domingo, 7 de abril de 2013

A fadinha dos dentes veio de panzer

Na quinta-feira caiu mais um dos dentes incisivos do Tomás. É engraçado como a queda de um dente é motivo para tamanha alegria nas crianças. O miúdo não se calava desde o fim-de-semana, dizendo que tinha um dente a abanar. Todas as manhãs e noites perguntava-me se era agora que ele ia cair, porque cá em casa eu sou a dentista de serviço - mesmo que o João mostre vontade de lhes dar um jeitinho ao dente, eles respondem logo que a mamã é que é médica.

Ora, como na quarta-feira de manhã eu lhe disse que estava mesmo quase, quase a cair, o Tomás declarou na escola que no dia seguinte já voltaria desdentado. Acontece que nessa noite cheguei muito tarde a casa, e quando ele se aproximou de boca arregalada para lhe tratar do dente eu chutei para canto e disse-lhe que era muito tarde e que ele podia sangrar muito...

O Tomás ficou desconsolado. Ele leva a sua palavra muito a sério, e se diz na escola que vai regressar sem dente, é mesmo para regressar sem dente - nem que seja preciso arrancar um de propósito. Resultado, na quinta de manhã, apareceu-me no quarto assim que acordou, e lá lhe dei uma traulitada no dente com ar de quem estava a fazer um tratamento dentário de elevadíssima dificuldade. Já com um dente a menos, foi de sorriso arreganhado para a escola, e se alguém passava por ele sem perceber a falta do dente, o Tomás encarregava-se logo de esclarecer a situação, mesmo que se tratasse de um desconhecido.

À tarde é que foram elas! Ele pediu-me para dizer à fadinha dos dentes que queria uns mini-soldadinhos da Segunda Guerra Mundial em troca do dente. O Tomás é o miúdo mais pacífico do mundo, mas adora fazer lutas e guerras com mini-soldadinhos desde que descobriu que esta era a brincadeira favorita do pai quando era pequeno. Como o João tinha ido para o Porto, eu não podia sair à noite para os procurar, e por isso tive de enfrentar umas filas de trânsito gigantes ao fim da tarde para conseguir ir ao Corte Inglès à procura deles na secção de modelismo.

Valeu a pena. Apesar de ter atrasado todas as tarefas do fim do dia, ao menos já tinha uma prenda em casa no momento em que ele foi buscar o dente à caixinha onde o tinha guardado de manhã. Claro que o Tomás andou agarrado ao dente até se deitar, e a páginas tantas já pensava que o tinha perdido no meio dos brinquedos. Virámos as caixas, comigo mais ansiosa do que ele para ao menos compensar o esforço da ida ao El Corte Inglés, e finalmente o dente lá apareceu. A normalidade foi reposta, e o Gui (só ele é que se lembra destas coisas) pediu para deixar a porta do quarto aberta para a fadinha entrar.

De manhã, mal abriu um olho, o Tomás agarrou na prenda que estava debaixo da almofada e anunciou deliciosamente que a fadinha dos dentes tinha muito bom gosto, porque tinha escolhido os soldadinhos das divisões Panzer alemãs, exactamente os que o papá andava a mostrar nas aulas sobre a Segunda Guerra Mundial durante a hora do jantar. "Muito esperta, a fadinha", disse ele.

E nem quando o papá chegou e se disse espantado por a mamã ter encontrado exactamente os soldadinhos Panzer, o Tomás se atrapalhou: "Ó papá, não foi a mamã! Foi a fadinha dos dentes!" A força da magia dentária é muito forte nesta casa. Mantê-la dá bastante trabalho, como se vê, e obriga a raides apressados a centros comerciais. Mas, no final, o esforço compensa.

A divisão Panzer em exercícios de combate na mesa da cozinha

4 comentários:

  1. Alimentar a magia nas crianças é muito bom.
    Um dia serão com toda a certeza adultos mais felizes.
    Beijinhos

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  2. Eles vibram mesmo com a histórias dos dentes! E nós temos de nos virar, para activarmos a versão desenrasca quando nos apanham desprevenido. O primeiro dente da Pikitim caiu mais cedo do que estávamos à espera - ainda não tinha cinco anos! Estávamos na Tailândia, logo no início da nossa viagem de volta ao mundo em família, e ela engoliu-o quando trincava uma fatia de melancia de manhã...! preocupação dupla: será que a fadinha dos dentes a ia encontrar tão longe de casa? Como é que a fadinha iria acreditar que lhe tinha caído o dente se ela não o tinha para lhe mostrar, e por debaixo da almofada?
    Ela própria arranjou uma solução: desenhou um dente, e colocou-o debaixo da almofada. Nós também tivemos de solucionar a nossa parte, se bem que na ilha a que tínhamos acabado de chegar (Koh Lanta), não havia muitas opções. A fadinha trouxe à Pikitim mais marcadores e livros para desenhar e colorir. E que contente ela ficou! Durante a viagem caíram-lhe mais dois. Mas não se preocupou mais com a fada...

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  3. Esta é para mim uma das crenças infantis mais deliciosas. Os meus filhos + velhos com 10 anos, há 2 que sabem que a "fadinha dos dentes" é, afinal, "os pais", mas continuam sempre a querer colocar o dentinho debaixo da almofada para no dia seguinte receberem uma moedinha. Ainda hoje de manhã, a 1ª coisa que a Carolina fez, ainda com os olhos fechados, foi ver debaixo da almofada o que a fadinha tinha deixado. Uma vez estávamos no Alentejo de férias e ela deixou cair o dente no chão. Andámos todos (eu, ela e o irmão) imenso tempo a tentar encontrar o dente no passeio. Uns srs. que por ali passaram perguntaram-nos o que tínhamos perdido e tentaram ajudar-nos. Como não conseguimos encontrar desistimos e fomos embora. Mas os srs. ficaram por ali à procura, acabaram por conseguir encontrar, foram à nossa procura e devolveram o dente à Carolina. Outra vez foi o João que enrolou o dente em papel higiénico. Eu vi "aquilo" no lavatório do WC, pensei "um papel ranhoso", deitei na sanita e puxei o autoclismo. Quando ele me perguntou se eu tinha visto um papel, ambos percebemos o q tinha acontecido e chorámos os dois. Para compensar na manhã seguinte, em vez da habitual moeda, tinha 1 nota de 5€. Vez seguinte, a mesma história, mas por sorte não puxei o autoclismo. Resultado, tive que ir com luva de borracha "vasculhar" o fundo da sanita para recuperar o dente. Até a pequenina de 4 anos anda sempre a dizer que lhe caiu "este" dente (a apontar para o sitio imaginário).

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