sexta-feira, 15 de março de 2013

Dilema dos Amantes IV

Voltando ao tema do Dilema dos Amantes, devo dizer que subscrevo boa parte dos comentários da Teresa e da Marta, e percebo quando elas sentem necessidade de sublinhar que as pessoas ainda se esforçam por sustentar as suas relações. Eu não quero de forma alguma dar a entender que as separações dos dias de hoje são feitas de ânimo leve. Não são. Continuam a ser tão dolorosas quanto sempre foram. Agora, o que não há a menor dúvida - são factos estatísticos - é que são em muito maior número. Porque são muito mais os divórcios e certamente muito mais as relações amorosas que uma pessoa estabelece ao longo da vida. Ou seja, é indesmentível que as pessoas se estão a separar mais, e mesmo certas flutuações pontuais não afectam a tendência geral.

As explicações para isso não são necessariamente negativas. Acredito que hoje em dia a exigência de honestidade numa relação seja muitíssimo superior à de antigamente, as infidelidades não são admitidas como eram e os papéis de homem e mulher estão, felizmente, muito mais equilibrados. Tudo coisas boas. Mas quando se considera a duração de uma relação amorosa como um bem em si (ainda que não a qualquer custo, como é óbvio) uma pessoa não se interroga apenas "porque é que isto está a acontecer?", mas também "o que é que eu posso fazer para o evitar?"

Diz a Marta: "Hoje em dia, as pessoas, os casais, são apenas racionais: estão juntos enquanto isso os faz felizes." Com certeza. A questão está em saber de que forma se consegue aumentar a longevidade dessa felicidade. Num dos comentários, a Ana Rute Cavaco cita o teólogo luterano alemão Dietrich Bonhoeffer, que disse a propósito do casamento: "não é o teu amor que sustenta o casamento mas, a partir de agora, o casamento que sustenta o teu amor". Para quem tem uma visão sagrada do matrimónio, isso é sem dúvida uma verdade. Mas eu nem quero entrar por aí, porque para todos os efeitos a minha fé não é grande coisa.

O que me interessa, e eu já tentei sublinhar isso anteriormente, é saber se as relações soçobram mais nos dias de hoje por nós também sermos mais egoístas, e vivermos mais centrados na satisfação das nossas necessidades individuais. Isso pode estar relacionado com coisas como casar mais tarde, o que dificulta o encaixe do outro nos nossos hábitos; ou no cultivo assolapado de uma frase que odeio de morte: "eu sou como sou", pináculo do egocentrismo idiota, como se estivéssemos impedidos de corrigir os nossos erros e tentarmos ser pessoas melhores.

Em resumo, a tese é esta: não só temos dificuldade em abdicar daquilo que nos dá prazer no imediato em nome de princípios abstractos, como nos custa colocar os desejos do outro à frente dos nossos. E isso, cá para mim, é caminho andado para que tudo numa relação venha a correr mal.


11 comentários:

  1. Na verdade, parece-me que afinal concordamos em quase tudo. O que me interessa é também saber se as relações soçobram mais nos dias de hoje porque nós também semos mais egoístas e vivermos mais centrados na satisfação das nossas necessidades individuais.

    A diferença na nossa forma de ver é que, tendo apenas por base o mundo que me rodeia (nada me garante que seja representativo, é verdade), acho que as pessoas estão agora mais abertas para colocar os desejos do outro à frente dos próprios desejos e, por isso, em resposta ao que ambos queremos saber, eu respondo não enquanto que o João Miguel Tavares responde sim.

    Há, claro, uma questão de desigualdade de género: poderiamos argumentar que no tempo dos nossos avós as mulheres colocavam os desejos do marido à frente dos seus desejos mais do que as mulheres de agora. Mas isso parece-me uma comparação limitada: não só muitas vezes o faziam a um nível além do aceitável numa relação de respeito mútuo como o faziam porque assim o eram obrigadas.

    E agora é diferente: julgo que agora mulheres e homens escolhem abdicar daquilo que lhes dá prazer no imediato em nome de princípios abstractos - o Amor e o compromisso - e não em nome de pressões sociais ou porque não tenham autonomia financeira para que consigam viver se for de outra forma. Agora é por escolha, não por obrigação. E, para mim (e acredito que para o João Miguel Tavares também), 5 anos por escolha, com respeito mútuo e empenhamento de ambas as partes na relação, vale muito mais do que 50 anos por obrigação.

    Em resumo, parece-me que concordamos em tudo menos na conclusão.

