domingo, 31 de março de 2013

Ovos de papel (com surpresa dentro)

A Memi e a Zé vieram passar a Páscoa connosco à Urra, e trouxeram consigo uns ovos da Páscoa muito especiais para os miúdos. Foi a Memi que os fez ontem à noite - uma ideia simples, mas tão bonita.


sexta-feira, 29 de março de 2013

As cortinas


Ah, as cortinas, há lá coisa mais bonita do que cortinas. Espantosamente, no meio de um post quilométrico da minha excelentíssima esposa, aquilo que os leitores mais retiveram foi o seguinte parêntesis:

(se o caro gajo não deixa a gaja usar cortinas, convém que os vidros sejam limpos de vez em quando) 

E então desataram a picar-me na caixa de comentários, para eu explicar o que é que queria dizer com "não a deixar usar cortinas".

Antes da explicação propriamente dita, um ponto prévio. Como em qualquer casamento feliz, quem manda cá em casa é a minha mulher, ok? Eu nunca tive a menor ilusão sobre isso, já sabia quem usava as calças quando me casei, e estou certo que é por isso que a nossa relação dura desde 1992 (a sério).  Logo, nunca levem demasiado à letra a expressão "gajo não deixa a gaja" sempre que o gajo se chamar João e a gaja se chamar Teresa. É apenas uma maneira de falar, digamos assim, um divertido joguinho de semi-submissão da minha excelentíssima esposa para disfarçar o regime sem-ditatorial doméstico a que eu voluntariamente me submeti.

Dito isto, é verdade que eu não gosto nada de cortinas e que resisto estoicamente, na medida das minhas possibilidades, à sua colocação. Por razões estéticas, sim, porque são quase todas uma pirosada. Mas sobretudo por razões filosóficas. Eu sou um adepto da transparência da vida. As cortinas servem para impedir o olhar dos outros sobre nós, e eu não tenho de viver receoso do olhar dos outros. Por isso, não gosto das cortinas pela mesma razão de que gosto de escrever sobre a minha família neste blogue: a banalidade da existência sempre me atraiu e a sua partilha é enriquecedora para os outros e para nós.

Felizmente, nós não temos vizinhos mesmo em cima dos nossos narizes, e se eu quiser dormir, tomar banho ou brincar ao médico com a minha médica, as janelas têm estores. Tudo o resto, a banalidade do dia-a-dia, cozinhar, brincar, ler, discutir, gritar, não tenho porque esconder das outras pessoas. Não o vejo, de todo, como uma invasão da minha privacidade, a não ser que começasse a receber telefonemas dos vizinhos sobre o melhor método para bater claras em castelo. Para invadir é preciso incomodar, e aquilo de que falo é apenas ver de longe sem interferir.

Mas atenção: a Teresa não é da mesma opinião, e eu percebo que 99% das pessoas também não sejam. Aliás, basta ver como a primeira coisa que a Teresa faz quando está na cozinha é baixar os estores, enquanto a primeira coisa que eu faço é levantá-los. É que ter cortinas não impede só que nos vejam cá dentro - impede também que nós vejamos lá para fora. Corta a luz e a nitidez. E eu não gosto disso.

Por outro lado, se quiserem uma explicação mas psicanalítica, diria que a minha alergia a cortinas tem a ver com o cinema e com a minha costela de voyeur, que é acentuadíssima. Afinal, com cortinas corridas, este filme não poderia existir:


E há em mim muito de Jimmy Stewart, porque eu sou o género de gajo que, se não tivesse mais nada que fazer, seria capaz de ficar de binóculos nas mãos a espiar a vizinhança e a imaginar histórias dentro da minha cabeça. Mas como, ao mesmo tempo, também tenho uma costela católica que me obriga à coerência nas minhas acções, se eu era capaz de espreitar pelas janelas dos outros então também tenho de deixar que os outros espreitem pelas minhas.

Mas atenção. Eu não odeio todas as cortinas. Há umas que adoro de morrer, e que não me importava nada de ter em casa, como já perceberam. Sim, estas, mesmo aqui em baixo, são definitivamente as minhas cortinas favoritas. E porquê? Porque se abrem, claro:


E para o fim fica a pergunta do milhão de dólares: porque raio existem cortinas numa sala de cinema se atrás delas o que existe é um ecrã branco? Será porque nada é mais mágico do que uma cortina que se abre? Sim, é só mesmo dessas que eu gosto: as inúteis.

O Pai Mais Horrível do Mundo, últimas notícias

Queria apenas avisar os vencedores do passatempo d'O Pai Mais Horrível do Mundo que os seus livros ainda não seguiram pelo correio. A minha editora tem o invejável hábito de dar uma semana de férias aos seus trabalhadores na Páscoa (ele há grandes vidas), e por isso não pude ir lá deixar moradas e autógrafos. Tentarei fazer isso no decorrer da próxima semana, ok? Os livros tardam mas não falharão.


quinta-feira, 28 de março de 2013

O meu gajo só pode estar a gozar. Agora em nova versão, revista, aumentada e comentada


Texto original a redondo.

Nova versão a negro.

A vida da mulher do meu fofo gajo tem destas coisas e ele bem o sabe, até porque as sofre na pele. Andei eu ontem inocentemente (sim, também sou uma bem-aventurada inocente) na minha tristemente habitual roda viva, também conhecida como de um dia normal de trabalho (sim, porque não são só os fofos gajos que gostavam de ter tempo para trabalhar descansados e que têm 19 entradas na sua To Do List, embora tenha de admitir que as deles têm outra pertinência), quando cheguei aceleradíssima do hospital para preparar o jantar com duas irmãs e respectiva prole (o que na família Mendonça significa mais 11 pessoas, no mínimo). Como é hábito, adormeci a dar de mamar à Rita já a hora ia avançada (com o meu fofo gajo a trabalhar esgotadamente ter o seu merecido descanso no vale dos lençóis), e não tive sequer ânimo para visitar o blogue. Donde, não fazia a menor ideia das vis calúnias divertidas verdades que ele andou a postar sobre a minha matemática doméstica.

Hoje, quando acordei, resolvi abrir o computador e... dei de caras com as aparentes injúrias que o meu fofo gajo silenciosamente denodadamente cozinhara no dia anterior. E o pior é que nem tempo tive de exercer imediatamente o meu direito de resposta, e agradecer-lhe tamanha manifestação de inteligência. O dia começava já a acelerar e a escrita não me sai a 100 à hora como ao esgotado, mas sempre incrível, trabalhador acima citado. Donde, tive de esperar até agora. Mas ele não espera pela demora. Como é que é mesmo aquele provérbio? Ah, sim, a vingança serve-se fria! Felizmente, cá em casa há aquecedores, aliás bestiais, todos eles comprados pelo meu lindo maridinho - e sem entrega ao domicílio.

Quer dizer que o meu fofo gajo acha plausível que as compras que surgem nas duas fotos sejam as compras do mês cá de casa? Faz ele muito bem. Querem contas? Então vamos às contas.

Leite: se o caro e fofo gajo lesse os meus posts saberia que a dose de leite diária recomendada para as crianças até aos nove anos é de 500 ml dia. Sim, eu sei que quando é o papá a preparar o pequeno-almoço os miúdos nem a 100 ml têm direito no fundo da taça de cereais, tal é a pressa em pô-los para fora da cozinha. Mas sempre é melhor do que quando é a mamã a prepará-lo, dado o seu talento para colocar o Nestum ao serviço da construção civil e do betume de paredes. A mamã é que é a desmancha-prazeres, que acha que o pequeno-almoço deve ser uma refeição reforçada (uma ideia originalíssima...). E não sei se o meu fofo gajo sabe que... os miúdos também lancham, embora em casa, de facto, só lanchem ao fim-de-semana, porque nos outros dias estão na escola (outra ideia originalíssima...). Bem sei que quando eles ficam sozinhos com o pai nunca têm direito a lanche (a menos que sejam eles a arranjá-lo, já que o pai faz tudo para promover a autonomia dos seus queridos filhos), mas todos os dias bebem a sua segunda dose de leite ao lanche, embora cinco em sete vezes o façam na escola.

