarreia saltou as barreiras da fralda, a mais um porque está com pesadelos, e juntando a isso o facto de eu e a Teresa estarmos com aquela sensação de termos sido atropelados por uma manada de bisontes. Ah, como é linda a paternidade.

A única coisa boa de estar doente é nós termos mimos extras, seja da esposa, seja dos filhos, em formato de torradas, chá quente ou derivações artístico-queriduchas. Ontem a Carolina viu-me tão em baixo que resolveu dar-me esta prenda, que ela desenhou no iPad:


Fofinha, não? Mas, claro, se isto já está assim com a Rita e ainda estamos no Verão, nem quero pensar no que vai ser o nosso Inverno. Acho que tenho muitos desenhos para receber...

sábado, 14 de setembro de 2013

Concerto em bicos dos pés

A Rita tem imensa sorte. Isto de ser a quarta filha e crescer com uma irmã e dois irmãos de idades muito próximas mas com interesses muito diferentes, aumenta-lhe imenso a paleta de descobertas em tenra idade. Com um ano acabado de fazer, já se consegue perceber bem que a música é uma das coisas que mais lhe interessa. É irresistível observá-la a abanar o capacete ou vê-la de dedinho no ar quando ouve qualquer melodia, e toda a família sabe, pelo entusiasmo da sua reacção, qual é a música preferida da Rita quando à noite cantamos ao Jesus.

Geralmente, quando me sento a estudar piano com a Carolina, a Rita fica ao meu colo e tenta freneticamente chegar às teclas. Fartamo-nos de rir com as suas peças desajeitadas mas muito empenhadas. Agora que ela está mais crescida e já explora a casa toda com independência, não precisa do colo para dar aso à sua criatividade. Basta esticar-se e iniciar o seu mini-concerto como qualquer pianista profissional - sem olhar para o teclado.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

In every age, O Lord, you have been our refuge

O salmo de ontem, que cantámos na catedral de St. Patrick, no dia dos 40 anos do João.


40

O homem da minha vida fez ontem 40 anos!



Já não usa os oculinhos à Harry Potter (que usava muito antes deste ser criado), nem escreve cartas com 50 folhas para aproximar a distância que nos separava (eu vivia em Castelo Branco e ele em Portalegre).

Já não passa o dia inteiro com o saco do Público na mão (era reconhecido na faculdade por isso e os pais encheram uma arrecadação com os exemplares que guardava religiosamente desde o número 1), nem usa o seu colete cheio de bolsos com o qual dava asas ao desejo de vir a ser jornalista.

Os óculos acompanharam as tendências e a versão app do Público poupa as florestas do planeta, mas ele é hoje para mim muito mais do que eu podia imaginar quando o conheci há 23 anos: o meu marido, o meu namorado, o meu melhor amigo, o meu maior crítico, o pai dos meus quatro filhos, o meu amante, o meu herói, o meu punching bag. Amanhecer ao seu lado continua a ser um dos maiores prazeres desta vida e adormecer no seu abraço volatiza qualquer problema que me aflija.

O dia acabou com o João a apagar as 40 velas num muffin de chocolate. Ia deitando fogo ao hotel a acendê-las, mas valeu a pena. Aquele bolo éramos nós: um espaço pequeno onde cabe tanta, tanta coisa.





quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O-Ohhhhh 2!

Depois da descoberta das estantes de DVDs, a Rita apaixonou-se entretanto pelos Playmobil do papá dos manos. Podemos depositá-la na outra ponta da casa que, em segundos, ela lá vai rabinhando até ao quarto do Tomás e do Gui, para logo de seguida, qual Godzilla, espalhar o caos pelas redondezas. É como se tivesse um GPS na cabeça que lhe indica os melhores caminhos para chegar à asneira. E ela utiliza-o na perfeição.

Rita Godzilla prepara-se para atacar um forte do faroeste. As armas dos pobres 
soldados nada podem contra as investidas do terrível monstro cor-de-rosa.

Rita Godzilla vira do avesso uma canoa, com um infeliz índio lá dentro, 
perante a impotência da sua tribo. O que lhe irá acontecer?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Parabéns, Ritinha!

A nossa Ritinha fez um ano na sexta-feira, e para que todos os manos e avós (biológicos e de coração) pudessem celebrar com ela o aniversário, viajámos desde Lisboa até aos Montes da Senhora (200 quilómetros) e dos Montes da Senhora até à praia da Oura, no Algarve (450 quilómetros). Foi uma verdadeira maratona automobilística - mas o acontecimento assim o exigia.

Desta forma, a Rita teve direito a duas festas, a dois bolos e a duas velas (uma delas em formato app, porque na família não há fumadores e ninguém nas proximidades tinha um isqueiro para acender a vela), além de beijos e mimos à farta.

A Rita celebra o primeiro aniversário nos Montes da Senhora às 15 horas

A Rita celebra o primeiro aniversário na praia da Oura às 22 horas

Os manos estavam verdadeiramente orgulhosos da sua mana bebé e vibraram com o dia como se fosse o seu próprio aniversário. Houve prendas fofas e cartazes super-elaborados.


Só por isso os erros de sintaxe foram perdoados.


