quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Histórias dos meus livros

A Olga Reis, do blogue O Rei Vai Nu, postou esta lindíssima foto da sua Nônô a ler um dos meus livros infantis, Uma Baleia no Quarto:


Adoro o seu ar compenetrado. E de caminho aproveito para um anúncio em primeiríssima mão: daqui a coisa de um mês estará nas bancas o meu terceiro livro infantil, O Pai Mais Horrível do Mundo, com fantásticas ilustrações do João Fazenda. Certamente irão ouvir falar bastante dele por aqui, que eu não vou resistir. Como aperitivo, deixo um dos estudos do João para a capa final, que ficou bastante próxima disto:


Pode ser que a Nônô também venha a gostar dele.

Liliana, a igualdade e o amor

Ainda a propósito do caso Liliana (que, como previ aqui, rapidamente se evaporou no espaço), um leitor deixou várias observações pertinentes na caixa de comentários deste post, que vos convido a ler. A última é esta:

Sejam então coerentes com as vossas convicções, estabeleçam uma ordem de prioridades (já agora deixem a Liliana em paz por uns tempos), e criem um abaixo assinado, para que se cumpra a Convenção sobre os Direitos da Criança e se tirem todos os menores de 18 anos aos pais ciganos. É que salvo raras excepções, não há notícia de que cumpram nada da listinha de conformidades que consideram imprescindíveis para os progenitores manterem os filhos. Preparem-se já agora para levarem logo famílias inteiras já que aquilo é malta que se casa e tem filhos ainda antes da maioridade...

A par, podem igualmente formular um projecto de lei que preveja a esterilização compulsiva de todos os cidadãos beneficiários do RSI. É que com o valor que recebem, as actuais perspectivas de futuro e claro está, a irresponsabilidade moral "desse tipo de gente", são malta para ainda se entreter a procriar, imagine-se!

Por fim, só mais duas maçadas:

- olhar para a vossa infância e pensar (com honestidade intelectual) se gostavam de ter sido tirados aos vossos pais se a certa altura eles tivessem caído em situação de pobreza e não vos pudessem ter assegurado o nível de vida mínimo.

- Ir passar um dia (ou vários) com miúdos institucionalizados e tentar perceber (se conseguirem!) o nível de stress, tristeza e angústia em que esses miúdos vivem TODOS OS DIAS e que se manifesta em TUDO O QUE DIZEM. E já agora perceberem o tratamento negativamente diferenciado que recebem, por exemplo, em creches.


Como o leitor não me conhece de lado nenhum pressupõe que este tema é para mim só teoria. Não, não é só teoria - o tema das crianças institucionalizadas interessa-me por questões teóricas e por questões muito práticas, que não vou estar a explicar no blogue, porque há coisas que não posso nem quero estar a explicar em público.

Aliás, esse é precisamente um dos problemas centrais do caso Liliana: quando o Conselho Superior de Magistratura e as autoridades responsáveis começaram a alertar para o facto de não ser a ausência de uma laqueação de trompas que levou à retirada dos filhos, logo as próprias advogadas da senhora vieram criticar os magistrados por estarem a comentar o caso, e assim falharem no seu "dever de reserva". Ou seja, o "dever de reserva", acham elas, é só para um dos lados: a mãe pode dar 50 entrevistas agarrada a peluches, mas o Estado não pode justificar os seus actos (e, de facto, não pode, se isso prejudicar as crianças).

Deixem-me sublinhar que é com imenso pesar que parece que estou a defender a Justiça neste caso. Já disse aqui, e  volto a dizer, que as crianças são muito maltratadas pelo nosso sistema de justiça, porque sobre elas é todos os dias cometida a mais abominável barbaridade: a demora estúpida, inadmissível e em última instância criminosa nos processos de decisão, que conduzem a prolongamentos inconcebíveis na institucionalização de crianças. Quem está no terreno queixa-se frequentemente de falta de meios, e este é um caso em que o Estado teria de assegurar todos - absolutamente todos - os meios que fossem necessários. Se um país nem sequer acode às necessidades das suas crianças mais frágeis, então o Estado realmente não serve para nada.

Dito isto, e indo agora de encontro aos argumentos do leitor, obviamente que eu não defendo a aplicação cega de todas as leis ou de todas as convenções, desligadas de um contexto. É por isso que quem aplica a justiça é um juiz e não um computador - porque sem bom-senso, sensibilidade e empatia nada se consegue. Mas isso não significa que fechemos os olhos à complexidade dos problemas, e nesse aspecto a questão dos ciganos é bem interessante.

Não sei se o leitor conhece este relatório sobre a comunidade cigana. Vale a pena olhar para ele com atenção. O alerta é claro: se há questões profundas de identidade que têm de ser respeitadas, não menos profundas são as questões de igualdade. Deve o Estado deixar que uma criança cigana não cumpra, por exemplo, a escolaridade obrigatória? A minha opinião é um rotundo "não", na medida em que entendo que há valores civilizacionais que se sobrepõem à identidade cultural de determinadas comunidades.

O Estado tem a obrigação de proporcionar uma educação a um cigano, como a um caboverdiano, como a um ucraniano, como a um chinês que habite o seu território nacional. E a meu ver tem também a obrigação de procurar encontrar soluções junto de uma comunidade como a cigana, para que esse ensino possa ser o mais possível compatível com o seu modo de vida. Mas abdicar de exercer o dever da escolaridade obrigatória seria colocar fora da sua jurisdição menores que têm direito às mesmas oportunidades que todos os outros.

O meu ponto é este: há um limite para o relativismo e para o multiculturalismo. Há um determinado número de direitos que eu considero serem universais, e universalmente bons, independentemente de raças ou credos. A escolaridade é um deles. Tal como a saúde ou a alimentação. E o amor de um filho por um pai, ou de uma mãe por um filho, NÃO SE SOBREPÕE (para utilizar as capitulares do leitor) a eles. Jamais.

As mulheres que praticam a excisão sobre as suas próprias filhas também as amam profundamente. Um pai pode espancar um filho e amá-lo profundamente. Uma mãe pode matar os filhos e amá-los profundamente (ainda esta semana aconteceu), e sobre isso há até um filme extraordinário chamado Será que Vai Nevar no Natal?, em que o espectador não só não culpa a mãe, como se torna cúmplice dela. Só que o ponto é este: os sentimentos também podem ser extremamente enganadores quando se trata de avaliar a justeza de um acto.

É por isso que me apetece voltar a um dos primeiros posts deste blogue, escrito a propósito do último filme Michael Haneke, mas que se pode estender ao caso Liliana e a cada dia da nossa vida: Aquilo que fazemos por outra pessoa é mais importante do que aquilo que sentimos por ela. Se alguém nos diz "amo-te", nós dizemos "então prova". E é assim que deve ser.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sim, às vezes é mesmo isto

A propósito do post abaixo, reparei agora que o Engledow tem novas fotos. Acho que esta retrata ainda melhor o que quis dizer (e o meu dark side paternal):

Vai para a cama, sff

Há uns dias encontrámos um colega da Teresa que ainda tem mais filhos do que nós, e ficámos a reflectir em conjunto sobre qual a conjugação de idades em que a nossa vida ficou mesmo um lodo. Cá em casa, por exemplo, foi quando o Gui era recém-nascido, o Tomás tinha dois anos e a Carolina quatro. Nenhum deles era verdadeiramente autónomo, portanto era uma loucura de fraldas, de roupas, de acordar à noite, e de sei lá mais o quê. Hoje em dia, apesar de serem quatro, é bastante mais fácil do que em 2010, o ano do contacto com o além (ou quase).