Ora, a Carolina até já tem mais de nove anos, embora, na verdade, tenha ainda nove anos (logo, devia beber um pouco mais do que os irmãos, mas esqueçamos isso pois também eu reconheço com grande inteligência ser sou detentora de uma homérica estultícia) e cá em casa há cinco consumidores de leite empacotado (a Rita tem belíssimos pacotes de produção biológica), logo:

0,5 litros x 5 consumidores = 2,5 litros

2,5 litros x 30 dias = 75 litros

Portanto, acha o caro e fofo gajo que os 24 litros de leite meio-gordo da foto são suficientes para o consumo mensal da nossa casa? Claro que não acha, como aliás explicou aqui. Hum... assim à primeira parece-me que nem o triplo chega. Pois não chega, como aliás explicou aquiE onde está o leite magro que a Carolina e a gaja e o fofo gajo consomem? Pois não está, como aliás explicou aqui.

Fraldas e toalhitas: não sei se o caro e fofo gajo já ouviu falar de promoções. Vagamente, imagino, porque ele não tem o mesmo prazer que eu em coleccionar aqueles cupões que nos dão desconto em coisas que não precisamos. Ora, as fraldas e toalhitas Dodots, apesar de serem das mais carotas do mercado, foram pela nossa família eleitas como as preferidas, depois de experimentarmos várias marcas. As grandes superfícies fazem ocasionalmente promoções destes produtos. Coisita assim para 50% de desconto é de aproveitar, lá isso é. E nesse caso não se compram três fraldas/toalhitas mas três caixas delas, o que significa que afinal algumas daquelas compras que se viam nas fotos eram não só do mês, mas de todo o primeiro semestre de 2013. É que me parece que ainda não será para o próximo mês que a Rita abandonará as fraldas, e o meu lindo maridinho que o diga, que está sempre a mudá-las.

Ora, se o que aparece nas fotos são os mantimentos mensais cá para casa, parece-me que vamos começar a passar fome. Felizmente, o meu lindo maridinho nunca escreveu em lado nenhum que aquilo eram os mantimentos mensais cá para casa, já que ele é pessoa para saber que nós não nos alimentamos apenas de salsichas e cogumelos laminados. Ou então, já sei, vamos começar a comer... toalhitas! Ah, ah, ah. As mesmas toalhitas que ele acha que servem para desinfectar as reluzentes e cristalinas partes baixas da Rita. Ou - espera - será que ele estava a utilizar uma figura de estilo? Ali entre a hipérbole e o disfemismo? Não sei, porque eu sou pouco sensível a figuras de estilo sempre que elas colocam em causa o rigor da ciência médica.

Onde estão a carne, o peixe, os ovos, as latas de atum, o arroz, as massas, a farinha, os cereais, as bolachas, o queijo, o fiambre, as frutas, os legumes,... para falar só nas coisas mais consumidas cá em casa? Espera, deixa-me pensar... Não estão! Deve ser por isso que há uma diferença entre dizer que aquelas são compras do mês e dizer que aquelas são as compras todas do mês. Mas não sei, porque eu sou pouco sensível a subtilezas linguísticas sempre que se coloca a hipótese de fazer AH!AH!AH!AH!AH!AH!AH!... na cara do meu lindo maridinho.

E os limpa-vidros (se o caro e fofo gajo não deixa a gaja usar cortinas, porque tem montes de bom gosto, convém que os vidros sejam limpos de vez em quando), detergentes da loiça, os guardanapos, os sabonetes, os champôs, gel duche, pasta de dentes, soros fisiológicos, cotonetes... só para enumerar umas coisitas que costumo comprar mensalmente para fornecer a casa, e com as quais ele alombou anos e anos a fio escada acima?

Onde é que está tudo isso? Ah, não está, tal como ele nunca disse que estava! Já sei. Inspirado no regresso em dia de nevoeiro de El Rei D. Sócrates, o meu excelentíssimo esposo deve ter decidido afinar a graduação dos óculos. Resultado: ficou a ver tão bem como o nosso ex-primeiro-ministro. Já eu, preferi ficar com a consistência dos seus argumentos e com a sua reconhecida qualidade na hora de fazer as contas. O que é muito mais giro.



O meu gajo só pode estar a gozar

A vida da mulher do meu gajo tem destas coisas. Andei eu ontem inocentemente (sim, também sou uma bem-aventurada inocente) na minha habitual roda viva de um dia normal de trabalho (sim, porque não são só os gajos que gostavam de ter tempo para trabalhar descansados e que têm 19 entradas na sua To Do List), cheguei acelerada do hospital para preparar o jantar com duas irmãs e respectiva prole (o que na família Mendonça significa mais 11 pessoas), adormeci a dar de mamar à Rita já a hora ia avançada (com o meu gajo a trabalhar esgotadamente no vale dos lençóis), e não tive sequer ânimo para visitar o blogue. Donde, não fazia a menor ideia das vis calúnias que ele andou a postar sobre a minha matemática doméstica.

Hoje, quando acordei, resolvi abrir o computador e... dei de caras com as injúrias que o meu gajo silenciosamente cozinhara no dia anterior. E o pior é que nem tempo tive de exercer imediatamente o meu direito de resposta. O dia começava já a acelerar e a escrita não me sai a 100 à hora como ao esgotado trabalhador acima citado. Donde, tive de esperar até agora. Mas ele não espera pela demora. Como é que é mesmo aquele provérbio? Ah, sim, a vingança serve-se fria!

Quer dizer que o meu gajo acha plausível que as compras que surgem nas duas fotos sejam as compras do mês cá de casa? Querem contas? Então vamos às contas.

Leite: se o caro gajo lesse os meus posts saberia que a dose de leite diária recomendada para as crianças até aos nove anos é de 500 ml dia. Sim, eu sei que quando é o papá a preparar o pequeno-almoço os miúdos nem a 100 ml têm direito no fundo da taça de cereais, tal é a pressa em pô-los para fora da cozinha. A mamã é que é a desmancha-prazeres, que acha que o pequeno-almoço deve ser uma refeição reforçada (uma ideia originalíssima...). E não sei se o meu gajo sabe que... os miúdos também lancham. Bem sei que quando eles ficam sozinhos com o pai nunca têm direito a lanche (a menos que sejam eles a arranjá-lo), mas todos os dias bebem a sua segunda dose de leite ao lanche.

Ora, a Carolina até já tem mais de nove anos (logo, devia beber um pouco mais do que os irmãos, mas esqueçamos isso pois também eu sou detentora de uma homérica estultícia) e cá em casa há cinco consumidores de leite empacotado (a Rita tem pacotes de produção biológica), logo:

0,5 litros x 5 consumidores = 2,5 litros  

2,5 litros x 30 dias = 75 litros

Portanto, acha o caro gajo que os 24 litros de leite meio-gordo da foto são suficientes para o consumo mensal da nossa casa?  Hum... assim à primeira parece-me que nem o triplo chega. E onde está o leite magro que a Carolina e a gaja e o gajo consomem?

Fraldas e toalhitas: não sei se o caro gajo já ouviu falar de promoções. Vagamente, imagino. Ora, as fraldas e toalhitas Dodots, apesar de serem das mais carotas do mercado, foram pela nossa família eleitas como as preferidas, depois de experimentarmos várias marcas. As grandes superfícies fazem ocasionalmente promoções destes produtos. Coisita assim para 50% de desconto é de aproveitar. E nesse caso não se compram três fraldas/toalhitas mas três caixas delas. É que me parece que ainda não será para o próximo mês que a Rita abandonará as fraldas.

Ora, se o que aparece nas fotos são os mantimentos mensais cá para casa, parece-me que vamos começar a passar fome. Ou então, já sei, vamos começar a comer ... toalhitas! As mesmas toalhitas que ele acha que servem para desinfectar as reluzentes e cristalinas partes baixas da Rita.

Onde estão a carne, o peixe, os ovos, as latas de atum, o arroz, as massas, a farinha, os cereais, as bolachas, o queijo, o fiambre, as frutas, os legumes,... para falar só nas coisas mais consumidas cá em casa?

E os limpa-vidros (se o caro gajo não deixa a gaja usar cortinas, convém que os vidros sejam limpos de vez em quando), detergentes da loiça, os guardanapos, os sabonetes, os champôs, gel duche, pasta de dentes, soros fisiológicos, cotonetes... só para enumerar umas coisitas que costumo comprar mensalmente para fornecer a casa?

