domingo, 2 de junho de 2013

Santana Lopes tem toda a razão

Na sexta-feira, Pedro Santana Lopes assinou um curioso artigo no Correio da Manhã, intitulado "As escolas e o trabalho das nossas famílias". Passando por cima do facto de ele utilizar capitulares para falar de Pais, Filhos e Irmãs (parecem membros de uma nova Santíssima Trindade), o problema que ele levanta é bem real - e eu, como pai de quatro, sinto-o cada vez mais na pele. As solicitações escolares (e de todas as outras actividades extra-curiculares que eles praticam) são tão numerosas, que para ir a tudo um gajo precisaria de ser pai a tempo inteiro. Então agora que o fim das aulas se aproxima...
Ora leiam:

Cada vez me dou mais conta, também a nível profissional, de uma realidade intrigante que se vai acentuando com o tempo. Consiste essa realidade no crescendo de solicitações aos Pais e Famílias dos alunos das nossas escolas para comparecerem em iniciativas e atividades, para lá das reuniões, até 4 horas por trimestre, já previstas na legislação laboral [artº 249º, nº 2, al-f) do Código de Trabalho].

Numa Instituição de que sou o primeiro responsável, acontece com cada vez maior frequência chamar por alguém e ouvir a resposta de que a pessoa em causa não está porque teve de ir à Escola da Filha ou do Filho. Depois, quando, simpaticamente, me procuram dizer o motivo – mesmo sem eu querer saber –, lá vem a referência a uma festa, a uma representação, a uma excursão. Cada vez mais chego à conclusão de que em várias Escolas se entende que os Pais não trabalham ou que, pelo menos, estão à disposição dos professores.

Acredito que eu e muitos outros tenhamos sido educados por métodos errados, reacionários, ou o que quiserem chamar. Mas nunca vi os meus Pais terem de ir à Escola, sequer para serem informados em reuniões do que se passava com o Filho. Trabalhavam e, mesmo que os chamassem, não poderiam ir. Como se justifica esta correria com as pessoas afogueadas a atravessarem a cidade para chegarem a horas de um sarau, da declamação de um poema, de uma peça de teatro? É que não se pode esquecer que se a Mãe ou o Pai não estão presentes, as crianças ficam tristíssimas, olhando para as outras cujos Pais puderam comparecer.

Os meus Filhos já têm vinte anos ou mais. Mas quando os mais novos estavam na Escola esta moda acentuou-se. Tenho Filhos de Irmãs que estão nos primeiros anos da formação e bem vejo o que se passa. Chega-se ao ponto de se pretender que os Pais participem nas aulas.

A questão é simples: e o trabalho? Como podem as pessoas justificar as faltas? As chefias ficam sempre com "cara de tacho" quando o pedido é feito, porque ninguém é capaz de dizer não a Pais que têm um Filho à espera? Não é só em Portugal que a moda pegou. Mas será justificável?

8 comentários:

  1. O senhor levanta uma questão importante. A dos pais que não podem ir. Porque o dever laboral está no topo da nossa hierarquia social.

