Este post tem uma semana, mas uma leitora escreveu um comentário que me parece muito importante:
Eu sou das que tenho sentimentos de culpa. Nem sempre tenho tempo ou paciência para brincar com eles, mas não é isso que me faz ter estes sentimentos. O que me faz ter estes sentimentos são os seguintes pontos:
- sou a única pessoa não paga que passa tempo com eles (o resto é a escola ou empregada) - por isso devia passar mais.
- os meus filhos passam muito tempo dentro de quatro paredes porque só saem quando eu tenho tempo e paciência, o que implica mais horas do que deviam em frente à televisão para não me destruírem a casa.
- têm 3 e 5 anos, por isso o tempo passado com amigos, sem ser em ambiente de escola, também depende maioritariamente de mim.O que quero dizer com isto é que nos dedicamos mais aos nossos filhos do que provavelmente os nossos pais dedicavam, mas como eles não têm a liberdade que nós tínhamos, estão mais dependentes do nosso tempo, e por isso realmente não chega...
Isto é uma grande verdade, que me deixou a meditar: há, de facto, um risco acrescido de tédio por clausura doméstica forçada, devido aos miúdos terem muito menos liberdade nos dias que correm. Antigamente os pais preocupavam-se muito menos com eles, mas essa despreocupação também permitia às crianças viver os dias de outra maneira, à boa maneira de Tom Sawyer ou Huckleberry Finn. Isso não é possível nas cidades actuais. E por isso o nosso medo e a nossa preocupação assolapada coloca mais pressão sobre nós próprios, que nos sentimos obrigados a preencher o tempo que eles dantes tinham para solitariamente partirem a cabeça ou esfolarem os joelhos. Suponho que no meio termo, entre tempo para eles e tempo para nós, entre liberdade e prudência, é que esteja o segredo. Mas como encontrá-lo?
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