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O tamanho conta

Algumas reacções a este post estão a fazer-me sentir um terrível pervertido. Por causa disso até fiz ontem à noite um teste à excelentíssima esposa com a capa do Lolita, antes de ela ler o post. E a verdade é que só à segunda é que a Teresa ligou as paredes às pernas e o tecto às cuecas brancas de uma menina. É estranho como para umas pessoas aquilo é absolutamente do domínio do óbvio, enquanto outras têm de esfregar os olhos várias vezes para ver o que lá está - e ainda assim não ficam completamente convencidas.

Será uma coisa gajo-gaja, dentro daquela lógica "os homens estão sempre a pensar naquilo"? Provavelmente por eu estar sempre a pensar naquilo, lembrei-me de um vídeo de Ze Frank que vi há tempos, chamado "A Song for Freud", cujo refrão pode ser traduzido por "se procurares bem, encontrarás uma pila praticamente em todo o lado" - e as imagens do vídeo provam a tese com alguma eficácia. Ora vejam:


Como o próprio Ze Frank aconselha, "não cantem isto nos elevadores" - um risco sério, porque o raio da canção é daquelas que fica mesmo no ouvido.

Mas tendo eu dúvidas sustentadas sobre a tese "eles só pensam em sexo" versus "elas só pensam em filhos" (embora eu me queixe bastante desta segunda parte - sobre a primeira, a minha mulher que responda), prefiro deixar a justificação mais do lado da física e da óptica do que do lado da psicanálise. Esqueçam o Freud, portanto. O que se passou, provavelmente, é que coloquei as leitoras deste blogue demasiado próximas da parede. Ou seja, assim a capa percebe-se com dificuldade:


Mas assim já se percebe muito melhor:


Que é um outro modo de dizer: sim, o tamanho conta.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Lolita nas paredes

O Lolita de Nabokov é um eterno espectro sobre a cabeça da humanidade, um livro onde a absoluta imoralidade é elevada à condição de arte (Pedro Almodóvar fez o mesmo connosco em Fala com Ela, onde a violação de uma mulher em estado de coma é transformada à nossa frente num profundo acto de amor). Agora, um novo livro, chamado Lolita - The Story of a Cover Girl: Vladimir Nabokov's Novel in Art and Design (sai dentro de dois dias e já está disponível em pre-order na Amazon inglesa), analisa as subtilezas do tratamento gráfico que as capas do livro foram tendo ao longo do tempo, e convoca uma série de designers para fazerem novas propostas para o livro de Nabokov. Há várias ideias originais, mas uma delas é do outro mundo, e talvez seja mesmo a primeira vez que uma capa está à altura da obra-prima original. É assinada pelo designer britânico Jamie Keenan:


Quão pervertido é preciso alguém ser para ver as pernas e as cuecas de uma miúda de 12 anos no canto de um quarto? Não faço ideia. Mas posso garantir-vos que nunca mais vou olhar para um tecto da mesma forma. A melhor arte é isso, suponho eu - altera-nos a forma como vemos certas parcelas do mundo. Já encomendei o livro, como é óbvio. E vou passar a seguir o trabalho deste senhor Keenan com a maior atenção.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O "enlarge your penis" vive!

É só para dizer que acabei de receber um mail na caixa de spam que se oferece para aumentar o meu pénis (até oito centímetros!) e fui invadido pelo doce sabor da nostalgia, tal como se subitamente uma fragrância inesperada me remetesse para uma doce memória de infância. Há vários anos que ninguém se oferecia para me aumentar o pénis (salvo seja), para minha grande tristeza. Hoje em dia o spam só me propõe negócios milionários com senhores do Zimbabwe desde que eu faça uma qualquer transferência financeira, ou então simula mails falsos de bancos para conseguir acesso aos meus dados pessoais - e isso não é de todo a mesma coisa. É o dinheiro a ganhar cada vez mais território ao sexo. Não me parece bem.

Eu quero o bom e velho spam, que promete extraordinários melhoramentos à minha performance sexual. Desconheço o senhor que me enviou este mail, mas posso garantir-vos que é um "enlarge your penis" à moda antiga, onde nem sequer falta o depoimento entusiástico a que um homem diminuído tem direito, desta vez por Edvado Silva, 24 anos, natural de Mato Grosso:

Comecei os exercícios há dois meses e meio e já noto um aumento de 2 cm no comprimento e 1 cm na grossura de meu pénis. Minha namorada, que não acreditava no programa, é quem faz as medições. Estamos muito satisfeitos com estes resultados já obtidos. Quero parabenizar e agradecer a equipe por oferecer um tratamento que realmente funciona.

Ah, que maravilha. Gosto sobretudo da parte em que ele garante que é a namorada (que apesar de tudo nunca o abandonou) "quem faz as medições", ainda por cima logo ela, "que não acreditava no programa", como se fosse um membro do governo civil particularmente céptico sobre a legalidade de determinado concurso. Tudo isto é muito bonito. Quero, pois, aproveitar também eu para "parabenizar" os senhores que tiveram a amabilidade de me tentar intrujar com tanta simpatia. Já tinha saudades.

