domingo, 30 de junho de 2013

Rita cherry picking

E depois do banho, a apanha da cereja. Depois da Urra (concelho de Portalegre), os Montes da Senhora (concelho de Proença-a-Nova). Acabei de receber mais esta fotografia, ainda dentro da linha "olha o que estás a perder", referida no post anterior. A verdade é que tenho sempre a sensação de que os meus filhos se divertem imenso quando estão sozinhos com a mãe. Há que fazer isto mais vezes. Para bem das crianças, claro.


Miss Rita at the pool

Depois de na semana passada ter sido eu a ir depositar os filhos ao Alentejo, coube agora à Teresa ir buscá-los. Eu fiquei em Lisboa a trabalhar (versão minha)/ a descansar (versão da excelentíssima esposa). E como sempre acontece nas raras ocasiões em que a família se divide, já fui inundado de fotografias vingativas, do género: "ai quiseste ficar em Lisboa?, repara no que estás a perder, palhaço". E aquilo que eu perdi desta vez foi o primeiro banho de piscina da Rita, como podem verificar em baixo. Snif, snif.

A primeira foto captura-a em pose de estrela de Hollywood, a fingir uma falsa naturalidade, preferindo fixar o fora de campo em vez da câmara, como quem diz: "há mais na minha vida para além do brilho dos holofotes". Reparem também na subtileza do product placement dos boiões de fruta da Compal, uma das suas sobremesas de eleição, ao mesmo tempo que enverga um fato de banho do estúdio de cinema com o qual mantém relações privilegiadas. Tudo é pensado até ao mínimo detalhe, como só os grandes profissionais do star system são capazes de fazer:


A segunda foto captura-a em pose de estrela de Hollywood a simular uma comunhão com os elementos telúricos da natureza, como quem diz "sou uma mulher linda, mas ainda assim simples", um clássico da temática bucólica característica do Romantismo:


Apesar da indesmentível sofisticação dos enquadramento, peço desculpa pela miserável qualidade das fotos. Tal deveu-se ao facto de ter manifestamente faltado à equipa o apoio técnico do gajo que é o responsável pelos ALCTB (Aparelhos que Lá em Casa Têm Botõezinhos), e que conseguiria com certeza, e sem grande esforço, retirar do equipamento uma definição superior à dos telemóveis de 1998.

sábado, 29 de junho de 2013

Peço desculpa, senhora filha

Na semana passada os dois filhos mais velhos estiveram em casa dos avós paternos, no Alentejo. A Carolina, vá-se lá saber porquê, viu-me com o meu novo look de Verão no Governo Sombra (que passa às 11 da noite, mas tentemos esquecer esse pormenor - sobretudo porque a minha mãe, quando eu tinha a idade dela, me obrigava a ir para a cama religiosamente às 21 horas).

Ó pra mim tão lindo

Bom, mas o que interessa para aqui é que às tantas apita o meu telemóvel, com a seguinte mensagem vinda da Carolina: "Tu cortaste o cabelo sem a minha autorização?" Pumba. Assim. Só isto. Parece que me esqueci de enviar o requerimento de desbaste capilar para despacho à minha gestora de imagem. Que eu nem sequer sabia que existia.

Um grande "oh, oh", é o que é. A minha filha só tem nove anos e já está igual à mãe. Todas me detestam ver com o cabelo pequeno. Eu até percebo: quanto mais pêlo e cabelo a taparem-me a fronha feia mais bonito fica o mundo. Mas podiam ao menos disfarçar. Um bocadinho, vá.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Contra a depressão

Para chamar a atenção para os problemas da depressão, uma agência de publicidade de Singapura teve esta ideia extraordinária, em que a inversão de uma mensagem de felicidade revela aquilo que está escondido. Há mais anúncios em forma de ambigrama além deste que aqui fica retratado, mas nenhum outro é tão eficaz. Genial.


A mensagem da campanha é: "The signs are there if you read them. Help us save a life before it's too late." Acho que qualquer um de nós, infelizmente, se pode identificar com ela.

Mais detalhes aqui.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Os arquivos do Gui

E por falar no Gui, ontem ele chegou orgulhosíssimo a casa com o seu dossiê dos trabalhos que fez na escola durante todo o ano lectivo. Eu e a Teresa tivemos de amochar 40 minutos no sofá enquanto víamos cada trabalho um a um, devidamente comentado, com reflexões elaborados sobre o conteúdo e as técnicas utilizadas. De entre os trabalhos que me dizem respeito, estes são os meus favoritos.

Eis como o Gui me descreveu à sua professora:


Gosto sobretudo da parte de eu ser giro e magro. E este é um incrível desenho a carvão da minha pessoa. Ó pra mim tão lindo:


Querida, estiquei os miúdos

Vocês já alguma vez foram invadidos pela sensação de o vosso filho ter crescido durante a noite? Há sempre aquela ideia de que nós, porque passamos a vida ao seu lado, não notamos que eles crescem a não ser pela roupa que vai deixando de servir. Mas hoje de manhã olhei para o Gui e ia jurar que alguém entrou no seu quarto enquanto todos dormiam, puxou-lhe pela cabeça e pelos pés, e ele já não voltou ao normal. Hoje de manhã olhei para ele e estava um trinca-espinhas com mais dois centímetros (pelo menos), um ponto de exclamação virado do avesso, com as suas perninhas muito altas e da largura do meu pulso.

