segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Quem és tu?


Eis o meu texto de ontem na revista do CM:

Vocês já foram assaltados pela sensação de não conhecerem os próprios filhos? Eu sei que esta pergunta tem ressonâncias pouco simpáticas, porque geralmente o “eu não te conheço!” é o corolário de uma asneira do tamanho do Mosteiro dos Jerónimos. Pode ser um filho que chega a casa com os copos. Ou uma filha que é apanhada a fumar às escondidas. Mas, como imaginam, os meus ainda são muito novos para me proporcionarem esse género de surpresas. E por isso, não é de decepções que quero aqui falar, mas do seu contrário. É chegar a uma festa de anos e o pai do aniversariante dizer: “O seu filho portou-se maravilhosamente, comeu tudo sozinho.” Isto quando em nossa casa é preciso sermos nós a enfiar-lhe a sopa pela goela abaixo se queremos que o jantar acabe antes do nascer do sol. “Que bem-educado que ele é”, acrescenta o dono da casa. E nós pensamos para com os nossos botões: “Ai é?”

Em 1927, um senhor alemão chamador Werner Heisenberg formulou o hoje famoso princípio da incerteza, que de forma muito simplificada diz que para conhecer a posição exacta de um objecto é necessário que um instrumento de medição interaja com ele, e que essa interacção acaba por alterar a posição que queremos encontrar em primeiro lugar. O princípio de Heisenberg é sobretudo útil no estudo de partículas subatómicas, mas eu acho que essa incerteza também pode ser estendida a volumes bastante superiores, como eu ou o caro leitor, e à relação dos pais com os filhos. Chamemos-lhe (modestamente) o Princípio da Incerteza do Tavares: “Para conhecer um filho é necessário observá-lo, e quando ele está ao pé de nós é uma outra pessoa.”

O resto do texto pode ser lido aqui. A ilustração é do José Carlos Fernandes.

3 comentários:

  1. Olá
    Já passei por isso com a minha filha mais nova.
    Um dia que tentava contar a uns amigos como ela era em pequena, eles perguntaram-me se eu não estava a exagerar, pois em casa deles era sempre um exemplo de miúda.
    Pelos vistos a culpa é nossa e felizmente só se portam assim em casa!

    ResponderEliminar
  2. Eu sinto o mesmo. A minha mais velha, segundo as mães das amigas, a professora e a treinadora, é um doce. Guarda todo o azedume para a interação com os irmãos cá em casa...

    vidademulheraos40.blogspot.com

    ResponderEliminar
  3. Fora de casa portam-se sempre melhor, o que é um bom sinal (ainda que não pareça ;) ), é sinal de trabalho bem feito. Em casa sabem que embora nos saia fumo pelas orelhas gostamos sempre deles e a fúria há-de passar. São as confianças! eheheh
    Nessas festas sabe-se lá se o pai do amigo se passa e manda uma lostra! ;)

    ResponderEliminar