A indecisão continua

O bom desta coisa chamada World Wide Web é que de vez em quando as pessoas fazem pesquisas e descobrem posts do tempo da Maria Caxuxa. Uma leitora perguntou-me há dias, na sequência desta entrada de Janeiro sobre a escola pública versus escola privada, se nós já nos tínhamos decidido em relação a esse assunto. Pois a resposta é... não. Ainda não nos decidimos. A Carolina vai entrar agora para a quarta classe e vamos ver como correm os primeiros meses - a nossa dúvida sempre se pôs apenas para o quinto anos.

A minha primeira opção continua a ser a escola pública, 50% por razões ideológicas (gostava que os meus filhos crescessem em escolas públicas, e não numa espécie de bolha social para crianças privilegiadas, como é o caso das melhores escolas privadas), 50% por razões financeiras (quatro filhos é muito filho para ter a estudar em simultâneo em escolas privadas). Mas tanta a nossa vida familiar, como a nossa vida profissional, não está com o necessário nível de previsibilidade que nos permita tomar opções a tão longo prazo. À boa portuguesa, é possível que vá ser tudo ao desenrascanço, e à última da hora. Vamos ver.

sábado, 24 de agosto de 2013

"Deve ser o champô que você tá usando"

Este vídeo já é de Março, mas só agora é que uns colegas meus do trabalho mo mostraram. E é tão bom que apetece ir a correr ao supermercado. Para quem não conhece, aqui vai:

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Agarrem-me, que eu dou cabo dela

Só quero fazer o seguinte comentário a propósito do post anterior:


O-Ohhhhh!

Depois de três semanas de férias em família, a Rita nem parece o bebé que partiu de Lisboa no final de Julho. Está super desenrascada, rabinha a casa rápida e estilosamente e deixa bem claras as suas preferências, não se deixando enganar facilmente com uma chucha na boca ou um colinho fofo.

Mal chegámos a casa, enquanto nos atarefávamos a trazer as malas do carro e a preparar o jantar, deixámos a Rita no chão da sala a matar saudades de alguns dos seus brinquedos. Em menos de nada dei com ela no corredor a tirar os DVDs das prateleiras, com notável entusiasmo.



O-Ohhhh! Acho que o papá vai ter um colapso quando der conta que a Rita já descobriu a técnica de sacar-tudo-das-prateleiras-a-grande-velocidade, adorada pelas crianças mais pequenas. A coisa torna-se mais grave ainda quando o que é sacado da prateleira são DVDs, CDs ou livros do papá. Por sorte, a Rita decidiu começar com os DVDs infantis, em relação aos quais o pai é mais tolerante, e por isso quando ele entrou em casa carregado de malas e deu com a cena, limitou-se a deixar cair a bagagem no chão e a bater o recorde dos 10 metros aos gritos de "Não! Não! Rita má! Rita má!"

Nem quero imaginar o que vai acontecer quando ela chegar à colecção de filmes da Criterion.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Shittens, que é como quem diz, Merdelhitas

É só para dizer que estou quase a fazer anos (40, por acaso) e que uma prenda como esta me parece extremamente útil (apreciem o vídeo, com canção foleira e tudo):


Por 9,95 dólares é possível comprar 20 Shittens, uma luva feita do material das toalhitas que combate esse terrível acontecimento que é a invasão de partes indesejadas do nosso corpo pelo cocó dos bebés - coisa que me acontece para aí duas vezes a cada três mudanças de fraldas.


Com estas luvas o flagelo está terminado. Senhores do Pingo Doce e do Continente: para quando pacotes e pacotes de Shittens (há até uma excelente tradução em português para isto, que aqui deixo gratuitamente: Merdelhitas) nas prateleiras dos supermercados portugueses? As minhas unhas estão ansiosamente à espera.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Rabinhar

Os meus filhos nunca foram muito de gatinhar, e um deles até passou directamente do sentar para o andar. Mas a Rita é a primeira a desenvolver uma técnica original, a que podemos chamar de "rabinhar". Rabinhar não é andar nem é gatinhar - é movimentar-se arrastando o rabo pelo chão, numa sofisticada articulação de pernas e braços, que até poderia ser motivo de orgulho para um pai não fosse a opção ser - como dizer? - um bocado parva. Afinal, a Rita move-se muito mais devagar e gastando muito mais energia do que se simplesmente gatinhasse (até porque já percorre longas distâncias rabinhando), e não se percebe bem porque continua a varrer o chão com a fralda.

Já lhe perguntei isso mesmo - "Rita, por que não gatinhas?" -, pois é mais do que altura para gatinhar (no próximo dia 30 ela vai fazer um ano). A Rita respondeu: "Bágágádádábá", alojando-me três perdigotos no olho direito. "Bágágádádábá" significa, numa tradução optimista, que a Rita entende que andar de quatro é um bocado animalesco, preferindo arrastar o rabo pelas várias assoalhadas a ter de andar com ele empinado à vista de todos. É certo que não é uma opção muito prática, e que às vezes - visão particularmente desconfortável - parece que anda de cadeira de rodas (sem a cadeira). Mas enfim: podemos sempre admitir que é um esforço extra, em nome do estilo e da classe.