Mas depois a conversa continuou para a questão que mais me interessa neste momento, e não, não é acerca da existência de Deus: é como manter a sanidade mental e encontrar tempo para mim, me time, eu sozinho, sem ninguém a chatear, tempo para recarregar as baterias interiores. E aí o colega da Teresa foi taxativo: "Lá em casa está tudo na cama às nove da noite. Os mais novos a dormir, e os mais velhos a ler."

E esta foi a minha reacção interior: "SIM! SIM! SIM! É ISSO QUE EU QUERO PARA MIM!"

É isso que eu quero para mim, que eu tento há anos e anos, e que não consigo. Eu bem tento convencer a Teresa da importância disso, lanço-me aos seus pés, rogo-lhe para ela ter piedade, mas há sempre mais uma coisa, e mais uma, e mais uma, um TPC por fazer, uma música para tocar, um capítulo de Os Cinco para contar, e de cada vez que um puto adormece antes das dez e meia da noite eu lanço um foguete na direcção do lustre da sala só para comemorar.

O problema é este: a Teresa parece que nunca se cansa de ser mãe. Não sei se é uma coisa das gajas. Mas eu, aí pelas 21 horas, já estou cansadíssimo de ser pai. A minha paternidade está esgotada, precisa de ir dormir, e sobretudo o eu-João-Miguel-que-não-sou-só-pai precisa de acordar, viver três ou quatro horas, ver as vistas, ler uns livros, até o corpo desabar em cima de um colchão. Preciso tanto disto. E então se fosse antes de eles irem para a faculdade, seria estupendo.

  Da série World's Best Father, por Dave Engledow

Os verdadeiros direitos das crianças

Ainda a propósito do caso Liliana, e diante da proliferação de textos que sublinham que os seus filhos não eram "vítimas de maus-tratos" (tese subscrita por gente tão respeitável e ponderada quanto o padre José Tolentino Mendonça, num texto recente no Expresso), eu gostava de sublinhar um ponto que parece demasiado esquecido, e que se resume em meia-dúzia de palavras: Convenção sobre os Direitos das Crianças (CDC).

Esta convenção foi adoptada pelas Nações Unidas a 20 de Novembro de 1989 e ratificada por Portugal menos de um ano depois. É o documento central que regula toda a intervenção sobre crianças em Portugal e onde se fala do tão badalado Superior Interesse da Criança (SIC, para os amigos), sendo claríssimo que os direitos que ela consagra vão muito além do não ser vítima de violência por parte dos pais. Ou seja, uma criança tem, no nosso país, direitos que superam extensamente o ser acarinhada pela mãe ou o escapar-se das nódoas negras.

Os românticos que me desculpem mas o amor, por si só, não chega. A CDC impõe (artigo 27) "o direito a um nível de vida suficiente" (por isso, sim, a pobreza pode ser um problema), impõe o ensino obrigatório (artigo 28), impõe "o melhor estado de saúde possível" (artigo 24), e poderia continuar por aí fora. Um pai ou uma mãe tem efectivamente a obrigação de pôr o seu filho a frequentar a escola, a tratar-lhe da higiene, a assegurar que as vacinas estão em dia - e quaisquer falhas nessas obrigações são traições ao espírito e letra da CDC.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A vingança serve-se fria

Durante o nosso passeio pela serra de Estrela, o Tomás e o Gui decidiram combater as placas de gelo que se acumulavam em cima de uma ponte de madeira. Eis a razão:


Tradução para quem tiver o ouvido menos apurado:

Teresa: Meninos, o que é que vocês estão a fazer?
Gui: Estamos a matar os icebergues...
Tomás: ... os icebergues que mataram o Titanic!

Jack, Rose, demorou 100 anos, mas o vosso amor foi finalmente vingado.

Regresso ao trabalho



Hoje é dia de voltar ao trabalho, e o último texto que publiquei na revista de domingo do CM ganha mais actualidade. Aqui estão os dois primeiros parágrafos:

Com o nascimento da Rita, tirei pela primeira vez um mês de licença de paternidade, que todos os pais portugueses passaram a ter opção de gozar após os quatro meses de licença da mãe. Eu estava cheio de vontade para me baldar a tal coisa, com o patriótico argumento de que Vítor Gaspar precisa mais da minha maminha do que a Rita, mas a excelentíssima esposa tem um olhar que me mete mais medo do que as avaliações da troika – e não teve pudor em usá-lo. Eu fiquei de imediato em sentido, o que se traduziu em quatro semanas enfiado em casa.

Na verdade, nem enfiado em casa estou, porque continuo a ter uma boa e potencialmente interminável colecção de actividades que me ocupam os dias. Mas, mesmo assim, o tempo que estou junto da lovely Rita é mais do que suficiente para me sentir um fracasso como pai e como homo familiaris. Isto dito por um gajo que tem quatro filhos pode parecer um bocado bizarro, mas, de facto, não só tenho uma estranha incompatibilidade estrutural com bebés, como a minha vida profissional é essencial para eu largar o vapor da minha vida familiar, da mesma forma que a minha vida familiar é essencial para eu largar o vapor da minha vida profissional. Sem uma dessas partes parece que coxeio – e acumulo gases na caixa craniana.

O resto do texto pode ser encontrado aqui. A ilustração, como sempre, é do José Carlos Fernandes.

Casa das Penhas Douradas

Um leitor pediu para saber como se chama o hotel das Penhas Douradas onde nós ficámos de domingo para segunda. Chama-se simplesmente Casa das Penhas Douradas. O nome pode não ser muito original, mas o espaço é - e muito. Nós encontrámo-lo ao pesquisar na net, adorámos as imagens, e na verdade só conseguimos quarto nesta altura do ano porque fugimos à sexta e ao sábado.

Chegámos por volta das 19 horas de domingo, já noite cerrada e um frio de rachar, e a entrada parece escavada no meio da rocha, o que dá aquele ar de casinha de chocolate encontrada por acaso no meio da floresta, com a vantagem de não haver bruxas lá dentro. Pelo contrário: atendimento cinco estrelas, com a mistura certa de familiaridade e profissionalismo. Para mais - coincidência das coincidências -, os donos do espaço são também os responsáveis pelo desenvolvimento de uma marca portuguesa que a Teresa adora: a Burel.

A Burel abriu no ano passado (se não estou em erro) uma loja no Chiado (Rua Serpa Pinto 15B), e ela tem vindo a trilhar o caminho mais interessante dos produtos portugueses, aliando a preservação dos métodos artesanais dos lanifícios de Manteigas (onde têm um fábrica) com um design contemporâneo. Os resultados são magníficos e estão espalhados por todo o hotel.