Onde é que está tudo isso? Ah! Já sei. Inspirado no regresso em dia de nevoeiro de El Rei D. Sócrates, o meu excelentíssimo esposo deve ter decidido afinar a graduação dos óculos. Resultado: ficou a ver tão bem como o nosso ex-primeiro-ministro.


quarta-feira, 27 de março de 2013

"Sim, quero", mas em anel


O artista e designer japonês Sakurako Shimizu criou estes anéis de noivado, que representam a forma da onda sonora de cada um dos noivos a dizerem "I do". Grande ideia, hein? Segundo se pode ler no seu blogue, Shimizu também é homem para produzir a onda de um "sim, quero", ou quaisquer outras palavras, embora "bom... aaaarh... enfim... não sei bem..." seja capaz de ser demasiado longo para o diâmetro do anel. Os preços variam entre os 560 (prata) e os 1885 dólares (platina). Encontra todas as informações aqui.


O netinho do Quim

Atenção, minhas senhoras e meus senhores, já que o grande Quim Barreiros foi trazido à colação na sequência do post anterior, e depois desmerecido por alguns leitores nos comentários, quero aqui defender a sua honra e sublinhar que também ele denota grande preocupação familiar, como é próprio da boa gente do povo.

Não será um Tony Carreira, não senhor, mas apesar do conteúdo da sua obra, também ele é um respeitável homem de família. Num dos seus extraordinários discos (Use Álcool, 2007), ele dedica inclusivamente um tema ao seu jovem neto, precisamente intitulado "O Meu Netinho". O refrão - reparem bem - é de grande elevação poética:

Ai, ai, ai, como é bom ser avozinho
Ai, ai, ai, como é lindo o meu netinho

E apesar de o tema conter a expressão "adoro o teu beijo molhado", ela é, incrivelmente - diria mesmo, miraculosamente -, utilizada de forma 100% inocente. Eis o milagre consumado da grã-paternidade: Quim Barreiros, o mestre do trocadilho, o homem que consegue desencantar a badalhoquice que está escondida a 100 metros de profundidade nas palavras mais insuspeitas (cf. o verso "Banana Pessego", contido no hoje já clássico da música portuguesa "Casamento Gay"), esse mesmo homem consegue subitamente escrever uma letra cândida para o seu pequeno neto, ao ponto de ficar cego às polissemias da letra - afinal, o ramo em que se doutorou honoris causa com indiscutível brilhantismo.

Ora vejam, e comovam-se:


Tony, tu és o maior

Já não bastava o Tony. Já não bastava o Mickael. Já não bastava o David. Agora também temos a Sara. A rapariga só tem 13 anos mas já saltou para cima de um palco, para interpretar em dueto com o pai o incrível tema "Hoje Menina, Amanhã Uma Mulher", cujo subtítulo não é, mas devia ser, "E Entre o Hoje e o Amanhã Cantora (Como os Irmãos)". Chorem, pedras da calçada:

Hoje um anjinho
Amanhã uma mulher
O teu caminho
Vais ser tu a fazer

Mas quando fores embora
Contigo também vai
O coração de um pai
O coração de um pai.



Oh, que lindo. Um grande, grande snif para o Tony.

Bom, para ser totalmente honesto, tenho de confessar que o revestimento do meu pavilhão auricular considera o Tony responsável pelas mais nhonhocas canções portuguesas desde que Viriato andou a combater romanos nos Montes Hermínios (desculpa, Tony). E olhem que eu sou um adepto de Quim Barreiros. Aquela mistura de música romântica oleosa e letras de terceira classe dá cabo de mim, até porque nem sequer tem a saudável badalhoquice da música pimba.

Mas o Tony, se é péssimo a fazer música, é óptimo a dar um futuro aos seus filhos. Não sei se é ele o responsável pela carreira dos miúdos, mas é impressionante como a família Carreira consegue preencher todos os nichos de mercado. Tony é o romântico das balzaquianas. Mickael é a versão tuga do Enrique Iglesias. David é o playboy das novelas e da música de dança. Da avó ao netinho, a família Carreira vai a todas, transportando consigo um apelido que é apenas o pseudónimo artístico do pai (o apelido verdadeiro da família é Antunes, mas ninguém se chateia com isso).

E agora... pimba, a Sara, coitadinha (também será Carreira?), que ainda não canta nada de especial mas já anda a pisar o Olympia. Eu às vezes olho à minha volta e tenho aqueles receios habituais de estar a expor muito os meus filhos, dedicando-lhes livros, posts e crónicas. Mas, na verdade, o que eu queria mesmo era ser um Tony Carreira, que trata de si e de todos à sua volta com um talento inigualável. Todos conhecem aquele provérbio que diz "melhor do que oferecer um peixe é dar uma cana e ensinar a pescar". Pois bem, os Carreira não são uma cana: são um gigantesco arrastão que leva consigo metade do peixe do Atlântico Norte.

Portanto, eu queria deixar aqui esta mensagem pública, há muito merecida: Tony, a tua música não se aguenta, mas tu és um exemplo para todas as famílias numerosas. És uma inspiração. És um guia. És um farol. Todos os dias aprendo contigo, pá. Obrigado por tudo. E já agora, boa sorte para a Sara.

terça-feira, 26 de março de 2013

É oficial

A Rita iniciou na semana passada a prática do desporto mais irritante de todos os tempos: o Lançamento de Chupeta. A partir de agora, vão ser meses e meses disto. Tenho dúvidas que aos 39 as costas ainda aguentem. Já para não falar na paciência.


Preciso de gajos neste blogue #2

A minha excelentíssima esposa faz AH!AH!AH!AH!AH!AH!AH! e vêm logo montes de senhoras juntar-se à festa para zurzir em mim e, por extensão, nos respectivos maridos. Vocês são umas fofinhas. Aquilo? Compras do mês? Ah! Ah! Ah! Ih! Ih! Ih! Oh! Oh! Oh!

Ai os inocentes!

diz a Rute.

Eu bem desconfiei que algo não batia certo nas contas feitas pelo JMT... :-)

diz a Bruxa Mimi.

Compras domésticas e homens! Nem o preço das "mines" sabem!:)

diz O Meu Canto Arrumado.

E isto é só para ficar pelos três primeiros comentários. Realmente, nós, homens, somos muita burros e não percebemos nada de matemática doméstica, não é?

Mas... esperem! Vamos então praticar matemática doméstica e peguemos nas fotografias e nos produtos mais comentados pelos leitores destes blogue, só para sublinhar o quão matematicamente idiota eu sou por dizer que aquelas são compras do mês.

Comecemos pelo leite, e deixemos de fora, para simplificar as contas, os pacotes pequenos.

Como se pode facilmente ver por esta foto


estão ali quatro embalagens de seis litros de leito meio-gordo Mimosa.

4 embalagens x 6 litros = 24 litros

Como já referi neste post de Janeiro, só os miúdos é que bebem leite meio-gordo. Aliás, a Carolina também já bebe leite magro, mas para - mais uma vez - sublinhar a minha homérica estultícia coloquemo-la também nestas contas. Cada um dos miúdos bebe destes pacotes de leite apenas de manhã, a acompanhar os cereais. Em média, não devem beber mais de 20 centilitros, mas aumentemos a dose para 33 centilitros, por facilidade e amor à estupidez do pai.

33 cl/dia x 3 miúdos = 0,99 litros/dia

Ou seja, concluímos que os meus filhos consomem cerca de um litro daquele leite por dia (embora consumam menos, até porque uma ou duas vezes por semana comem Cerelac, que é feita com água). Logo, aquelas embalagens darão para... conta super-difícil para um totó da matemática doméstica...

1 litro ---------- 1 dia
24 litros ------- x dias

x = 24 x 1 / 1 = 24 dias

24 dias! Não é um mês? Não, não é bem um mês, minhas senhoras e minha excelentíssima esposa. Mas, assim de repente, diria que é mais um mês do que uma semana.

Mas esperem, que não vamos ficar por aqui. Eu quando começo a fazer contas nunca mais paro. Peguemos então na outra foto, para falar de fraldas e de dodots, tema caro aos frequentadores deste blogue.


