segunda-feira, 1 de julho de 2013

Vai para a escola, Rita

Ilustração de José Carlos Fernandes

Eis o meu texto de ontem na revista do CM:

Os meus três primeiros filhos nasceram entre 21 de Fevereiro (Carolina) e 2 de Março (Tomás e Gui), com tamanho rigor de relojoeiro (iam aparecendo meticulosamente de dois em dois anos) que os meus amigos ainda hoje têm uma certa dificuldade em acreditar em mim quando lhes digo que nenhum deles foi planeado. Mas não foram planeados, de facto, ou, se foram, juro que a minha excelentíssima esposa nunca mo contou. Mas o que importa para aqui é que mesmo no meio do acaso – ou do alegado acaso –, os astros se alinharam impecavelmente: tendo todos nascido no fim do Inverno, os miúdos ia ganhando corpo e bronzeado nas estações do calor, e quando Setembro chegava já estavam prontos para irem direitinhos para o infantário, aos seis meses de idade.

Os pais costumam preocupar-se muito com a data certa para colocar os seus filhos no infantário. Aos seis meses parecem pequenos demais; aos três anos parecem grandes demais; os pediatras têm opiniões divergentes sobre o tema; e basicamente ninguém se entende sobre o que fazer. Na nossa família, contudo, não chegou a haver debate, porque não havia outra opção: os avós vivem a 200 quilómetros, eu e a Teresa tínhamos o nosso trabalho, e portanto todos eles estavam fora de casa aos seis mesitos. E devo dizer que, até hoje, é uma decisão de que nunca me arrependi. A escolinha é óptima, os miúdos crescem no meio de outras crianças, das quais são hoje literalmente amigas desde o berço, e nunca tive de aturar choros nem birras matinais na hora de dizer adeus.

Em compensação, a Rita lixou-nos todas as contas. Ela faz hoje [ontem] 10 meses e continua em casa, pela simples razão de que desta vez o não-planeamento nos saiu furado: nasceu a 30 de Agosto, e portanto só pode entrar para o infantário em Setembro, com um ano de idade. Qual é o problema? O problema é que está a ficar uma mimada de primeira. Uma princesinha cheia de manias. Uma viciada em atenção. Se a Rita estiver a ser estimulada a toda a hora ou no laréu, não se ouve um pio da madame. Mas basta ficar cinco minutos sozinha no parque ou na cadeirinha para começar a afinar a garganta. Ela está mesmo a precisar de ser enfiada numa sala com gente do seu tamanho. A vida numa república pedodemocrática (vulgo infantário) é essencial para um bebé perder as manias de aristocrata e perceber que o mundo não gira à volta dos seus dentes de leite.

15 comentários:

  1. uiiii! vai haver muito choro em Setembro.
    Da mãe, do pai e talvez até da Rita!

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  2. Pois eu tenho uma opinião completamente diferente, o meu filho mais velho esteve comigo até quase aos 4 porque faz anos em Novembro e com o outro está a ser igual. E o que constato é que falam com toda a gente,ficam bem se me tenho que ausentar e outra coisa mais importante é o seu vocabulário que a mim me parece mais rico. Era o meu maior medo é que não fossem sociais mas é exactamente o contrário. Tenho pena que ser Mãe a tempo inteiro seja tão mal visto em Portugal, porque não o é em países mais bem sucedidos do que o nosso. A forma como as mulheres estão a tornar a sua vida vai obrigar a pagar uma factura bem alta e não estaremos já a pagar? Atenção que não sou contra as mulheres trabalhadoras mas sim a favor do equilíbrio. Bjs

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    1. Todas as opções devem ser respeitadas. Mas conheço casos (mesmo) nesses países ditos mais desenvolvidos que o estigma supreendentemente é ao contrário: as mulheres são mal vistas se continuarem com o seu trabalho a tempo inteiro em vez de trabalharem, pelo menos, em part-time. Ora de acordo com o que eu disse no início isso é intolerável. (Tal como o inverso também o seria).

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    2. A minha experiência foi também de colocar os meus três filhos no infantário sempre que acabou a licença de maternidade. Também não tive outra opção, mas possivelmente se tivesse teria feito o mesmo. Não vi nunca nenhuma desvantagem nisso e todos são, felizmente, crianças saudáveis e desenvolvidas. Única desvantagem são a quantidade de doençazinhas que apanham uns dos outros nos dois primeiros anos, mais ou menos, embora isso também varie. Felizmente que mesmo isso acaba por ter um reflexo positivo pois hoje em dia são todos muito saudáveis!!