Bom, mas também é verdade que acordei às quatro e meia da manhã. Posso perfeitamente estar a alucinar.


terça-feira, 25 de junho de 2013

O ballet da Rita

Como infelizmente a Rita não pôde ir ver os Monstros (só porque não deixam menores de três anos assistir a sessões de cinema no ECI, o que é uma verdadeira injustiça, no caso da nossa mini-cinéfila), lá foi obrigada a ficar em casa. Mas também teve direito à sua sessão de diversão.

A minha irmã mais nova, que vive na Irlanda, emprestou-nos este fantástico bouncer, muito popular por lá, mas até agora a Ritinha não sabia aproveitar as suas potencialidades e limitava-se a baloiçar para um lado e para o outro ao ritmo dos nossos empurrões. Padecendo de uma rara preguicite aguda, a menina Rita é mais dada a boleias de adultos do que a esforçar-se por se deslocar sozinha, e por isso, sempre que baloiçava no bouncer, não se dava ao trabalho de pôr os pés no chão para dar os seus próprios impulsos.

Mas isso acabou este fim-de-semana, e agora é vê-la num autêntico ballet, com os seus delicados pés a fazer toda a espécie de pliés, enquanto vai praticando a sua algaraviada de bebé reguila.

Un...

...deux...

...trois!

Três exames e uma ida à Universidade

Este sábado, depois de uma radical entrega de cintos de taekwondo (com três horas de demonstrações de esgrima lusitana, sequências de taekwondo e exames de cinto preto capazes de roubar um enérgico kihap ao mais molenga ser vivo do universo), os nossos fantásticos taekwondistas voltaram para casa em perfeita harmonia de cinturas: agora temos um cinto verde, um cinto camuflado e um cinto verde-Tiny Tiger (por ordem decrescente de graduação e idades) a enriquecer o agregado familiar.


É claro que, terminada a cerimónia, cada um comentava no carro o que mais os marcou, de acordo com as suas personalidades: a Carolina sonhava alto como irá ser fantástico o seu exame de cinto preto; o Tomás lamentava a sorte da senhorita que quase desmaiou em pleno exame, tal era a intensidade dos exercícios e da ansiedade, apesar de ser uma exímia praticante desta arte marcial;  já o Gui não parava de se admirar no vidro do carro com a sua fantástica faixa para a cabeça, a que só os Tiny Tigers tiveram direito, e que ele há tantos meses ansiava e já tantas vezes fantasiara com os mais variados materiais.

Para festejar com pompa e circunstância fomos directamente para o cinema ver o Monstros: A Universidade e, para não destoar, em vez de pipocas levámos hosomakis e nigiris de salmão para matar a fome. As expectativas eram altíssimas, pois os Mendonça Tavares pertencem aos milhões de fãs da Pixar, mas apesar de ser difícil não saber a pouco e de não haver no filme nenhuma nova personagem à altura da inesquecível Boo, a improvável amizade dos simpáticos Mike e Sulley fez-nos ganhar o dia.


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Exploração infantil

Vários problemas logísticos ocorridos no dia de hoje (poupo-vos aos pormenores) obrigaram a D. Rita a ir parar ao meu trabalho, de forma a afundar mais um bocadinho a produtividade nacional. De qualquer forma, foi uma presença marcante e cheia de estilo, embora ligeiramente macambúzia. Guardou os sorrisos todos para si, mas em nenhum momento lhe deu para as birras, o que já não é mau. Foi uma menina pacífica e antipática, exactamente como o pai. Aqui está ela no seu posto de trabalho a ouvir Seu Jorge:


E aqui está ela a mostrar o seu desagrado pela minha demora em sair da Time Out, com o típico olhar de Bambi, que faz sempre imenso sucesso:


As certezas do brilhante amor

José Carlos Fernandes

Eis o meu texto de ontem na revista do CM:

O recente debate sobre a co-adopção permitiu que nos confrontássemos com os nossos valores mais profundos: o que é uma família?, o que entendemos por “lei natural”?, qual o verdadeiro interesse superior da criança? São questões fundamentais, que merecem uma boa discussão. E por isso nesse debate eu estive – e estou – convictamente do lado da aprovação da lei, que me parece um caso elementar de direitos humanos, valorizando relações afectivas já existentes em detrimento de preconceitos antinatura.

Este não é o local certo para avançar com demorados argumentos filosóficos e políticos, mas é o sítio certo para reflectir sobre a perplexidade que sempre me acompanhou ao longo deste debate: ver os opositores da co-adopção por homossexuais defenderem, com absoluta certeza, que a família perfeita – a única, no seu entender, que assegura o crescimento equilibrado de uma criança – é aquela que replica a estrutura da família tradicional, sugerindo que tudo o que se afasta desse cânone é disfuncional ou, pelo menos, desaconselhável.

Como por esta altura o caro leitor já saberá, encontrar uma família mais tradicional do que a minha não é tarefa fácil. Eu não só sou um monogâmico praticante com quatro filhos, como namoro com a mesma mulher desde 1992, tinha eu uns ridículos 18 anos e ela nem isso. Mas o facto de me ter casado com a minha primeira namorada, e de até hoje me considerar muito feliz com essa decisão, não me faz andar por aí a pregar que esse é o único, nem necessariamente o melhor, caminho para a felicidade.