Para quem não está a ver bem a ideia, a técnica que ela usa parece-se mais ou menos com isto (mas com a perna esquerda mais esticada):


Só que a um pai cinéfilo é inevitável que faça lembrar isto:

"Freaks" (1932), de Tod Browning, o mais bizarro filme de todos os tempos

Diálogos em família #20

Papá - Eh pá, vocês andam tão chatos que qualquer dia vendo-vos.
Tomás - Por quanto é que nos vendias, papá?
Papá - Não sei, Tomás. Mas era barato.
Gui - Tu podias vender-nos, papá. Mas a mamã não deixava.
Papá - Aposto que a mamã vos vendia se lhe dessem o planeta Júpiter.
Gui - O planeta Júpiter é onde está o Jesus?
Tomás - Não é nada, Gui! O Jesus está em Jerusalém.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Leituras de Verão

"Não há palavras que exprimam o abismo entre estar-se isolado e poder-se contar com um aliado. Podemos conceder aos matemáticos que quatro são dois vezes dois. Mas dois não são duas vezes um: dois são duas mil vezes um. É por isso que, a despeito de centenas de inconvenientes, o mundo acabará por voltar sempre à monogamia."

G. K. Chesterton
O Homem Que Era Quinta-Feira

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

As maravilhas das praias fluviais

Este Verão planeámos uns dias de férias para promover a comunicação interprimos portugueses e irlandeses da mesma idade (a minha irmã mais nova erasmou-se com um simpático irlandês, com o qual tem dois filhos e meio). Fugimos ao reboliço da cidade e das praias concorridas e refugiámo-nos no sossego da paisagem beirã na esperança de a calma envolvente contagiar os miúdos - e, indirectamente, dar sopas e descanso aos progenitores dos primos.

Para refrescar as manhãs resolvemos partir à descoberta das praias fluviais perto da Catraia Cimeira, uma aldeia do concelho de Proença-a-Nova onde os meus pais têm uma casa. Ficámos rendidos aos encantos das praias fluviais. Poder tomar um banho ao som do chilrear dos passarinhos (e não do barulho de uma multidão), estender uma toalha à sombra de uma árvore (e não de um guarda-sol abrasador), ler um livro sob a aragem fresca do campo (sem levar com uma ventania de areia nos olhos), apanhar peixinhos (apesar de não ser fácil convencer os miúdos a libertá-los na hora da partida), coleccionar pedras de várias formas, colher flores silvestres e ervas aromáticas... Mais bucólico não pode ser.

A água não tem a temperatura do Algarve, mas sentimos uma proximidade com a natureza que não se encontra para os lados de Albufeira. E de bónus conseguimos ter fotografias como esta, com o Tomás e o Gui à pesca numa ribeira de água cristalina. É uma fotografia de Agosto de 2013, mas podia ser uma fotografia de Agosto de 1983 (quando eu tinha mais ou menos a idade do Tomás), ou de Agosto de 1893, não fosse o balde de plástico. É como se estivéssemos num tempo fora do tempo. E, no pináculo do Verão, isso só se consegue mesmo no interior de Portugal.

Diálogos em família #19

- Tomás, gostavas de pôr silicone?
- Blhec! Não, Gui! Pôr silicone é pior do que pôr desodorizante nos sovacos.
- Blhec! Com desodorizante crescem as nossas maminhas. Eu não quero ficar com as maminhas da mamã.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

domingo, 11 de agosto de 2013

Relato das férias #2

Quando se está em viagem, a McDonald's é uma das melhores amigas de todos os pais, tanto em termos de carteira, como na capacidade de comer rápido sem ouvir protestos das criancinhas. E em Madrid tivemos três boas surpresas num restaurante McDonald's onde fomos jantar, que bem podiam ser importadas para cá:

1. Desde logo, a preocupação com o glúten é muito maior do que em Portugal. O Tomás tem alguma intolerância, e tanto na McDonald's, como, por exemplo, nos cartazes dos gelados da Frigo (correspondente à nossa Olá), a indicação de "sin gluten" está bem expressa em todo o lado, e tem inclusivamente direito a um ícone próprio.

2. À entrada do restaurante temos informação de desconto para a Associação de Família Numerosas de Espanha, num autocolante com imenso destaque. Outro bom exemplo que deveria ser rapidamente copiado.


3. Adorámos uma das sobremesas de fruta que eles têm para os miúdos: melancia cortada e espetada num pau de gelado. Chamam-lhe Happy Sandía ("sandía" é melancia em espanhol, e dá para fazer um trocadilho com o clássico gelado sundae), e embora os nossos miúdos até não sejam muito de melancia, o resultado é tão giro e inesperado que eles não resistiram. Queremos em Portugal!



sábado, 10 de agosto de 2013

Relato das férias #1

Bom, a actualização deste blogue tem estado uma desgraça. Peço desculpa, mas nada me leva tanto tempo como estar entretido a ser pai. É uma canseira imensa, um trabalho incrível, uma exploração do homem pela criança que deveria ser impedida pela Constituição Portuguesa. Junte-se a isso uma net gaguejante, daquelas que torna proibitivo o upload de fotos, mais os preços do roaming, e o resultado foi este vergonhoso hiato, logo numa altura em que há tanto para escrever. Somos uns bloggers amadores, é o que é.

