terça-feira, 14 de maio de 2013

"Estamos cá para ser felizes"

Porque há textos que não merecem ficar perdidos nas caixas de comentários, deixem-me partilhar convosco aquilo que a Catarina Nicolau Campos escreveu após ter lido este meu texto (como a sua intervenção é muito longa, vou editá-la um bocadinho, mas encontram-na integralmente nos comentários ao post anterior):

O meu nome é Catarina, tenho 23 anos, casada, 2 filhas - uma 2 anos, a outra 15 dias (...) Casei-me com 20 anos, consciente de que estava a assumir o maior compromisso da minha vida (...) Eu era excelente aluna. De 20. Senhora do meu nariz, metida em mil organizações que correspondiam aos meus desejos para a Humanidade. Todos fizeram previsões de grande carreira académica, e eu mesma estava convencida que por esta altura já estaria a dar cartas em Harvard, ou noutra instituição de prestígio, como assistente promissora de uma área muito interessante de Direito.

Entrei com 18 anos da Universidade, no primeiro mês conheci o Miguel e passados 2 anos casámo-nos. Bum, lá se foram os planos galácticos. Conclusão? O curso está por acabar, tive que mudar de Universidade, as notas estão longe do que já foram, nunca tivemos tantas dificuldades materiais e estou tão próxima de ser assistente de Direito em Harvard como Portugal da Austrália.


Mas nunca fomos tão felizes. E o curso está por acabar porque 2 miúdas lindas decidiram nascer em cima da época de exames. Vai ficar por acabar? Não, já estou a estudar para a época que se avizinha. Os sonhos ficam por concretizar? Não, jamais. E estou arrependida da minha decisão? Nunca, isso seria dizer que estava arrependida de escolher ser feliz. (...) Sim, há dias que dá vontade de gritar e de fazer mute ou stop e respirar 10 minutos antes de voltar à realidade, mas se a vida não fosse assim não tinha piada nenhuma.

Por isso... e eu? Eu continuo a ser a Catarina que vai acabar o curso num futuro próximo, que vai ter uma carreira brilhante nalguma coisa, que canta, dança e escreve. Mas que para além disso é mulher do Miguel e mãe da Pilar e da Assunção. E isto também passou a ser constitutivo do meu ser, e naturalmente se reflecte naquilo que dou de mim a todas as coisas. Sou mais feliz a dar-me, do que quando era só eu, no meu mundo. E, não querendo ser demasiado aristotélica, acho que estamos cá para isto mesmo, ser felizes.

13 comentários:

  1. É isso mesmo Catarina :) Ser feliz é o melhor. Mas, não deixe para traz o seu curso, demore o tempo que demorar.
    Tudo se consegue

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  2. UAU!!! grande testemunho! De facot, não há fórmulas para a felicidade! bem-haja Catarina!

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  3. Sobre este texto, mas também sobre o seu texto original:
    Não deve haver quem tenha família que não tenha essas reflexões. Eu costumo dizer que sou a mais improvável mãe de família numerosa (3 filhos. ponto final.) Também eu sempre achei que a minha vida seria mais na senda académica/científica e sempre quis sair do país, pelo menos durante alguns anos. Era bastante centrada no meu eu e nunca tive sonhos de matrimónios nem de família. Eventualmente um dia, quem sabe. Não era de todo um dos objectivos primordiais. Mas pelo caminho encontrei o meu companheiro e foram chegando os nossos filhos. Licenciei-me, fiz Doutoramento e trabalho, mas pode-se dizer que em termos de carreira é óbvio que não me poderei dedicar a ela de forma a ser a principal força motriz da minha vida. E nesse aspecto não chegarei tão longe como durante grande parte da minha vida achei que ia chegar. Às vezes olho para colegas e amigos e tenho, não inveja, das suas viagens a locais exóticos nos seus projectos de investigação, mas uma espécie de nostalgia de um futuro que sei que não vou ter. Ou da minha alter-vida. Porque com o avançar dos anos também vamos interiorizando que o nosso leque de opções se vai fechado mais. Não é verdade que esteja tudo ao nosso alcance (e eu durante muito tempo não só acreditei como fiz isso). A realidade é que chegamos a encruzilhadas em que há opções que não podem deixar de ser feitas. Não obstante todas as reflexões, não trocava a minha vida actual por nenhuma outra. E as minhas opções clarificaram sem dúvida os meus objectivos e missão de vida. Sem ressentimentos; sobretudo, sim, com muita paz de espírito.