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  2. Pois, é terrível ter de agradar a todos!
    Vou arriscar e afirmar que o descrito é mais consistente com a realidade das escolas privadas bem como dos pré-escolar e primeiro ciclo. Baseio este meu palpite na minha experiência pessoal como aluna, agora professora e mãe.
    Se há pais que consideram que ir 4 horas por trimestre à escola dos seus filhos é muito, outros ficam furiosos se o director não os receber à porta.
    Alguns pontos para reflectir:
    1- Todos nós financiamos a escolaridade dos nossos filhos, quer seja no público quer seja no privado. Os pais que optaram pela via do privado sentem todos os meses uma factura maior e tendem a olhar para a escolarização dos seus filhos como a contratação de um serviço muito caro. Daqui decorre o sentimento que devem e podem exigir mais, reclamar mais e intervir mais. Daí os convites para as inúmeras actividades. Os colégios querem muito demonstrar que o dinheiro empregue é bem gasto.
    2- Quando se fala em actividades será justo "colocá-las todas no mesmo saco"? Exemplifico, tive oportunidade de ao longo do tempo participar em algumas aulas dos meus filhos a convite da escola que frequentam. Apreciei a abertura da escola e dos professores em deixarem o seu trabalho ser escrutinado deste modo por leigos (que frequentemente se preocupam com pormenores em vez do essencial) e outros profissionais (frequentemente muito rápidos a criticar depreciativamente os trabalho dos colegas). Para além de ter aprendido bastante sobre os meus filhos ao ver como se comportavam em sala de aula (descontando os comportamentos directamente influenciados pela minha presença), fiquei bastante esclarecida quanto ao nível de qualidade do ensino. Acho que é um exemplo de boas práticas que os pais deviam agarrar com as duas mãos, independentemente do nível de escolaridade dos seus filhos ou tipo de escola que frequentam.
    3- Como aqui em casa ambos estamos empregados, também é difícil podermos ir a tudo. Por exemplo, este ano não pude participar nas actividades do dia da mãe. Os meus filhos foram antecipadamente preparados para o facto de eu não poder comparecer mas ainda assim ficaram tristes. Lidar com estas "tristezas" também faz parte da aprendizagem para a vida.
    4- Tenho 39 anos de idade. Não sei quando e/ou se me vou reformar e por isso conto trabalhar muitos anos. Os meus filhos só têm estas idades uma vez. Eu vou fazer todos os esforços para ir a todos os convites que me sejam feitos para participar na vida dos meus filhos.
    Sílvia Correia

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    1. Concordo em tudo com Sílvia Correia. E sim, sem dúvida que no pré-escolar (por experiência própria) e (desconfio bem) no ensino privado essas solicitações são muito mais frequentes. Na escola pública do meu filho as solicitações são raras, na realidade, a esmagadora maioria foram de reuniões já em horário pós-laboral.

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  3. Penso que a ideia original partiu dos pais ou tv. das associações de pais.
    As escolas só tiveram de fazer o que lhes era 'socialmente' solicitado!

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  4. Foi com uma certa mágoa (mais uma para juntar à colecção) que vejo a minha profissão/vocação, de novo, envolvida numa polémica que a ser a realidade não se deve inteiramente à culpa dos professores. O texto do senhor que o João tão prontamente nos esclareceu que "tem toda a razão" não reflete a essência da questão. Sera que o senhor Santana Lopes era um encarregado de educação ativo e participativo e fazia paerte da associação de pais.... João, hoje em dia os professores, na maior parte dos casos, são "pressionados" pelos encarregados de educação a conceberem esses tipos de atividades porque a escola também mudou as suas funções.
    Acho que muitas das pessoas se referem a nós com se fossemos mais um exemplo de funcionários públicos que contribuem para a crise deste país. Só para que conste na quarta feira de manhã já ultrapassei largamente ae benditas 40 horas de trabalho que tanta polémica tem levantado. Nós hoje não somos só professores.... e pelos meus jovens (de um azul puro e sincero)vou resistindo ao ataque constante que é feito a uma classe que, na maior parte dos casos, se dedica de alma e coração (e nós não somos missionários) aos meninos deste país. O que vale é que as faltas dos adultos são recompensadas pelos alunos ...que vão nos vão dando força para encarar o facto de tão poucos pararem para ver o que é ou devia ser realmente a profissão de professor. Peço desculpa pelas palavras soltas e pela sintaxe pouco elaborada. Mas fico tão triste...quando olho à minha volta e vejo tantas pessoas a dar tanto e raramente alguém ter a generosidade de agradecer ou elogiar.