O Empire State Building de fraldas que se vê lá atrás consiste em quatro embalagens com 84 fraldas cada. Portanto, isso dá

4 embalagens x 84 fraldas = 336 fraldas

Ora, eu disse que aquelas compras eram "do mês", certo? E os meses ainda têm no máximo 31 dias? Óptimo. Então vejamos se aquelas fraldas serão suficientes para fazer face às necessidades mensais da Ritinha (juro que mais ninguém cá em casa usa fraldas tamanho 3 - acreditem se quiserem):

336 fraldas : 31 dias = 10,8 fraldas/ dia

Assim se repente, diria que nem a desfazer-se em diarreia um puto gasta mais de dez fraldas por dia, mas pronto, é sempre preciso ter em conta que eu não percebo nada de bebés e que fico em casa a trabalhar aos fins-de-semana enquanto a pobre esposa fica a mudar as 10 fraldas.

Mas alto, alto, alto, não se vão já embora, que este post está aqui para bater recordes de dimensão. Falta o meu tema favorito: toalhitas.

Reparem nas três embalagens Jumbo de dodots camufladas ali no meio da foto anterior.


Sabem quantas toalhitas tem cada uma daquelas embalagens? 432 toalhitas. Façamos então a necessária multiplicação:

3 embalagens x 432 toalhitas = 1296 toalhitas.

Será que 1296 toalhitas são suficientes para limpar 1 rabo + 1 pipi de seis meses durante um mês? AH!AH!AH!AH!AH!AH!AH!, mas que estupidez a minha! Claro que não! É preciso multiplicar por quatro! Talvez assim me "aproxime da quantidade necessária" à manutenção mensal desta casa!

Ou seja, segundo a excelentíssima esposa e o coro grego feminino deste blogue, isto são obviamente compras para uma semana, que eu estupidamente - por falta de hábito, por desleixo, por desatenção, por uma lamentável ignorância dos assuntos domésticos - confundi com as compras do mês.

Como é lógico, 1296 toalhitas dão apenas para uma semana. Onde é que eu tinha a cabeça? Aliás, é só fazer as contas. Uma semana tem sete dias, um dia tem 24 horas e cada hora 60 minutos. Donde:

7 x 24 x 60 = 10 080 minutos

Uma semana tem 10 080 minutos. Dividindo esse resultado pelo número de toalhitas que compramos toooooodas as semanas (sem falhar uma), temos:

10 080 minutos : 1296 toalhitas = 7,77 minutos/toalhita

Ou seja, a cada 7 minutos de cada dia - incluindo à noite, quando a Rita está a dormir - nós estamos a esfregá-la com dodots.

Senhoras e senhores, é tempo de o mundo reconhecer isto: as partes baixas da minha jovem filha reluzem mais do que uma montra de cristais Atlantis. Elas estão mais desinfectadas do que um bloco operatório antes de uma cirurgia de coração aberto.

Infelizmente, eu nunca tinha percebido isto, porque sou um "bem-aventurado inocente" que "nunca vai às compras". Estupidez a minha. Inexperiência total. Imperdoável distracção. E portanto queria, a concluir, agradecer publicamente a todas as senhoras que me ajudaram a ver a luz. Muito obrigado. A partir de hoje sou um homem novo. E se precisarem de dodots, já sabem. É só pedir.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Preciso de gajos neste blogue #1

Vocês não perdoam uma, minhas senhoras. A minha excelentíssima esposa resolveu fazer um post pouco simpático sobre a minha encantadora pessoa, acusando-me de desmancha-prazeres da família no último fim-de-semana. Escreveu ela:

Tínhamos tudo preparado [para um fim-de-semana em família] mas o papá resolveu cortar o barato e quando o avisei para reservar este fim-de-semana para nós respondeu que a melhor prenda que lhe podíamos dar era deixá-lo sozinho para conseguir trabalhar descansado.

Oh, meu Deus, que besta insensível que eu sou! Ainda assim respondi a esta descrição algo enviesada da realidade com três pinguinhas de ironia e 200 decilitros de amor, explicando que só estivemos 29 horas separados, e que mesmo assim é fabuloso como a minha mulher sentiu tanto a minha falta. Mas, claro, duas senhoras que frequentam este blogue não perdoaram o meu alegado pecado paterno-marital.

Disse a Andreia, até a esforçar-se visivelmente para ser querida (mas cá para mim pensando no íntimo de si: "que besta!"):

Depois de dizer que se queria ver livre da família no fim-de-semana, até nem falou muito mal! ;)

Replicou a Dulce, não disfarçando o puxão de orelhas:

Concordo com a Andreia! Depois de ter trocado o fim-de-semana com a família por 29 horas sozinho, digamos que a sua mulher até foi bastante comedida nas insinuações.

Ó minhas senhoras. É notável como num mundo capitalista, e até mesmo - acusam alguns - de "deriva neoliberal", o trabalho seja tão desvalorizado, porque a família - a santa e sagrada família - está sempre acima de todas as coisas. Acho isso muito comovente, e é com certeza a mais recorrente das críticas domésticas que sou obrigado a escutar.

É certo que a família está sempre acima de todas as coisas, no sentido em que se um filho partir a cabeça na escola nós largamos tudo para ir a correr, ou no sentido de que quando morremos queremos agarrar as mãos da nossa família e não de um documento Word, até porque um documento Word é uma coisa bastante difícil de agarrar.

Mas o trabalho, minhas senhoras, é uma ne-ce-ssi-da-de. Para mim também é um prazer, graças a todos os santinhos, mas em primeiro lugar é uma absoluta necessidade, desde logo para ajudar a sustentar a tal família que eu tanto desprezei neste fim-de-semana. Ou acham que isto e isto não está relacionado com isto? Ai está, está.

Em resumo, eu não disse à Teresa que me dava incrível jeito ficar em casa sozinho este fim-de-semana (eu queria 48 horas mas só consegui 29) para ficar a dormir até às 11 da manhã e depois convidar umas strippers para animar o lusco-fusco. Pedi para ficar sozinho porque a minha "to do list" já vai em 19 entradas e não estou a conseguir dar conta do recado, como aliás sugeri aqui. Acumulam-se mails por responder, burocracias por resolver, textos por entregar, um caos com o qual lido muito mal.

Portanto, eu não troquei o fim-de-semana em família por 29 horas sozinho. Eu troquei o fim-de-semana em família por um fim-de-semana a trabalhar. Porque tinha mesmo de ser. Na verdade, eu adorava ter um fim-de-semana sozinho, refastelado a ver filmes e a ler livros, ou então um fim-de-semana longe dos putos a sós com a Teresa, coisa que não acontece desde que Napoleão invadiu a Rússia. Mas não foi nada disso que eu tive, minhas senhoras.

Vocês, nestas coisas, são terríveis - está nos vossos genes a protecção assolapada da família. Fica-vos muito bem. Mas se não houvesse trabalho, a felicidade da família também estaria lixada. Eu sei que vocês, mulheres, percebem isto, até porque também trabalham que se desunham. Mas às vezes preferem regressar às velhas categorias do macho-trabalhador-que-se-está-nas-tintas-para-os-filhos vs. mulher-doméstica-dedicadíssima-às-criancinhas. Coisa que já não existe. Mas não existe nem para um lado, nem para o outro. Portanto, tenham piedade de mim e não me façam pior do que já sou, ok? Não sei se já leram isto nalgum sítio, mas os homens precisam de mimo.

AH!AH!AH!AH!AH!AH!AH!....

As compras do mês?

AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH!

Bem aventurados os inocentes! E os que nunca vão às compras. Multipliquem pelo menos por quatro e talvez se aproximem da quantidade necessária dos mantimentos mensais cá em casa.

AH! AH!...

E continuar-me-ia a rir, não fosse o respeito que tenho por aqueles que não têm meios para comprar nada disto.

A primeira audição


Eis o meu texto de ontem na revista do CM, sobre um tema de que já falei neste blogue: a primeira audição da Carolina:

Ergueu-se. Fez uma vénia ao público presente. Sentou-se ao piano muito direita. Tocou três pequenos temas sem se enganar. Levantou-se. Ouviu as palmas. E foi sentar-se, enquanto sorria orgulhosa para os pais.