O orgulho que sinto pela minha família, e a felicidade que, apesar de inúmeras confusões e frustrações, sinto no seio dela, dá-me para a gratidão – não para a imposição. Eu agradeço a todos os santinhos a imensa sorte que tive, mas não me passa pela cabeça achar que existe uma fórmula fechada para se construir uma família equilibrada ou que as certezas sobre o meu mais brilhante amor são facilmente extrapoláveis.

Nós vivemos ainda numa extraordinária ignorância sobre o funcionamento da nossa cabeça e sobre a matéria de que são feitos os nossos sentimentos. E por isso, tenho para mim que a atitude mais sábia é manter uma permanente modéstia e seguir o conselho de Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres.” Este deveria ser o primeiro artigo de todas as leis da República. E esta é a única certeza que aqui deixo.

domingo, 23 de junho de 2013

Socialismo mamário

Foi um texto da Carla Hilário Quevedo na revista do jornal Sol que me chamou a atenção para mais esta extraordinária notícia oriunda da Venezuela. Tendo em conta os debates que já aconteceram neste blogue a propósito da amamentação, acho que vocês vão gostar, caros leitores. A notícia foi retirada do site do Público, aqui. Parece que o socialismo já chegou às mamas. Ora vejam:

O Governo da Venezuela, liderado pelo Presidente Nicolás Maduro, quer tornar a amamentação obrigatória. A proposta de lei que apresentou à Assembleia Nacional e que começa a ser discutida na terça-feira visa incentivar as mulheres a darem o seu leite aos filhos e limita a publicidade a leites para bebés.

A oposição considerou que há aspectos muito positivos na proposta de lei mas deixou duas críticas. Em primeiro lugar, não se trata de uma campanha de sensibilização para que os venezuelanos percebam a importância do leite materno mas sim de um acto coercivo. Segundo, como disse a deputada da oposição Dinorah Figuera, "é lamentável que se mate uma lei com uma péssima declaração".

Figuera referia-se às palavras da deputada Odalys Monzón (do Partido Socialista Unido, no poder), que disse que o laço que se estabelece entre a mãe e o recém-nascido no acto da amamentação está em risco por culpa das "multinacionais que vendem fórmulas [lácteas]".

Numa entrevista ao canal público de televisão, Monzón, que é vice-presidente da Comissão da Família do parlamento, sublinhou que "todas as crianças devem ter direito à amamentação" e foi ao ponto de dizer estar de acordo com a proibição dos biberons se isso ajudar a implementar esse hábito.

As organizações feministas venezuelanas criticaram duramente as declarações da deputada; outros sectores da opinião pública (os jornais, por exemplo) troçaram das suas palavras. Mas a lei vai ser discutida e votada, tendo o Partido Socialista Unido da Venezuela maioria na Assembleia Nacional.

O projecto de lei altera 18 dos 33 artigos da actual legislação e prevê sanções muito severas para os que violarem as regras da publicidade de leites e papas para crianças até aos seis meses. Estes, diz a lei, devem beber leite materno "excepto quando há outra indicação médica".

"O mais importante é o amor, que às vezes se perde porque falta esse calor que é transmitido quando se amamenta o bebé", disse a deputada que foi uma das protagonistas da pancadaria que ocorreu no parlamento de Caracas no dia 30 de Abril — 11 deputados ficaram feridos e Monzón foi identificada como tendo sido a pessoa que agrediu a deputada da oposição Maria Corina Machado, que teve que ser operada devido a uma fractura no nariz.

Olhada de uma forma mais lúcida, a nova legislação enquadra-se numa série de medidas do Governo de Nicolás Maduro para aplicar a "soberania alimentar" prevista pela Revolução Bolivariana e Hugo Chávez, o Presidente que morreu no início deste ano. A crise económica e a escassez de produtos tornou a aplicação dessa "soberania" (que não é mais do que a procura da auto-suficiência em relação aos bens alimentares de primeira necesisdade) mais urgente — o Governo está a ser obrigado a gastos astronómicos para importar alguns produtos.

Já com outro discurso, e citada pelo El País, a presidente da Comissão da Família do parlamento, María León — ex-ministra de Hugo Chávez — disse que é preciso "consciencializar a população" para os benefícios que o leite materno tem para os recém-nascidos e que pode ser dado às crianças até aos dois anos. León sublinhou que a lei obrigará as multinacionais do ramo que operam na Venezuela a criar horários compatíveis para as mães que amamentam.

A proposta prevê a criação de bancos de leite e estabelece multas pesadas para hospitais e maternidades que não cumpram as regras e suspensões para os clínicos.


sábado, 22 de junho de 2013

Metáfora animal

Eu sei que isto pode parecer um vídeo sobre um cão pachorrento e um gato frenético, mas na verdade é uma excelente metáfora sobre a minha vida doméstica. Adivinhem quem é o cão e quem é o gato.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Os bebés e eu

Ainda a propósito deste post, queria apenas contestar o comentário da Ana Rute Oliveira Cavaco: "Epá, mas à parte isso, é tudo tão mais fácil quando eles são bebés...". Eu ouço imensos defensores dessa tese, sobretudo pessoas mais velhas que me dizem: "um dia ainda vais ter saudades". Percebo perfeitamente a ideia, mas acho que vocês não compreendem bem o meu problema com bebés que choram descontroladamente: é que eu começo mesmo a passar-me.

