terça-feira, 30 de abril de 2013

1 milhão de visitas!

O Pais de Quatro atingiu a marca do 1 milhão de visitantes. Tendo em conta que começámos a meio de Dezembro, não está nada mal. Muito obrigado a todos os que se dão ao trabalho de passar por aqui.

Por qué no te callas, ó Balotteli?

Este é Mario Balotelli, o grande bad boy do futebol actual. Eu gosto do Balotelli: para além de ter uma história de vida especial, é grande jogador, imprevisível e bastante maluco, o que é de saudar num desporto cada vez mais feito de jogadores plastificados, que só vão às conferências de imprensa dizer que é preciso respeitar o adversário, que o mais importante é a equipa e que é preciso levantar a cabeça. Balotelli não alinha. E toda a gente (excepto os seus treinadores) adora desalinhados.



Apresentado Balotelli, importa agora apresentar a nova namorada de Balotelli, Fanny Neguesha, uma modelo belga sobre a qual ele disse: "é a primeira mulher com quem me sinto confortável". Tendo em conta que as modelos com quem ele andou davam para fazer vários desfiles da Moda Lisboa, esta pode ser entendida como uma comovente mensagem de amor.



A relação entre os dois parece, portanto, ir de vento em popa, ao ponto de ela até já partilhar momentos de grande intimidade no Instagram:


Bonito. Mas não se assustem, que este blogue não se tornou subitamente cor-de-rosa. Toda esta história tem um motivo, que são estas declarações de Mario Balotelli: "se o Real Madrid [NR: para quem não acompanha o futebol, o Real perdeu na Alemanha com o Borussia por 4-1 na primeira mão das meias finais da Liga dos Campeões] conseguir passar esta eliminatória, deixo que a minha namorada durma com todos os jogadores". Ah. Ah. Ah. (Gargalhada seca.)

Graças a esta frase tive ontem uma enérgica discussão na redacção da Time Out. A rapaziada do meu trabalho estava toda animada a comentar as declarações do jogador italiano, como quem celebra a mais recente manifestação de absurdo balotelliano. E eu, estranhamente, acabei a fazer a figura do avozinho, que é uma coisa que sempre me aflige. Se calhar sou eu que estou a ficar quadradão, mas sempre lidei mal com objectificações neanderthais de mulheres.

Se essa objectificação for voluntária, ou seja, se ela partir (livremente) do lado da mulher, eu não tenho nada contra. No meu entendimento, cada um tem o direito a fazer com o seu corpo o que bem lhe apetecer, seja prostituir-se ou fazer de bibelô em anúncios de automóveis. Se a frase do Balotelli fosse "a Fanny disse-me que estava doida por papar o plantel inteiro do Real Madrid, e eu disse-lhe que por mim tudo bem, desde que eles ganhem ao Dortmund", eu não teria nada a objectar. Era vontade da Fanny e o gang bang é uma actividade muito democrática.

O meu problema com a frase de Balotelli é que a Fanny não disse nada. E ao não dizer nada, Balotelli aparece na comunicação social a oferecer a namorada, como se ela fosse propriedade sua. Há quem ache divertido, há quem ache que é uma simples piada - mas eu, que me rio de tanta coisa, e que me honro de ser um gajo muito pouco susceptível, neste caso pendurei o meu melhor sorriso amarelo.

Rir de alguém que está a oferecer aos outros a sua mulher é sempre ficar do lado daquele marialvismo bacoco que tem dificuldade em olhar para o sexo feminino sem as lentes da subserviência. Eu escutei argumentos como "afinal, é mulher de um jogador de futebol" - e todos nós sabemos que as mulheres dos jogadores de futebol são um bando de gajas indistintas a querer dar o salto na horizontal e sempre doidas por pinar com qualquer caparro musculado, não é?

Muitas delas até podem ser. Mas isto é como Abraão a interceder por Sodoma: ainda que só haja um justo na cidade, ele não merece ser confundido com os outros. Generalizações e objectificações no que diz respeito a seres humanos são coisas mesmo muito feias. E tratar alguém como se não tivesse existência e vontade próprias dá-me cabo dos nervos. O Balotelli até pode ser o maior. Mas naquele caso foi um grande parvalhão. Ele que peça desculpa à Fanny e não volte a repetir. Ou então que ofereça o seu próprio traseiro para divertimento do balneário do Real Madrid.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quem foi o gajo que inventou os bichos da seda?

Como se não bastasse ter de arrastar quatro putos até ao litoral alentejano, num monovolume com malas até ao tecto, eis que a nossa última viagem em família foi acompanhada de uma caixa de sapatos furada. Com o quê lá dentro? Eu sei que vocês já adivinharam. Sim, bichos da seda.


Eu adorava bichos da seda quando era pequenino. Mas entretanto aprendi a odiá-los, desde que se tornou obrigação dar-lhes hospedagem doméstica a cada Primavera. Primeiro, era só em casa. Mas agora também já fazem excursões: eis a nossa simpática família de 10 bichos da seda, em pleno Zmar. Ainda bem que eles foram introduzidos clandestinamente na nossa Zvilla - de outra forma, cobrar-nos-iam a estada.

E pergunta o caro leitor muito inteligentemente: mas por que raio foram vocês acartar com uma dezena de lagartas para o Alentejo? Boa pergunta. Fomos acartar com lagartas porque sexta à tarde já não havia mantimentos para os bichos, que são muito dados ao alimento. Donde, não os pudemos deixar à míngua durante dois dias inteiros. E assim, na sexta-feira, antes de sairmos de Lisboa, a excelentíssima esposa e o excelentíssimo esposo tiveram de andar à cata de folhas de amoreira, já com os putos todos enfiados no carro.


Ora, eu percebo tanto de árvores como de bilhar às três tabelas (minto: percebo mais de bilhar às três tabelas), de modo que preciso sempre de ser assistido nessa nobre tarefa de descobrir que raio é uma amoreira, antes que envenene os bichos com uma folha de qualquercoiseira. Felizmente, a excelentíssima esposa não só parece ter descoberto o que era uma amoreira após investigar o assunto (nem imaginam como acho isso admirável), como vislumbrou um espécimen perdido a um quarteirão da nossa casa.

