segunda-feira, 20 de maio de 2013

Filhos e socialismo

Já agora, para quem misturava a política com este blogue, aqui fica um texto provocador publicado no jornal i há pouco mais de uma semana pela Inês Teotónio Pereira, chamado "os meus filhos são socialistas". É político. Mas tem imensa graça. Por isso partilho-o aqui:

Não sei se são só os meus filhos que são socialistas ou se são todas as crianças que sofrem do mesmo mal. Mas tenho a certeza do que falo em relação aos meus. E nada disto é deformação educacional – eles têm sido insistentemente educados no sentido inverso. Mas a natureza das criaturas resiste à benéfica influência paternal como a aldeia do Astérix resistiu culturalmente aos romanos. Os garotos são estóicos e defendem com resistência a bandeira marxista sem fazerem ideia de quem é o senhor.

Ora o primeiro sintoma desta deformação ideológica tem que ver com os direitos. Os meus filhos só têm direitos. Direitos materiais, emocionais, futuros, ambíguos e todos eles adquiridos. É tudo, absolutamente tudo, adquirido. Ele dão como adquirido o divertimento, as férias, a boleia para a escola, a escola, os ténis novos, o computador, a roupinha lavada, a televisão e até eu. Deveres, não têm nenhum. Quanto muito lavam um prato por dia e puxam o edredão da cama para cima, pouco mais. Vivem literalmente de mão estendida sem qualquer vergonha ou humildade. Na cabecinha socialista deles não existe o conceito de bem comum, só o bem deles. Muito, muito deles.

O segundo sintoma tem que ver com o aparecimento desses direitos. Como aparecem esses direitos. Não sabem. Sabem que basta abrirem a torneira que a água vem quente, que dentro do frigorífico está invariavelmente leite fresquinho, que os livros da escola aparecem forradinhos todos os anos, que o carro tem sempre gasolina e que o dinheiro nasce na parede onde estão as máquinas de multibanco. A única diferença entre eles e os socialistas com cartão de militante é que, justiça seja feita, estes últimos já não acreditam na parede – são os bancos que imprimem dinheiro e pronto, ele nunca falta. 

Outro sintoma alarmante é a visão de futuro. O futuro para os meus filhos é qualquer coisa que se vai passar logo à noite, o mais tardar. Eles não vão mais longe do que isto. Na sua cabecinha não há planeamento, só gastamento, só o imediato. Se há, come-se, gasta-se, esgota-se, e depois logo se vê. Poupar não é com eles. Um saco de gomas ou uma caixa de chocolates deixada no meio da sala da minha casa tem o mesmo destino que um crédito de milhões endereçado ao Largo do Rato: acaba tudo no esgoto. E não foi ninguém...

O quarto tique socialista das minhas crianças é estarem convictas de que nada depende delas. Como são só crianças, acham que nada do que fazem tem importância ou consequências. Ora esta visão do mundo e da vida faz com que os meus filhos achem que podem fazer todo o tipo de asneiras que alguém irá depois apanhar os cacos. Eles ficam de castigo é certo (mais ou mesmo as mesma coisa que perder eleições), mas quem apanha os cacos sou eu. Os meus filhos nasceram desresponsabilizados. A responsabilidade é sempre de outro qualquer: o outro que paga, o outro que assina, o outro que limpa. No caso dos meus filhos o outro sou eu, no caso dos socialistas encartados o outro é o governo seguinte.

Por fim, o último mas não menos aterrorizador sintoma muito socialista dos meus filhos é a inveja: eles não podem ver nada que já querem. Acham que têm de ter tudo o que o do lado tem quer mereçam quer não. São autênticos novos-ricos sem cheta. Acham que todos temos de ter o mesmo e se não dá para repartir ninguém tem. Ou comem todos ou não come nenhum. Senão vão à luta. Eu não posso dar mais dinheiro a um do que a outro ou tenho o mesmo destino que Nicolau II. Mesmo que um ajude mais que outro e tenha melhores notas, a “cultura democrática” em minha casa não permite essa diferenciação. Os meus filhos chamam a esta inveja disfarçada, justiça, os socialistas deram-lhe o nome de justiça social.

A minha sorte é que os meus filhos crescem. Já os socialistas são crianças a vida inteira.


22 comentários:

  1. Embora com humor, este texto deixa-me nauseada pela forma despudorada e deformada como a autora caracteriza o socialismo.

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  2. Que tal lê-lo e substituir socialista por capitalista? Alguma diferença no sentido? Eu cá também tenho um filho com tiques socialistas, que do alto dos seus 8 anos se aflige com as desigualdades e acha na sua inocência que devíamos ter todos as mesmas oportunidades e os mesmos direitos. E que enche de enorme orgulho por isso.

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  3. concordo com a carmen,sinceramente não gostei... e espero conseguir que o meu filho defenda principios socialistas (não deformados como aqui estão) em vez de capitalistas.

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    1. Subscrevo! Espero que os meus filhos se pautem por princípios socialistas que são a base de uma sociedade justa, feliz e equilibrada (e não estou a falar de partidos políticos!).