É esse nível de detalhe que coloca a Casa das Penhas Douradas num patamar muito elevado, e que justifica os seus preços, que não são baratos. Como nós somos uma família numerosa, tivemos de reservar dois quartos contíguos, a 120 euros cada (havia uma suite a 190 euros, onde cabíamos todos, mas estava ocupada). O pequeno-almoço está incluído (além de fruta, sumos e queijos ao longo de todo o dia), mas a esse valor convém somar o jantar, porque ninguém vai sair dali à noite para ir comer a outro lado (a não ser que se goste muito de descer e subir uma serra gelada, escura como breu e com estradas mais estreitas do que a cintura da Naomi Campbell). O preço do jantar é de 30 euros para adultos e de 10 euros para as crianças. Mas, mais uma vez, o preço está justificado: a cozinha tem a consultadoria do chef Luís Baena e posso garantir que comemos à grande e com um nível de requinte que não se está à espera de encontrar no meio do nada, a 1500 metros de altitude.

Resumindo, em apenas duas palavras: altamente recomendável.


À hora de deitar, tínhamos um presente à espera no quarto

 O banho matinal do Tomás e do Gui. Não se tem disto todos os dias...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Invejem-me, vá lá (ou então não)

Foi mais ou menos isto o meu dia de hoje: carregar com miúdos montanha acima para depois poderem deslizar montanha abaixo. Uma despedida em grande da minha licença de paternidade.

O gajo pequenino que está a alombar com o trenó sou mesmo eu

Acordar


Notas com corantes e conservantes

Ontem, mesmo antes de sairmos para a nossa aventura na neve, lembrei a Carolina de que ainda não tinha tocado piano. Geralmente costumo estudar com ela para garantir que não memoriza as peças com erros, porque depois é muito complicado fazer com que as reaprenda bem. Como estava a chegar a hora da Ritinha ficar com fome resolvi não acompanhar o estudo e fui para a outra ponta da casa, para poder dar de mamar sossegadamente. Mas, mesmo de longe, não consegui deixar de me irritar com os erros repetidos que a Carolina fazia numa peça que insistia em maltratar, ignorando as teclas pretas do piano. Às tantas pedi ao Gui (que estava a jogar PSP ao meu lado) que fosse dizer à Carolina que a nota era um si bemol. Ele lá foi, todo solícito, mas sem parar de jogar o seu jogo. Daí a nada ouvem-se imensos risos e o Gui aparece-me todo envergonhado no quarto. Perguntei-lhe o que se tinha passado.

- Eles (o João também estava no escritório enquanto a Carolina estudava) começaram a gozar comigo.
- Então porquê, Gui?
- Não sei - protestou ele, com a sua cara de amuado.
- O que é que lhes disseste?
- Eu só disse que a mamã mandava dizer que aquela nota era sumol.

Amigos para a vida

Os amigos que vamos ganhando e cuidando ao longo da vida têm um peso importantíssimo nas escolhas que fazemos e no quão felizes seremos. Esse é um dos temas mais presentes nas minhas conversas intimistas com os miúdos, na esperança de que eles aprendam o valor de um amigo leal e incondicional.

Ontem a Carolina recebeu as suas primeiras flores. Quem lhas deu foi uma amiguinha sincera que a surpreendeu com desejos de rápidas melhoras (ela fez uma pequena cirurgia na sexta-feira que lhe custou mais do que estava à espera... e a mim também). Pouco depois, a Carolina comentou comigo que achava que essa sua amiguinha era daquelas boas amigas de que eu lhe costumo falar. 

Acho que está a aprender a lição.


domingo, 27 de janeiro de 2013

sábado, 26 de janeiro de 2013

Diálogos em Família #7

- O Hitler foi bué parvo. Mandou o Frankenstein embora e ele foi fazer a bomba atónica para os Estados Unidos.


E fala, e fala, e fala...

Se ela já é assim nesta idade, imaginem quando chegar a velha...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O caso Liliana II

Em relação ao caso Liliana, o Tribunal de Sintra emitiu uma nota de esclarecimento, que pode ser encontrada aqui. Convém lê-la com atenção. A minha principal dúvida neste momento - e era isso que jornalistas e responsáveis pelo processo deveriam tentar esclarecer - é quanto aos timings da decisão, na medida em que a casa e a família que agora aparecem nas reportagens parecem (e sublinho várias vezes o "parecem") ter condições para acolher as crianças. O eterno pecado da justiça portuguesa - pecado esse que em relação a menores se transforma numa pura e simples obscenidade - é a demora na análise e decisão dos casos. Ou seja, era fundamental sabermos se a decisão de Maio de 2012 foi proferida tendo em conta a situação presente daquela mãe ou a situação passada. Agora, de uma coisa tenho cada vez menos dúvidas: o caso Liliana está muito mal contado, e convém percebermos o que está em causa antes de começarmos a opinar apaixonadamente com base em peças de três minutos na televisão.  

O caso Liliana

De seis em seis meses há O CASO. E graças a O CASO, durante um par de semanas o país inteiro indigna-se, ou comove-se, ou faz as duas coisas ao mesmo tempo, as pessoas descobrem que existem tribunais de família e crianças e pobres e filhos que são afastados dos pais, os responsáveis políticos põem ar sério e mostram-se preocupados, novas leis são prometidas, e passados 15 dias já ninguém se lembra, até porque vem aí um jogo do Benfica com o Braga.

O último O CASO chama-se "Liliana". Liliana Melo, 34 anos, 10 filhos e cara escarrapachada em tudo o que é jornal, é a mais recente senhora a ser alegadamente alvo de uma injustiça por parte do Estado. Motivo? O tribunal ordenou a retirada das sete crianças mais novas e a sua entrega para adopção, e lá pelo meio do processo falou numa laqueação de trompas que demorava a ser levada a cabo por Liliana.

Os jornais e as televisões encheram-se de notícias; Liliana Melo foi fotografada 20 vezes rodeada de 30 peluches; a Associação Nacional de Famílias Numerosas decidiu perguntar se laquear trompas era uma nova política do governo; um senhor voluntarioso criou de imediato um grupo no Facebook intitulado Mãe fica sem 7 filhos por recusar laqueação de trompas; Isabel Moreira, sempre com o indignómetro no vermelho, foi fazer perguntas a Pedro Mota Soares; os políticos foram acusados de não quererem que os pobres tenham filhos; a sirene tocou na Procuradoria-Geral da República; Henrique Monteiro escreveu um texto com cinco pontos de exclamação e citou 1984 e Admirável Mundo Novo; Daniel Oliveira comparou Portugal à China; nos blogues levantaram-se suspeitas de racismo e afirmou-se que o Estado andava a raptar menores; e eu pelo caminho comecei a despejar frascos de sais de fruto para o bucho a ver se conseguia aguentar tanta palermice junta.

Não, não quero estar aqui a defender o Estado, nem os tribunais. Que podem até ter errado aqui, como já erraram noutros lados. O que eu desconfio - e desconfio mesmo - é que tanta gente (CPCJ, procuradores, juízes) tenham errado de forma tão primária como dizem. Não quero pôr as mãos no fogo por ninguém. O que eu quero é uma coisa muito mais simples, mas aparentemente muito complexa: quero a modéstia de não tratar casos destes como se estivéssemos a falar de bola no café e a chamar nomes ao árbitro.