Ao pé de algumas experiências twilight zone que já tive, por exemplo com o Tomás, a Ritinha é uma santa de altares. Claramente, nos últimos dias estava com problemas na zona das dentolas, e agora que já tem quatro incisivos a apanhar ar voltou a ser uma gaja porreira. Mas quando os bebés choram ininterruptamente noite dentro e nós não os conseguimos mesmo calar, eu fico doido. Mas doido à séria. Começo a sentir uma vontade de serial killer de lhes enfiar uma meia na boca para que parem de chorar. Já me aconteceu mesmo, em noites de absoluto desespero, ter de me afastar para não os magoar - o que significa, provavelmente, que tenho um grave problema psicológico e que deveria ir à procura de tratamento médico. Mas como entretanto ainda não matei nenhum e já vou em quatro, deixo o psicanalista para mais tarde.

Um dos motivos - aliás, o principal - porque comecei a escrever sobre a família e a queixar-me dela, há coisa de cinco ou seis anos, foi porque me era incompreensível a unanimidade de um discurso cor-de-rosa sobre a paternidade quando eu não estava a achar graça nenhuma à coisa. Portanto, se algum dia eu tiver saudades de quando eles eram bebés, reabram o Júlio de Matos e metam-me lá dentro, se faz favor. Eu não acho piadinha nenhuma a bebés, e só poderei achar no dia em que achar também que sou o Napoleão.

Vamos lá ver: se vocês me encontrarem na rua com a Rita, a gente até se pode estar a divertir. Eu brinco com ela cá em casa, e atiro-a ao ar, e faço-a a rir, e sou um pai brincalhão. Ela até quer vir para os meus braços, imaginem só. Mas quando faço o somatório de "os prazeres" versus "as secas", garanto-vos que "as secas" ganham por larga margem. Daí eu dizer tantas vezes que o primeiro ano e meio de vida de um miúdo é morder a língua e esperar que passe depressa.

Até porque a Rita será, com certeza, a não ser que o mundo comece a girar ao contrário, a minha última filha, eu esforcei-me desta vez para ser mais atento e contemplativo do estado bebé. Resultado? Bom, acho que sim, e tal, foi um bocadinho mais giro. Eh pá, mas continuo a não gostar na mesma. Há imensa gente que gosta, e até tenho gente na família com imenso jeito para quando eles são bebés e pouco jeito para quando são crianças. Mas eu sou o exacto oposto disso. Portanto, não, não vou ter saudades de quando eles eram bebés, pelo menos enquanto não padecer de Alzheimer.

Vou certamente ter saudades de quando eles eram crianças, de quando eles tinham três ou cinco anos, de quando eram pequeninos e andavam às minhas cavalitas, de quando inventavam uma nova língua vagamente parecida com o português, de imensos momentos de felicidade que ficam registados (às vezes falsificadamente, mas isso é um outro assunto) nas fotografias que tiramos. Agora, para mim, não é fácil, nunca foi fácil e nunca será mais fácil "quando eles são bebés".

Mesmo que esta gaja seja tão gira, como manifestamente é, vai ficar infinitamente mais gira aos meus olhos daqui a seis mesinhos. No presente, damo-nos bem, há umas trocas de olhares, pinta um clima de vez em quando. Mas, ainda assim, jamais a convidaria a vir viver para minha casa.

Mãos ao ar, bebé insuportável!

terça-feira, 18 de junho de 2013

O companheirismo do Gui

Pedi ao Gui para entreter a Rita um bocadinho enquanto eu lhe preparava o banho. Dois minutos depois estavam os dois a trocar olhares cúmplices e a brincar em silêncio... dentro do berço da Rita! Nem fazia ideia de que o Gui lá cabia. O Gui brinca sempre de igual para igual, e por isso é uma espécie de Rapaz-Elástico: com a Carolina e o Tomás estica-se para parecer um homem crescido, à altura da maturidade dos manos; com a Rita encolhe-se para perceber o que é que a ela mais lhe interessa e a faz feliz. Grandes lições de amizade para uns quantos crescidos apologistas do show off...



Desafio do surf - a sequela

Para quem quer conhecer a sequela deste post, posso garantir que teve final feliz, para repouso dos corações maternos e paternos. O Tomás veio assim do surf:


Ou qualquer coisa parecida com isto, porque esta foto já é antiga (hoje em dia ele tem bastantes menos dentes na boca). A prova disso mesmo é que esta manhã ele estava impossível, como sempre acontece quando entra em modo excitex. Falava tão alto que conseguiu acordar os dois irmãos mais novos, tentou explicar-me como é que se fazia o "take off" (?) em cima da cama, e nunca mais escutei um pio sobre querer ficar em casa nos próximos dias. Além de que já vinha com bronze de surfista - e foram só as primeiras oito horas...