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  4. Os seus filhos são o que lhes permitem ser e as suas deformações sociais e sociológicas são o espelho das deformações dos pais...
    O texto, à parte ser desinformativo, até podia ter graça, mas........ é tão tendencioso que não tem graça nenhuma.

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  5. Não é político, é só parvo.

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  6. Pode ser difícil ver-se o humor quando mexe com a raiz das convicções ideológicas pessoais (neste caso a convição de que sabemos o que é melhor para a sociedade, logo para os outros).
    Afinal a cultura mainstream actual é de piadas ao horrível capitalismo sempre com o epíteto inseparável de "selvagem". Fazer piadas com a "sã" superioridade moral do socialismo, só pode ser abjecto, desse ponto de vista. Afinal, para muitos "capitalismo", é um sistema político (naturalmente perverso), e não a interacção e transacção de bens entre pessoas e entidades.
    Caricaturas são giras, mas só para gozar com senhores gordos,que usam fraque, fumam charutos (havanos???)e usam negras cartolas. Ou demonizar Merkels.

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  7. Brilhante! Mas não sei se será que é assim tão "inato"... Quando estudo com o meu filho mais velho (4º ano - 1º ciclo) deparo-me muitas vezes com formulações e conceitos, nos livros de Estudo do Meio e até nos textos de Língua Portuguesa, que são autênticas "lavagens ao cérebro"!!!

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    1. Ainda ontem este assunto veio à baila: o que fazer se certos conceitos (e não factos) fazem parte do PROGRAMA ESCOLAR, como verdades absolutas? Ensinar-lhes que existem outras formas de pensar? É que quando numa ficha/prova do 1º ciclo se pergunta "qual é a tua opinião", o que se pretende não é saber realmente a opinião da criança, mas ver se debitam tal e qual o que lhes meteram na cabeça.
      O pai fica com os "cabelos em pé". A mãe, mais prudente, para evitar maus resultados escolares, alinha contrariada, com esperança de que, terminado o ano escolar, se há-de conseguir mostrar que existem outros pontos de vista.

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    2. Pois são! - "autênticas lavagens de cérebro"... e são lavagens tão incisivas que branqueiam até as passagens mais sujas da história... refiro-me, por exemplo, aos 500 anos que estivemos presentes em África - não é contado aos nossos filhos e, já não nos foi contado a nós, o que por lá se passou nesse tempo... pelo contrário!

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  8. Pois eu gostei muito, e é mesmo isto que vejo na realidade do panorama político nacional. E trocar socialistas por capitalistas, neste texto, não mantém, de todo, o sentido, pois os tiques capitalistas são outros (que, evidentemente também existem...).

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  9. Opa, estes miudos deveriam virar sindicalistas comunistas só para chatearem a maezinha...

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  10. Os filhos são o que lhes permitem ser e as suas deformaçōes sociais e sociológicas são o espelho das deformações dos pais...
    O texto, à parte ser desinformativo, até podia ter graça, mas....... é tão tendencioso que não tem graça nenhuma.

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  11. pois parece-me que as crianças têm a tendência natural para "esticar a corda", se os pais deixam e não lhes ensinam outros conceitos... Imagino que era para ter graça mas... é muito tendencioso e não lha encontrei

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  12. Gostei muito.obrigada pela partilha.

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  13. Eu ri-me a fartotes! E isso é ponto assente ! Certo que não sou um labrego alentejano, mas sou um saloio portuense e em que nada percebo de politica, por isso achei tanta piada ao texto :P

    É óbvio que como diz o @Vitor Cabeça, quando as "brincadeiras" mexem nas convicções das pessoas, sejam elas do género politico ou de outro género qualquer as pessoas não conseguem ver o humor dentro do texto !

    Agora a sorte do João é que, primeiro o texto não foi escrito por ele, e como fez um copy-past de algures.... será mais fácil a prova em tribunal..... caso apareça por cá a Bela Adormecida :P

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  14. Estes "defeitos" não são os dos socialistas mas sim os dos meninos ricos e de "boas famílias" para quem o futuro é sempre risonho sejam bons ou por vezes menos bons. As crianças já perceberam aquilo que um apelido significa.

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  15. O texto é fortemente tendencioso, pois como alguém aqui disse não espelha o socialismo, partidos à parte. Nem sei mesmo se espelha o capitalismo, senão mesmo na parte da exploração do outro.

    Bem sei que é o Blog do João Miguel Tavares, e que a senhora que escreveu o texto que aqui reproduz o publicou no Jornal i, mas não resisto a escrever o seguinte:

    Vá lá D. Inês, faça uma revolução socialista na sua casa e deixe de ser tratada como o proletariado amordaçado. Trate de pôr os seus capitalistazitos na ordem, ensinando-os a partilhar as tarefas da casa... Se calhar já só lá vai com uma ditadurazinha, de quero posso e mando, mas pode ser que ainda vá através de um ideal de partilha. Boa sorte!

    PS: Como é que um jornal pode publicar textos facciosos a este ponto?

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