Quero que questões com tamanha seriedade não sejam transformadas em campo de batalha de interesses instalados, sejam os da direita (então agora as pessoas já não podem ter os filhos que querem?), sejam os da esquerda (então agora os pobres já não podem ter filhos?). Quero que se não reduza as obrigações de uma mãe para com um filho a não lhe bater (como se fosse aceitável o raciocínio: se não há maus tratos, se a mãe gosta dos filhos e os filhos gostam da mãe, então onde é que está o problema?). Quero que se fale da laqueação de trompas assumindo toda a complexidade do problema, até porque há casos em que ela é admitida por parte do Estado.

Quero que não se caricaturize aquilo que merece ser tratado com o maior cuidado do mundo. Quero que cada um exija à comunicação social que nos dê todos os elementos que nos permitam construir uma opinião sustentada, em vez de nos pormos a papaguear a habitual cartilha da pobre mãe ultrajada pela máquina da justiça. Quero, se possível, que a Liliana não seja fotografada agarrada aos peluches dos filhos. E quero - quero muito - que O CASO não seja apenas a pastilha elástica moral da semana.

Infelizmente, desconfio que vou ter muito pouco daquilo que eu quero.


Ainda a hiperactividade

Ainda sobre o tema da hiperactividade, aqui fica mais um texto que vale a pena ler, da autoria do cirurgião pediátrico (e pai) João Moreira Pinto.

Dicionário da Língua Paternal-Filial #1

Conhecem aquela sensação de entrar no quarto de brincar de um puto e ele dar um pulo só de nos ver? Aconteceu-me hoje de manhã e acho que essa pode ser a primeira entrada do Dicionário da Língua Paternal-Filial. Aceitam-se sugestões para o enriquecimento de tão necessária obra.

Pular assim que nos vê: Em linguagem filial significa "estou em pleno processo de execução de uma grande porcaria, que sei perfeitamente que não devia estar a fazer, mas infelizmente não estava à espera de te encontrar aqui neste momento."

Pode-se seguir, consoante o talento da criança, um...

Olhar de carneiro mal morto: Em linguagem filial significa "pedia encarecidamente que não sofresse represálias demasiado desagradáveis por este meu impensado acto".


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Ainda sobre o novo super-mega-hiper leite

Ainda em relação ao leite, lembrei-me que já escrevi um texto sobre isso há uns anos, que entretanto foi publicado no livro Os Homens Precisam de Mimo. Já nessa altura suspirava pelo tempo em que apenas havia leito gordo, meio gordo e magro. E ainda nem sequer havia toda a variedade actual: há uns dias ia comprar leite sem lactose, não encontrei, e deparei-me com um pacote intitulado "digestão fácil" que prometia 0,9% de lactose. Às tantas já não sabia se aquela 0,9% era o antigo 0% depois de ter sido obrigado a sair do armário pela ASAE, ou se era mesmo um novo 0,9%, e quanto é que isso poderia dar em percentagem de diarreias do meu filho Tomás, só para saber se arriscava ou não.

Bom, mas aqui fica o referido texto, intitulado "Vai um copinho de leite com isoflavonas?":

Ah, como eu tenho saudades do tempo em que o leite era apenas leite. Hoje em dia, ir ao supermercado aviar duas embalagens de Mimosa, é uma autêntica aventura linguística e sociológica. Aqui há uns dez anos, ir comprar leite significava escolher entre pacotes de gordo, meio gordo ou magro. Nos dias que correm, implica um mergulho nos abismos das vitaminas, das fibras, do cálcio e do ómega 3. Tenho cá para mim que seria muito útil começar a transportar um farmacêutico no nosso carrinho das compras.

Uma pessoa entra no Continente e tem dois corredores de leite. Um, mixuruca, de pacotes pouco ambiciosos e acomodados à vida, que não desejam ser mais do que o resultado de uma vaca pobremente espremida e se deixam comprar por cinquenta e poucos cêntimos. Pacotes à antiga, digamos assim, que manifestamente não acompanharam o progresso da humanidade. E depois temos outro corredor, de pacotes reluzentes, muito classe média-alta, que além do líquido que jorra do bovino são vitaminados por uma miríade de quinquilharia química que promete deixar-nos a apenas dois dedos de distância do Super-Homem. Como tudo o que reluz, há o reverso da medalha: cheguei a ver um pacote, que prometia afogar o colesterol, a 360 paus, moeda antiga.

O problema, claro, é que tansos como eu são irresistivelmente atraídos pelos líquidos que prometem – qual poção mágica do druida Panoramix – revolucionar a nossa existência em troca de 20 centilitros ao pequeno-almoço. Para tudo o que nos acontece na vida, inventaram um tipo de leite que ajuda a enfrentar a situação. Em verdade vos digo: o tipo que viu no pacote de leite um cruzamento entre nutricionista e psicanalista merecia uma estátua nos prados verdejantes dos Açores.

Ele há o leite “especial mamãs”, com ácido fólico . Ele há o leite “cardio”, com vitaminas B6, B12 e B9. Ele há o “bem activo”, com vitamina D (que ajuda “na fixação do cálcio”, aparentemente um elemento químico que tem dificuldades em parar quieto). Ele há o “efeito bífidus ”, que todos sabemos ser um efeito maravilhoso, à base de “fibras solúveis”. Ele há o leite “sem lactose”, que é a cerveja sem álcool e o chocolate sem açúcar dos leites. Ele há o “bem especial crescimento”, muito apropriado às criancinhas, que por sua vez se subdivide em “1-3 anos” e “a partir dos 3 anos”, que os putos não são todos iguais. Ele há o novo e moderno leite de soja, claro, que só por si é um mundo à parte. Ele há o ecologicamente sensível leite biológico, que promete uma ligação directa às tetas das vacas mais felizes do planeta.

E depois há nomes finíssimos como o “leite fibresse”, que ajuda “à regularidade intestinal”, como se o uso do sotaque francês ajudasse nas idas à casa de banho. Além, claro, de maravilhosas novidades a cair mensalmente nas prateleiras, como o recentíssimo “especial para mulheres maduras” (oh, maravilhoso eufemismo), com (agarrem-se) “isoflavonas de soja e vitamina D”. Da próxima vez que vir a minha avó mais abatida, vou poder-lhe dizer: “Avozinha, isso parece-me falta de isoflavonas. Tome aqui este leitinho.” Obrigado, rapazes da Mimosa. Sem vocês, as minhas idas ao supermercado seriam bastante mais rápidas – mas muito mais aborrecidas.



Vão-se os legumes... ficam os dedos!

Depois de ter humilhado publicamente o meu marido (sorry!) pelo seu total desconhecimento de nomeação de legumes fiquei decidida a:

1. Proporcionar-lhe um pequeno briefing sobre o tema, com visitas a mercados e à secção de vegetais do Pingo Doce mais próximo, de modo a evitar novos embaraços.