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    3. Sendo que nesse equilíbrio frisa apenas a forma como as mulheres estão a tornar a sua vida, sem qualquer referência ao homem. O preconceito associado a uma mãe a tempo inteiro não é muito diferente do preconceito e excessiva distinção entre o papel da mãe e do pai no percurso dos filhos. É sempre a mulher a "culpada" ou "responsável" pela falta de tempo dedicado às crianças e por querer conciliar a vida profissional com a familiar. Já para não dizer que infelizmente há quem não se possa dar ao luxo sequer de optar. Não tenho a menor dúvida, que sendo possível, grande parte das mulheres trabalhariam apenas em part-time a passariam mais tempo com a família.

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    4. Claro que esse equilíbrio se deveria estender também ao pai. E num mundo perfeito não seria também interessante uma possibilidade em que ambos pai e mãe trabalhassem a 75% e acompanhassem ambos os filhos nessa perspectiva? Contudo nos tempos em que vivemos isto tudo é fantasia, já bem difícil é para a maioria das pessoas sobreviver, mais a sua família, trabalhando ambos, pai e mãe, a 100%. Ou deveria dizer 120%?

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  3. Os meus foram os dois para o colégio aos 4,5 meses, porque tal como para o João Miguel Tavares, não havia outra alternativa. Um entrou em Março e outro em Janeiro, nem sequer havia possibilidade de esperar pelo início do ano. Hoje o meu mais novo está quase a fazer 4 anos e durante este ano ficou a chorar na escola, que á a mesma desde o berçário e que ele gosta, até ao final do segundo período.

    Com crianças não há regras relativas a estas coisas e o mimo quando se tem 10 meses nunca é demais. E já agora, querer que eles aos 10 meses percebam que existe mais alguma coisa do que o próprio umbigo, estejam em casa, com avós ou na escola parece-me tarefa impossível. :)

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  4. Que infantário é esse que só aceita crianças em setembro? O "Saídos da Casca" (e muitos outros) aceitam crianças em qualquer altura do ano, desde que haja vagas (como inscrevi os meus quando ainda estava grávida, tiveram sempre vaga no bercário, que tem limite (nos "Saídos") de seis crianças. Bem sei que este comentário vale zero, nesta altura do campeonato...
    Mas vai correr tudo bem, vai ver!

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    1. O nosso infantário é muito concorrido. Não temos vagas se não no início de cada ano lectivo.

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  5. Na creche dos meus tb podem entrar bebés em qualquer mês, desde que tenham reserva prévia, o que tenho na barriga já tem vaga reservada para março do próximo ano.
    Como fizeram desta vez para trabalhar a manter a piquena em casa? Aquela licença extra?

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    1. Não. Quando chegámos ao número quatro tivemos de arranjar uma empregada para nos ajudar. É demasiada gente e, sobretudo, demasiada roupa para dois pais trabalhadores.

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  6. Os meus também foram logo aos 4,5 meses. O mais velho, como só nasceu no final e Outubro, em Março foi para outro infantário até ter vaga em Setembro no infantário/escola onde ainda anda hoje, já a caminho do 2.º ano do 1.º ciclo. O mais novo, como nasceu no início de Maio e já lá tinha o irmão teve logo vaga para entrar em Setembro, com 4 meses.
    Não me arrependo em nada, hoje são ambos bastante sociáveis, estão habituados a estar com crianças diferentes, são saudáveis e muito alegres. É claro que nos primeiros 2/3 anos apanham doenças de outras crianças, é chato, mas dá-lhes defesas.
    Eu e o meu irmão, em crianças, ficámos sempre em casa com a minha mãe até entrarmos para a primária, mas era uma altura diferente... era na altura em que as crianças ainda se podiam reunir todas na rua a brincar sem problemas e sem os medos de hoje!

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  7. afinal é aristicrata ou socialista?

    tem de se decidir por definições honestas, ou só deturpa as metáforas conforme o dia?

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  8. gosto da teoria e da prática. fiz o mesmo e não me arrependo de forma nenhuma. tirando as psicologias baratas, cheias de mofo, de cima dos ombros agi por necessidade e convicção. hoje qualquer um dos meus quatro filhos são saudáveis em termos de convivência e estabilizaram e cresceram melhor na escola pública onde, por vezes, havia o perigo de voltar para casa sem sapatilhas ou sem o dinheiro para o lanche e, claro, sem lanche. para não ficar aqui a dissertar sobre educação dos filhos direi só que a vida real está lá fora, não dentro das nossas portas. Abraço/Mário

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    1. mas o amor, que também deverá fazer parte da vida real, está sobretudo dentro de portas.

      até aos 2 anos, considero que não há benefício nenhum em tê-los na escola. se são ou não saudáveis e felizes vai depender de cada um, podendo variar como do dia para a noite de irmão para irmão.

      quanto aos roubos e afins nas escolas públicas... no melhor pano cai a nódoa. existem imensos roubos nas privadas, não é tanto o dinheiro do lanche, são mais os casacos lacoste e os sapatos da tiberland.

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