Claro que quando chegou a altura de atacar a folha da única amoreira na zona da Avenida de Roma, adivinhem a quem coube a tarefa? Ah, pois. E então, estava eu em pleno processo de gamar folhas de amoreira, já juridicamente indeciso se aquilo era legal ou não (ó juristas que visitam o Pais de Quatro: a malta pode roubar folhas a árvores públicas ou incorremos num qualquer delito?), quando sou verbalmente atacado por uma senhora muito velhinha, acabada de sair de um prédio vizinho da maltratada amoreira.

E a senhora velha começa logo a queixar-se, brandindo a bengala. Que as pessoas estragavam a pobre amoreira, que aquilo era uma vergonha, coitadinha da árvore, tão raquítica e tantas vezes transformada em banco alimentar. Eu pedi imensa desculpa e tentei confundir a velhinha com um paradoxo existencial: está bem que a árvore não gosta que lhe tirem as folhas, mas se as folhas não lhe forem tiradas, do que é que se alimenta um bicho da seda? O que vale mais aos olhos da Deus: uma família de bichos da seda famintos ou uma amoreira aliviada de uma dúzia de folhas?

Mas já se sabe: as velhinhas, embora com certa queda para a filosofia, não são muito dadas a este género de reflexões. Razão pela qual ela se afastou a resmungar e a chamar-me nomes. Resultado: como se já não me bastasse ter a casa invadida por bichos vegetarianos e bulímicos, ainda vou ter de passar por humilhações sempre que for à procura de comida para eles, espreitando por cima do meu ombro, a ver se não me aparecem mais senhoras velhas. Se ser pai de quatro já é lixadíssimo, por que raio tenho ainda eu de andar a criar lagartas? Que caraças. É que no meio de tanta gente e de tanto bicho, quem está a precisar mais de construir um casulo sou mesmo eu.

Zmar e a marca do Z

Um leitor perguntou-me a opinião sobre o Zmar - cujo pomposo subtítulo é "eco campo resort & spa" -, já que estava a pensar lá ir. Nós dormimos no Zmar, uma enorme herdade ecológica ao lado da Zambujeira, duas noites, de sexta para sábado e de sábado para domingo, e dada a dimensão do nosso agregado familiar e a mobilidade limitada da Ritinha não podemos propriamente andar de um lado para o outro. Mas, de um modo geral, diria que fiquei desiludido, sobretudo pela relação qualidade/preço.

Foi a Teresa que marcou as noites e que se lembrou do Zmar (os miúdos tinham pedido "um fim-de-semana na natureza"), por não ficar demasiado distante de Lisboa. Na verdade, este "não demasiado distante" é só mesmo no mapa: demorámos mais de duas horas a chegar lá, tanto como se tivéssemos ido para Portalegre ou para Albufeira. Quando se larga a autoestrada e se começa a circular no litoral alentejano, as estradas deixam muito a desejar. Ainda por cima, as indicações do site eram manhosas e chegámos já alta noite à nossa Zvilla: uma casa de madeira de 40 metros quadrados com capacidade para seis pessoas (um quarto de casal mais outro quarto com dois beliches).


Ao acordar, a vista era esta. Nada mal.


Mas apesar da qualidade da vista, da beleza do espaço (embora faltem ainda árvores), da piscina de ondas (só faz ondas durante dez minutos a cada hora, mas são boas ondas) e do parque infantil (do qual os miúdos gostaram muito, sobretudo por causa dos três slides), não há justificação para o preço: 180 euros por noite para a nossa Zvilla, com pequeno-almoço incluído, o que significa que só a estadia ficou por 360 euros. O quarto não o justifica, o pequeno-almoço ainda o justifica menos, e quando vamos somando extras o preço ainda fica mais absurdo.

O almoço sai por 14 euros para cada adulto e 8,5 euros para crianças entre os seis e os 10 anos. A comida que se oferece em troca disso, no enorme restaurante onde também se toma o pequeno-almoço, é uns bifes grelhados na hora, umas entremeadas, umas postas de peixe ou umas pizzas em forno de lenha, tudo feito na hora, mas sem serviço à mesa. No final, agradecem que coloquemos os tabuleiros nos carrinhos, para alegadamente poderem "manter os preços". Mais quais preços? Aqueles preços?

Pois é: quando se constrói um empreendimento auto-sustentável, não deveria ser para explorar os clientes como se estivessem num hotel de quatro estrelas. Não se paga 14 euros por pessoa para comer de bandeja. Não faz sentido alugar bicicletas a sete euros se as bicicletas estão a cair de podres (só eu tive de trocar duas). Nem se cobra valores de época alta para depois se acrescentar que o arborismo e o tiro com arco (extras que deveriam estar disponíveis) afinal só começam em Maio.

Divertimo-nos? Divertimos. Mas os preços precisavam de uma reduçãozita de 40% para ficarem de acordo com o que valem. Assim, pensei muitas vezes no Z, de facto. Mas no Z de Zorro, não no Z de Zmar.

É tão bom, não foi?

É tão giro sair de casa à sexta-feira para um fim-de-semana a família. E tão chato regressar a casa no final do dia de domingo. Está sempre tudo tão inevitavelmente atrasado, que o stress que libertámos em 48 horas regressa todo em 48 segundos. Felizmente, sobram as fotografias, para memória futura. E nas fotos nós estamos sempre a sorrir.



domingo, 28 de abril de 2013

O que fica do que passa

Ilustração de José Carlos Fernandes

Eis o meu texto na revista de hoje do CM. Talvez um pouco mais melancólico do que é habitual:

Eu e a excelentíssima esposa comemorámos recentemente o 11º aniversário de um incansável matrimónio, e decidimos que era a ocasião perfeita para mostrar às criancinhas o filme do nosso casamento. O clássico “vídeo do casamento” é aquele género de actividade com a qual se maltrata as visitas durante meia-dúzia de meses após a lua-de-mel, com as pobres vítimas obrigadas a gramar com uma hora de vestidos de cerimónia, trocas de alianças e cascatas de camarão, enquanto suspiram para a ex-noiva dois ou três educados “ai que bonita estavas”. Passados seis meses, existe o saudável hábito de arrumar o DVD numa prateleira poeirenta, permanecendo em piedosa hibernação até que um dia um qualquer arqueólogo o venha resgatar.