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  2. Apoiadíssimo!
    O meu namorado e eu temos uma relacao difícil, que, devido a vários factores - internos e externos - tem tudo para nao dar certo: por exemplo diferenca de idades, de culturas, de educacao. Além disso, ele tem dois filhos pequenos de duas mulheres diferentes e eu tenho uma filha ainda mais pequena que o chama pai mas que nao é filha biológica. Nao estamos casados, nao vivemos juntos, nem sequer vivemos na mesma cidade. Só nos vemos aos fins-de-semana e ambos temos empregos stressantes. Além disso, cada 2 semanas temos os filhos dele a passar o fim-de-semana connosco.
    Para ajudar à festa, ambos temos uma personalidade muito fortes, somos teimosos e fervemos em muito pouca água.
    Apesar de tudo, estamos juntos há quase 4 anos. Todas as semanas nos zangamos e já estivemos mesmo, mesmo à beirinha da ruptura umas 500 vezes. Mas cada vez que eu penso "desta é que é de vez", um de nós consegue sempre dar um passo na direccao do outro, com uma palavra ou um gesto. O amor nao é fácil, e nós os dois tivemos no passado experiências muito más, que nos tornaram desconfiados e cuidadosos... Mas ambos achamos que vale a pena lutar pela relacao e eu dou gracas a Deus por, até hoje, sempre termos conseguido dar a volta por cima e nao desistir quando aparecem as dificuldades.
    Eu acho que as pessoas nao sabem dar valor ao que têm, porque estao sempre a pensar que pode vir algo melhor. Se soubessemos apreciar a nossa galinha, nao nos importávamos com a galinha do vizinho ;-)
    Nos momentos que contam mesmo, o meu namorado está ao meu lado, a apoiar-me, a dar-me forca e coragem. Nos difíceis mas também nos bons! E é tao bom partilhar as coisas boas com aqueles que nos amam!

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  3. Bem, há algum tempo atrás fazia-me confusão verificar o brutal aumento de divórcios e separações. E tendia a achar que havia aí, para além de uma saudável e finalmente um mais igual estatuto entre homens e mulheres, algum facilitismo na desistência das relações às primeiras dificuldades.
    Mas, sinceramente, agora já não penso assim. As pessoas estão mais empenhadas e têm mais meios hoje para lutar pela sua felicidade. E ainda bem. Alguns (entre os quais me incluo), encontram mais felicidade no esforço de manter uma relação, pois acham que vale a pena; outros não. Seja de uma forma ou de outra, a busca da felicidade é algo de muito bom. Portanto, eu vejo agora essas coisas dessa forma simplista - até porque só temos esta oportunidade para sermos felizes (excepto para quem acreditar na reencarnação). Como diria o saudoso Solnado, Façam o favor de ser felizes.

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  4. Este tema tem pano para mangas... o que é bom!
    A mim apraz-me dizer que entendo que quando as coisas entre o casal azedeam o primeiro pensamento que nos assola é o "vou pedir o divórcio"! No último ano esta frase assolou-me o pensamento muitas vezes, demasiadas vezes e em variadissimas circunstâncias. A minha mãe, mulher da velha guarda nem me podia ouvir proferir tal afirmação, porque ela sempre foi a mulher submissa que jamais em circunstância alguma levantou a voz ao meu pai.
    Nos momentos mais difíceis eu pensava que mais uma coisa que fosse e esse seria o desfecho. Mas dava por mim a pensar no eu "depois", de como ele se iria desenrascar sem mim, em como teria que justificar e reorganizar a vida da minha filha, etc, etc.
    Até que houve um dia e dei comigo a pensar,e se eu deixar de me preocupar tanto ? E se eu deixar de querer que ele seja como eu, que pense da mesma forma que eu, que tenha os mesmos objetivos, se deixar de estar a fazer sempre contas à vida e parar de lhe cobrar o dinheiro que gasta no seu cafézinho e no seu cigarrinho?
    E se!?
    Passei a dormir melhor, passei a falar com ele sem ser sempre aos berros, acreditei que aquilo que sentimos um pelo outro é mais forte dos que as nossas divergências e diferenças! Resultado o ambiente melhorou 200% e passamos a falar mais dos nossos problemas e a tentar encontrar alternativas!
    E eu percebi que muitas vezes e por a vida estar complicada "caía" em cima dele como se a culpa de tudo fosse dele, quando não é de nenhum e só juntos a podíamos melhorar!
    Tudo isto para dizer que obviamente há situações e situações, e que não sei o dia de amanhã, mas houve um momento eu percebi que pelo facto de as coisas não estarem bem naquele momento não seria o divórcio que iria resolver as coisas!
    Senti-me muitas vezes "leviana" por pensar que essa era a única alternativa, só que até ao momento o parar e pensar resultou e se calhar o que acontece muitas vezes é que as pessoas ao primeiro embate desistem, e passam a ver tudo o que o outro tem de negativo, tudo o que não gostamos, e isso desgasta e tolda-nos completamente o discernimento.
    Não é fácil gerir um casamento, não é fácil aceitarmos que o passar dos anos nos muda, e muda também o outro, mas sinceramente acredito que se houve um momento em que tudo foi bom, em que a paixão e ao amor eram indissociáveis, só depende de nós voltar a sentir esse aconchego! Uma coisa é certa não podemos deixar que a nossa felicidade passe por acreditarmos que o outro vai adivinhar aquilo de que precisamos naquele momento se não lhe dermos algumas indicações.
    E sinceramente, não acredito em casamentos perfeitos, onde tudo é cor de rosa, e um completa a frase do outro, etc. Todos nós temos telhados de vidro só que um têm vidros mais transparentes que os outros. :D

