terça-feira, 16 de abril de 2013

Mas quem será o pai da criança?

E ele a dar-lhe! O meu excelentíssimo esposo adora provocar-me (o que lhe vale a ele - e a mim - é que não tenho tempo para responder a tudo) e o tema da verdadeira paternidade é recorrente nas suas bicadas. Se alguém elogia os miúdos é porque saíram ao pai, mas se alguém os repreende é porque são filhos(as) do padeiro (ou então do enfermeiro, já que os bancos no hospital me obrigam a passar muitas noites fora de casa).

E é assim desde o primeiro momento. Um ano depois do nosso casamento, o João resolveu viajar para o Iraque, em pleno cenário de guerra, para uma das suas primeiras grandes aventuras profissionais. Apesar de ele não ter ido nos piores dias do conflito, eu fiquei com o coração nas mãos, lidando com vários episódios de auto-ressuscitação de cada vez que ouvia falar na explosão de uma bomba num hotel ou de um atentado a civis. Só quando o apanhei de novo no meu campo visual é que sosseguei. E então, ele teve de me compensar dos sustos.

Nove meses e meio depois nasceu a Carolina... o que deu corda à farta imaginação do João, com a proliferação de argumentos mais ou menos inverosímeis sobre a verdadeira paternidade da nossa primogénita. A pobre até chegou a dizer no infantário que era filha do Saddam Hussein!

Depois disso, a covinha no queixo do Tomás também deu água pela barba, e agora com a Rita voltou a lembrar-se do assunto.

Esclareçamos os factos.

A covinha no queixo é uma característica determinada geneticamente e o alelo (cópia) do gene que a codifica é dominante. Quer isto dizer que, como somos seres vivos diplóides e recebemos para cada característica genética (com algumas excepções) dois alelos - um proveniente do pai e outro proveniente da mãe -, se temos um queixo com covinha é igualmente possível que tenhamos dois alelos dominantes ou um dominante e um recessivo.  Mas se nem o pai nem a mãe têm covinha no queixo, será que algum dos filhos pode ter essa sensual característica?

Resposta: sim, pode!

É que a covinha do queixo tem muito mais que se lhe diga do que a simples genética mendeliana. Mesmo que sejamos portadores do alelo dominante da covinha esta pode não se manifestar (na maior parte dos casos) devido a um fenómeno a que os geneticistas chamam penetrância incompleta (o mesmo genótipo não expressa o mesmo fenótipo;  a covinha no queixo é um exemplo clássico) e neste caso pode ser devido a factores ambientais (ambiente uterino ou outros factores a que o corpo da mãe é susceptível que alteram a expressão génica) ou à co-existência de genes modificadores (genes que afectam a expressão do gene covinha do queixo). Um exemplo útil é pensarmos como funciona a electricidade na nossa casa. O gene modificador é o botão no quadro da luz que liga e desliga toda a electricidade na casa e o gene covinha no queixo é uma simples lâmpada. Se desligarmos o quadro central não adianta ligar ou desligar a lâmpada. Ela estará sempre desligada.

Portanto, no nosso caso, o problema não está no Tomás ou na Ritinha, que têm as lâmpadas acesas. Eu e o João é que devemos ter as lâmpadas a funcionar mas o quadro central da electricidade desligado (e às vezes isto corresponde mesmo à realidade!!!). Ou seja, para o Tomás e para a Ritinha terem covinha no queixo, de certeza que eu ou o João somos portadores do alelo dominante da covinha no queixo, no entanto, por qualquer uma das razões acima referidas, ele não se expressou em nós, embora se tenha expressado em dois dos nossos filhos.

Mas não é tudo. Porque, além disso, há ainda outras explicações não genéticas que podem baralhar as contas. Por exemplo, segundo assegura a minha excelentíssima sogra, quando o João era um bebé cutchi-cutchi tinha uma linda covinha no queixo. Simplesmente, foi desaparecendo à medida que foi crescendo (tal como os ossos, músculos, ou a pele do seu corpo).