Desta vez, os arqueólogos fomos nós. A Teresa guarda nas doces memórias de infância o filme do casamento dos pais, que pelos vistos rodou em sua casa como se fosse um daqueles musicais da Broadway que nunca saem de cena. Vai daí, prometeu mostrar aos miúdos o filme do nosso próprio casamento precisamente 11 anos depois de ter sido filmado. Como é óbvio, preparei-me para o pior, até porque não há guarda-roupa que resista a exercícios de nostalgia. E, de facto, lá estava eu, muito bem escanhoado (ainda não usava barba na altura), com um penteado ridículo, uns óculos de totó e um casaco tão comprido que dava para toalha de mesa. Os dois rapazes ainda se riram um bom bocado com a minha figura, até decidirem sabiamente que era muito mais giro irem jogar computador do que ficar a ver a versão teen do pai. E saíram da sala.

Permaneceu a Carolina, já mais dada a bodas e a romantismos, e permaneci eu e a minha excelentíssima esposa, de boca aberta não por causa da nossa antiga beleza, mas por causa da quantidade de gente que está naquele vídeo e que entretanto morreu. São muitos. São demasiados. A Carolina estava fascinada com os primos, que hoje são adolescentes e que então eram muito mais pequenos do que ela. Mas eu e a Teresa só víamos passar à frente da câmara pessoas que foram tão importantes na nossa vida e que já cá não estão, uma, duas, três, cinco, algumas delas ainda relativamente jovens e que hoje são como espectros longínquos, fantasmas de um tempo que se perdeu para sempre. “É tudo tão frágil”, disse-me a Teresa. E é mesmo. Tanta coisa nasceu ali. E tanta coisa se perdeu entretanto.

sábado, 27 de abril de 2013

Um fim-de-semana com muitos Z

Como anexo às suas prendas de aniversário, a Teresa pediu disponibilidade (da minha parte) para um fim-de-semana em família. Por isso, desde ontem e até amanhã, vamos andar pela Zambujeira do Mar. Mais precisamente, aqui:


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Hoje é dia de festa

Hoje, a senhora desta foto faz 38 anos.


Tem sido um prazer envelhecer ao seu lado.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Maldita consciência

Uma das sete maravilhas do mundo é acordar e poder pegar num livro. Aconteceu-me hoje, dia da Liberdade: fingi dormitar, deixei a Teresa ir tomar conta da filharada e do respectivo pequeno-almoço, e fugi para as páginas do novo e maravilhoso livro de crónicas do Manuel António Pina (Crónica, Saudade da Literatura). Até que à segunda crónica li esta frase, alegadamente saída dos manuais de Filosofia de um tal prof. Bonifácio:

O mundo é a casa dos rapazes, a casa é o mundo das raparigas.

Chiça. Lá tive de me levantar da cama e ir ver se a Teresa precisava de ajuda.


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Self-made alface

A escola do Bairro de São Miguel é um óptimo exemplo de sucesso da escola pública. Como o Tomás e a Carolina têm a sorte de estudar lá, nós esforçamo-nos por participar no que podemos para melhorar as condições físicas da escola e enriquecer as actividades educativas dos miúdos.

Este ano uma das ideias mais interessantes foi criar uma horta biológica num espaço abandonado da escola, que foi dividido em 16 pequenos talhões: um para cada turma. O projecto foi concretizado com a ajuda das famílias dos alunos, e além de ter propiciado um convívio óptimo entre todos, tem feito muito pela educação ambiental e ecológica de pais e filhos. Não faz sentido nenhum que haja miúdos a achar que as ervilhas nascem em latas e as alfaces nos sacos dos supermercados. Com uma iniciativa tão simples, é vê-los agora preocupados com a reciclagem dos lixos e interessados na compostagem para poderem melhorar o crescimento das culturas que têm feito.

Ontem foi dia de colheita na turma da Carolina e coube-me a mim ir apoiar os miúdos, para a horta conseguir sobreviver a tamanho entusiasmo. Alfaces, rabanetes, couve portuguesa, grelos, ervas aromáticas - cada um levou um produto para casa. À Carolina coube uma alface que ela exibiu orgulhosamente e fez questão de lavar e preparar para o jantar. E, segundo ela, foi a mais saborosa que já comeu até hoje.





terça-feira, 23 de abril de 2013

Um domingo na Kidzânia

A Kidzânia contactou o Pais de Quatro com um convite para a família ir lá experimentar uma nova iniciativa a que eles deram o nome de "Pais Bem-Vindos", que se realiza no segundo domingo de cada mês. Achámos que valia a pena aceitar o convite, por duas ordens de razões, para além da razão "entrar à borla" (o bilhete de família da Kidzânia também é daqueles que só contempla dois adultos e duas crianças, além de ter de ser comprado online, o que significa que se uma família como a nossa se apresentar no Dolce Vita Tejo vai deixar nas bilheteiras 19,50€ x 3 + 10€ x 2, o que totaliza uns astronómicos 78,50€). As duas ordens de razões são estas:

- Somos clientes relativamente regulares do espaço e temos em casa um trio de putos fanáticos da acumulação de kidzos (o kidzo é a moeda da Kidzânia), que mais ou menos de dois em dois meses começam a pedir freneticamente para lá voltar.
- Gostávamos realmente de experimentar a iniciativa, porque a ideia é que no tal segundo domingo de cada mês os pais possam participar em imensas actividades com os seus filhos (nem todas, atenção! - não vão poder na mesma aprender a fazer pizzas nem hambúrgueres), e queríamos perceber se os miúdos preferem ter-nos ao seu lado ou não.