2. Colocá-lo a cortar legumes cá em casa, que não há nada como aulas práticas para aprofundar conhecimentos. E estando eu, apesar de tudo, preocupada com o bem estar dos seus dedos, e convicta de que dificilmente ele se tornará um prodígio de técnica nesta matéria, alegrei-me ao descobrir este protector de falangetas pouco jeitosas (incluindo as minhas), que resolvi partilhar convosco.

Para os interessados, custa cerca de 7,5 euros na Amazon americana.



Tanto Bem e eu tão mal

Eu sei que isto pode parecer um anúncio ao leite Mimosa, mas é apenas um anúncio à minha prateleira de leites. Após a última investida da excelentíssima esposa ao supermercado, ela informou-me do seguinte:

- Eu bebo Bem Especial Cálcio Magro.
- Ela bebe Bem Especial 0% Lactose Magro.
- A Carolina bebe Bem Especial Cálcio Magro (ou será Meio Gordo?, no caso da Carolina já não me lembro bem, mas a excelentíssima esposa há-de esclarecer).
- O Tomás bebe Bem Especial 0% Lactose Meio Gordo.
- O Gui bebe Bem Especial Cálcio Meio Gordo.
- A Rita bebe Bem Especial Cálcio 100% Natural numa Incrível Embalagem.

Qual o problema disto? Bom, o problema é que, tirando a Rita, com a qual não tenho de me preocupar (por enquanto), todas as manhãs vou necessitar da concentração de um ginasta à beira de fazer o mortal na trave olímpica só para verter leite para dentro de taças.

"Oh, não! Acabei de trocar o pacote azul bebé pelo pacote azul forte!" Isto é um drama que pode perfeitamente acontecer. Desde que passaram a existir mais espécies de leites do que personagens esquisitas na Guerra das Estrelas, a minha vida ficou bastante mais complicada. E a Mimosa devia saber que eu não precisava disso. Já para não falar na minha mulher.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quem nunca julgou que atire a primeira perna

Uma jovem estudante canadiana, Rosea Posey, tirou esta fotografia perturbante e provocadora, intitulada "Judgment". Entretanto foi vergonhosamente plagiada por uma marca britânica de lingerie, o que pelo menos serviu para dar a devida atenção à obra original.


Hiperactividade, a polémica

O Henrique Raposo, com o talento para a polémica que Deus lhe deu (é um elogio), escreveu este texto no Expresso, com o sugestivo título "as crianças não são hiperactivas, são mal-educadas". A crónica tem dado bastante conversa pelas redes sociais e pelos blogues, e o Ricardo Martins Pereira respondeu-lhe n'O Arrumadinho com um longo texto, onde contesta sobretudo a teoria de que os pais actuais não querem saber da educação das crianças para nada.

Apesar de ninguém me ter perguntado a opinião, eu, numa posição muito magnânime, diria que concordo com os dois. Ou seja, concordo que muitas crianças nos dias de hoje precisam de um par de tabefes e não os têm e que uma palmada dada na altura certa só faz é bem. E concordo também que os pais de hoje em dia têm uma dedicação às crianças que nenhuma geração anterior teve.

O que é que falha, então, na matemática, para haver tanto puto mal-educado por aí? Porque é que 1+1 não dá 2? Eu diria que onde a matemática entorta é em algo que a Helena Araújo denuncia muito bem aqui: é que na sociedade actual falta o tempo, mas falta, sobretudo, o espaço. A nossa sobre-preocupação pela saúde dos nossos filhos, o facto de termos passado a ver um pedófilo em cada esquina e um raptor em cada bairro, tornou-nos pais medrosos, e ao tornarmo-nos medrosos retirámos espaço às nossas crianças para correr, brincar na rua, esfolar os joelhos, trepar às árvores.

É certo que poderíamos ainda acrescentar uma outra distorção: com o aumento de psicólogos tendem a crescer as doenças psicológicas. Se é porque elas já existiam e não eram diagnosticadas, se é porque passaram a ser diagnosticadas embora não existam, é tema para teorias várias (algumas de conspiração), que não vêm agora ao caso.

É possível que haja um excesso de diagnósticos de hiper-actividade, e que, como denuncia o Henrique, isso seja uma desculpa de certos pais para justificar comportamentos inadmissíveis dos seus filhos. Agora, o que não tenho quaisquer dúvidas é que o excessivo enclausuramento dos nossos jovens nas cidades actuais coloca muito puto a dar cabeçadas inúteis nas paredes. Há miúdos parvos. Há pais idiotas. Mas há, sobretudo, muito muro à frente dos nossos narizes.

Beyond the Wall, de David Bowman

Queria ter quatro mãos

O tempo passa depressa. Parece que a Rita nasceu há dois dias e já chegou a hora de deixar de estar as 24 horas com ela para poder retomar o trabalho. É a quarta vez que isto me acontece e nem por isso se torna mais fácil este afastamento necessário e, mais tarde ou mais cedo, saudável. Apetece estar cá e lá... Sabe bem voltar a ter tempo para nós, mas custa tanto deixar de estar sempre por perto para acarinhar, brincar, alimentar e ir observando as pequenas descobertas diárias de uma bebé de quase cinco meses.

É claro que ela vai ficar bem, pelo menos tentámos garantir que assim fosse, mas os primeiros dias vão ser difíceis. Talvez por isso tenha gostado tanto da ideia de arranjar duas mãos a mais para poder deixá-las à Rita quando for trabalhar. Este é o conceito das Zaky, umas almofadas australianas que imitam a forma das mãos e que foram já muito premiadas pelo seu efeito terapêutico, confortador, facilitador do sono e da postura. Inventadas por uma médica (mãe de um prematuro que precisou de permanecer numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais durante cinco meses) elas permitem que o bebé sinta o toque (ou não tivessem a forma de mãos), o cheiro (basta dormir enroscada nelas umas noites para que o cheiro da mãe ou do pai se entranhe) e o calor dos pais (aconselham a colocá-las por breves minutos na máquina de secar roupa), mesmo quando eles não podem estar por perto, o que conforta e acalma o bebé. Existe até um programa de donativos a hospitais pediátricos e Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais na Austrália e Nova Zelândia para aquisição e fornecimento de Zakys nessas instituições.

Mesmo parecendo retiradas de um filme da Família Addams acho que os resultados compensam. Não sei se mais para a mãe, se para a filha.






Existem em várias cores, podendo até fazer-se combinações - uma mão rosa com cheiro da mãe e uma mão azul com cheiro do pai - e compram-se aqui. São é caríssimas (perto de 80 euros, mais portes).

A primeira palavra

A Carolina anda muito empenhada em garantir que a primeira palavra da Ritinha seja "mana". Ontem, enquanto preparava as roupas para o dia seguinte, a Carolina veio a correr ter comigo super entusiasmada.

- Mamã, mamã, a Ritinha já consegue falar!
- O quê? Como é que foi isso? - perguntei-lhe eu.
- Eu estava a dizer-lhe "ma-na" ao seu lado e ela disse "ahn-ahn" [ler exactamente com a mesma entoação].

Temos uma bebé muito precoce. Ou uma mana muito ansiosa.