Quanto à Carolina, claro. Foi absolutamente estupenda, espantosa, maravilhosa, já se conseguia colocar sozinha em cima da prancha, correu grandes perigos, apanhou ondas incríveis e está quase a assinar um contrato profissional com a Billabong.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A angústia do segundo filho antes de experimentar uma coisa nova

Terminada a escola, a Teresa lembrou-se de meter os dois miúdos mais velhos a aprender surf durante uma semana. Eu, que só conseguiria manter-me em cima de uma prancha se fosse amarrado com cordas, achei uma excelente ideia. Carolina, a Destemida, achou uma ideia excelente, e aproveitou para rever o havaiano Lilo & Stitch - se bem a conheço, aposto que dentro da cabeça dela já se imagina a surfar a maior onda do mundo com Portugal inteiro a aplaudir. Já o senhor Tomás anda há três semanas angustiado e a dizer que não quer ir. Em relação a ele, é sempre preciso utilizar os melhores métodos de persuasão do Dr. Phil para o convencer a fazer essa coisa super-maluca e mais ou menos impensável chamada... "experimentar".

O Tomás tem horror a tudo aquilo que se afasta do seu campo de segurança e vive no pavor constante de ser gozado e não estar à altura das expectativas dos outros - mesmo quando os outros não têm quaisquer expectativas a seu respeito. O seu medo de falhar toma proporções avassaladoras e convencê-lo a tentar colocar um pé fora da sua zona de conforto exige a energia de uma central nuclear. Após 20 dias a convencê-lo, a Teresa lá o foi levar há coisa de uma hora ao carro que os transportará para a Costa da Caparica. E desde então estamos os dois com o coração nas mãos, porque nunca sabemos como regressará o Tomás: se tristíssimo e cabisbaixo e a dizer que nunca mais volta e que não é capaz de se pôr em cima da prancha e que todos gozaram com ele; se absolutamente fascinado com o mundo do surf e a querer saber tudo sobre fatos de mergulho, fibra de vidro e ondas gigantes. Para ele, raramente há meio termo.


Pare, escute e olhe

Ilustração de José Carlos Fernandes

Eis o meu texto de ontem na revista do CM:

Quando eu tinha quase quatro anos de idade fui atropelado por um automóvel em Portalegre. Não me aconteceu nada de especial: a rua onde vivíamos era estreita e os carros circulavam devagar. Mas foi suficientemente impressionante para o acontecimento passar a fazer parte da mitologia familiar. Eu não me lembro de nada, nem de pneus a chiar, nem da pancada no metal, nem do corpo no asfalto, mas recordo-me de escutar, ao longo da infância, dezenas de “queres ser outra vez atropelado?” assim que me aproximava de forma mais desabrida de uma estrada.

O medo não pegou, contudo. Evito cultivar traumas de infância e resisto a ser consumido pelo receio de que alguma coisa aconteça aos meus filhos. Se pensarmos demasiado nisso, qualquer coisa pode acontecer em qualquer altura, até rãs a chover dos céus, como no filme Magnólia. Isso é paralisante. Sabendo nós à partida que o pior está garantido – “como moscas para meninos travessos, assim somos nós para os deuses”, escreveu Shakespeare no Rei Lear –, o mais sensato é viver esperando pelo melhor. E esse melhor não se consegue alcançar tentando obcecadamente proteger os filhos de todos os perigos, mas sim ensinando-os a reconhecê-los e a enfrentá-los.

Não tenho grandes certezas sobre educação, um mundo vastíssimo e complexo que a nossa inteligência está longe de abarcar. Mas estou convencido de que se conseguirmos incutir nos nossos filhos confiança, responsabilidade e independência, boa parte do nosso trabalho estará feito. Eu esforço-me por isso, e sempre tive muito orgulho na forma como os mais pequenos andam sozinhos na rua sabendo perfeitamente parar e esperar pelos pais quando chegam ao pé de uma estrada.

Isto até ao dia – aconteceu há duas semanas – em que qualquer coisa passa pela cabeça do Gui e ele decide atravessar sozinho a rua de São Bento. Não lhe aconteceu nada, era sábado e naquela altura não estavam a passar carros, mas acontecimentos como este, completamente imprevisíveis, são suficientes para abalar a nossa confiança e nos obrigar a rever tudo outra vez. A verdade é que a espécie humana não está programada para aceitar que um erro possa acontecer sem que nada esteja a ser mal feito. Por isso, o Gui passou a estar sob prisão rodoviária preventiva – agora anda na rua de mão dada. E a minha brilhante teoria? Continua óptima. Só está a recuperar do susto.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quem foi o gajo que inventou os bebés?

Esta menina encantadora (que se não estiver de vestido passa perfeitamente por menino, como se pode ver pela foto) acabou de me dar a pior noite desde que nasceu, há nove meses e meio. Se a energia desta casa fosse alimentada a gritos, como no Monstros e Companhia, eu não precisaria de pagar electricidade durante um ano. Definitivamente, o meu amor aos bebés é do tamanho do bosão de Higgs. Cresce, miúda, cresce. E despacha-te, se faz favor.