O sinal que está à porta das actividades onde os pais podem entrar é este:


E a primeira coisa que nos lembrámos de fazer foi de ir bater à porta do Continente:


Mas não para ir às compras, atenção. Foi para ir trabalhar - e logo na peixaria. Eu fiquei com o Gui. E como se pode ver pela imagem em anexo, foi um cargo que exerci com grande responsabilidade e ponderação. (A verdade é que sempre sonhei ser o Ordralfabetix.)


Depois da peixaria subi rapidamente na vida e decidi dedicar-me ao automobilismo, desta vez com a Carolina. Incrivelmente, o número do carro que me coube em sorte era o do ano do meu nascimento. "Isto é bom sinal", pensei eu. (Por favor, descontem a pose duvidosa desta foto.)


E, de facto, coube-me arrancar na pole position, qual Ayrton Senna.


Infelizmente, consegui ser ultrapassado por todas as crianças que estavam em competição, terminando em último lugar. Tudo por causa de problemas no motor e na caixa de embraiagem.


A mamã também andou metida em divertidas actividades com os seus filhos, nomeadamente na reciclagem de papel.


A Rita estava incluída no grupo, e dedicou-se à reciclagem do plástico. Eu ainda propus reciclagem de birras, mas tristemente não se fazia.


Mas onde a Rita acabou por se divertir mais foi no espaço dedicado aos mais pequeninos.


E depois daquela visita, qual a conclusão? Vale a pena pôr os pais a fazer as actividades com os filhos ou não? Bom, eu diria que depende. Depende da personalidade, mas depende sobretudo da idade. Se tiver crianças ainda pequenas e um bocadinho tímidas e as quiser levar à Kidzânia pela primeira vez, os segundos domingos de cada mês podem ser uma excelente opção. É a melhor forma de entrar em imensos sítios deixando as vergonhas à porta.

Mas se, por outro lado, tiver miúdos mais velhos e despachados, dos seis anos para cima, esqueça: eles preferem andar sozinhos, sem os pais atrás. Afinal, a Kidzânia é isso: simular em grande estilo uma cidade dos grandes para os mais pequenos. Se os pais andam atrelados, perde-se metade da graça. É apenas melguice materna ou paterna. Ou pensam que é por acaso que a Carolina quase não aparece nas fotos? Mal podia, pisgava-se a grande velocidade e a dizer "bye bye, vejo-vos daqui a uma hora". Para ela, o mais giro da Kidzânia é mesmo os papás ficarem à porta. E, bem vistas as coisas, tem toda a razão.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Razões pelas quais o filho dele está a chorar

Por manifesta deselegância da minha parte e o constante atropelamento das minhas horas livres pelas quatro rodas domésticas, não agradeci ainda este post que o já muito citado e sempre grande Malomil teve a amabilidade de dedicar a este blogue. A referência é obviamente imerecida e só se deve à extrema boa educação do seu autor, mas o site que ele refere no post, Reasons My Son Is Crying, é a terceira vez que me é aconselhado por amigos ou conhecidos no espaço de 15 dias.

Tamanha coincidência deve significar que o mundo acha que ele tem tudo a ver com este blogue (de um modo geral) e comigo (de um modo particular). Como é óbvio, o mundo tem inteira razão. A ideia é simples: um pai decidiu registar fotograficamente (com as fotos apenas apoiadas em pequenas legendas) todos os motivos pelos quais o seu filho está a chorar. E infelizmente, o seu filho, como todos os filhos, quase nunca está a chorar por boas razões. O resultado é cruel, mas muitíssimo divertido. Eis alguns exemplos:





Diálogos em família #15

- Papá, eu sou o mais bem comportado?
- Sim, Tomás, tu és o mais bem-comportado. És o que te esforças mais por fazer as vontades aos papás.
- E eu?
- Tu, Gui, és o mais bonito. Quando passas, as meninas à tua volta desmaiam. Chegas à sala e caem todas para o lado.
- Não caem nada. Só quando estou muito tempo sem ir à escola é que me apertam muito.
- Estás a ver, eu bem te digo. É assim ou não é, Tomás?
- É, é. E qualquer dia são os meninos a fazerem-lhe o mesmo.
- Os meninos não, que eu não sou gay!

Uma questão de exigência



Eis a minha crónica na revista do CM de ontem:

Como já aqui contei, a Carolina entrou este ano para o Instituto Gregoriano, uma escola pública dedicada ao ensino da música, com admissão bastante apertada e que cultiva uma exigência e profissionalismo a que não estamos habituados. O resultado é um grupo de alunos disciplinados e que anda sempre na linha. Quando há um par de meses cometi o terrível erro de chegar atrasado a um ensaio de coro, levei um raspanete da maestrina como se fosse um puto de 10 anos: “Você devia ter chegado há 30 minutos e eu só não mando a sua filha embora porque ela não tem culpa nenhuma. Mas isto não volta a acontecer!”

Eu ainda tentei balbuciar qualquer coisa, procurando desculpar-me com o número de filhos (costuma ser um argumento imbatível), mas logo por sorte ou por azar a senhora tinha tantos filhos quanto eu (lá se foi o argumento imbatível). E olhem que os miúdos ainda estavam à porta da sala de concertos, todos alinhadinhos como na tropa. O ensaio propriamente dito nem sequer tinha começado. Acho que para aí desde os meus saudosos tempos da primária que não levava nas orelhas daquela maneira. Mas a verdade é que resultou: um raio me fulmine se algum dia volto a chegar atrasado. Embora a sede do Instituto fique em Entrecampos, em termos de rigor educativo poderia ficar em Munique, Salzburgo ou Moscovo. O resultado disso vê-se imediatamente na velocidade de progressão dos miúdos. Entre aulas de piano, coro e formação musical, a Carolina tem cerca de três horas de Instituto por semana. Três pequeníssimas horas. Está certo que depois tem a obrigação de estudar em casa, mas não deixa de ser impressionante como tão pouco tempo consegue produzir resultados tão eficazes. E tudo isto por causa de uma única palavra: exigência.