Bebés de 4 meses denunciam discriminação

A Associação dos Bebés de Quatro Meses (AB4M) promoveu ontem uma conferência de imprensa para reivindicar maior coordenação motora, dado aquilo que consideram ser "uma vergonhosa disparidade" entre o que já são capazes de compreender e o que são capazes de fazer.

"Esta situação não pode continuar", afirmou a presidente da AB4M, Rita Mendonça Tavares, que discursou a partir do seu carrinho de bebé, sem contudo ser capaz de segurar no microfone. "Um bebé de quatro meses já consegue ver as cores, já consegue reconhecer os pais, já consegue emitir sons, é absolutamente fantástico a sorrir, sabe segurar a cabeça e rodá-la para os dois lados, mas depois não consegue que os braços e as mãos reajam de uma forma minimamente articulada", indignou-se a jovem bebé.

Confrontada com o facto de esta situação já se arrastar há vários milénios, Rita Mendonça Tavares recusa-se ainda assim a baixar os braços, embora, na verdade, não tenha conseguido levantá-los como queria. "Já é mais do que tempo para a emancipação motora do bebé de quatro meses", declarou. "Nós não podemos continuar a suportar esta situação discriminatória, em que nos é sistematicamente barrada a interacção física com o mundo antes do meio ano. Não estamos a pedir para começar logo a gatinhar, mas queremos ao menos conseguir agarrar aquilo que está diante dos nossos olhos sem fazermos figuras ridículas."

A presidente da AB4M informou que a única coisa que ela própria e os restantes sócios conseguem executar, e com algum esforço, é colocar os dedos da mão esquerda na boca, chapinhar na água e levantar ligeiramente a parte superior do tronco quando têm muita vontade de ir para o colo da mãe ou do pai. Tudo o resto lhes está vedado. "Nem sequer posso agarrar o meu peluche favorito", confessou, com a voz ligeiramente embargada.

Em jeito de conclusão, Rita Mendonça Tavares declarou ainda que esta "é uma tremenda injustiça que tem de ser resolvida de uma vez por todas", garantindo que a associação que dirige "não vai esperar pelos seis meses para aceder a direitos humanos básicos". "Quer queiram quer não, a nossa voz vai fazer-se ouvir", afirmou. "E a gritar, pelo menos, nós aos quatro meses já somos bastante bons." Seguiu-se uma demonstração dessa capacidade, o que levou os jornalistas a abandonar a sala em passo apressado.

A presidente da AB4M, Rita Mendonça Tavares, ao colo da mãe, momentos antes da sua intervenção

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Gui & Rita

As nossas noites em família têm andado demasiado atribuladas, sobretudo por causa do Gui, que ou faz fita ao deitar, ou faz fita ao jantar, ou faz fita ao jantar e ao deitar. O cúmulo jurídico dos castigos que já lhe apliquei à mesa dava para ele ficar fechado no quarto até ter 18 anos, não fosse ser frequentemente amnistiado por uma generosa advogada que anda cá por casa.

Hoje voltámo-nos a zangar a propósito de um prato de salmão, que só não lhe enfiei pela garganta abaixo porque a Teresa me fez jurar por todos os santinhos que eu ia ter paciência com ele. A teoria dela é esta: quando se grita com o Gui à hora de jantar, há pesadelos na certa pela noite fora. E a teoria, de facto, já foi devidamente comprovada na prática. Por isso, fui rapar o fundo do tacho da paciência, e lá consegui sacar um sorriso amarelo que permitiu que ele comesse uma última colher sem o psicodrama do costume.

Mas o mais giro foi o que aconteceu depois. O Gui saiu da mesa e em vez de ir para o quarto foi-se sentar na cadeirinha vazia da Rita que estava na cozinha. E lá ficou um bocado, mais entalado do que sentado, com as pernas no ar, meio meditativo. O pobre do Gui, do alto dos seus quatro anos, vê a sua mana, sente que perdeu o estatuto do mais novo da família, e intimamente deseja voltar a ser bebé.

Ele é fantástico com a Ritinha, trata-a com um carinho extraordinário, e como não se atreve a ser ciumento à frente dela, decide sê-lo à frente de um prato de salmão. Menos mal. Não se aceita. Mas compreende-se.

Agriões espinafrados

Esta manhã estive a fazer a primeira sopa da Ritinha. Como não tinha legumes verdes suficientes pedi ao meu excelentíssimo esposo que fosse num instante à mercearia e me trouxesse alguns. Os que achasse mais fresquinhos, excepto espinafres para não prejudicar a absorção do ferro.

Daí a nada (foi muito solícito e resistiu a ir ao quiosque da praça para comprar os jornais) aparece-me em casa um pouco envergonhado:

-"Vê lá tu que eu não queria fazer figura de ignorante e disse à senhora que queria um molho de nabiças, apontando para umas verduras que tinham um letreiro com esse nome por baixo, e ela disse-me que eram grelos. Envergonhei-me e trouxe este molho de agriões."

E aqui estão eles:


Acho que tenho um marido com dislexia leguminosa.

Calças esburacadamente felizes

Todas as semanas temos calças para remendar cá em casa (para não dizer todos os dias). Desde que o Tomás se tornou fã de futebol as suas calças ficam invariavelmente rasgadas no joelho esquerdo (ele adora fazer aquelas celebrações dos golos com os joelhos a arrastar no chão, e infelizmente parece que marca muitos golos na escola). Não ganho para remendos e joelheiras!

Ontem encontrei no blogue Pais criativos, filhos felizes, que sigo sempre com muito interesse, uma solução super engraçada e original. A partir de agora, acho que vão crescer dentes nas calças do Tomás.

Pinned Image

Em defesa da honra (e do sabonete líquido)

Queria apenas esclarecer em relação a este post da excelentíssima esposa, em defesa da minha honra e da dignidade profissional do sabonete líquido, que nada me move contra saboneteiras com sensor, de um modo geral. Eu oponho-me apenas a saboneteiras com sensor em casas de banho com menos de quatro metros quadrados. Cá para mim, até devia haver legislação contra isso.

De facto, ao contrário daquilo que a excelentíssima esposa sugere no referido post, o meu ódio de estimação ao objecto que podem analisar cuidadosamente na foto em baixo nada tem a ver com o facto de ele ser "um mamarracho", maltratado pelo design. Eu também sou um mamarracho maltratado pelo design e gosto muito de mim. A questão está em que o sensor sente o que não deve sentir, e por isso a saboneteira leva o tempo todo a esguichar sabonete líquido para cima das coisas erradas.

Segundo as minhas estimativas, por cada mão que a saboneteira efectivamente lava há três objectos inocentes, limpinhos como um rabo de bebé pós-Dodot, que têm de levar com aquela gosma por cima por causa das evidentes dificuldades de circulação no WC e da hipersensibilidade da maldita máquina. Uma pessoa está a dar banho aos miúdos, coloca distraidamente uma toalhinha branquinha e lindinha em cima do lavatório, e de repente ouve o terrível som: "sssshhutt!" E pimba, já sabemos que o sabonete líquido voltou a atacar pelas costas, e que é preciso ir cuidar da vítima.