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Separados à nascença




Tal pai... tal filho

Há uns tempos, o meu excelentíssimo esposo gozou aqui comigo por uma certa manhã, em que saí de casa em passo de corrida com os três filhos em idade escolar atrás de mim, a porta de casa ter ficado aberta e ele só ter dado conta disso depois de ter tomado calmamente o seu pequeno-almoço e assistido às notícias da manhã. O esposo tinha toda a razão, mas havia um bom motivo para nos termos esquecido da porta aberta - pensávamos (ingenuamente) que atrás de nós ficaria um fidelíssimo pai a despedir-se da família.

Mas esquecimento com esquecimento se paga.

No domingo, quando íamos a caminho de Portalegre, precisámos de parar numa estação de serviço para meter gasóleo, tarefa que ficou a cargo do senhor pai. Quando já estava tudo pronto para partir, eu tive de sair do carro para procurar a chucha da Rita, que andava perdida no banco de trás, e eis senão quando... isto:


Isso mesmo. O homem da casa tinha deixado o depósito aberto, com a tampa meticulosamente encavalitada no tampão. Giro, não?

Sim, giro, mas não inédito. Há uns meses, íamos nós sossegadamente na autoestrada quando reparámos que todos os carros que passavam por nós desatavam a apitar, apontar e fazer sinais de luzes. Porquê? Pois é: vínhamos alegremente a despejar gasóleo pela A1.

E suspeito que não ficaremos por aqui. Depois de o papá se ter entretido a ensinar o Gui a abrir a janelinha das traseiras do carro (tem estado um calor insuportável e ele não resistiu...), agora não há dia em que o Gui - como seria de esperar - não abra a janela. Já fechá-la, é bastante mais complicado. E o papá também não se lembra nunca que aquele bocado de vidro não tem botão para subir e para descer. Portanto, se alguém quiser assaltar um carro nas nossas redondezas, é só procurar o monovolume da família Star Wars...



terça-feira, 11 de junho de 2013

OK, isto também já é amor a mais

A história é tão incrível que nem sei por onde começar. Don Featherstone é um americano conhecido pela criação, em 1957, dos flamingos de plástico cor-de-rosa, que se transformaram num dos elementos de decoração mais famosos dos jardins americanos após o grande John Waters ter lançado o clássico Pink Flamingos, em 1972. Aqui está Don junto à sua criação:



Mas como se isso não fosse já suficientemente bom, eis que descubro que Don é casado com Nancy e que eles se vestem de igual há... 35 anos. Diria que se calhar é um bocadinho de amor a mais. A história está toda num artigo do Guardian, contada na primeira pessoa por Nancy Featherstone, aqui. É uma maravilha. Mas, sobretudo, o que vale milhões são estas fotos:






Vocês imaginam a trabalheira que isto deve dar?

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Muito obrigadinho! (Versão longa)

Ilustração de José Carlos Fernandes

Eis o meu texto de ontem na revista do CM, sobre um tema que até já abordei aqui num post:

Há certas expressões que se barricam nas cordas vocais dos miúdos para a partir daí atentarem diariamente contra a moleirinha dos progenitores. No caso do Gui, a sua última arma de repetição linguística é o “muito obrigadinho”. Não faço ideia onde é que ele descobriu o “muito obrigadinho”, mas sei que um dia chegou a casa com ele e foi amor à primeira vista. Estão a ver aqueles pares de ténis que os miúdos adoram e se recusam a descalçar? Assim aconteceu com o “muito obrigadinho”: afeiçoou-se de tal maneira que o repete 27 vezes ao dia.

Convém notar que “muito obrigadinho” não tem nada a ver com “muito obrigado”. Não é um “muito obrigado” pequenino, não é um “muito obrigado” carinhoso, não é sequer um “muito obrigado” envergonhado, até porque se assim fosse não ia estar aqui a chatear o leitor com este tema – estaria, antes, a celebrar a superior educação do meu filho número 3. Ora, “muito obrigadinho” está para a boa educação como “vai dar banho ao cão” está para a higiene canina. De facto, trata-se apenas de uma manifestação de sarcasmo, actividade que o meu filho Gui domina surpreendentemente bem, apesar de ter apenas cinco anos de idade.

Como qualquer pessoa normal (embora de forma menos voluntariosa do que uma pessoa normal), o Gui usa a expressão "muito obrigado" no sentido tradicional do termo, ou seja, para agradecer qualquer coisa que alguém fez por ele. Já a expressão "muito obrigadinho" é usada para desagradecer não terem feito por ele qualquer coisa que ele queria. E garanto-vos que todos os dias o Gui quer que as pessoas façam imensas coisas por ele – daí a sua irritante transformação em metralhadora de “obrigadinhos”, para infelicidade dos seus pais e irmãos.