Num dos últimos sábados, a Carolina teve a sua primeira audição pública de piano. Ela entrou este ano para o Instituto Gregoriano, e é impressionante o que evoluiu em apenas seis meses. Nem eu nem a Teresa sonhamos com uma filha pianista profissional, até porque o piano exige um nível de dedicação obsessiva que não bate de todo com o perfil da Carolina, mas queremos muito que ela tenha uma formação musical sólida. Para além da maravilha que é alguém conseguir sentar-se a um piano e tocar, por puro deleite estético, a música dá disciplina mental, estabelece regras, impõe rotinas e fortalece a personalidade, tudo capacidades fundamentais que nos ajudam pela vida fora.

A Teresa tem quatro irmãs e um irmão, e todos eles frequentaram o Conservatório e aprenderam um instrumento. Eu, pelo contrário, fugia da música a sete pés quando era criança e nada me atemorizava mais do que um ditado melódico nas aulas de Educação Musical. Eu era aquele aluno clássico que tinha boas notas a tudo excepto a Música e a Educação Física, e a quem depois os respectivos professores caridosamente inflacionavam as notas finais, para não estragar a média. No fim do terceiro período, lá tinha uns 4 roubadíssimos, embora merecesse um 3, quando não um 2.

No sétimo ano, quando a Educação Musical saiu finalmente do meu currículo escolar, teria aberto uma garrafa de champanhe se a tivesse à mão. Só mais tarde, quando comecei a frequentar grupos de Igreja e a aprender a tocar guitarra, já com os meus 15 ou 16 anos, é que comecei a lamentar tudo aquilo que não aprendi. E ainda hoje continuo a lamentá-lo.

À medida que a família cresce, vou, portanto, acumulando invejas: há mais de 20 anos que invejo o ouvido da Teresa e o enorme talento que ela tem para cantar e para tocar flauta transversal; há seis meses que invejo a Carolina por tocar piano; e com sorte irei invejar também o Tomás, o Gui e a Rita, que estão condenados a aprender música, mesmo que não lhes apeteça. Cá em casa o dó-ré-mi é tão importante quanto o á-bê-cê – é preciso aprender a ler, a escrever e a tocar. Como é típico dos analfabetos (sonoro, neste caso), eu dou bastante valor àquilo que me falta.


A ilustração é do José Carlos Fernandes.

domingo, 24 de março de 2013

Chamem-lhe parva

Péssima notícia para a minha carteira. A minha filha Carolina descobriu que isto


era bom. Mais do que bom: super-bom.

E agora, claro, não quer outra coisa. Ela orgulha-se de não ser gulosa (e, de facto, não é, de um modo geral), mas quando lhe deu para ser gulosa tinha logo de ser com um gelado que custa 6,5 euros por cada embalagem de 500 ml. A menina tem umas papilas gustativas muito finas, é o que é.

Eu disse que era o pai mais horrível do mundo

Foi impressão minha ou a excelentíssima esposa fartou-se de queixar de mim no post anterior? É para vocês verem como eu sou encantador: ela só esteve 29 horas longe de casa (das 13.40 de sábado às 18.40 de domingo) e mesmo assim teve extremas dificuldades em suportar a minha ausência. Parece tristeza, mas deve ser amor.

As cores do arco-íris Mendonça Tavares

Este ano, pelo Dia do Pai, os miúdos pediram-me para marcar um fim-de-semana em família "na natureza" (palavras deles). Tínhamos tudo preparado mas o papá resolveu cortar o barato e quando o avisei para reservar este fim-de-semana para nós respondeu que a melhor prenda que lhe podíamos dar era deixá-lo sozinho para conseguir trabalhar descansado. Há um tempo para tudo, mas uma vez que era o dia dele dei a volta aos miúdos, adiámos a aventura em família e vim com os quatro para a Beira Baixa, deixando o papá entregue aos seus textos, filmes e músicas, que para sorte dele constituem o seu trabalho.

Tivemos azar com a meteorologia pois choveu o tempo todo e para conseguirmos passear no campo (a actividade preferida dos nossos e penso que da maioria dos miúdos) acabaram todos molhados... mas com sorrisos de orelha a orelha.

Ainda assim, como sempre, a Natureza recompensou-nos e ontem e hoje pudemos deleitar-nos com magníficos arco-íris, por vezes até com dois ao mesmo tempo.


Resolvi aproveitar para lhes explicar como se forma o arco-íris e foi giríssimo ouvir o que cada um reteve da explicação quando lhes pedi para dizerem por palavras deles o que tinham aprendido. O Gui disse que o arco-íris é a magia que o Sol faz nas pingas de água. O Tomás explicou que era causado pela luz do sol que é reflectida dentro da gota de chuva e depois se abre saindo as sete cores do arco-íris. A Carolina contou que o arco-íris é uma ilusão psicológica (ela queria dizer óptica) e que não está mesmo no local onde o vemos, depende da posição onde estamos a vê-lo, com o sol sempre atrás de nós. E que afinal a cor branca da luz do sol é feita das cores todas do arco-íris.

Cada qual com os seus pontos de vista: o Gui ainda vive no seu mundo mágico, o Tomás todo esquemático e não perdendo nenhum pormenor (sobretudo os que contêm números) e a Carolina descritiva, imaginativa, verborreica, interessando-se menos pela questão em si do que por aquilo que está ao seu redor.

Eles até podem vir todos do mesmo feixe de luz. Mas cada qual tem a sua tonalidade bem definida.

Aviso à navegação

Acabei de ler um poema de António Barahona que começa com este verso:

Condenado a dizer o que não sei.

Parece-me um excelente resumo de toda a minha vida mediática, e em particular daquilo que escrevo no Pais de Quatro. Tenham, por favor, isso sempre em conta: a maior parte das vezes eu não sei do que estou a falar. Simplesmente, sou imprudente e imodesto - e por isso falo na mesma.

Família numerosa #2

Eu devia ser accionista da Mimosa.


Família numerosa #1


sábado, 23 de março de 2013

Diálogos em família #11

- Papá, eu quero que vás para a biblioteca ler o jornal.
- Porquê, Gui? Estou aqui bem na sala.
- Papá, vai para a biblioteca ler o jornal.
- Ora essa. Mas porquê?
- Tens de ir!
- Ó Gui, não me chateies. Vai mas é brincar.
- Papá, eu quero que vás para a bibilioteca!
- Gui, não é assim que as coisas se fazem. Se tu queres que eu vá para a biblioteca por alguma razão, tens de te explicar e dizer: "papá, eu quero que vás para a biblioteca por causa disto".
- Papá, eu quero que vás para a biblioteca por causa disto.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O Meu Pai É o Mais Selvagem - O vencedor

Bom, parece que a opinião da esmagadora maioria dos leitores deste blogue pende para a primeira foto. Desta vez o Vítor Cabeça terá de se contentar com um honroso segundo lugar. O grande vencedor do passatempo O Meu Pai É o Mais Selvagem é, portanto, o Daniel Lage Correia, que recebe entradas gratuitas no Jardim Zoológico para si, para a sua mulher e para os seus filhos num qualquer dia à escolha, até final de Abril. Pedia-te, caro Daniel, que depois enviasses os teus dados pessoais e os da tua família para paisdequatro@gmail.com. Parabéns ao vencedor e muito obrigado a todos os participantes (e a todos os leitores que ajudaram à escolha). Eis novamente a foto vencedora.


Passatempo O Meu Pai É o Mais Selvagem

Caros leitores, desta vez aqui o agregado familiar não se consegue decidir em relação a dois concorrentes ao passatempo do Jardim Zológico. Há como que um empate técnico, e como só pode ganhar um, venho pedir a vossa opinião (e os vossos argumentos). A decisão do vencedor continua deste lado (isto não é para contar comentários a favor e contra no final, ok?), mas queríamos dar-vos também a palavra. As opções são...


...esta foto do Daniel Lage Correia, assinalando, para que não haja acusações de amiguismo, que o Daniel é um velho amigo de Portalegre, que já não vejo há uns bons tempos - obviamente, não é por isso que ele está aqui (nem sequer sabia que ele lia este blogue - olá, Daniel!)...