Eu percebo perfeitamente que tenhamos de exterminar os germes - mas não será possível fazê-lo com menos danos colaterais?

Cá está a saboneteira de castigo, virada para a parede, única forma de evitar que objectos inocentes sejam vítimas do seu desejo incontinente de despejar sabonete por cima de tudo o que mexe.  

O paradoxo do bebé constipado

Sem chucha não consegue dormir.
Com chucha não consegue respirar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Mãos à água

O meu excelentíssimo esposo acha que eu tenho um problema com bichos. A bem dizer não é com todos os bichos (eu adoro animais) mas com aqueles que são potenciais transmissores de doenças. Talvez por vício de profissão passo a vida a mandar os miúdos lavarem as mãos e gosto muito de colocar saboneteiras com sensor (daquelas que não é preciso tocar para que o sabonete líquido caia) na casa-de-banho dos miúdos. Já o meu excelentíssimo esposo embirra com essas saboneteiras porque são uns mamarrachos (realmente não conheço nenhuma que deva muito ao design) e porque, uma vez que os nossos miúdos não são propriamente uma paz de alma, desperdiça-se muito sabonete se não se tiver o cuidado de tirar a saboneteira da trajectória de passagem habitual das mãos deles.

Ora, recentemente, tivemos um surto epidémico de bicharada cá em casa (nem me peçam para explicar), culpa da má higiene das mãos, e eu resolvi atacar em força com um programa familiar de lavagem frequente e correcta das mãos. A Carolina, que ficou especialmente preocupada com a vulnerabilidade da Ritinha, resolveu ajudar-me e fez um cartaz que colou na porta da cozinha.


Ontem o Gui veio para a mesa imediatamente depois de eu o chamar (o que não é nada habitual, mas por razões alheias à higiene das mãos) e eu perguntei-lhe se ele já tinha lavado as mãos. Ele olhou para mim muito envergonhado e respondeu que não. Eu mostrei-me zangada e perguntei-lhe se ele não tinha visto o cartaz na porta da cozinha. Ele não se atrapalhou e respondeu:

- "Não vi puque a pota tava abeta e, além disso, eu não shei ler nem percebo nada do desenho."

E o que é que eu respondo a isto?

Sushi para crianças


Cá em casa todos adoramos sushi. Os miúdos aprenderam a gostar desde muito pequeninos e a Carolina já é mais hábil a comer com os pauzinhos do que eu.

O problema é que como nunca aprendi a fazê-lo temos sempre que o comprar e por isso vamos conhecendo todos os restaurantes que o fazem com segurança e qualidade em Lisboa. Mas em nenhum encontramos sushi kid's friendly. É sempre tudo igual. A Carolina fica-se sempre por avultadas quantidades de sashimi de salmão e nigiris de camarão ou salmão e os dois rapazes por hosomakis de salmão e alguns legumes e frutas. Ontem ao almoço a Carolina, num dos restaurantes onde costumamos ir, começou a queixar-se que estava a começar a fartar-se de sushi.

Soou o alarme! Estamos tramados se isso acontecer. Este gosto comum é muito importante para o bem-estar da família. Alguém sabe onde fazem sushi criativo para crianças?



Escola pública ou privada?

Eu e a Teresa sempre quisemos que os nossos filhos estudassem em escolas públicas. O Tomás e a Carolina estão numa escola pública, e estão a dar-se bastante bem. Mas à medida que se aproxima o quinto ano da Carolina eu e a excelentíssima esposa começamos a ter dúvidas. Por um lado, não queremos que eles vivam numa espécie de bolha social, rodeado de miúdos privilegiados. Por outro, temos receio que ao mesmo tempo que se multipliquem os professores também se multipliquem os problemas de colocação, os pedidos de reforma antecipada ou as greves.

Claro que pôr quatro filhos numa escola privada envolve um esforço financeiro gigantesco, e na minha profissão basta de repente ficarmos sem uma página de opinião num jornal ou sem um programa na televisão para os rendimentos caírem a pique de um dia para o outro. E a ideia de ser subitamente obrigado a retirar um miúdo de uma escola onde ele tem os seus amigos e é feliz porque os pais ficaram sem folga financeira é uma coisa que me assusta tremendamente. Só que, claro, também aqui há um outro lado: quando se olha para os resultados de escolas públicas e privadas as diferenças são gigantescas.

Mas eis que, só para baralhar as contas... o jornal Público apresentou no final da semana passada um estudo, que até deu manchete, que sugere que as escolas públicas são melhores do que as privadas a prepararem os alunos para o ensino superior. O artigo é exclusivo para assinantes, mas foi reproduzido aqui, e vale muito a pena ser lido. A tese é curiosa, mas faz sentido: os miúdos que estudam em escolas privadas têm muito apoio para conseguir os melhores resultados de entrada na faculdade (e têm, de facto), mas depois de lá chegarem, como esse apoio falta e é exigida uma maior autonomia, os alunos oriundos do ensino público acabam por ter melhores aptidões para se desembaraçarem sozinhos.

É só um estudo, claro. Mas serviu para baralhar ainda mais um bocadinho as contas de uma decisão que, para todos os efeitos, vai marcar bastante a nossa vida familiar durante muitos e muitos anos.

Pesadelos, parte não sei quantos

Hoje acordei às seis da manhã com a minha filha mais a velha a invadir-me a cama:

- Papá, tive um pesadelo horrível!
- Entãrgrtaskkdjs? [isto sou eu a acordar estremunhado]
- Sonhei que estava nos Montes da Senhora, veio um tsunami horrível, e morremos todos afogados.
- Carolina, os Montes da Senhora ficam a mais de 200 quilómetros do mar. Não é possível um tsunami chegar lá.
- Ai não?
- Não! Cala-te e dorme, pá!

Ouçam, eu percebo que os pesadelos venham lá do inconsciente ou o caraças, mas até no domínio onírico há certas regras de plausibilidade que devem ser mantidas.

Um puto ter pesadelos com coisas que não existem e que por isso são impossíveis de acontecer, tipo ser devorado por um lobisomem ou morrer espetado no chifre de um unicórnio, parece-me bem, não tenho nada contra.

Um puto ter pesadelos com coisas que existem e que por isso podem realmente acontecer, apesar de improváveis, tipo um terramoto gigante ou entrar um assassino dentro de casa, cortar a família aos pedacinhos e depois fazer um refogado, também não me parece mal, eu até compreendo.

Agora, um puto ter pesadelos com coisas que existem (como um tsunami) mas que não podem acontecer (o dito cujo galgar 200 quilómetros de terra e ir inundar a Beira Baixa), isso já me parece bastante mal, e deveria infringir um qualquer direito constitucional dos pais estremunhados.

Ser acordado às seis da manhã ainda é como o outro, que um gajo já vai estando habituado. Agora, exigimos pesadelos de jeito, se faz favor.