O resto do texto pode ser lido aqui. A ilustração é do José Carlos Fernandes.

domingo, 21 de abril de 2013

A Força esteja com os ditados

Uma das coisas que mais me dá a volta ao miolo é ver gente crescida a escrever português com erros ortográficos claríssimos, daqueles que só uma pessoa muito desatenta não detectaria ou consideraria gralhas. À conta disso, mostro-me sempre horrorizada de cada vez que dou com a Carolina a dar erros escandalosos e chego a pendurar listas de palavras difíceis no frigorífico para ela nunca mais na vida se esquecer como se escrevem.

No final do segundo período do seu primeiro ano, resolvi arranjar-lhe um livrinho de ditados que só servisse para treino de português, coisa que ela nunca gostou de fazer. Escolhi um livro de capas duras, estiloso, que não se parecia com um caderno de exercícios e com uma ilustração do Tintin (que ela tinha descoberto há pouco tempo e pelo qual estava completamente fascinada). Apesar de um pouco contrafeita, como sempre, a Carolina já criou uma relação especial com o seu livrinho e sempre que peço para o ir buscar ela não reclama. Foram poucos os ditados que fizemos até hoje, muito menos do que ela precisaria, mas tenho a convicção de que têm ajudado a Carolina a conhecer algumas palavras importantes e a evitar alguns erros básicos.

Agora chegou a vez do livrinho do Tomás. Com ele tenho, por um lado, a vida facilitada, pois é super-responsável e adora fazer os seus trabalhos de casa. De um modo geral, só preciso de o ir vigiando, para perceber se beneficiaria de alguma ajuda, aqui ou ali. Mas, por outro lado, o Tomás tem toda a pinta de vir a ser um homem mais dado aos números do que às letras, o que significa que o português é onde mostra um pouco mais de dificuldades (embora seja normal: ele entrou este ano para o primeiro ano e os progressos no português são sempre mais lentos do que na matemática).

Por causa de tudo isto, este fim-de-semana chegou a vez de apresentar ao Tomás o seu livrinho de ditados. E foi um sucesso! O João murmurou um qualquer comentário sobre gastar dinheiro com cadernos Moleskine da Guerra das Estrelas para fazer ditados (já não me lembro o quê exactamente, mas desconfio que fosse sobretudo inveja), mas o orgulho que o Tomás mostrou compensa tudo isso. E estou certa de que o irá ajudar a preparar o seu futuro com grande estilo.


sábado, 20 de abril de 2013

Ter covinha ou não, eis a questão

Nos comentários a este meu post é insinuado que a Elisha Cuthbert não tem covinhas (no queixo). Por esta altura vocês já deviam saber que este é um tema que trato com grande dedicação. Ela não é o Kirk Douglas (graças a Deus), é certo, mas tem definitivamente covinha, ok?


Já no post seguinte, algumas senhoras suspiraram por Harrison Ford, garantido que ele tinha a tal covinha e não fora devidamente integrado nas listas. Agora é a minha vez de perguntar: onde?


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Cinco a matemática, dois a perspicácia

Por esta altura acho que já toda a gente percebeu que o meu excelentíssimo esposo tem alguma dificuldade em ver além das covinhas do queixo. Tivesse ele mais confiança nas qualidades da sua esposa e (de vez em quando) capacidade de reconhecer os seus erros, e perceberia que nestes assuntos ela não costuma deixar as coisas ao acaso. Na verdade, há não só um A mamã é médica #7.2 no forno há já bastante tempo sobre o tema do leite (na verdade, já teve de ser refeito porque o caro esposo resolveu opinar sobre a extensão do conteúdo do post e... pluf, desapareceu tudo), como também já está quase preparado o A mamã é médica #8 sobre anemia, que faz todo o sentido vir depois do #7.2. Confesso que fiquei danada depois do esturricamento do post #7 e resolvi arejar as ideias antes que tivesse que esturricar o excelentíssimo esposo. Mas o #7.2 e o #8 hão-de aparecer nos próximos dias, para tudo ficar devidamente ordenado, como o esposo gosta.

Cinco a genética, dois a matemática

Uau. Estou impressionado. Ando a dormir com uma geneticista e não fazia a menor ideia. Mas se, por um lado, a excelentíssima esposa percebe imenso de tipos de sangue, por outro, as suas contas andam pelas ruas da amargura... Então salta-se do A mamã é médica #7.1 para o A mamã é médica #9? Ó sô doutora, olhe que há leitores deste blogue a coleccionar os fascículos. Outra destas e faço queixa ao Nuno Crato.

A mamã é médica #9

Uma leitora perguntou acerca deste post:"Já agora essa questão da penetrância incompleta expressa-se na generalidade dos genes ou só em alguns? (Sou bióloga e tenho curiosidade natural sobre o tema!) Ensinaram-me que por exemplo a hereditariedade do tipo de sangue 'não falha'. É mesmo assim ou já detectaram excepções?"

Felizmente para o comum dos mortais não geneticistas, a penetrância incompleta não ocorre na maioria dos genes. De outra forma só os especialistas conseguiriam entender as transmissões genéticas. Já em relação ao que lhe ensinaram sobre a hereditariedade do tipo de sangue, receio bem que esteja errado: o sangue é exactamente um dos exemplos de fuga às leis genéticas básicas previstas por Mendel - mas só em casos excepcionais.


Realmente, o que aprendemos na escola secundária em geral não contempla excepções cujas explicações ultrapassam o programa escolar. Como a esmagadora maioria das conjugações de grupos sanguíneos são explicadas pelas regras básicas do funcionamento dos genes, aquilo que não encaixa - até pela sua complexidade - é deixado de fora. 