Voltando à vaca fria: sim, estamos vivos e, durante uns cinco dias, fomos espanhóis. Viajar com quatro filhos de avião em Agosto, para passar férias fora de Portugal, está praticamente fora de questão sem assaltar um banco, por isso agarrámos na nossa linda Sharan, cheia de malas até ao tecto, e metemo-nos a caminho da Catalunha, que fica a apenas 1100 quilómetros de Portalegre, onde está a casa dos meus pais.

Nós queríamos que os miúdos respirassem um ar que não fosse português, e eu queria, sobretudo, que eles tivessem uma experiência para mais tarde recordarem. Eu sou alérgico a 15 dias de férias parado onde quer que seja, e de cada vez que me falam em Algarve os meus cabelos elevam-se em direcções insuspeitas. Praia + Algarve + Agosto = JMT Serial Killer. Só que neste momento também não há pilim para passar duas semanas no Pacífico, a saltar de ilha em ilha.

Donde, a minha tese é esta: uma experiência curtinha mas muito intensa. Mais vale dois ou três dias num sítio out of the box mas que eles adorem, do que 15 dias a comer sandes de atum salpicadas de areia com perseguições regulares por entre toalhas ao homem das bolas de Berlim. O resultado que saiu desta complexa equação foi este sítio:


Ou seja, Port Aventura, o parque de diversões que já foi do estúdio Universal e que fica em Salou, a cerca de uma hora de Barcelona. À ida ficámos uma noite em Madrid, e depois instalámo-nos durante duas noites num dos hotéis do próprio parque, uma óptima ideia da qual não estamos na arrependidos: a diária é bastante cara (cerca de 350 euros por um quarto para seis pessoas, que na verdade era um quarto duplo), mas dá direito a pequeno-almoço, a três dias no parque para os seis, e, sobretudo, estávamos a 100 metros de uma entrada exclusiva para clientes do hotel, o que é um privilégio num parque que fecha à meia-noite (e é à noite que não há filas e dá para aproveitar todas as atracções). Era saltar da montanha russa directamente para a cama.

Comparando com a Eurodisney, onde fomos com a Carolina e com o Tomás há uns quatro anos e meio, o Port Aventura é mais teen e menos criançola. Não conseguimos aproveitar algumas das atracções mais chanfradas (para grande pena do papá) porque exigem pelo menos 1,40 metros de altura (e eles são inflexíveis ao milímetro), coisa que a Carolina ainda não tem. Mas, ainda assim, divertimo-nos bastante e os miúdos adoraram - incluindo o Gui e a Rita, que apesar de tudo tinham um espaço "Rua Sésamo" para eles dentro do parque. Depois faço uma descrição detalhada da viagem, filho a filho. Para já deixo algumas fotografias:

A família numa das atracções para os mais pequenos

A Rita na única coisa em que podia andar em todo o parque (snif, snif)

A mamã e os três filhos mais velhos antes de embarcarem no mui divertido (e molhado) Grand Canyon Rapids

À vinda, enchemo-nos de coragem e enfiámos uma directa de Barcelona - onde passámos mais duas noites, para eles conhecerem a obra do senhor Gaudí - até Portalegre. Mais de dez horas de carro, estoicamente aguentadas pelos quatro miúdos, em boa parte graças à melhor invenção de todos os tempos: o DVD no automóvel.

Mais histórias em breve.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Sim, estamos vivos

Uns mais vivos do que outros, na verdade. Peço desculpa pela falta de actualização deste blogue nos últimos dias, mas a família veio de carro para Barcelona passar umas mini-férias e das três, uma: ou não temos tido wireless, ou a internet anda a passo de caracol (fora de questão carregar fotos), ou então (razão dominante) andamos entretidos a ser pais das oito da manhã à meia-noite. A parte boa é que temos material para cinco posts diários. A parte má é que não temos tido tempo para os escrever. Mas aguardem-nos, que haveremos de dar notícias assim que encontrarmos internet século XXI e gente a quem empurrar os miúdos para cima.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O contrato


Isto que vêem aqui em cima é um contrato, estabelecido entre Carolina Mendonça Tavares e Tomás Mendonça Tavares. Para o caso de alguém não perceber bem a letra, passo a descrever o seu conteúdo:

ACORDO

Dou-te uma pulseira de quatro se depois me deres a tua varinha do Harry Potter.

Ass: Tomás Tavares
Ass: Carol

Ora bem. Uma pulseira de quatro é uma pulseira de quatro fios em plástico colorido. Os fios compram-se nas lojas chinesas e os meus dois filhos mais velhos, entre pulseiras e porta-chaves, hoje em dia não fazem outra coisa. Sendo que a Carolina é mais habilidosa, claro, e controla os meios de produção - daí ser a responsável pela elaboração de tal "acordo", que parece um daqueles contratos de PPP em que uma das partes fica com quase todas as responsabilidades e a outra retira todas as vantagens.

Se repararem bem, o acordo está colado com fita-cola porque depois de o Tomás o ter assinado, para conseguir que a Carolina brincasse com ele, o meu filho n.º 2 tentou rasgá-lo aos bocadinhos (tipo novo governo que se depara com o preço dos swaps) para não ter de lhe dar a varinha do Harry Potter.