A Grande Onda de Kanagawa, de Hokusai (1830/1)

domingo, 20 de janeiro de 2013

Precipitação na Beira Baixa

Eis o início do meu texto de hoje, na revista de domingo do Correio da Manhã

Querem saber que horas são no preciso momento em que vos escrevo? Quatro e meia da manhã, numa madrugada de domingo. E digam-me: porque é que eu estou acordado às quatro e meia da manhã de um domingo? Porque fui sair com os amigos sábado à noite e beber uns copos? Porque fui desanuviar, dançar um bocado e engatar umas miúdas? Porque a noite correu tão bem que estou a fumar o cigarrinho da praxe? Ná, vocês sabem que eu não sou esse tipo de gajo. A verdade é que estou acordado às quatro e meia da manhã, numa madrugada de domingo, não por estar bêbado ou em período refractário, mas porque o meu filho Gui acabou de encharcar a cama de chichi na casa de família da Teresa, nos Montes da Senhora.

Encharcar a cama de chichi é uma actividade relativamente comezinha para quem já ostenta no lombo as marcas de quatro filhos. Mas há encharcamentos de chichis e encharcamentos de chichis, e eu posso garantir-vos que este foi especial, foi um encharcamento candidato a Óscar. 


Se quer saber o porquê de eu ter atribuído ao Gui o Óscar de Melhor Encharcamento por Chichi, clique aqui. O full frontal é de José Carlos Fernandes.



Ser pai de quatro é...

...ter quatro festas de aniversário num único fim-de-semana.

Medo do Medo (agora em versão informada)

A propósito do post anterior, sobre as crianças e os pesadelos, a Olga Reis, que além de blogger também é psicóloga clínica, deixou um interessantíssimo e fundamentadíssimo link (e outros íssimos equivalentes) na caixa de comentários. Para o caso de não terem o hábito de andar a vasculhar caixas de comentários, fica também aqui esse texto, que vale muito a pena.

Frankenstein (1931), de James Whale

sábado, 19 de janeiro de 2013

Medo do medo

Escreveu uma leitora a propósito deste post:

Os meus (5 e 4 anos) sonham com vampiros todas as noites. Nunca viram nenhum filme do género e já assegurei que não existem. De nada tem adiantado...

Ora aqui estão três pequenas frases que farei questão de partilhar com a minha excelentíssima esposa, que tantas vezes me critica por eu mostrar filmes assustadores às crianças. Obviamente que existem limites de bom-senso àquilo que um miúdo pode ver - juro que ainda não lhes mostrei O Exorcista nem O Pesadelo em Elm Street -, mas estou convencido que para uma criança um ou outro susto cinematográfico é assim como um copinho de vinho ao jantar para um adulto: exercita os músculos cardíacos e oleia a circulação.

Ah e tal, as criancinhas depois sonham com aquilo. Certo. Até podem sonhar. Mas desconfio que já existiam pesadelos antes de os irmãos Lumière terem inventado o cinema. A questão, como bem demonstra o comentário da leitora, é que se não sonharem com aquilo sonham com outra coisa qualquer. O material para pesadelos não é como o nosso ordenado: por muito que se gaste há sempre lobos, vampiros, sombras, cães ou senhores assustadores para alimentar o medo dos miúdos. 

Nosferatu, o Vampiro (1922), de F. W. Murnau

Confirma-se

Vinha por este meio confirmar que a cadeia de eventos prevista neste post ocorreu realmente, para mal dos meus pecados. Em matéria de sofrimento paternal, sou um verdadeiro professor Karamba.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ó dormes

Cocktail explosivo: uma enorme chuvada lá fora, com o vento a uivar nas janelas, e um pai chanfrado que deixou a filha mais velha, francamente entediada (ainda está doente em casa), ver esta tarde o filme A Múmia. Resultado: tive de vir mesmo agora deitar-me para o lado dela, que a rapariga não estava a ser capaz de adormecer. Acrescente-se uma Rita que se deixou dormir às seis da tarde e um Gui que anda passado dos carretos e... esta noite promete ser muito looooonga. Desconfio que não vão ser apenas os sapadores bombeiros a não pregar olho.


Pára de estudar, pá!

Eis uma coisa que nunca imaginava que fosse dizer a um filho: "TOMÁS, LARGA OS TRABALHOS DE CASA!" O meu filho n.º 2 (quando deixa de ser possível dizer "o meu filho do meio" acho que o melhor é começar a numerá-los) é de tal modo aplicado, e tem tanto prazer em fazer contas e escrever novas frases, que hoje levou o livro de exercícios para a mesa de jantar. Quando dei por ele, estava agarrado a fazer contas de somar enquanto comia esparguete com salmão. Tive de o obrigar a largar os trabalhos de casa, o que me ia fazendo fundir um fusível na tola. Um pai a afastar um filho do estudo? Só me faltava mesmo experimentar esta...

Diálogos em família #6

Gui: Eu vou levar uma pica?
Mãe: Não, Gui, já te expliquei que não vais levar uma pica. O doutor só vai olhar para ti e ver como estás.
Pai: Claro que não vais levar uma pica. O doutor só te vai arrancar a cabeça.
Gui: Ele vai arrancar-me a cabeça, mamã?
Mãe: Não, não vai.
Pai: Para que é que tu queres a cabeça, Gui?
Gui: Para ver. Se eu não ter olhos não era ninguém.

Vocês são os maiores

É só para dizer que a luz voltou em toda a casa, e que sem vocês teríamos gasto uma pipa de massa a mandar vir uma super-mega-equipa analisar todos os fusíveis do apartamento. Graças a este post e aos seus comentários percebi que a problemática eléctrica devia ser assunto para a EDP. E era mesmo. Os leitores deste blogue são os maiores, é o que é. E pronto, era mesmo só para dizer obrigado.


Retrato oficial

O pessoal da Clix teve a amabilidade de arranjar uma foto da família na festa de apresentação dos novos blogues, ontem no Main, da qual já falei aqui:


Receio bem que os nossos trapinhos não estejam propriamente à altura da ocasião (sobretudo tendo em conta a concorrência), mas uma pessoa ou está ocupada a fazer filhos ou a vestir-se. E eu cá prefiro a primeira parte.

Preciso de um homem na minha vida

Há por aí algum electricista? Como é que um gajo pode ficar sem luz em metade da casa sem nunca saltar o quadro nem o disjuntor?


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Eu sou mesmo um blogger amador

E sou mesmo um blogger amador porque... levo o iPhone e me esqueço de tirar fotografias. No final do dia de hoje, este blogue e outros três (A Mulher É que Manda, Barriga Mendinha e Mapshow), que passaram a fazer parte da rede Clix em 2013, foram devidamente apresentados à comunicação social no Main. A família foi em peso, quatro filhos incluídos (não íamos perder a oportunidade de levar uma bebé de quatro meses a uma discoteca de Lisboa), e a festa esteve impecável e cheia de comunicação social. Vou tentar cravar umas fotos a algum dos presentes para pôr aqui (que vergonha), mas assim como assim tenho, para compensar, uma bela imagem do grande momento da noite (da minha perspectiva, pelo menos). É que eu fui entrevistado pela Vanessa Oliveira. Grávida, ainda por cima. E quando um casamento resiste a uma entrevista com a Vanessa Oliveira (e neste momento encontro-me na casa de sempre com as pantufas de sempre), então resiste a tudo.