sexta-feira, 22 de março de 2013

As notas do 2.º período

Naqueles discursos moralizadores que de vez em quando faço aos meus filhos, tipo general a dar moral às tropas antes da batalha, exijo apenas uma coisa (além de serem bem-educadinhos, como é óbvio): que sejam bons alunos na escola. Explico-lhes que, por enquanto, eles não têm de se preocupar com a roupa, que aparece lavada e passada; não têm de se preocupar com a comida, que aparece feita; não têm de se preocupar com as despesas da casa, que aparecem pagas. E, de caminho, ainda levam como bónus muitos livros, filmes e brinquedos.

Em troca de tudo isso, os seus papás exigem uma única coisa: aplicação nos estudos. É assim que eles pagam aquilo que têm. Explico-lhes que a primária se faz com uma perna às costas desde que estejam concentrados e atentos, e na hora de fazer o trabalho de casa não há cá brincadeiras. Quando se entra no nosso escritório/ biblioteca/ sala de piano as palhaçadas ficam lá fora. Ali trabalha-se e estuda-se. Ponto final. Eu sou mesmo inflexível a lidar com isso, e já aconteceu metê-los para fora da biblioteca porque não estavam a cumprir as regras.

Muito graças a essa exigência, acho eu, e à infinita paciência que a Teresa tem em estudar com eles (tema que merecerá discussão daqui a uns tempos, já que por eu os querer mais independentes e auto-disciplinados nem sempre concordo com o seu esforço), a Carolina e o Tomás tiveram Satisfaz Muito Bem nos testes de todas as disciplinas: Matemática, Português e Estudo do Meio. Eu digo-lhes sempre que eles não precisam de ser os melhores da turma (embora devam tentá-lo), mas que na primária, quando as coisas ainda são fáceis, abaixo de Satisfaz Muito Bem não há cá sorrisinhos de condescendência nem palmadinhas nas costas.

Felizmente, com estas óptimas notas, já houve sorrisinhos de dever cumprido e palmadinhas de alegria. E, dentro em breve, haverá também uma prenda para os dois que andam na primária, que eles merecem. (O Gui, claro, já se queixou da discriminação, mas eu expliquei-lhe que a vida dele era só regabofe, e que quando deixasse de ser regabofe também teria a sua prenda. Ao que ele replicou: "o que é regabofe?")


10 comentários:

  1. Joao, eu nao me quero meter na educacao dos filhos dos outros, mas deixa que te diga uma coisa vivida por mim e que até hoje, com 42 anos, me marcou: o meu pai sempre foi suuuuper exigente, e nós (a minha irma e eu), apesar de sermos boas alunas, fomos sempre pressionadas a ter a melhor nota e a ser as melohres da turma. Se chegávamos a casa com um Satifaz Plenamente ele nao nos louvava, porque só tinhamos cumprido a nossa obricacao. Mas se vinha um Satisfaz Bem, era o fim do mundo!
    Ainda por cima os meus pais sempre me disseram que eu era super inteligente. É um peso terrível para uma crianca!
    Ah, falta dizer que o meu pai sempre exigiu, mas nunca contribuiu para o nosso sucesso escolar. a minha mae era que estava encarregada de nos educar, de ver se os trabalhos de casa estavam feitos e de nos ajudar nos exercícios mais difíceis. O meu pai só quis colher onde nao semeou.
    Como te digo, ainda hoje sinto que nao sou suficiente boa naquilo que faco....
    A minha mae foi muito melhor: ela só nos dizia que, independentemente das notas, o que ela queria era ver que nós nos tínhamos aplicado e que, se nao tínhamos tido melhores notas era porque nao dava mesmo.
    Hoje, mae de uma filha de 3 anos muito esperta e bastante adiantada para a idade, tenho medo de cair nos erros do meu pai. Eu quero mesmo é que ela seja feliz, nem que seja como mulher a dias! É um trabalho honesto e dá para pagar as contas da casa. Para mim, vergonha é roubar.
    Eu tive um namorado nos meus tempos da faculdade cuja mae era mulher a dias: era uma senhora espectacular e eu sentia-me muito mais feliz em casa deles do que em casa dos meus pais...

    Lembraste dos teus tempos do Técnico? Tiveste sorte de teres uns pais que te apoiaram quando decidiste desistir do curso de Eng. Química, perdendo um ano de faculdade e desistindo de um curso "bem" para ires estudar jornalismo, que era mais ou menos como trocar o BMW por um Skoda... ;-)

    Beijinhos da Teresa A.

    PS- Tenho muitas saudades dos nossos CVX!

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  2. Concordo que as crianças aprendam logo que possível que para tudo há uma ocasião e quando é para estudar não é para estar com brincadeiras. A minha filha tem 4 anos e tem aulas de violino. Pratico com ela em casa porque tenho algumas noções desse instrumento e zango-me com ela quando tenta levar a coisa para a brincadeira ou não se concentra na tarefa e mostro-lhe que de facto quando se concentra atinge de imediato melhores resultados na execução. Talvez outras pessoas acharão que sou muito dura atendendo à idade. No entanto, penso que é preciso ter cuidado quando achamos que determinada fase, competência ou conhecimento que estão a aprender "é fácil" e por isso têm obrigação de a aprenderem. Não nos esqueçamos que os ciclos de estudos estão adaptados à idade e ao seu nível cognitivo (eu também tenho muita dificuldade em descer ao nível intelectual deles e por isso já deleguei algumas das tarefas de acompanhamento de trabalhos da escola ao meu marido). O que para nós parece fácil (até porque podemos achar que os nossos filhos estão desenvolvidos para a sua idade) para eles poderá não ser ou significar um verdadeiro esforço para conseguir os bons resultados.