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  4. Parece-me uma bela história de vida, com as suas coisas boas e más como todas, mas não consigo compreender. Não digo isto com a propósito de julgar, mas eu tenho 20 anos, estou na universidade e casamento e filhos é uma coisa que vejo como muito distante, se é que acontecerá. Acho que há tempo para tudo e, para mim, este é o tempo de viver a juventude e tudo o que ela trás, pois não volta. Posso estar errada, mas vejo esse casal a arrepender-se um dia...

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    1. Eu diria que nao estás certa nem errada, porque na vida nao há disso. Aquilo que para uns é o caminho "certo", será para outros o caminho "errado". A vida é feita de opcoes. Eu aos 20 anos também nao estava preparada para casar e ter filhos. Tirei o curso, fui para o estrangeiro e arrangei trabalho na Alemanha, onde vivo até hoje. Mas também nao tive a sorte de ter encontrado o companheiro "ideal" na altura em que tirei o curso. O resultado da minha vida profissional "perfeita" foi uma depressao aos 30 e uma quase auto-destruicao aos 38-39. Porque a minha vida pessoal acabou por ser tudo menos perfeita. E ao fim do dia o que conta mesmo é teres alguém que goste de ti por aquilo que tu és e nao por aquilo que tu representas. Felizmente Deus mandou-me uma rica prenda aos 39 anos: a minha filha. E olha que me "queixo" muitas vezes, porque estava habiatuada a fazer o que queria e a nao ter que prestar contas a ninguém. Agora é levantar cedo, fazer comida, arrumar a casa (eu ODEIO trabalhos domésticos e cozinhar)... Acabaram-se as noites de cinema, o fazer desporto 3-4 vezes por semana, o dizer palavroes sem pensar duas vezes... Sinto falta do meu tempo só para mim - fica mais difícil abdicar quando se passam anos e anos sózinha - mas nao trocaria a minha vida actual por nada deste mundo! Se pudesse voltar a trás talvez fizesse outras opcoes. Só que nao vale a pena pensar no passado, porque esse já passou. E aquilo que eu vivi, bom e mau, fez-me ser a pessoa que sou hoje. Nao sou perfeita, tenho muitas "cicatrizes", mas talvez por isso saiba dar mais valor ao que tenho agora.

      Se me perguntarem se eu trocaria a minha vida pela do Joao e da Teresa, eu diria que NAO. Mas gosto de acompanhar a vida deles.
      E em resposta ao comentário anónimo aqui de baixo: uma das coisas que eu aprecio muito neste blog é o facto de esta família, em vez de chorar o "coitadinhos que nós somos", que é uma coisa típica do bom portugês, prefere realcar as coisas boas da vida.
      E se eles hoje têm uma vida relativamente desafogada, foi porque trabalharam para isso, e eu acho que nao têm de pedir desculpa a ninguém por causa disso.
      Eu conheco algumas pessoas "ricas" que sao extremamente infelizes e também conheco bastantes que, apesar de nao terem grandes posses materiais, sao felizes. Por exemplo "o pai é motorista da Carris", " a mae é recepcionista num hospital", vivem com os três filhos num apartamento pequeno com uma sala e dois quartos. E nao é que uma filha é médica, a outra economista, o filho nao sei, porque perdi o contacto. E apesar de nao viverem nada desafogados, sempre que estava em casa deles e chegava a hora do jantar, lá havia um prato na mesa para a "visita".

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  5. A banalidade dos posts deste blog e a exaltação das alegrias da vida familiar preenchida por uma ranchada de crianças lindas, roça, por vezes, a obscenidade. Então e se em vez de " a mamã é médica" e "o papá é um jornalista famoso e ilustre membro da elite intelectual lisboeta", que passam fins de semana idílicos na casa das Penhas Douradas e outros poisos afins, fosse "a mamã é administrativa" e " o papá é polícia", e em vez das Ritas, das Carolinas, das Pilar e das Assunção fossem o Fábio e a Sandra, seria assim tudo tão cor-de-rosa? De onde provém o sustento destes dois jovens universitários? Um pouco mais de pudor seria prudente.