...ou então mais este elaborado trabalho em Photoshop do Vítor Cabeça, que por um lado já foi um dos vencedores do passatempo anterior, e uma pessoa gosta sempre de uma distribuição mais alargada de prebendas, mas por outro também seria injusto estar a prejudicá-lo por causa disso. Digam então de vossa justiça, sff - com muito amor e carinho, claro.

As notas do 2.º período

Naqueles discursos moralizadores que de vez em quando faço aos meus filhos, tipo general a dar moral às tropas antes da batalha, exijo apenas uma coisa (além de serem bem-educadinhos, como é óbvio): que sejam bons alunos na escola. Explico-lhes que, por enquanto, eles não têm de se preocupar com a roupa, que aparece lavada e passada; não têm de se preocupar com a comida, que aparece feita; não têm de se preocupar com as despesas da casa, que aparecem pagas. E, de caminho, ainda levam como bónus muitos livros, filmes e brinquedos.

Em troca de tudo isso, os seus papás exigem uma única coisa: aplicação nos estudos. É assim que eles pagam aquilo que têm. Explico-lhes que a primária se faz com uma perna às costas desde que estejam concentrados e atentos, e na hora de fazer o trabalho de casa não há cá brincadeiras. Quando se entra no nosso escritório/ biblioteca/ sala de piano as palhaçadas ficam lá fora. Ali trabalha-se e estuda-se. Ponto final. Eu sou mesmo inflexível a lidar com isso, e já aconteceu metê-los para fora da biblioteca porque não estavam a cumprir as regras.

Muito graças a essa exigência, acho eu, e à infinita paciência que a Teresa tem em estudar com eles (tema que merecerá discussão daqui a uns tempos, já que por eu os querer mais independentes e auto-disciplinados nem sempre concordo com o seu esforço), a Carolina e o Tomás tiveram Satisfaz Muito Bem nos testes de todas as disciplinas: Matemática, Português e Estudo do Meio. Eu digo-lhes sempre que eles não precisam de ser os melhores da turma (embora devam tentá-lo), mas que na primária, quando as coisas ainda são fáceis, abaixo de Satisfaz Muito Bem não há cá sorrisinhos de condescendência nem palmadinhas nas costas.

Felizmente, com estas óptimas notas, já houve sorrisinhos de dever cumprido e palmadinhas de alegria. E, dentro em breve, haverá também uma prenda para os dois que andam na primária, que eles merecem. (O Gui, claro, já se queixou da discriminação, mas eu expliquei-lhe que a vida dele era só regabofe, e que quando deixasse de ser regabofe também teria a sua prenda. Ao que ele replicou: "o que é regabofe?")


quinta-feira, 21 de março de 2013

A Palmada Contra-ataca

Deixem-me então voltar ao tema que parece até hoje ter interessado mais os leitores deste blogue: dar ou não dar palmadas nos nossos filhos? (A mais recente entrada está aqui e a partir dela é fácil chegar às outras.) Deixem-me recuperar dois comentários que achei curiosos em relação ao último post. Em primeiro lugar, um leitor anónimo que me decidiu dar pancadinhas nas costas (mas sem bater):

Espero que este texto, magistralmente escrito, tenha feito muitos pais e mães pararem para pensar e repensar na sua forma de educar. O facto de ter voltado à conversa, JMT, mostra (embora não o admita) que tem pensado sobre o assunto e isso é muito bom.

Obrigado, caro leitor anónimo, pela preocupação com a minha forma de educar. Só não percebo porque acha que eu não admito que ando a pensar nisso - então se já me fartei de escrever sobre o assunto e até já admiti que conseguir educar os filhos sem uma única palmada merece estátua numa praça de Lisboa (e das grandes). O que eu não sinto, de facto - e se calhar era a isso que se referia -, é nenhuma espécie de angústia existencial quando enfio uma nalgada num ou noutro, num qualquer momento em que entendo que passaram dos limites.

E porquê? Basicamente porque sinto que isso não é um problema na nossa família. Se percebi que fui injusto, peço-lhes desculpa. Se não tiver sido injusto, eles percebem porque é que levaram. É que, para o caso de os senhores e senhoras com discursos mais cor-de-rosa nunca terem reparado, educar é obrigar seres humanos a fazer coisas para as quais não estão naturalmente talhados. Por que raio é que eu hei-de comer com o garfo na mão esquerda e com a faca na mão direita? Por que não ao contrário? E porque é que tenho de esticar o dedo indicador para pegar na faca? Por que raio hei-de pentear-me? A quem prejudica eu andar desgrenhado? Por que raio hei-de ter de fazer a cama se me volto a deitar nela à noite? (Pergunta recorrente em todas as nossas casas, como se sabe.)

Diz-se muitas vezes que a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro, e eu simpatizo com essa ideia. Mas eu em nada prejudico a liberdade dos outros se não comer com talheres, se não me pentear ou se não fizer a cama. Ou seja, a educação, a socialização de uma criança, é uma diminuição efectiva da liberdade de um ser humano, e não é porque afecte a liberdade dos outros. Fazemo-lo em função de um bem superior? Com certeza. Mas é sempre uma forma de opressão, se quisermos ser trágicos e fundamentalistas.

Nesse sentido, eu oprimo sempre, mesmo que não bata. E aí pergunto, para esticar a corda: qual é a diferença entre opressão física e opressão psicológica? Qual é a diferença entre dar uma palmada ou impor um castigo violento? O que se prende com um segundo comentário, que achei bem curioso, e com o qual concordo em absoluto:

Verdade, verdadinha, que eu estive todo o tempo à espera que algum progenitor ou educador mais afoito viesse aqui discorrer sobre os exageros do diálogo, da negociação, do compromisso, da dialéctica e etc., que podem resultar em meninos mimados, mal agradecidos, abusadores, dissimuladores, manipuladores e outros horrores... Pois, pois, é que eu conheci alguns. Com eles tudo tinha de ser eternamente negociado! Será que no meio é que está a virtude, com pessoas bem resolvidas?

Sim, sim, sim. É isso mesmo. Não só no meio é que está a virtude, como certos castigos não-corporais podem ser muito mais violentos do que uma palmada. Imaginem que um dos meus filhos está insuportável e eu, em vez de lhe bater para conseguir baixar as suas rotações, o enfio na casa de banho e fecho a porta, proibindo-o de sair de lá. Garanto-vos, meus caros: para ele, isso seria de uma violência infinitamente maior.

Portanto, das duas, uma. Ou temos em casa uns anjinhos abertos a todas as formas de negociação - e atenção que eu tenho um filho assim: o meu Tomás é muito mais sensível a um "estou desiludido contigo" do que a uma palmada no rabo -, ou então, se nos sai uma peste reguila, eu francamente não sei como a pôr em sentido de forma mais eficaz do que uma palmada (justa, suave, formativa) na hora certa.

Lamento desapontar-vos, caros leitores. Eu não sou nenhum Ghandi da educação infantil. Não partilho certas teses da não-violência e não sinto que a palmada seja um problema cá em casa. E, portanto, continuarei alegremente a distribuí-la enquanto a considerar um meio eficaz de educação (ou de opressão necessária, se quiserem).

E, já agora, também acho contraproducente uma educação demasiado pensada, demasiado controlada, aquela coisa do "se eu acho que vou perder o controlo saio da sala e peço a alguém para me substituir". É evidente que se eu estiver quase a ir buscar a faca de cortar os bifes para transformar o meu filho em bitoque, se calhar é melhor dar um passo atrás. Mas também é educativo que os filhos nos vejam perder a paciência. Porque viver é isso. Riso e choro, gargalhadas e gritos. Quando nos preocupamos demasiado com a perfeição tenho sempre aquele medo de que os nossos filhos saiam de casa para partir os dentes na primeira desilusão com que esbarrarem na rua.

Portanto, e em resumo, cá em casa, se tiver mesmo de ser, lá continuará a saltar uma palmada de vez em quando. Mas sempre - ou quase sempre - com amor.

Um dia de sapatos altos

Ontem de manhã, enquanto preparava o pequeno-almoço para a família, reparei que a Carolina passou no corredor com um pequeno escadote na mão.