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  5. Boa tarde, apòs ler este seu post não pude deixar de pensar nas grandes diferenças culturais com que nos deparamos. Então é o seguinte, tenho uma irmã de nove anos e como o senhor também achavamos uma chatice cada vez que o infantario pedia a participação dos pais para as festas, normalmente com a falta de tempo dos meus pais calhava'me sempre a mim, irmã mais velha, la ir dar uma ajudinha nas coisas. E era normal ouvir como toda a gente se queixava ora porque tinham de andar a correr, ora porque era ao fim do dia e tinham a familia à espera para jantar, etc, etc, etc. Pois bem meus caros, eu e a minha familia imigramos à cerca de um ano e meio para França. Sò vos tenho a dizer estes pais estão sempre enfiados na escola, eu chego a perguntar'me que tipo de trabalho têm estas pessoas que não fazem outra vida a não ser na escola com as crianças. Então aqui é mais ou menos assim: hà uma festa la vem o papel para casa para os pais se inscreverem para fazerem tudo e mais alguma coisa; hà uma visita de estudo la vem o papel a pedir pais para irem acompanhar as crianças; hà um mês inteiro de piscina, là vem mais um papel para os pais irem acompanhar as crianças; hà os ateliers e voltamos ao mesmo. Acreditem ou não a lista de inscrições està sempre cheia. Estes pais não são participativos, são quase funcionàrios da escola é incrivel. E todos os meses hà sempre uma actividade. Digo'vos nunca ouvi ninguém reclamar por causa do trabalho, participam todos com uma alegria enorme. Para nòs ao inicio era complicado, sentiamo-nos na obrigação de nos inscrever-mos, visto a nossa piquena ser a unica estrangeira na escola e não queriamos que se sentisse mal, hoje adoptamos a estratégia de irmos sò a uma ou outra, e irmos às listas de inscrição passado uns dias de termos recebido o recado, normalmente jà estão cheias. Não é uma questão de não querermos, mas de o trabalho não o permitir. Mas garanto'vos no inicio era estranho porque esta não é uma realidade a que estejamos habituados, eu estudei da primaria à faculdade e não me lembro de ver pais tão empenhados na vida escolar dos filhos. Aqui os nativos levam estas actividades muito, mas mesmo muito a sério, eles estão em todas e em tudo. Catarina T

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  6. Eu e o meu marido sempre acompanhamos as festas do nosso filho, eu pedia para sair mais cedo não fazia hora do almoço e no dia seguinte compensava as horas que tinha saído mais cedo no dia anterior,sei que a muitos pais que não o fazem porque realmente é impossível. Tal como acompanho todas as festas que ele tem na catequese e nos escuteiros, nestes nós somos muito participativos posso dizer-vos que nos últimos 2 meses ainda não consegui ter um fim-de-semana livre pois temos estados ajudar e a participar nas actividades. É bom é gratificante, sem duvida posso andar cansada e não ter um tempinho para organizar as coisas como gostaria mas a alegria e aquele sorriso compensam tudo.
    A festa da escola dele é sempre organizada pela ass. pais e este ano começa as 17 horas, mais uma vez vou sair uma hora mais cedo para poder assistir é o ultimo ano na primaria é entrega dos diplomas de finalista, pedi ao meu chefe que disse que não havia problema nesse dia só irei fazer 30 min de almoço em vez da hora que tenho direito, no dia seguinte irei ficar até mais tarde, o trabalho fica feito e a empresa não sai a perder.O meu marido ira adiantar a reunião que tinha marcado. Com vontade tudo se consegue.
    Para o ano entra no 2 ciclo e acabam-se as festas,pelo menos na escola publica é assim, no ensino privado não sei como funciona.
    Mais uma vez digo alegria e o sorriso alem do orgulho que eles sentem quando os pais estão presentes compensa tudo.
    Kikas

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  7. concordo inteiramente. Tenho a "sorte" de poder participar na maioria das reuniões, mas ainda na sexta passada fui á festa de finalista do meu filho no pré-escolar e vi os olhos tristes de um menino só porque a avó(porque ir a mãe não dava mesmo pra ir por causa do trabalho) se atrasou, ele estava a representar e não tirava os olhos da porta. nem imagino como ele teria ficado se a avó não tivesse podido ir. tal como as festas do dia da mãe, eu podia ir mas fiz questão de frisar á professora que era contra a festa, porque nem todas as mães poderiam participar...não acho necessidade de haver tanta festa nem de pôr miúdos pequenos tão tristes.

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