segunda-feira, 1 de abril de 2013

Já me faltam mãos



Eis o meu texto de ontem na revista do CM:

Ora cá está uma fase pela qual ainda não tinha passado na minha vida, o que só prova que com quatro filhos nunca hei-de morrer de tédio. Quando tudo parece esgotar-se num ramerrame diário, há uma certa manhã em que acordamos e descobrimos: “espera lá, neste preciso momento estou a ser invadido por uma sensação inteiramente nova”. É giro ao fim de quase uma década de paternidade depararmo-nos com pasmos inéditos e estreias sentimentais, para mais sem qualquer relação com o advento da puberdade (que está quase a chegar, receio bem…).

“Mas, afinal, que sensação é essa?”, pergunta o leitor enfadado com a minha incapacidade de ir directo ao assunto, e que só estar a ler este texto porque a bica veio demasiado quente. Peço desculpa. Você tem mais que fazer na vida, não é, caro leitor? Pois comigo passa-se o mesmo: tenho mais que fazer na vida. Ao que acresce uma inultrapassável limitação física, que é onde está a novidade: tenho muito mas já não tenho como. Eu sempre trabalhei muito (nos dias de hoje convém acrescentar “felizmente”), mas só agora, com a chegada da Ritinha e o crescimento da Carolina e do Tomás, é que sinto que cheguei, de facto, ao limite da minha flexibilidade paterno-laboral: por muito que queira, e por muito pouco que durma, já não dá mais.

O resto do texto pode ser lido aqui. A ilustração é do José Carlos Fernandes.

6 comentários:

  1. É isso mesmo. Eu só tenho 3 de quase 4, 6 e quase 9 anos e é isso que tenho que fazer. Agora (quando o pai chega mais tarde, coisa que acontece muitas vezes) que aos serões tenho que acompanhar a leitura diária do do meio, a mais velha tem que ler sozinha. Geralmente o mais novo está pegado a mim com outro livro na mão para lermos a seguir... E com o estudo acontece o mesmo. A mais velha começou com exames este ano e acabo por não poder estudar com ela. Neste aspecto o Pai e eu temos opiniões diferentes. Ele acha que devem estudar sozinhos e eu acabo por deixar porque a maior parte das vezes, se me quero sentar com ela tenho que ter os outros dois muito entretidos durante um bom bocado... tem estudado sozinha e teve umas notas excelentes.

    Helena

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  2. Por aqui também já não dá mais e a prole é constituída por três. Quando tinha só dois filhos dizia que se ganhasse o Euromilhões tinha mais um. Tive mais um (e não ganhei o Euromilhões). Mas agora mesmo com o Euromilhões não teria mais nenhum. Acho que é uma boa medida-quanto-baste. Responsabilização do mais velho (neste caso), sim, também uso. Já é capaz de dar uma boa ajuda, por vezes, sobretudo a tomar conta dos mais novos. Promover (mais) a independência do(s) mais velho(s) também é uma questão relevante... que até acho um pouco mais complexa...

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  3. É como a Viajante diz, realmente é uma questão bastante relevante, e que, a meu ver, vai ser o novo "tema de discusão" aceso após as palmadas!

    Como se pode ou deve responsabilizar os(as) filhos(as) mais velhos(as) ?

    Eis a questão !

    Deixa-los fazer os seus serviços como os estudos e actividades extra-curriculares sozinhos, ou "pedir" a ajuda dos mais velhos nos afazeres domésticos e nos cuidados aos mais novos ?

    Se seguirmos a 2ª via, estaremos de certa forma a restringi-los de serem crianças de verdade, pois estaremos a "pedir" que cresçam demasiado rápido! Na 1ª via, temos como garantido o conhecimento empírico, que nos foi transmitido pelos nossos pais, que trabalhavam arduamente largas horas por dia para termos algo em casa para comer(falo de experiência própria) e todos nós que passamos por isso, sabemos tão bem como nos baldava-mos para a situação :P

    Irá ser, entre já alguns, um tópico a seguir, para ver como será a ideia do João, e claro, o mais engraçado de tudo, certamente a esposa terá uma ideia totalmente oposta (João estamos tramados com as "gajas" da saúde, se soubesse o que sei hoje, tinha ido para padre.... ou espera, talvez não, ehehehehe)

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    1. Bem, só estaremos a restringi-los de serem crianças de verdade se as ajudas nos afazeres domésticos e cuidados aos mais novos tomarem contornos de exagero e de responsabilidade! Darem uma olhada nos mais novos - geralmente para avisarem os pais(enquanto estes se ocupam de outras tarefas)se estes estiverem prestes a fazer algo de perigoso -, e por curtos períodos de tempo (que até podem ser de brincadeira mútua), é tão tarefa quanto fazer a própria cama ou arrumar os brinquedos. Em casa de famílias de alguma dimensão (corrijo! em todas as casas) faz sentido haver distribuição de tarefas (acho eu...)
      Quanto ao mais velho crescer um bocado mais rápido, é verdade, mas parece-me uma inevitabilidade. Mas nem tudo são desvantagens.

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  4. Mas o que se passa hoje em dia com o 'estudar com' os filhos? E os tempos do ensinar os filhos a ser progressivamente mais autónomos, responsáveis e independentes? Não nos ensinaram que era nossa obrigação, que era o nosso trabalho estudar, ainda que contássemos com os pais apenas para as dúvidas, os bloqueios?

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  5. O tempo passou e a sociedade evoluiu! Continua a ser obrigação e um "full time job" os estudos para as nossas crianças, mas devemos acompanhar e auxiliar, na medida do possível. Trinta e dois anos volvidos, lembro-me perfeitamente da minha infância. Filho de um operário fabril, o meu pai trabalhava das 8 às 20, e via-o apenas no jantar, já a minha mãe tinha aquele emprego fantástico de tecedeira, e saltava mais ela de empresa para empresa (devido às constantes insolvências) que uma borboleta de flor em flor. Nunca contei com eles para as "dúvidas", pois essas teriam de ser tiradas no dia seguintes com os professores, daí concordar com a situação que devemos "estudar com" os filhos (que nada mais é que ajuda-los nas dúvidas e bloqueios), lembro-me também de ter a companhia da minha irmã mais velha no caminho para a escola, mas apenas e só no primeiro dia, todos os demais foram a pé, sozinho ou com amigos, pela estrada, possivelmente o caro "Anónimo" não deixará o seu filho nos "dias de hoje" o seu(sua) filho(a) ir sozinho para a escola, recordo bem também a quantidade infindável de almoços que preparei para mim, logo após ter feito a cama que deixava por fazer quando me levantava!

    Pois bem, como ao ínicio referi, o tempo mudou e a sociedade evoluiu !

    Não se vêm a maior parte das crianças a pé sozinhas a caminho da escola, muito menos a fazerem os seus almoços (e eu adorava as batatas fritas com ovos estrelados), contam com os pais para essas funções que para nós, no "nosso tempo" era a nossa obrigação, mas daquelas ao mesmo nível dos estudos

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