Mas há mais. É que, ao mesmo tempo que debita “obrigadinhos”, ele ultrapassa o estrito domínio da oralidade, entrando no campo da expressão corporal. Cada “muito obrigadinho” é invariavelmente acompanhado por alguns espasmos do tronco e um q.b. de choraminguice, assim à laia de prolegómenos para uma birra futura. Ora, todo este conjunto semiótico tem demasiada pregnância para o meu gosto, e às tantas estou a perseguir a máquina de “muito obrigadinhos” pelo corredor, com a paciência muito diminuída. Eu já sabia que os diminutivos eram uma praga da língua portuguesa, mas não estava à espera de ter um filho como hospedeiro. Muito obrigadinho, ó Gui.

domingo, 9 de junho de 2013

O presente e o futuro

É sempre fascinante esta coisa de os miúdos, até aí por volta dos cinco, seis anos, não perceberem nada do que é isso do tempo. Misturam o ontem com o amanhã, o conceito "daqui a oito dias" é-lhes incompreensível, e nunca sabem, basicamente, às quantas andam. Ontem fomos dar um beijinho ao aeroporto à Memi e à Zé, que iam passar o fim-de-semana prolongado a Londres com o coro de Proença-a-Nova. Conversa do Gui:

- Vocês vão para Londres para sempre?
- Não, Gui, só lá vamos estar três dias.
- E podemos ir visitar-vos?

Que maravilha. Quando não há passado nem futuro, não admira que eles vivam o presente tão intensamente.

Sozinhos na rua

Ora aqui está uma foto tão rara quanto um quadro do Crivelli, referência particularmente apropriada já que ela foi tirada nos jardins do Museu de Arte Antiga, durante o Santo António à la Time Out, sexta-feira à noite. Reparem bem: eu e a minha excelentíssima esposa sozinhos na rua, a divertirmo-nos entre as 21.00 e as 01.00 sem putos ranhosos à volta! E a dançarmos música pimba agarradinhos! Iupiiii!!! Reparem no meu ar de genuína felicidade. Esta também é a parte boa de ter quatro filhos: cada saída à noite a dois é como  uma garrafa de água no meio da Sahara. Tão bom.


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Oferece-se Engenheiro Aeronáutico

Como nenhum de nós conhece o futuro e o mundo não está para brincadeiras, tento todos os dias identificar quais os talentos de cada um dos meus filhos, para melhor os poder desenvolver. Assim, quando forem grandes, talvez eles venham a singrar na vida e a pagar a velhice ao seu querido papá. Nesse sentido, queria aqui anunciar em primeira mão que tenho um engenheiro aeronáutico cá em casa, chamado Guilherme Mendonça Tavares. Eis a prova:


Eu sei que à primeira vista isto pode parecer apenas um garrafão de cinco litros de água um bocado amolgado. Mas as aparências iludem. Na verdade, segundo o Gui me explicou, isto é um fantástico avião, em plena pista de aterragem.


Em cima temos o avião visto de baixo, e em baixo temos o avião visto de cima.


Posso garantir que esta extraordinária obra de engenharia aeronáutica foi exclusivamente criada pelo Gui, sem quaisquer ajudas dos pais, num momento de notável inspiração. Mais do que ser criada - ela foi planeada com grande antecipação, e no mais absoluto segredo. Características essenciais para quem for trabalhar para uma empresa de ponta, cheia de contratos de confidencialidade.

Eis o processo de construção. Primeiro, o Gui não me deixou atirar para o lixo duas cartas velhas, detectando nelas um fantástico potencial aerodinâmico. Depois, apropriou-se à sorrelfa do tubo de cola, ultrapassando corajosamente as inúmeras restrições caseiras à sua utilização por menores de 12 anos. E finalmente, surgiu com este magnífico objecto, simultaneamente um prodígio tecnológico e uma obra-prima do design contemporâneo.


Os interessados em contratar imediatamente o jovem prodígio devem enviar um mail para paisdequatro@gmail.com. Por motivos patrióticos, o Gui dará prioridade a ofertas da TAP (pelo menos enquanto não for privatizada). Obrigado.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Tira isso da boca, pá

Isto é oficialmente uma das coisas mais estranhas de todos os tempos: a lollyphile, uma empresa americana dedicado ao fabrico de chupas-chupas com os sabores mais bizarros, acaba de lançar no mercado um chupa-chupa com sabor a... leite materno. Juro. Breast Milk Lollipops. Eles garantem que não andaram a perseguir mulheres à saída das maternidades, e que o chupa-chupa até é vegan. Ainda assim, parece-me um bocado doente.


terça-feira, 4 de junho de 2013

Eh lá, que livro é esse?

Ontem à noite fui com a Carolina à Feira do Livro, aproveitar as promoções da Hora H. Há mais de uma semana que ela me andava a chatear, e ficou combinado que iríamos quando acabasse a época de testes. E lá andámos, pai e filha, a horas pouco recomendáveis, em turismo cultural. Ela comprou alguns livros com o dinheiro da sua semanada, como é suposto. Só que no conjunto sobressaiu este:


O senhor da barraquinha ficou a olhar para mim de lado. Eu engoli em seco. E desde então estou para aqui a matutar se a Carolina me estará a querer dizer alguma coisa...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

História de um resgate

José Carlos Fernandes

Eis o meu texto de ontem na revista do CM:

A minha casa está como os mercados: demasiado exposta a flutuações. Consoante o estado de espírito de cada membro e as variações de confiança entre uns e outros, assim se vai alterando a dinâmica familiar. Cabe aos pais o papel de reguladores caseiros, tentando gerir as interacções entre os vários players, com o objectivo de evitar um crash em matérias sentimentais ou fases de grandes depressões de qualquer um dos quatro activos mais frágeis, que possam em última análise afundar a bolsa doméstica.