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    1. Mas e então os Fábios e os Brunos não podem ser felizes, anónimo?. É por causa do nome ou quê? E só é feliz quem vai para a Penhas Douradas? Vendem lá pílulas da felicidade, é? Bora lá todos comprá.las? O que a Catarina disse - parece-me - é que ela abdicou temporariamente de uma carreira brilhante e está realizada e não se arrepende de ter decidido pela família. Bora lá falar dos Brunos e dos Fábios? Têm estigma estes nomes, é?. Os meus filhos não se chamam Bruno nem Fábio, mas tinha ficado chateada com este anónimo se lhes tivesse posto este nome. Aliás o Coentrão é Fábio e não o vejo infeliz :)

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  6. Gosto muito do comentário da Catarina e ainda bem que há pessoas que aos 20 reúnem condições para casar! Mas como? Como é que duas pessoas vivem com dois filhos com o ordenado de uma (partindo do principio que a Catarina não trabalha, pelo menos não escreveu isso...!)??
    Gosto muito deste blog! Força aí, pais de quatro!! :)
    Marisa

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  7. nao podia estar mais de acordo pois a vida sem felicidade não é nada e quando pensamos que podemos ser felizes sozinhos estamos muito enganados... é extremamente gratificante ver como um pequeno sorriso de alguem que por vezes nem conhecemos nos pode deixar tao feliz... parabens e a felicidade ajuda muito para enfrentar todas as dificuldades...

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  8. Tenho 33 anos e casei faz daqui a meses 13 anos!!!
    Sim, casei ao 20 anos. Neste momento tenho dois filhos, um de 10 anos e uma de 6 anos.
    Sou feliz com a minha opção.
    Desiti de estudar, apesar de ser uma boa aluna e "todos" me viam na universidade. Eu também me cheguei a "ver".
    Mas a vontade de constituir família naquela altura falou mais alto e tinha de me sustentar. Casar e estudar não podia ser.
    Optei. Comecei a trabalhar com administrativa após o 12.º ano. Casei. Construímos a nossa casa. Nasceu o nosso primeiro filho, depois a segunda.
    Em principio ficaremos por aqui, mas quem sabe...
    Pelo caminho fiz umas formações e hoje trabalho num sitio que gosto e todos me dão valor.
    Trabalho com "srs Drs" mas não me sinto inferior, nem eles me tratam de maneira diferente por não ter tirado o meu curso.
    Os recem licenciados (e mesmo os outros) vêm muitas vezes pedir-me opiniões, afinal há 14 anos que faço o que eles aprenderam num curso.
    Sou feliz!
    Mas sinto falta e olho para trás com nostalgia dos meus tempos de "liberdade". Sem a preocupação dos almoços e jantares, se há iogurtes no frigorifico.
    Não posso decidir ir ao cinema de uma hora para a outra. Tenho de ver quem poderá ficar com as crianças, há o9utros deveres.
    Por vezes penso " e se ...." mas depois digo para mim mesma: Se algo tivesse sido diferente, hoje esta não era eu!

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  9. Pois bem, cá em casa somos "uma mãe administrativa" e um "pai professor", ambos com algum receio de o trabalho nos vir a faltar, e temos um André e um João (não sei se são nomes para ser feliz ou não, na opinião do Sr. Anónimo das 21H20) e também não somos herdeiros de famílias abastadas... Mas, sim, somos muito felizes e uma felicidade vivida em família.
    Se temos às vezes dias difíceis em que nos apetece levitar para não os sentir? Sim!
    Se podemos hoje decidir ir amanhã passar férias para um hotel de 5 estrelas? Não!
    Se somos uns coitadinhos? Não vejo porquê!
    A felicidade vai muito para além daquilo que se consegue ver com os olhos ou sentir com as mãos... é no coração que ela cresce e dali que propaga.

    Entristece-me a capacidade que as pessoas têm em deitar abaixo uma partilha de vida positiva, só porque se deduz que serão "abastadas". E se forem? Onde está o mal disso?

    Beijinhos Pais de Quatro!
    Ana Horta

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  10. Só posso dizer que a felicidade tem muitos caminhos, mas depois de se ter filhos nunca se quer voltar atrás.
    Porque será, hem?

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    1. Que remédio, mesmo que quisessem não podiam voltar atrás...

      É uma das minhas dúvidas (eu que estou a uns quantos anos de distância de sequer pensar em filhos...): e se uns recém-papás descobrirem que não gostam de o ser, o que fazem? Se "há gostos para tudo", como é que todos gostam de ser pais? Ou é a sociedade que "proíbe" uns quantos pais de dizerem que são infelizes?

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