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  5. Hummm, não sei se será bem assim...
    Contribuiria para esta (complexa) tertúlia com um factor que ainda não econtrei por aqui: a oportunidade.
    A vida urbana presente concede muito mais oportunidades de conviver com outras pessoas do sexo oposto. Ou do mesmo sexo, considerando as minorias sexuais, (embora haja estudos que apontem para diferentes graus de constância, consoante o tipo de casal.
    Ao contrário do passado, o convívio entre sexos não tem os limites do passado:
    trabalha-se lado a lado com pessoas potencialmente interessantes...
    Encontram-se no ginásio, pessoas potencialmente interessantes...
    Estuda-se com pessoas potencialmente interessantes...
    Convive-se com pessoas potencialmente interessantes....
    E, dado que ainda não lhes conhecemos os "pesos" e agruras da vida, a resmunguice matinal, a flatulência ocasional, a desordem emocional ou a estupidez natural, é fácil idealizar. E o nosso companheiro perde nessa comparação desleal.

    Cumprimentos e parabéns pelo blog. Talvez o veja no sábado (se houver um espacinho para uma família de 4)

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  6. Gostei muito do Dilema dos Amantes II e concordo. A abordagem do Samuel Úria em Eu Seguro é bastante explícita e mais ainda o conselho da crónica: "agarrem-se bem ao mastro do navio, que a tempestade há-de passar".
    ÀS vezes, parece que o próprio conceito de Amor está em desuso, parece vergonha amar o parceiro/a, dedicar-se a uma relação.
    Momento melhores ou piores felizmente aqui em casa temos conseguido agarrar-nos ao mastro. E vale a pena.

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  7. O contributo do Vítor C é uma boa achega. Efectivamente, como dizia uma amiga, as amantes estão sempre bem arranjadas, cabelos penteados, unhas pintadas e cheirosas e bem dispostas. Não cheiram a refogado, nem estão rabugentas.
    Idealizando é fácil encontrar essa pessoa sem defeitos no trabalho, no ginásio, um "escape" imediato. No entanto, há idade para se deixar de acreditar no príncipe/sa encantado/a. O mais certo é virar sapo.

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  8. Gosto daquela frase que anda nas redes sociais e que reza mais ou menos assim: antigamente os casamentos duravam mais, porque, tal como os objectos, quando se partiam arranjavam-se.

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  9. JMT tenho andado a acompanhar este tema, mas ainda não tinha tido oportunidade de o comentar.

    Tenho 35 anos e como sou filha de pais separados, bem como o meu marido, tenho horror a que o meu relacionamento/casamento venha a ter o mesmo final que o dos meus pais.

    E apesar de ainda ser um bocado pró nova (acreditas mesmo nisso???) tenho a mesmo relação desde 1995, namorámos uma série de anos, depois fomos viver juntos e em 2007 finalmente casámos.

    Como é normal 18 anos em conjunto não foram sempre uma mar de rosas e houve alturas, principalmente quando namorávamos que tivemos de nos afastar, pois já não nos podíamos ver. Mas temos trabalhado a nossa relação, o nosso casamento e principalmente tentar surpreender-nos e sair um bocadinho da rotina. Acho assim maravilho poder imaginar que vamos ficar juntinhos até sermos bem velhinhos.Mas que dá um trabalhão, é das coisas mais trabalhosas que tenho na minha vida e olha que eu já passei por muito.

    Mas de facto sou obrigada a concordar com o que diz, à nossa volta vemos alguns/muitos casais nossos amigos cujas relações não têm conseguido prosperar e simplesmente terminam com bens para dividir e filhos que muitas vezes tb são tratados como mobília e até os nossos amigos, começam a achar que nós estamos fora de moda porque estamos juntos desde o século passado.

    Mas o melhor mesmo é olhar para aquela carinha e dizer com muito orgulho: "Sabes que eu ainda te amo, bué???"

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  10. João,

    começo por referir que aprecio muito esta sua forma de debater. Aqui na blogoesfera, de sabichões irredutíveis e de donos da verdade andamos todos um bocadinho fartos.
    Continuo, no entanto, muito céptica quanto a estas ideias de «lutar pelo casamento» ou de fazer com que a «felicidade do casamento perdure».
    Acho até que defender que um casamento dura porque se faz por isso é bastante ingénuo. O meu casamento dura, a meu ver, por dois motivos estruturais: o primeiro, que depende de mim e do meu marido, é o respeito que temos um pelo outro; o segundo, que depende de factores alheios a nós e absolutamente inexplicáveis, é o facto de nos amarmos (ou de ainda nos amarmos). E isto não é de pouca importância: é crucial.
    E há, infelizmente, muitas pessoas que não aceitam o fim do amor. Não aceitam quando deixam de amar e menos ainda quando deixam de ser amadas.

    Antes de terminar, um pequeno comentário ao comentário do Vítor C: se acha que a culpa é da «vida urbana que concede muito mais oportunidades», sugiro-lhe vá passar uma temporada a uma zona rural. Ficaria surpreendido com as coisas que lá acontecem.

    Marta Dinis

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