A propósito deste post da Sónia, gostava de acrescentar uma coisa que me parece muito importante, porque me parece também por vezes muito esquecida: a função principal de um pai não é brincar com os filhos. Claro que é fantástico que os pais brinquem com os filhos e se divirtam com eles, mas isso não está sequer no top 5 de uma qualquer "to do list" paternal.
Dar-lhes uma boa educação, ensinar-lhes os valores que importam, ser exigente com eles, torná-los independentes, dar-lhes carinho (e brincar é apenas uma de muitas formas de os acarinhar), ensiná-los a serem pessoas decentes, autónomas e confiantes nas suas capacidades é o melhor que lhe podemos legar, e isso não passa necessariamente por correr o chão da sala de gatas com um filho nas nossas costas (e eu fiz isso muitas vezes).
Isto pode parecer óbvio, mas qualquer sociedade movimenta-se em torno de certas narrativas, e a narrativa actual é aquela que diz que os pais são pessoas super-ocupadas e que dedicam muito pouco tempo aos filhos. Daí a ênfase na brincadeira e no estar com eles. Mas eu também conheço o contrário: pais que sentem problemas de consciência de cada vez que não são capazes de responder a TODAS as solicitações dos seus filhos. Ora, eu acho que não têm. Mais: não devem.
Eu levo uma parte significativa do meu tempo a enxotar os meus filhos, porque se eu os deixasse estava de manhã à noite a responder às suas solicitações. Não pode ser. Não só por serem muitos, não só por eu também ter vida própria (embora às vezes duvide disso), mas sobretudo porque eles também têm de aprender a brincar sozinhos. Isso desenvolve-lhes a imaginação, exercita-lhes a moleirinha e, sobretudo, obriga-os a desenrascarem-se sozinhos, sem terem o pai-palhaço a seu lado, constantemente a estimulá-los.
Obrigada :)
ResponderEliminarQuando era criança não brincava com os meus pais, vinha cá para fora e brincava comn os miúdos da rua. Penso que muito do problema de agora, é que os míudos se não for os irmãos não têm com quem brincar porque estão sempre enfiados nos apartamentos. Começamos a viver na paranóia e os míudos perdem com isso. Quando era criança ia brincar para casa dos vizinhos e os outros miúdos para minha casa. Os meus filhos não fazem isso, e é uma pena, mas também não me sentiria bem de os saber numa casa com pessoas que conheço só de cumprimentar na rua. Os teus filhos têm sorte porque têm sempre com quem brincar, nem que seja à sapatada como era eu e o meu irmão :)
ResponderEliminarEsta coisa do robô é muuuuuito chata
ResponderEliminarExcelente post :) T.
ResponderEliminarconcordo inteiramente! e é verdade, que hoje em dia, os miúdos têm e mesmo falta dos pares para brincar. a nossa vida, ultra-rápida e muito impessoal, não permite estabelecer ligações com os vizinhos, os quais foram para a grande parte de nós a fonte de belas amizades! e os meus pais também nunca brincaram comigo... e a minha mãe até estava em casa! e hoje, eu, que trabalho 70h/semana, e não moro perto do trabalho, tenho de brincar?! brinco sim, mas é de vez em quando, e mais para ensinar a brincadeira. depois cada um que se faça à vida! e olhe, joão, que os meus são só dois. com quatro é totalmente impossível!
ResponderEliminarÉ a primeira vez que comento, mas sou leitora assídua das suas crónicas e agora do blog. Aproveito para lhe desejar as maiores felicidades para si e para a sua família! Que possa ter sempre o mimo que os homens merecem (e há muitos que o merecem...), e que consiga levar a bom porto a educação dessa vasta prole! :)
Carla Martins
Apoiado!
ResponderEliminarTenho a sorte de ser mãe de gémeas, uma Rita e uma Carolina de 5 anos, o que, embora seja uma canseira, nos permitiu, desde cedo, alguns momentos de descanso, porque elas se entretêm bastante a duas. Desarrumam tanto que é um susto. A autonomia traz o brinde das ideias peregrinas no mesmo pacote. Que o diga o Tobias, (o gato desta casa, que acumula os oito quilos de estimação com o facto de ser, certamente, o gato mais pachola do hemisfério norte e arredores) que já acordou com o lombo pintado de aguarela vermelha e que come bolacha Maria desde que elas têm dentes. Paciência! Já que não se pode ter tudo, concentramo-nos naquilo que verdadeiramente interessa.
Estes dois post's (o seu e o da Sónia) fizeram-me muito bem, porque sendo mãe de duas meninas sentia-me muiiiiiiito culpada por não ter a disponibilidade (de tempo, física e mental) para brincar com as minhas filhas as vezes que elas pretendem. E até hoje achava que era um E.T nesta matéria... Talvez porque (e apesar de vir de uma família em que os papéis de adultos e crianças estavam bem demarcados e definidos e não havia cá “paninhos quentes” para o(a)s menino(a)s) vim cair numa família em que tudo é feito SEMPRE em função das crianças, o que me leva a questionar muitas vezes da minha vocação para ser mãe. Mas pelas reações ao artigo da Sónia e ao seu post que tenho lido vi que afinal não sou a única. E agora pergunto-me: De onde vem este sentimento de culpa que parece ser transversal à nossa geração de pais? Os nossos pais também o sentiram? Não me parece... lembro-me que os meus pais só brincaram comigo quando eu passei a ter capacidade para brincar jogos que eles brincavam (como cartas, jogos de tabuleiro, etc.) e não ao contrário. Será das opiniões que insistimos em ler (cada vez mais me convenço que devo deixar de os ler) das teorias da psicologia infantil e dos seus discípulos que insistem em colocar as crianças como o centro de toda a dinâmica familiar, deixando para segundo plano o "bem-estar" dos pais?
ResponderEliminarAinda assim devo confessar uma admiração profunda pelas pessoas que genuinamente gostam de brincar com os filho(a)s (ou neto(a)s, sim porque ao contrário do que se pensa também nem todos o(a)s avós têm paciência para brincar com ele(a)s horas intermináveis.
Não há nada como ler o que escreve um homem sensato, que sabe ver para lá dos 'mitos urbanos'....
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