Se depois desta explicação o caro esposo ainda contestar a verosimilhança da paternidade da nossa prole, pode sempre divagar sobre quem seria o padeiro à altura. E nesse caso, eu posso perfeitamente dar uma ajudinha:






Que belas covinhas!

14 comentários:

  1. Ah, ah, ah! :D

    Adoro as provocações, mas gosto mais ainda das respostas! :P

    ResponderEliminar
  2. Muito bom!
    Que resposta à altura. A Teresa tarda, mas não falha. E a do padeiro é muito, muito vista!

    ResponderEliminar
  3. Eh pah, mas que mania das senhoras que trabalham na saúde, virem agora com os termos técnicos, já a minha esposa é igual!

    De tal forma demonstro o meu descontentamento para com o post, que desde as palavras "...seres vivos diplóides..." que continuei a ler mas na "diagonal".

    Depois vá, veio a explicação fantástica com o paralelismo da luz, ò menina Teresa, se o Mexia descobre este post (não, não é o Pedro, mas o Tone), lá se apresenta mais umas contas dignas de umas quantas covas no queixo (sim, lá em casa somos apologistas que no escurinho é que é).

    Continuo com o João, firme e hirto, na defesa de que.... "O que não tem explicação, explicado está!" E neste caso..... há muito que explicar, aproveitava para incentivar o João a escrever um mail catita ao Travolta (http://www.travolta.com/site/contact)para saber ao certo por onde vagueava esse senhor nos tempos do Grease !

    Ehehehehe

    ResponderEliminar
  4. Que bom...
    E quando a covinha no queixo está na mãe e no pai e não está no filho?
    E quando nos juram a pés juntos que os dois com covinha no queixo é menina, está o esposo com as certezas póstumas do "eu sei o que fiz" e sai gajo?
    E quando o pai e a mãe têm cabelo escuro e olhos escuros e o filho é loiro de olhos azuis?

    Arre, o padeiro mora em todas as ruas? :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O filho sem covinha tanto pode ter dois alelos recessivos como pode ser portador do alelo dominante mas ter o "quadro central da electricidade" desligado.
      Quanto à cor do cabelo e olhos, aí estão uns bons exemplos onde o resultado final é determinado pela acção de mais do que um gene.
      Já quanto ao esposo saber o que faz... Infelizmente não há evidências científicas de que tal ocorra. Nem quando selecciona cromossomas Y ou X, nem na maior parte das outras tarefas da casa.

      Eliminar
    2. Achei piada ao toque final da resposta da Teresa! ;-)

      Eliminar
  5. Adoro os padeiros da família mendonça tavares! Com padeiros destes ninguem leva a mal! Até compreende:))))

    ResponderEliminar
  6. Os padeiros da zona não são maus... não senhor! Seria uma boa opção por certo!

    ResponderEliminar
  7. :)
    Muito bom!!
    Explicação perfeita e clara.
    Já agora essa questão da penetrância incompleta expressa-se na generalidade dos genes ou só em alguns? (Sou bióloga e tenho curiosidade natural sobre o tema!) Ensinaram-me que por exemplo a hereditariedade do tipo de sangue "não falha". É mesmo assim ou já detectaram excepções? (Não, cá em casa tudo bem como tipos de sangues, é mesmo mera curiosidade...)

    ResponderEliminar
  8. Muito bom! Já estava a temer que a Teresa nem se desse ao trabalho de responder a mais uma provocação.

    (E não sei quem é o senhor da primeira fotografia mas, se as suas qualidades humanas forem proporcionais às qualidades físicas, também não me importava de o ter cá por casa como padeiro residente...)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O primeiro senhor é o actor Aaron Eckhart ("In the Company of Men", "Thank You for Smoking", "The Dark Knight", "Rabbit Hole") que, além de ter algumas características físicas muito interessantes, também interpreta muito bem.

      Eliminar
  9. De vez em quando releio alguns dos posts e ocorre-me, desta vez, perguntar: aquando do nascimento da Carolina, "a que propósito" é que ela seria filha do Saddam Hussein? Então mas quem esteve no Iraque foi o João ou a Teresa???

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu avisei que os argumentos dele eram mais ou menos inverosímeis...

      Eliminar