segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pai de bancada

José Carlos Fernandes

Eis o meu texto na revista do CM de ontem:

Qualquer pai de família tem como verdade adquirida que no dia em que perde o poder sobre o futebol, perde o poder sobre tudo. Como por esta altura os caros leitores já vão sabendo, o talento que a minha mulher tem para me invadir a vida só é comparável à velocidade com que as divisões Panzer tomaram conta da Europa central por alturas do Blitzkrieg. Claro que as suas intenções são infinitamente melhores do que as do nacional-socialismo, mas a forma como foi dando cabo das minhas precárias linhas Maginot, obrigando-me a assinar sucessivos armistícios, é da mesma ordem de eficácia.

Resta-me o futebol – o último refúgio onde procuro resistir ao invasor e às suas intermináveis exigências domésticas. Ou seja, restam-me aquelas parcas horas semanais em que o Benfica joga à bola, e em que eu peço encarecidamente que me deixem ver o jogo sem ter 44 filhos (durante os 90 minutos cada um deles parece-me 11, mais as substituições) a azucrinar-me o miolo. E a verdade é que durante alguns anos consegui manter o meu quadrado (ou melhor, o meu rectângulo) mais ou menos protegido, e em tempos saudosos a excelentíssima esposa até teve a amabilidade de me oferecer um Red Pass, para eu ver in loco os jogos do Benfica.

Mas o nascimento da Rita veio aumentar a confusão caseira, e o futebol começou a ser alvo de pressão alta. Aos poucos, os 90 minutos semanais de silêncio e introspecção futebolística começaram a ser apenas respeitados em jogos com os três grandes, depois só com o Porto em caso de título nacional, e às tantas até já a final da Liga Europa estava a ser atacada pela minha pequena Rommel. Nesse dia havia umas iniciativas da semana da família nas Docas e ela queria que eu fosse para lá com as criancinhas: “Era só uma hora. Podíamos tirar uma foto da família e os miúdos iam adorar a largada de balões. Podemos jantar lá e ver a primeira parte do jogo...”, dizia ela. “Parece-me perfeito: vocês vão e eu fico em casa a ver a bola”, disse-lhe eu.

O resto do texto pode ser lido aqui.

3 comentários:

  1. ahahahahaha!

    João, caro João, se fosses das cores do Campeão!!!! Eras capaz de te safar melhor, assim a Teresa a única coisa que está a fazer é a poupar-te às misérias do teu clube!

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  2. Cá em casa o meu marido benfiquista arranjou uma técnica. Grava os jogos e vê calmamente quando toda a família vai dormir. O pior é quando recebe mensagens ou atende algum telefonema e alguém se descai com o resultado. Marido sofre, não é verdade? Mas quem manda dar os jogos à hora dos banhos ou do jantar?? Bjs

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  3. Homem sofre!
    João, da minha parte tem toda a compreensão e, sendo eu mulher, como o percebo que entre um jogo do Glorioso, para mais final europeia, ou uma iniciativa qualquer da semana da família não há duvida alguma sobre a escolha... venha de lá o jogo.
    A foto de família, largada de balões, etc. pode ser feita noutro dia qualquer.

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