Só mais tarde percebi porquê: para conseguir chegar a um par de sapatos altos que, por serem pouco usados (não me deixam manter a pedalada necessária para tudo o que há a fazer num dia de trabalho, além de que o meu engenho para andar elegantemente em cima de antas deixa muito a desejar), estão arrumados fora do alcance das mulheres da casa.

Mas a Carolina, como a maioria das meninas princesas friendly, adora sapatos altos. E daí a nada lá estava ela a tomar o pequeno-almoço em cima de uns botins. Eu comecei logo a dizer-lhe que não queria que ela andasse muito tempo com os saltos porque lhe faziam mal à coluna. Mas ela contra-argumentou (a sua especialidade) que passar o dia em casa a fazer trabalhos de casa, ter aulas de inglês, ver filmes e brincar com os legos não implica andar em pé - e que por isso não ia custar nada.

Lá a deixei usar os sapatos, mas disse-lhe que tinha a certeza que se iria cansar daquilo a meio do dia. Quando isso acontecesse, ela que fizesse o favor de arrumar os botins no sítio onde estavam. E então a Carolina, provocadora, resolveu apostar comigo que iria conseguir andar de saltos altos todo o dia.

E não é que conseguiu? Até cair de sono nunca largou aquilo. Até para lavar os dentes manteve a postura.


Tenacidade não lhe falta. Nem teimosia. Já bom-senso...

quarta-feira, 20 de março de 2013

Ainda o pesadelo do Dia do Pai

Voltando à história do pesadelo do Dia do Pai, aquilo que me impressiona quando penso nisso é o facto de a parte mais horrorosa do sonho, aquilo que me fez acordar de susto, não foi a Teresa ter seguido a sua vida, não foi ter-se casado com outro homem, não foi sequer ter tido filhos com ele - foi quando ele e ela começaram a ter uma discussão doméstica à minha frente.

O meu inconsciente malévolo esteve particularmente bem nessa parte. Aquilo que me magoou profundamente não foi a abstracção de "um outro homem" ou de "uma outra vida", projecções relativamente comezinhas, que qualquer pessoa já fez. Foi o concreto de uma discussão doméstica, aquelas discussões totalmente estúpidas que só temos com quem amamos ou com quem odiamos, mas que significam invariavelmente que existe uma enorme percurso em conjunto.

E pensando bem, isto é de um extraordinário engenho: eu revelo a minha maior intimidade com uma pessoa não quando vou para a cama com ela mas quando discuto com ela. Sabem que mais? É absolutamente verdade. As pessoas até podem ir para a cama com semi-desconhecidos numa one night stand. O que elas nunca farão é ter discussões idiotas, parvas, irritantes, aquelas discussões que têm escritas no meio da testa muitos-anos-a-virar-frangos-em-conjunto, com quem não conhecem bem.

E é notável olhar para essas discussões não como o resultado de anos e anos de desgaste de uma relação, mas como manifestações de amor. Quão twisted pode ser um pesadelo? Altamente twisted, devo dizer-vos. Eu acordei porque senti um ciúme brutal de uma discussão doméstica. Não do marido dela. Não dos filhos dela. Mas dessa profunda manifestação de intimidade que é permitirmo-nos que a tampa salte com quem vivemos há muito tempo. Foi aí que eu percebi "ela é de outro e não minha". Foi aí que eu percebi que toda a minha vida me fora roubada. E foi aí que eu acordei.

E os cinco vencedores do passatempo O Pai Mais Horrível do Mundo são...


Imaginem o rufar de tambores, e tal. Uns gajos e umas gajas giras a abrirem envelopes. Um pequeno momento de suspense. E eis os grandes vencedores do 1.º Passatempo do Blogue Pais de Quatro. Cada um dos felizes contemplados irá receber um exemplar assinado de O Pai Mais Horrível do Mundo. E eles são:

1. Vítor Cabeça
2. Susana Rosa
3. Patrícia Barbosa Pinto
4. Bruxa Mimi
5. Luísa Duarte Carinhas

Muitos parabéns aos vencedores e muito, muito obrigado a todos os que se deram ao trabalho de participar. Como sou um bocado burro, esqueci-me de pedir para me dizerem no mail a quem queriam que dedicasse o respectivo livro. Tenho as moradas de todos mas falta-me essa preciosa informação. Se me a puderem enviar para paisdequatro@gmail.com ou deixar na caixa de comentários deste post, agradecia.

Entretanto, vencedores e não-vencedores, não se esqueçam que até à meia-noite de amanhã continua em vigor o passatempo do Jardim Zoológico. As participações já aumentaram - por isso, caprichem.

E para finalizar, deixo-vos a imagem do primeiro classificado do passatempo O Pai Mais Horrível do Mundo, que é para vocês verem que há gente que se aplica a sério. Parabéns ao Vítor e ao seu filho Tomás. Pelo Photoshop e pela interpretação. Aquele é definitivamente um olhar de Pai Mais Horrível.

terça-feira, 19 de março de 2013

O sentido da vida

Um miúdo de nove anos discute o sentido da vida. O autor do vídeo, Zia Hassan, jura que nada daquilo foi ensaiado. Eu não imagino a minha filha Carolina a ter uma conversa destas, mas mesmo assim apetece-me acreditar nele.



Passatempo Horrível e passatempo Selvagem

Queria desde já agradecer a todos o entusiasmo com que têm estado a aderir aos passatempos. O do Pai (e da Mãe) Mais Horrível do Mundo está a bombar e termina hoje às 21 horas (apressem-se os últimos candidatos). O do Pai Mais Selvagem já conta com algumas participações, mas está menos concorrido, talvez por o intervalo para enviar fotos ser mais curto e nós estarmos a promover dois passatempos em simultâneo.

Por isso, depois de ter consultado o representante da Santa Casa da Misericórdia (estou a gozar), decidi alargar o prazo do passatempo "O Meu Pai É o Mais Selvagem" em 48 horas, para ficarem com mais tempo para serem Selvagens depois de terem acabado de ser Horríveis. Assim, o prazo para participar no passatempo que dá entradas de borla no Jardim Zoológico de Lisboa a uma família inteira, independentemente do número dos filhos (mesmo que sejam 12, entram todos sem pagar), é alargado até à meia-noite da próxima quinta-feira, dia 21. Aproveitem.

E mais uma foto para inspiração.


Gui, o metafísico

- Papá, quando eu morrer o que é que sinto?

Prendas do Dia do Pai

Depois do horrível pesadelo, vieram as lindas prendas do Dia do Pai.

A do Gui:


A do Tomás:


A da Carolina:


E a da família toda, Ritinha e mamã incluídas:


Sou um sortudo.

O melhor pesadelo do Dia do Pai

Acabei de acordar estremunhado de um pesadelo horrível. Vivia no raio de uma realidade paralela em que eu e a Teresa tínhamos tido em tempos uma relação mas não nos chegámos a casar, e a vida de cada um seguiu para seu lado. Já não me lembro dos detalhes, mas sei que nos voltámos a ver anos mais tarde, por mero acaso, como dois antigos amigos que se reencontram na rua. E a última imagem que retenho, antes de acordar super-angustiado, é de estar à porta de um prédio, a chamar um elevador. Era ali que a Teresa morava, e foi aí que ela se cruzou com o seu marido. E já não sei porquê, começaram a discutir por causa de um assunto doméstico qualquer, comigo ao lado muito caladinho. Também havia um par de filhos, com os quais não me lembro de interagir, que não eram meus mas dele. So fucking creepy!

Eu raramente me lembro de sonhos ou pesadelos, mas neste caso acordei num pulo e com uma sensação horrível de ter passado ao lado de toda a minha vida. Logo eu, que não sou nada sentimentalista nestas coisas. Felizmente, quando olhei para a esquerda tinha um mini-cocuruto a sair do lençol, e a Teresa ao seu lado. Nem sei como é que a Rita foi parar à minha cama, e de um modo geral detesto invasões de filhos em lençol alheio. Mas desta vez não. Que bom eles estarem ali. Eu ando cansadíssimo por causa do trabalho e de mais um bebé, mas imaginar que existia desligado da minha família deve ter sido a coisa mais abominável que me passou pela cabeça nos últimos tempos.