A maioria das pessoas conhece (ou pelo menos deveria conhecer) o seu grupo sanguíneo: A, B, AB ou O. Podem ainda saber se são Rh+ ou Rh-. Mas muito provavelmente não sabem se são Langereis ou Junior + ou -. Acontece que se conhecem até à data 32 grupos sanguíneos diferentes, tendo os dois últimos atrás referidos sido descobertos há pouco mais de um ano.


É muito pouco provável que algum dia precisemos que todos os nossos grupos sanguíneos sejam caracterizados. Os mais frequentes sê-lo-ão, com certeza, no caso de algures na nossa vida precisarmos de uma transfusão sanguínea, por exemplo. Mas outros só serão necessários caracterizar no caso de intervenções médicas complexas, que incluem transplantes de órgãos ou novas terapêuticas contra o cancro, o que felizmente é raro. 


Acresce a isto que a transmissão genética dos grupos sanguíneos também é baralhada por fenómenos como mutações, formação de quimeras sanguíneas, penetrância incompleta, compensação ou recombinação genética. 


Isto faz com que seja possível, ao contrário do que aprendemos no secundário, que um pai do grupo O possa ter um filho AB ou que um pai e uma mãe com o grupo O tenham filhos de grupos A, B ou AB, ou ainda, para complicar mais um pouco, que um pai AB e uma mãe A possam ter um bebé do grupo O. 


Não querendo baralhar muito, mas uma vez que a leitora é bióloga, vou tentar explicar estes três casos muito resumidamente. Para isso, precisamos de rever três conceitos básicos em genética:


1º - cada um de nós tem duas cópias de cada um dos nossos genes - uma que recebemos da mãe e outra que recebemos do pai;
2º - estas cópias, apesar de pertencerem ao mesmo gene, têm versões diferentes (alelos); 
3º - por vezes um alelo é dominante em relação ao outro.

Grosso modo podemos comparar os genes e alelos aos carros. A mesma marca e modelo de carro (gene) pode ter duas ou quatro portas (2 alelos diferentes). Os carros fazem exactamente a mesma coisa se tiverem duas ou quatro portas, mas são carros diferentes.


No caso do grupo sanguíneo ABO temos três tipos de alelos: A, B e O, sendo o A e o B dominantes em relação ao O mas não entre si. Daqui resulta que podemos ter quatro tipos de grupos sanguíneos: grupo A (se tivermos os alelos A/A ou A/O), grupo B (se tivermos os alelos B/B ou B/O), o grupo O (alelos O/O) ou o grupo AB (alelos A/B).


Retomamos as excepções de que falei acima.


O primeiro caso pode ocorrer em várias situações: existe um tipo de sangue raro - Bombaim - em que os indivíduos podem ter os genes A ou B mas no teste de determinação do grupo (que só detecta a presença da proteína A ou B e não o gene) aparecem sempre como O (falsos O). Isto porque os portadores deste grupo sanguíneo não têm uma proteína (H) que se transforma nas proteínas A e B através da acção das proteínas produzidas pelos genes A e B.


Imaginemos que os genes são uma receita de culinária e as proteínas o alimento cozinhado que resulta da receita. Os genes (ex. A e B) até podem ter uma receita absolutamente deliciosa, mas se não têm os ingredientes certos disponíveis (ex. proteína H) nunca farão os cozinhados desejados (ex. proteínas A e B que serão testadas para determinar o grupo sanguíneo).


O primeiro caso também pode ser explicado pela existência de subtipos raros do gene A (Ax ou Am) ou pela existência de uma quimera sanguínea (algumas pessoas têm mais do que um grupo sanguíneo ABO ao mesmo tempo - são AB mas geneticamente são do grupo A e do grupo B - resultado da partilha in utero de células estaminais entre dois gémeos não idênticos).


O segundo exemplo pode explicar-se pela ocorrência de mutações (alterações no DNA) ao longo da vida de um ser humano. Estima-se que no dia em que nasce, um ser humano já seja portador em média de 100 novas mutações. E aqui entram os agentes mutagénicos de que tanto se fala: agentes físicos (radiação ionizante e raios UVC e UVB), químicos (substâncias cancerígenas como os hidrocarbonetos presentes no fumo do tabaco e radicais livres) e biológicos (vírus e bactérias). As mutações alteram a receita (gene) culinária e portanto o cozinhado obtido (proteína) vai ser diferente do previsto.


O terceiro exemplo pode explicar-se pela existência de um raro alelo (cópia) do gene do grupo sanguíneo ABO (cis-AB) que ocorre em alguns asiáticos ou japoneses. Neste caso, além dos clássicos alelos A, B e O temos também um cis-AB. Admitindo que nesses casos um dos alelos é sempre o cis-AB, qualquer que seja o outro alelo (A, B ou O), o grupo sanguíneo será sempre AB (porque o teste detecta a presença das proteínas A e B). Se imaginarmos o caso de um pai cis-AB/O e uma mãe A/O temos 25% de probabilidades de terem um filho O/O e portanto do grupo O.


Portanto, a genética básica com que estamos familiarizados funciona na maior parte dos casos, mas não em todos. O melhor é, antes de desatar a renegar pais e filhos, baseado em conceitos básicos de hereditariedade, consultar um geneticista. E, afinal, até parece que isso não acontece assim tão raramente. O caro esposo que frequenta este blogue é o primeiro a fazê-lo.



quinta-feira, 18 de abril de 2013

Notícia #2

Para quem quiser passar ali pelos lados de Campo de Ourique no próximo sábado, pelas 15 horas, eu vou estar a contar as minhas histórias na Livraria Ler. A livraria fica no princípio da rua Almeida e Sousa, mesmo ao pé do Jardim da Parada. E segundo parece, a minha obra já tomou conta da montra quase toda, com direito a poster e tudo. É muita generosidade.


Notícia #1

Não fui atropelado por um autocarro da Carris. Os livros já estão a caminho. Depois digam-me se chegaram bem.