Aquilo que tenho em casa mais próximo de um swap de alto risco é o Gui. O Gui é um tipo castiço, que quando é apanhado bem-disposto promete sempre altas taxas de juro em termos de divertimento. Mas a sua instabilidade é grande, e de repente vai-se a ver e estamos com um problema tóxico nas mãos. A velocidade a que ele consegue passar do choro ao riso é tão grande que cheguei a inventar uma nova palavra – o chorriso – para designar o seu estranho estado. E a verdade é que, apesar de já levar cinco anos de maturidade, as flutuações do seu humor nunca permitem a acalmia no coração de um corretor.

Hoje em dia, os problemas advêm sobretudo da sua falta de sustentabilidade afectiva, em boa parte por os seus sentimentos ainda estarem indexados à Rita. Quando a Rita apareceu no mercado, há nove meses, o Gui teve uma notável performance, ao ponto de a nossa agência familiar lhe ter dado triplo A em matéria de solidez emocional. Mas, aos poucos, começaram a aparecer alguns sinais de que o seu rating possa ter sido mal avaliado: não tanto por causa de ciúmes jogados às claras no mercado da dívida amorosa, mas por causa de um acumular de pequenas birras, mal negociadas debaixo da mesa e sempre à procura de transferências para paraísos sentimentais.

A mais recente prova dessa actuação desregulada ocorreu quando decidimos montar na sala um parque para a Rita, que já se consegue sentar e estava farta de viajar da cama para a cadeira e da cadeira para a cama. A Rita gostou muito do seu novo parque, mas o Gui tratou logo de lhe fazer uma OPA hostil. Tirou os sapatos, saltou lá para dentro e decidiu armar-se em défice português: demasiado grande para estar ali, mas muito difícil de remover. Não fosse os reguladores terem ameaçado aplicar-lhe uma boa dose de austeridade no sítio onde as costas acabam, e por esta altura o Gui ainda lá estava.

domingo, 2 de junho de 2013

Agora põe isso na boca de um adulto 2

Em relação ao vídeo que postei aqui, já existe um segundo episódio:


Para o pessoal Mac que está com dificuldade ("dificuldade" é neste caso um eufemismo para "incapacidade") em ver o vídeo embedded, aqui fica o link:

http://www.youtube.com/watch?v=-k1qPaDJHOs

Já agora, os mais interessados têm a história toda de Matthew Clarke e do sucesso dos seus filmes aqui.

Santana Lopes tem toda a razão

Na sexta-feira, Pedro Santana Lopes assinou um curioso artigo no Correio da Manhã, intitulado "As escolas e o trabalho das nossas famílias". Passando por cima do facto de ele utilizar capitulares para falar de Pais, Filhos e Irmãs (parecem membros de uma nova Santíssima Trindade), o problema que ele levanta é bem real - e eu, como pai de quatro, sinto-o cada vez mais na pele. As solicitações escolares (e de todas as outras actividades extra-curiculares que eles praticam) são tão numerosas, que para ir a tudo um gajo precisaria de ser pai a tempo inteiro. Então agora que o fim das aulas se aproxima...
Ora leiam:

Cada vez me dou mais conta, também a nível profissional, de uma realidade intrigante que se vai acentuando com o tempo. Consiste essa realidade no crescendo de solicitações aos Pais e Famílias dos alunos das nossas escolas para comparecerem em iniciativas e atividades, para lá das reuniões, até 4 horas por trimestre, já previstas na legislação laboral [artº 249º, nº 2, al-f) do Código de Trabalho].

Numa Instituição de que sou o primeiro responsável, acontece com cada vez maior frequência chamar por alguém e ouvir a resposta de que a pessoa em causa não está porque teve de ir à Escola da Filha ou do Filho. Depois, quando, simpaticamente, me procuram dizer o motivo – mesmo sem eu querer saber –, lá vem a referência a uma festa, a uma representação, a uma excursão. Cada vez mais chego à conclusão de que em várias Escolas se entende que os Pais não trabalham ou que, pelo menos, estão à disposição dos professores.

Acredito que eu e muitos outros tenhamos sido educados por métodos errados, reacionários, ou o que quiserem chamar. Mas nunca vi os meus Pais terem de ir à Escola, sequer para serem informados em reuniões do que se passava com o Filho. Trabalhavam e, mesmo que os chamassem, não poderiam ir. Como se justifica esta correria com as pessoas afogueadas a atravessarem a cidade para chegarem a horas de um sarau, da declamação de um poema, de uma peça de teatro? É que não se pode esquecer que se a Mãe ou o Pai não estão presentes, as crianças ficam tristíssimas, olhando para as outras cujos Pais puderam comparecer.

Os meus Filhos já têm vinte anos ou mais. Mas quando os mais novos estavam na Escola esta moda acentuou-se. Tenho Filhos de Irmãs que estão nos primeiros anos da formação e bem vejo o que se passa. Chega-se ao ponto de se pretender que os Pais participem nas aulas.

A questão é simples: e o trabalho? Como podem as pessoas justificar as faltas? As chefias ficam sempre com "cara de tacho" quando o pedido é feito, porque ninguém é capaz de dizer não a Pais que têm um Filho à espera? Não é só em Portugal que a moda pegou. Mas será justificável?