Não sei bem o que pensar disto. Eu sempre disse que a minha filha mais velha ia para Direito, tendo em conta a sua capacidade argumentativa e o facto de continuar a inventar desculpas mesmo quando é apanhada em flagrante delito. Acho que isto vem reforçar a minha tese.

O meu único medo, diante de tanto profissionalismo jurídico aos nove anos de idade, é que brevemente venha a sentir necessidade de contratar um advogado para regular a minha relação de parentalidade com a Carolina. Um dia destes ponho-a de castigo e ela mete-me um processo em cima.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Diálogos em família #18

- Papá, o Marcelo e a Judite são namorados?
- Não, Carolina. Que ideia. Porque é que dizes isso?
- Ele está sempre a dar-lhe presentes.

Quatro vezes um filho

Esta é a primeira vez que passamos férias em família com quatro miúdos, e à saída de Lisboa a nossa Sharan estava num estado inacreditável. Não cabia uma agulha no porta-bagagens. Por um lado, tive imensa pena da Teresa ao vê-la organizar as malas todas - vamos estar 20 dias fora de casa, e aquilo são autênticos trabalhos forçados. Por outro, tive imensa pena de mim, por ter subido e descido o meu prédio 32 vezes para enfiar 437 objectos no carro. Os números talvez sejam um pouco exagerados, mas demorei para cima de hora e meia, e pelo simples facto de eu ter conseguido fechar a porta da bagageira merecia que me fosse atribuído um doutoramento honoris causa em Tetris por uma universidade da Ivy League.

Mas claro está, dito isto e tendo eu elogiado a capacidade organizativa da minha excelentíssima esposa, devo dizer que ela nunca simplifica coisa nenhuma. A Teresa está sempre preparada para ter de sobreviver três meses sem água nem alimento se o apocalipse desabar sobre nós. No final, sobre a Terra restarão apenas a família Mendonça Tavares e as baratas. Bom, mas o que interessa para aqui é que a certa altura olhei para o material da praia e vi seis baldes de praia. "Seis baldes de praia?", perguntei eu. Sim, seis baldes: quatro para nós, mais dois para o Daniel e para o Ben, os filhos da maninha dela que chega da Irlanda. E olhem que nós nem sequer vamos para a praia. É só para brincarem numas praias fluviais da Beira Baixa, que nem areia têm. Ah, que tamanha capacidade para amar o próximo - geralmente à custa da minha sanidade mental.

É que, infelizmente, a excelentíssima esposa tem um problema: ela ainda não percebeu que tem quatro filhos. A sério. Eles saíram todos da sua magnífica barriguinha, mas ela não reparou nisso. E, portanto, a Teresa não age como tendo quatro filhos. A Teresa age como tendo quatro vezes um filho. O que não é, de todo, a mesma coisa. Ter quatro filhos, é ter quatro filhos. Simplifica-se, desenrasca-se, eles tomam contas uns dos outros, e está a andar. Ter quatro vezes um filho são para aí 12 filhos; é como se cada um fosse um filho único muito mimadinho, mas quatro vezes. Ou seja, é uma loucura todos os dias. Quando chega a altura das férias, então, só quero que me internem num hospício. No preciso momento em que escrevo, já estou doido e as férias ainda mal começaram. Durante os próximos 20 dias, se virem passar o Napoleão, já sabem: sou eu.


domingo, 28 de julho de 2013

166

Hoje é um dia especial, porque foi o último em que assinei a página "Os Homens Precisam de Mimo", na revista Domingo do Correio da Manhã. A partir de agora, os escritos sobre a família vão ser exclusivos do Pais de Quatro. Na primeira metade do próximo ano, se tudo correr como previsto, lançarei as crónicas do CM em livro. Eis o meu texto de despedida:

Ilustração de José Carlos Fernandes 

Embora os homens continuem – hoje, como sempre – a precisar de mimo, esta é a minha última crónica para o ‘Correio da Manhã’. Nestas ocasiões, os colunistas costumam sair meio acabrunhados, deixando um agradecimento aos editores (obrigado Fernanda, obrigado Paulo), umas indirectas aos directores (não há necessidade), e tchau, adeusinho, até nunca. Contudo, esta página aos costumes sempre disse nada, e por isso invoco o direito à diferença para, em vez de me queixar, celebrar o número que encontram no título: 166.

Durante 166 semanas, sem excepção, eu tive o privilégio de fazer da minha família e dos meus estados de espírito matéria de crónica, trazendo para aqui dúvidas, angústias, tristezas, incertezas, alegrias ou descobertas, cujo destino natural seria ficarem confinadas às paredes da minha casa – ou nem isso, porque nós, gajos, partilhamos tão pouco, que o mais provável é que tudo ficasse confinado às paredes da minha cabeça, acabando por se perder nos caminhos esconsos da memória, sempre tão selectiva.

Nesse sentido, esta página, e esta minha atitude rara (reflectir sobre a vida pessoal ainda é um hábito pouco comum entre os cronistas portugueses), teve uma dupla intenção: fixar histórias e perplexidades à medida que os filhos iam crescendo, para que o esquecimento não desabasse sobre elas; e partilhar aquilo que se ia passando na minha vida, porque somos todos mais parecidos uns com os outros do que provavelmente gostaríamos.

