quarta-feira, 27 de março de 2013

O netinho do Quim

Atenção, minhas senhoras e meus senhores, já que o grande Quim Barreiros foi trazido à colação na sequência do post anterior, e depois desmerecido por alguns leitores nos comentários, quero aqui defender a sua honra e sublinhar que também ele denota grande preocupação familiar, como é próprio da boa gente do povo.

Não será um Tony Carreira, não senhor, mas apesar do conteúdo da sua obra, também ele é um respeitável homem de família. Num dos seus extraordinários discos (Use Álcool, 2007), ele dedica inclusivamente um tema ao seu jovem neto, precisamente intitulado "O Meu Netinho". O refrão - reparem bem - é de grande elevação poética:

Ai, ai, ai, como é bom ser avozinho
Ai, ai, ai, como é lindo o meu netinho

E apesar de o tema conter a expressão "adoro o teu beijo molhado", ela é, incrivelmente - diria mesmo, miraculosamente -, utilizada de forma 100% inocente. Eis o milagre consumado da grã-paternidade: Quim Barreiros, o mestre do trocadilho, o homem que consegue desencantar a badalhoquice que está escondida a 100 metros de profundidade nas palavras mais insuspeitas (cf. o verso "Banana Pessego", contido no hoje já clássico da música portuguesa "Casamento Gay"), esse mesmo homem consegue subitamente escrever uma letra cândida para o seu pequeno neto, ao ponto de ficar cego às polissemias da letra - afinal, o ramo em que se doutorou honoris causa com indiscutível brilhantismo.

Ora vejam, e comovam-se:


4 comentários:

  1. A minha filha mais velha, na inocência dos seus 6 anos, ao ouvir esta música e sem qualquer juízo de valor acerca do cantor, comentou: "É tão linda, esta música!" Acho que se comoveu com os sentimentos do "avo Quim"...

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  2. Não gosto nem de um nem de outro, mas temos que convir que sao aquilo que anima a populaça (seja com a polissemia de palavreado do Quim, seja com a doçura execessiva do Tony). se levarmos à letra o que é dito nas musicas do sr. Quim, aquilo não tem piada... :) a mente do portugues foge logo para a malandrice... Como diria alguem: "o Português é muito traiçoeiro". Bem aja, JMT, que me animou o escritorio num final de tarde chuvosa... :)

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  3. Se não fosse por mais nada o Sr. Joaquim de Barreiros sempre teria a vantagem de ter gravado com o Senhor José Afonso...

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