Ó pra elas, tão esquisitinhas que são

Senhoras, senhoras, senhoras... lá estão vocês com as vossas tangas... Então eu publico uma foto do Jude Law, a quem até eu faço aqui uma vénia de tão giro que o gajo é, e na caixa de comentários começam logo a aparecer ladies esquisitinhas com o clássico argumento "ah, e tal, ele até é demasiado bonito". Demasiado bonito? O que é isso de "demasiado bonito"?

Ouçam, a nós, gajos que não foram particularmente abençoados pela natureza, essa treta do "demasiado bonito" dá-nos a volta à tripa. Sim, porque vocês, mulheres, não ligam nada, nada, nada à beleza exterior. O que vos interessa é a "beleza interior". E o sentido de humor. E a beleza dos dedos das mãos. Que grande tanga. Até me veio logo à memória um texto que escrevi há imenso tempo sobre esse tema, chamado "As mãos, os dentes e o sentido de humor". Ora tomem:

Eu passei a adolescência no top ten dos miúdos mais desinteressantes da minha escola. Além de a natureza não me ter bafejado com um rosto de estátua grega, vá-se lá saber porquê, ainda teve o descaramento de me plantar um par de incisivos no céu da boca, oferecendo-me duas fileiras de dentes, como os tubarões. Só que em Portalegre não há mar, nem sequer estudantes de biologia, e portanto passei boa parte dos meus anos do secundário a ser caridosamente enxotado por todas as miúdas giras da Mouzinho da Silveira.

Havia dois tipos de miúdas. As que pura e simplesmente me desprezavam e as que não me desprezavam porque nem sequer chegavam a reparar em mim. Admito que hoje em dia a minha situação não tenha mudado muito, e que eu continue tão desinteressante como no tempo em que a acne fazia exportações para o estrangeiro a partir da minha cara. Mas, pelo menos, descobri as maravilhas da ortodontia e uma bela mulher com alma de missionária, que se interessou pelo meu caso como se eu fosse um refugiado escanzelado no domínio dos afectos.

Tendo em conta este triste retrato biográfico, compreende-se que nada me irrite mais do que aquela maldita pergunta que insistem a fazer às mulheres em tudo o que é inquérito de revista: “diga-me, o que é que mais gosta num homem?” Cada vez que me deparo com essa bela formulação, há logo um suor frio que me trepa pela espinha. Porque a verdade, meus senhores e especialmente minhas senhoras, é que eu já conheço as respostas a essa pergunta. Que são, basicamente, duas. E ambas são mentirosas. (Antigamente eram três, porque se dizia muito “os olhos”, mas os olhos já estão um bocado batidos e saíram de moda, felizmente.)

Eis as duas alternativas:

1) “O sentido de humor”, que se pode desdobrar em frases como “o que eu mais gosto num homem é que ele me faça rir” (e aqui sinto uma pontada na barriga).

2) “As mãos”, no caso de elas quererem fugir à resposta óbvia e serem mais dadas à poesia ou a outras coisas (e aí rebenta-me a úlcera).

Qualquer uma destas respostas provoca-me desarranjo intestinal e convoca de imediato todas as minhas memórias de adolescência, todas as vezes que levei uma tampa de uma miúda, todos os actos de desprezo que sofri só por ser tímido, não me saber vestir e ter dois dentes pregados no palato.

Sentido de humor e mãos? Uma aldrabice pegada. Modéstia à parte, eu até tenho mãos de pianista, dedos longos e pele fina, preservada da apanha da azeitona. E no entanto, não me recordo de as minhas mãos terem tido nos anos 80 grande utilidade na sua relação com o sexo feminino, para além de chuchar no dedo. Quanto ao sentido de humor, também nunca estive mal servido, graças a Deus, e ainda consigo fazer rir a minha avozinha. Mas nem isso me impediu de ter passado quatro ou cinco anos a ser olimpicamente ignorado pelo cromossoma X.

Portanto, minhas senhoras, fica aqui um apelo: deixem por favor de dizer que aquilo que mais apreciam num homem é o seu sentido de humor. Toda a gente aprecia o sentido de humor, com certeza. Mas ele tem muito mais graça no George Clooney e no Brad Pitt. Há milhares de rapazes com dentes tortos que continuam por aí – e eles têm direito a uma dose mínima de sinceridade.

Pffff... demasiado bonito

O Pai Mais Atrasado do Mundo

Vocês sabem o que é isto?


Sim! Finalmente os vencedores do passatempo O Pai Mais Horrível do Mundo vão receber os seus livros! Se eu não for atropelado por um autocarro da Carris ao sair de casa, eles vão com certeza seguir hoje pelo correio.

Obviamente, isto significa que, além de eu ser o pai mais horrível do mundo, sou igualmente o mais horrível organizador de passatempos do mundo. Peço imensa desculpa aos premiados. As minhas intenções são sempre impecáveis, mas foi preciso ir buscar os livros à editora, procurar as moradas dos vencedores, verificar para quem eram as dedicatórias, escrevê-las, e tudo isso me tira umas três ou quatro horas - horas que só hoje consegui arranjar. Neste momento tenho tanta coisa para fazer que se este ritmo continuar ainda vou conseguir ultrapassar a excelentíssima esposa como A Pessoa Mais Atrasada do Mundo. Enfim: espero que gostem do livro.

Mais covinhas

E agora que falo nisso, devo dizer que nós, homens, também não estamos nada mal servidos de opções.

Para filhos loiros, a Elisha, filha do Jack Bauer na série 24 (nunca chegou a fazer nada de jeito no cinema, coitada, mas não vamos ser picuinhas):


Para filhos morenos, a Sandra (conseguem reparar na covinha no queixo?):


E para filhos do género "clássicos intemporais", a Sophia:


Não conheço nem os pais nem as mãe de nenhuma delas, mas estão todos de parabéns. Que belas covinhas!

E então o Jude, ó amor?

Nota-se bem que a minha esposa só tem olhos para mim. De outra forma, não se teria esquecido deste rapaz:


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Manos a condizer

Vestir os filhos com roupas iguais é uma tentação para muitos pais. Ou, se calhar, na esmagadora maioria dos casos, para muitas mães. No nosso caso, a tentação é mesmo só minha, porque o João, desde os seus tempos de gaiato, tem aversão a essas conjugações. Já eu, que esporadicamente tive oportunidade de me vestir de igual à minha irmã imediatamente mais velha, achava a maior das graças.