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    1. Inscrevi o meu filho numa escola de musica porque ele revelava muita dificuldade em concentrar se numa tarefa. Na altura tinha acabado de completar 4 anos. Receei exigir lhe demasiado mas até agora só encontro aspectos positivos. Está mais concentrado, disciplindado e melhorou a sua auto estima.

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  3. sem o estudo acompanho da mãe talvez os resultados não fossem os mesmos. só disciplina, muitas vezes, não chega. Por isso , o mérito é da mãe.

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  4. Esta questão é complexa e por isso não é fácil de comentar. Concordo que se deve incutir exigência no sentido de eles próprios quererem sempre fazer melhor - daí o estímulo para chegar Muito Bom. Mas se lá pelo meio vier um Bom... não farei cara feia por isso, embora diga sempre que ele deverá ter o objectivo de lá chegar. Não sou muito partidária de prendas nestas situações, mas enfim, depende da forma que tenham - um mimo sim, esperar prendas materiais de cada nota boa que tirarem não acho que faça muito sentido. Independência - uma boa questão. Sou muito partidária do estímulo à independência, sim. Significa dar uma vista de olhos nos trabalhos, ter uma ideia do que está a aprender e se há erros sistemáticos ou questões mal aprendidas; fazê-lo corrigir erros. Mas sentar-me ao lado dele a fazer trabalhos, não; e, ocasionalmente, perguntar-lhe se ele quer que eu os veja no fim (para além das muitas vezes que sem lhe perguntar faço isso, claro); se ele quiser, vejo com atenção; se não quiser, nessas alturas não os vejo de todo. Para ele sentir que os trabalhos são responsabilidade dele. Com crianças que têm boas notas julgo que os trabalhos servem mais como uma forma de ganhar o hábito de se lembrarem que têm "deveres" para fazer e organizarem o seu tempo para os acomodarem no dia-a-dia. Mais do que praticar aquilo que já sabem. Claro que cada caso é um caso e se as notas não forem muito boas precisarão provavelmente de um acompanhamento mais chegado. Isto, claro, é a minha humilde opinião...

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  5. Apeteceu-me muito comentar este seu post mas não quero ser mal interpretada, por não ser tão versada quanto o Miguel a expressar por escrito os meus pensamentos. Por isso, digo apenas: louvo-lhe o esforço com que tenta disciplinar o estudo e os hábitos de trabalho em casa dos deus filhotes; deve agradecer todos os dias por ter filhos capazes de corresponder nesse esforço.

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  6. Parabéns! Concordo inteiramente!

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  7. Parabéns pelos filhos inteligentes e aplicados! Acredito que seja uma satisfação. No entanto estou com o comentário da Teresa acima. Ao ler o teu post lembrei-me da minha educação. Os meus pais sempre foram muito exigentes comigo e eu correspondi sendo invariavelmente a melhor da turma. Ainda hoje é um peso enorme lidar com a exigência e a expectativa de nunca poder falhar. Hoje não são os meus pais, sou eu própria que é pior ainda!
    Também se aprende com as más notas e falhanços! Aprende-se a saber o que se quer, não apenas a responder ao que se deve. É importante aprender e ser bom aluno, mas mais importante é ser feliz. Se tudo combinar maravilha!
    Mas parabéns! :)

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  8. Oh João, eu que sempre concordo consigo, embora nem sempre o manifeste, hoje, pela primeira vez, vou discordar. Graças a Deus, os meus dois filhos mais velhos têm um desempenho escolar similar ao dos seus filhos. Os dois mais novos ainda não entraram na escola, e embora eu tenha uma boa expectativa em relação a eles, ainda nada posso afirmar.
    Eu basicamente concordo com tudo o que disse, até na questão de eles aprenderem a ser independentes. Agora, eu nunca faço isto que o João escreve:
    "Eu digo-lhes sempre que eles não precisam de ser os melhores da turma (embora devam tentá-lo), mas que na primária, quando as coisas ainda são fáceis, abaixo de Satisfaz Muito Bem não há cá sorrisinhos de condescendência nem palmadinhas nas costas."
    O que eu digo aos meus filhos é que façam o seu melhor! Abaixo de um Satisfaz Muito Bem podem haver palmadinhas nas costas sim! Desde que tenham dado o seu melhor! Comigo, às vezes, acontece ao contrário, chegam-me a casa com Satisfaz Muito Bem, e eu digo-lhes que "aquilo" lhes caiu do céu, que para mim não tem valor, porque não os vi sentarem-se um bocadinho a estudar. Correu bem desta vez, para a próxima pode não correr. Gosto muito mais, digo-lhes eu, de um Satisfaz Muito Bem, que resultou de um estudo contínuo, disciplinado, organizado, autónomo. Se eu os vir dar o seu melhor, o resultado, seja qual for, é o melhor! E levarão palmadinhas nas costas e palavras de ânimo e incentivo! Não sei se me consegui explicar bem...
    Ah e outra coisa. Ai João, hoje estou mesmo "do contra"! Também não concordo nada com prendas nestas alturas! :(

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