Suponho que este pesadelo tenha sido uma espécie de prenda perversa que o meu inconsciente resolveu oferecer ao meu consciente no dia de hoje: "Estás sempre a queixar-te da família, não é? Então toma lá esta prendazinha onírica: imagina que ela não existia. Ou melhor ainda: imagina que ela existia mas não era tua. Feliz Dia do Pai!"

Chiça. Obrigadinho, ó inconsciente. És um amigo do caraças.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Os desenhos animados devem andar a fazer mal à cabeça da minha filha mais velha

- Carolina, pega no telemóvel. A mamã que falar contigo.
- Qual mamã?

Ainda as palmadas

Ainda sobre a história das palmadas a crianças que dominou vários posts deste blogue, como este, encontrei na net mais uma defesa acérrima da tese da não-violência e uma crítica acesa à minha postura trauliteira. Vale a pena lê-la aqui.


Os Croods

A nossa manhã de domingo foi passada a ver isto:


O filme chama-se Os Croods e conta a história de uma família das cavernas que é confrontada com o fim do seu mundo e o aparecimento de uma versão humana mais desenvolvida deles próprios - um miúdo cheio de ideias, que já domina o fogo. O argumento é desequilibrado, mas está cheio de momentos divertidos. Os filhos 1 a 3 gostaram bastante. A filha 4 ficou em casa com os avós, que aos seis meses ainda é demasiado pequena para ir ao cinema. Mais um anito e começamos a iniciá-la nestas lides.

Passatempo Dia do Pai/Jardim Zoológico

Não há fome de passatempos que não dê em fartura. O Jardim Zoológico contactou-nos para promover um passatempo do Dia do Pai, e nós gostámos da oferta: bilhetes de entrada à borla para a família vencedora, num qualquer dia à escolha até ao final de Abril. E isto quer a família seja um pai e um filho ou dois pais e seis filhos (olá, famílias numerosas). Para ganhar, basta enviar uma fotografia subordinada ao tema O meu pai é o mais selvagem. Têm até à meia-noite da próxima terça-feira, Dia do Pai. Venham de lá essas fotos, senhoras e senhores, para o sítio do costume: paisdequatro@gmail.com. Não se esqueçam da vossa identificação e de nos informar sobre o número de filhos. Deixo aqui uma foto para inspiração (mas não façam isto em casa).


domingo, 17 de março de 2013

Agora em vídeo

A TVI fez um simpatiquíssimo vídeo sobre o lançamento d'O Pai Mais Horrível do Mundo, que pode ser encontrado aqui.

Foi ontem!


O lançamento d'O Pai Mais Horrível do Mundo foi uma animação: o Ricardo Araújo Pereira gozou comigo, como se esperava (a tese dele é que o livro é um elogio da austeridade e que, no final, a criança perdoa ao pai austero - o que é um perigo quando transposto para a política portuguesa); eu procurei traduzir a importância que este livro tem para mim, sobretudo por mostrar que a família é o lugar onde as palavras zangadas perdem sempre para os gestos de amor; e o João Fazenda teve a simpatia e elegância habituais, ele que é o verdadeiro alquimista deste trabalho, transformando palavras simples numa obra ainda melhor do que eu estava à espera.

Também tratei de elogiar o Gui, e pedi-lhe desculpa por ele não ser creditado como co-autor (não que ele se importe muito com isso), já que o livro é tanto dele como meu - são, de certa forma, as suas palavras de protesto que ali estão plasmadas. No dia anterior tinha pedido à organização para arranjar uma mesinha pequenina para o Gui ficar no palco, ao lado dos autores (oficiais) e do apresentador, e ele lá ficou, impecável. No final, disponibilizou-se para dar autógrafos, e esteve entretido a assinar (e a gatafunhar) livros atrás de livros.

A sessão foi muito longa, e a única coisa que lamento foi não ter podido dar a devida atenção a imensa gente que teve a amabilidade de se deslocar à Fnac do Chiado. Encontrei algumas pessoas que costumam passar por este blogue (como a SN) e ouvi bastantes palavras simpáticas em relação aos Pais de Quatro. O meu muito obrigado a todos. Ah!, e quem ainda não concorreu e estiver interessado, não se esqueça do passatempo.


O Pai Mais Horrível do Mundo

Eis o meu texto de hoje na revista do CM:

Quando há cerca de dois anos resolvi atrever-me a escrever livros para crianças tinha várias ideias na cabeça, e decidi concretizar três delas praticamente em simultâneo, porque achei que fazia todo o sentido dedicar um livro a cada um dos meus filhos. Entretanto, a minha capacidade reprodutiva mostrou-se superior à minha produção literária, o que significa que já levo um livro de atraso (a Rita ainda aguarda vez, coitada). Mas nem por isso esta semana deixa de ser um marco: com o lançamento de ‘O Pai Mais Horrível do Mundo’ não só fica completa a minha trilogia inicial, como consegui pôr um filho a levitar pela casa, tão inchado de orgulho ele está.

É que este livro é bastante diferente dos outros dois. O primeiro, ‘A Crise Explicada às Crianças’, é dedicado ao Tomás, mas é um falso livro infantil, com um lado de sátira ao estado actual do país que só os adultos apanham e que exige dos pais uma leitura acompanhada. O segundo, ‘Uma Baleia no Quarto’, é dedicado à Carolina e inspirado numa história que inventei em noite de insónias: uma menina birrenta chora tanto que as lágrimas vão subindo no seu quarto até começarem a aparecer animais marinhos. Este livro já é mais próximo da nossa realidade, pois a Carolina teve, de facto, uma fase muito difícil quando era pequena. Só que hoje em dia é uma rijíssima lutadora de taekwondo, e quando ‘Uma Baleia no Quarto’ lhe chegou às mãos irritou-se à brava por o livro traçar dela uma imagem de menina-chorona, na qual já não se revê minimamente.

O que ‘O Pai Mais Horrível do Mundo’ tem de especial é que não é bem uma história inventada, nem sequer um livro sobre o Gui – ‘O Pai Mais Horrível do Mundo’ é o Gui, na medida em que um menino de carne e osso pode ser vertido em papel. O livro tem uma mecânica muito simples: uma criança (o Gui, claro) protesta por o seu pai estar sempre a corrigi-lo, chateá-lo, castigá-lo, a embirrar com ele e a não o deixar fazer o que quer. É o pai mais horrível do mundo, pois claro – mas também o melhor, porque é o seu. E é absolutamente espantoso como o Gui sente que aquele retrato lhe faz justiça. A um ponto tal que já se assume como co-autor do livro. Nos autógrafos à família, ele senta-se ao meu lado, e depois de eu escrever algumas palavras faz um pequeno desenho e assina por baixo: “Gui”. Concentrado e profissional, como um verdadeiro escritor.

A ilustração (bastante presciente, tendo em conta o que foi o lançamento) é do José Carlos Fernandes.


sábado, 16 de março de 2013

É hoje!

E pensar que tudo começou assim
com este esboço do João Fazenda, para a primeira dupla página de O Pai Mais Horrível do Mundo. Logo aí disse para os meus botões "sim!, é isso mesmo!". E o resultado final foi este:


Eu sei que o livro é meu, mas nunca me hei-de cansar de elogiar o maravilhoso trabalho do João, numa história onde o texto jamais resistiria se não tivesse estas magníficas ilustrações a acompanharem-no. Além de que há aqui algo de semi-miraculoso: até hoje o João Fazenda nunca viu o Gui (conto apresentá-los esta tarde), mas conseguiu retratá-lo como se o conhecesse desde o nascimento, tendo como base apenas um par de fotografias manhosas.

Serve o elogio para dizer aquilo que vocês já sabem, mas que eu volto a relembrar. Eu, o João Fazenda, o Gui e a restante família vamos estar esta tarde, pelas 17 horas, na Fnac do Chiado a lançar oficialmente O Pai Mais Horrível do Mundo. A apresentação ficará a cargo do Ricardo Araújo Pereira, que espero que tenha aceite o convite mais pela qualidade do livro do que por ser meu amigo (e do João, já que é ele quem lhe ilustra as crónicas que escreve semanalmente na Visão). Apareçam, se puderem. E se não puderem aparecer, pelo menos concorram ao passatempo, que pode ser encontrado aqui.

Logo à noite vou tentar arranjar um tempinho para vos contar como foi.