Bem sei que as regras de psicologia infantil recomendam que se fomente a individualidade de cada criança, e eu pratico isso convictamente todos os dias. Mas em raras excepções não resisto a fazer coincidir uma t-shirt ou uma sweat com a mesma aplicação, ou então um pequeno acessório. Só em muito raras excepções os visto MESMO de igual, como este ano no dia de Páscoa. Foi o meu ovinho!


Com o nascimento da Ritinha, e uma vez que a Carolina tem perfeita adoração pela sua mana e não se importaria de tatuar na testa ELA É A MINHA IRMÃ MAIS NOVA, estou ansiosa por emparelhar as duas. Mas não tem sido fácil encontrar peças da mesma colecção para bebés com menos de 1 ano e meninas com 9 anos. Hoje, finalmente, experimentámos a primeira conjugação que comprei. E pelo menos as três mulheres cá de casa adoraram.


É da Jacadi. Vestidinho e chapéu para a Ritinha e túnica e fita de cabelo para a Carolina. Tinham padrões maravilhosos mas só este coincidia para as idades delas.

Ode para Pais a Cair de Sono

A Sinfónica de Sidney abriu um concurso no Facebook propondo aos seus fãs para alterarem a letra da famosa abertura da Carmina Burana. O vencedor teria direito a escutar a sua nova versão interpretada pelo coro da Filarmónica de Sidney. Quem ganhou foi um senhor chamado Matthew Hodges, com esta magnífica "Ode to Sleep Deprived Parents". Oh, como nós o compreendemos... Um grande, grande like para ele.


terça-feira, 16 de abril de 2013

Mas quem será o pai da criança?

E ele a dar-lhe! O meu excelentíssimo esposo adora provocar-me (o que lhe vale a ele - e a mim - é que não tenho tempo para responder a tudo) e o tema da verdadeira paternidade é recorrente nas suas bicadas. Se alguém elogia os miúdos é porque saíram ao pai, mas se alguém os repreende é porque são filhos(as) do padeiro (ou então do enfermeiro, já que os bancos no hospital me obrigam a passar muitas noites fora de casa).

E é assim desde o primeiro momento. Um ano depois do nosso casamento, o João resolveu viajar para o Iraque, em pleno cenário de guerra, para uma das suas primeiras grandes aventuras profissionais. Apesar de ele não ter ido nos piores dias do conflito, eu fiquei com o coração nas mãos, lidando com vários episódios de auto-ressuscitação de cada vez que ouvia falar na explosão de uma bomba num hotel ou de um atentado a civis. Só quando o apanhei de novo no meu campo visual é que sosseguei. E então, ele teve de me compensar dos sustos.

Nove meses e meio depois nasceu a Carolina... o que deu corda à farta imaginação do João, com a proliferação de argumentos mais ou menos inverosímeis sobre a verdadeira paternidade da nossa primogénita. A pobre até chegou a dizer no infantário que era filha do Saddam Hussein!

Depois disso, a covinha no queixo do Tomás também deu água pela barba, e agora com a Rita voltou a lembrar-se do assunto.

Esclareçamos os factos.

A covinha no queixo é uma característica determinada geneticamente e o alelo (cópia) do gene que a codifica é dominante. Quer isto dizer que, como somos seres vivos diplóides e recebemos para cada característica genética (com algumas excepções) dois alelos - um proveniente do pai e outro proveniente da mãe -, se temos um queixo com covinha é igualmente possível que tenhamos dois alelos dominantes ou um dominante e um recessivo.  Mas se nem o pai nem a mãe têm covinha no queixo, será que algum dos filhos pode ter essa sensual característica?

Resposta: sim, pode!

É que a covinha do queixo tem muito mais que se lhe diga do que a simples genética mendeliana. Mesmo que sejamos portadores do alelo dominante da covinha esta pode não se manifestar (na maior parte dos casos) devido a um fenómeno a que os geneticistas chamam penetrância incompleta (o mesmo genótipo não expressa o mesmo fenótipo;  a covinha no queixo é um exemplo clássico) e neste caso pode ser devido a factores ambientais (ambiente uterino ou outros factores a que o corpo da mãe é susceptível que alteram a expressão génica) ou à co-existência de genes modificadores (genes que afectam a expressão do gene covinha do queixo). Um exemplo útil é pensarmos como funciona a electricidade na nossa casa. O gene modificador é o botão no quadro da luz que liga e desliga toda a electricidade na casa e o gene covinha no queixo é uma simples lâmpada. Se desligarmos o quadro central não adianta ligar ou desligar a lâmpada. Ela estará sempre desligada.

Portanto, no nosso caso, o problema não está no Tomás ou na Ritinha, que têm as lâmpadas acesas. Eu e o João é que devemos ter as lâmpadas a funcionar mas o quadro central da electricidade desligado (e às vezes isto corresponde mesmo à realidade!!!). Ou seja, para o Tomás e para a Ritinha terem covinha no queixo, de certeza que eu ou o João somos portadores do alelo dominante da covinha no queixo, no entanto, por qualquer uma das razões acima referidas, ele não se expressou em nós, embora se tenha expressado em dois dos nossos filhos.

Mas não é tudo. Porque, além disso, há ainda outras explicações não genéticas que podem baralhar as contas. Por exemplo, segundo assegura a minha excelentíssima sogra, quando o João era um bebé cutchi-cutchi tinha uma linda covinha no queixo. Simplesmente, foi desaparecendo à medida que foi crescendo (tal como os ossos, músculos, ou a pele do seu corpo).

Se depois desta explicação o caro esposo ainda contestar a verosimilhança da paternidade da nossa prole, pode sempre divagar sobre quem seria o padeiro à altura. E nesse caso, eu posso perfeitamente dar uma ajudinha:






Que belas covinhas!