O resultado superou em muito as minhas expectativas. Destas crónicas nasceu um livro bem-sucedido e nasceram centenas, milhares de mails, mensagens, abordagens na rua, sempre com uma simpatia e uma generosidade que estou longe de merecer. Foram essas reacções que me provaram estar no caminho certo, quando no início duvidava se deveria fazer isto, se não seria uma exposição excessiva da minha família, se não pareceria ridículo. Só que aos poucos, em torno de ‘Os Homens Precisam de Mimo’ nasceu uma comunidade de leitores fiéis – e isso é o máximo a que um cronista pode aspirar.

Permitam-me um derradeiro abraço ao meu amigo José Carlos Fernandes, que por 166 vezes tornou as minhas crónicas melhores com as suas óptimas ilustrações. E reservo uma última palavra para si, caro leitor, que me leu semana após semana: acredite que aquilo que você me deu é bem mais do que aquilo que lhe dei a si. Muito, muito obrigado.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O sms da Carolina

A Carolina está a passar a semana na Beira, na casa das madrinhas, como ela gosta de lhes chamar. E então pôs-se a espiolhar o Pais de Quatro. Encontrou o post sobre o passarinho - que eu preferia que ela não tivesse lido, mas enfim - e mandou-me o seguinte sms:

Obrigado pelo post que fizes-te [sic] sobre o passarinho. E sim foi uma grande lição para mim.

Tirando o facto de ir escrever 20 vezes "fizeste" da próxima vez que a encontrar, e de eu ter de lhe explicar para que é que servem as vírgulas, foi querido da parte dela. Na verdade, não sei que lição terá sido essa nem para que é que lhe servirá, porque a gente nunca sabe bem o que vai na cabeça das crianças, mas foi querido, mesmo assim.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Viva o baby boy!

Um amigo meu que estava a ver televisão na noite de segunda-feira enviou-me esta mensagem por sms: "Uma noite de sonho para o espectador progressista: papa e príncipes." Mas como nem eu nem ele somos particularmente progressistas (eu mais do que ele, ainda assim), devo confessar que tenho gostado de tudo desde segunda-feira até hoje, muito em particular da forma como Kate e William apareceram à porta da maternidade para mostrar o seu bebé.


Eis as coisas de que gostei:

1. Gostei que mostrassem o bebé com pouco mais de um dia de vida. É certo que é suposto ele vir a ser rei de Inglaterra, e portanto em certa medida é um bebé de todos os ingleses, mas celebro quem ainda expõe os seus filhos numa altura em que, por causa da defesa da privacidade e de medos de sei lá o quê, as crianças vão aos poucos desaparecendo das câmaras e, por consequência, dos espaços públicos.

2. Gostei do casal, acho que eles estão mesmo felizes, e do ar nada cagão com que se apresentaram, com o pai, na hora da saída, a colocar a cadeirinha do bebé no carro e a ser ele próprio a conduzir. É ridículo fazer o elogio da normalidade, mas tratando-se de príncipes e princesas, parece-me significativo.


3. Gostei da Kate continuar boa como o milho, e de aparecer com um cabelo esvoaçante que parecia patrocinado pela Linic. Adoro mamãs.

4. Gostei sobretudo que ela já ali estivesse de pé ao fim de tão pouco tempo, e que exibisse orgulhosamente a sua barriga pós-parto, ainda que num lindíssimo vestido azul e branco. Não houve aquela vergonha do "se calhar ainda não estou muito apresentável", ou "só apareço daqui a dois meses já no topo da minha forma", ou então "vou pôr um grande casaco para não se perceber que a minha pança ainda está super-inchada". Tudo ao natural. Bravo.

Em resumo, neste meu pequeno post cor-de-rosa, diria que começaram muito bem, sim senhor. Com sorte, William aprendeu com os papás tudo aquilo que não devia fazer quando crescesse. Às vezes essa é mesmo a melhor das lições.

terça-feira, 23 de julho de 2013

A vida é curta, pá. Bora ter um caso?

Se anda à procura de uma relação extraconjugal, mas quer ao mesmo tempo manter o seu casamento (suponho eu, que por vezes sou tristemente conservador e tenho alguma dificuldade em acompanhar estas modernices), parece que a partir de agora há uma resposta para si, através da rede social Ashley Madison, cujo mote é "Life is short. Have an affair." Ou, em português - que passou agora a existir -, "A vida é curta. Tenha um caso." O Público traz hoje a história toda. O título da peça/ entrevista é: "O negócio da infidelidade é à prova de recessão." Bom, ao menos que haja alguma coisa a sobreviver a esta crise.


Casa Arrumada

Uma leitura colocou nos comentários deste post um poema de Carlos Drummond de Andrade chamado "Casa Arrumada". O poema é tão bonito, tão verdadeiro e vem tão a propósito que, para não ficar esquecido numa caixa de comentários, resolvi trazê-lo para aqui, com a devida vénia - porque uma casa arrumada é, de facto, tudo isso. Ora leiam:

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Oh, que horror! Faz só mais um bocadinho!

O que achei mais curioso neste vídeo


não é a traquinice em si, embora o irmão mais pequenino seja um amor, mas a reacção da mãe. Ela está a fazer aquela voz do "deixa-me fingir que estou zangada contigo enquanto filmo esta cena absolutamente hilariante para a posteridade". Com o progresso tecnológico, os blogues e as redes sociais, o desejo de partilha de um episódio tão bom como este sobrepõe-se muitas vezes ao primeiro dever de uma mãe e de um pai, que é dizer convictamente "isto não se faz!".

Tem acontecido comigo algumas vezes, e no final fico sempre dividido entre o divertimento de ter captado um momento óptimo e os problemas de consciência que advêm do facto de os miúdos estarem certamente a perceber que há ali uma mistura de "não faças isto!" com "mostra, mostra, mostra!", e de isso não ser propriamente brilhante para a sua educação.

Esta coisa do "oh, que horror!, faz só mais um bocadinho!" é um problema muito actual, com o qual nós, pais digitais, ainda temos bastantes dificuldades em lidar. Eu tenho, pelo menos. Por um lado, é meeeesmo divertido. Por outro, se a gente se entusiasma excessivamente, tenho a sensação de que um dia destes um filho parte-se todo, nós filmamos primeiro e só depois é que ligamos para o 112.

Agora põe isso na boca de um adulto 7

Entretanto, já saiu a conclusão do episódio da etiqueta nas calças. Vale muito a pena:

domingo, 21 de julho de 2013

Da desarrumação


Ilustração de José Carlos Fernandes

Eis a minha crónica de hoje no CM. E atenção: a ideia de vestir assim a minha esposa não foi minha, ok? A culpa deve ser totalmente atribuída ao ilustrador. Cá vai:

A minha excelentíssima esposa acha que vive cercada por uma quadrilha de desarrumados, da qual eu sou o cabecilha. Quer dizer: não é que ela ache que eu desarrume mais do que os quatro filhos, mas acha definitivamente que “não dou o exemplo”. Segundo ela, é devido à minha pérfida acção e à minha insistência em colonizar áreas indevidas da nossa casa – como a mesa da sala – com livros e jornais, que os miúdos tardam em assimilar o seu rigor teutónico em termos de organização caseira. Resultado: no seu entender, eu estou a alimentar quatro mini-furacões domésticos, que deixam nuvens de roupa e de brinquedos por onde passam.

Desconfio que não seja o único espécimen masculino a ser alvo de tão graves acusações: quase todas as mulheres acham que os seus maridos são uma lástima em matéria de arrumação. Mas eu diria, em defesa da classe, que falta bastante subtileza a esta análise. É que, na verdade, os homens não são mais desarrumados do que as mulheres. Simplesmente, ambos têm ideias muito distintas acerca do que “arrumado” quer dizer.

Por exemplo, a excelentíssima esposa embirra à brava que eu deixe meias usadas ao lado da cama. Ora, provisoriamente desarrumado não é desarrumado. Tal apenas acontece por razões logísticas: quando um gajo à noite despenca no colchão, ir à cozinha pôr as meias no sítio da roupa suja seria um acto de tortura, proibido pela Convenção de Genebra. Em bom rigor, é apenas uma desarrumação provisória e nocturna, parecendo-me do mais elementar bom-senso suspender o conceito de desarrumação entre a meia-noite e as oito da manhã.

Mas o pior não é isso. O pior é que as super-arrumadas mulheres são extremamente selectivas quanto ao seu conceito de arrumação. Sendo altamente exigentes em relação a roupa, decoração da casa ou utensílios de cozinha, elas estão longe de estender a exigência a coisas como, por exemplo, as bagageiras dos automóveis. A sala estar um bocado desarrumada é trágico. Mas o facto da parte de trás do nosso carro parecer um armazém dos Companheiros de Emaús já é natural. Meias usadas no chão é horrível. Mas a acumulação de discos de música, filmes ou jogos fora das respectivas caixas torna-se aceitável. Ora, isto não pode ser. A mitologia do homem desarrumado tem de ser combatida. Nós não desarrumamos nem mais, nem menos, do que vocês, minhas senhoras. Simplesmente, desarrumamos diferente.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Não, não, não

Sou obrigado a admitir que a foto do post anterior foi muito mal escolhida. Várias pessoas olharam para aquilo e disseram-me que pensaram imediatamente que vinha aí o quinto filho. Por amor de Deus. As coisas que vos andam a passar pela cabeça. Não, não, não. Eu fechei a loja. Mesmo. Fechei a loja e atirei fora a chave. Já chega. Já fiz a minha parte pela perpetuação da humanidade e pela fertilidade da pátria. Tenho a certeza que o agregado familiar vai continuar a crescer, porque como toda a gente sabe eu não mando nada cá em casa. Mas a partir de agora só se aceitam cães e gatos. E a contragosto.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Mais não, por favor

Eh pá, ao fim de três semanas um gajo já não aguenta mais. Quem está total, absoluta e irrevogavelmente farto de ficar a dizer adeus às criancinhas na hora de elas partirem de autocarro para a praia levante o braço.