quarta-feira, 29 de maio de 2013

O voluntariado cura

Tratar alguém é muito mais do que administrar um medicamento ou efectuar um procedimento cirúrgico. Quantas pessoas já foram verdadeiramente tratadas por uma gargalhada libertadora ou por uma conversa com um bom ouvinte, mais preocupado em escutar do que em aconselhar? Saber ouvir um doente é importante tanto para uma correcta colheita da história clínica (e tantas vezes aquilo que os sinais clínicos parecem descrever está longe de ser o diagnóstico correcto) como para entender quais são as suas verdadeiras dores - dores essas que não são necessariamente orgânicas, mas que se não forem identificadas dificultam o tratamento do problema clínico e provocam angústia e sofrimento desnecessários.

É por isso que é tão importante que os hospitais estejam cheios de voluntários "doutores" e de doutores "voluntários". Os primeiros com generosidade e formação para aliviarem sofrimentos de várias ordens e os segundos com competência e entrega para tratarem doentes e não doenças. Mas nem sempre se percebe a importância disto. Poucas são as instituições hospitalares em Portugal que têm a capacidade de formar voluntários com excelência para que o seu voluntariado dê todos os frutos que poderia dar se fosse rentabilizado.

Ser capaz de voluntariar o seu tempo é um gesto altruísta maravilhoso mas poder fazê-lo da melhor forma, rentabilizando a sua eficácia, devia ser um direito do voluntário. Pena é que por cá não se exerça esse direito, o seu valor não seja identificado pelas instituições e estas vivam da generosidade de associações externas que se esforçam para se adaptarem o melhor possível às necessidades de cada instituição (e graças a Deus com tanto sucesso, em alguns casos).

Ontem cruzei-me com mais um daqueles mails em que se apela à participação através de download para recolher fundos para um determinado propósito. Era a vez de um videoclip, de que já tinha ouvido falar no Natal passado, filmado por um conjunto espanhol - com o curioso nome de Macaco - com doentes, pais, profissionais e voluntários do Hospital Materno-Infantil Sant Joan de Déu, em Barcelona, para alertar para a importância de angariar fundos para a investigação oncológica.

Fiquei curiosa e fui cuscar sobre o hospital, pois recentemente, por causa de um amiguinho corajoso que tem vencido muitas destas batalhas exactamente em Barcelona (mas noutro hospital), tenho-me apercebido da soberba organização do trabalho de voluntariado de alguns hospitais espanhóis. E lá encontrei, altamente valorizado, o voluntariado no hospital e a importância que é dada à intervenção dos palhaços doutores, dos musicoterapeutas ou do programa Diver (que se dedica a suavizar a experiência de hospitalização na criança e sua família através de jogos simbólicos), de que gosto especialmente.

Espero que as almas mais sensíveis não fiquem demasiado impressionadas com as imagens de crianças com doenças oncológicas, porque o objectivo é exactamente o contrário: através da alegria seguir o caminho até à cura, um dia de cada vez.


5 comentários:

  1. concordo plenamente...também já se vai ouvindo falar dos beneficios do Reiki, mas os hospitais ainda estão muito fechados, mas minha opinião, a estas questões.
    Um médico deve ser, como disse e bem, um bom ouvinte, ter perspicácia...tantos problemas que surgem pelo stress levado ao limite, pela falta de atenção, de alguém que oiça com o coração...

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  2. Desviando um pouco, voluntários sim, mas também especialistas em psicologia da saúde, pagos para fazerem o seu trabalho. No que toca a saber escutar e entender as implicações e impacto psicológico do doente, assim como de efectivamente ajudá-lo a reorganizar emoções, parece que todos podem fazer esse papel. Aqueles que estão treinados, preparados para isso para além do senso comum, são demasiadas vezes esquecidos e desvalorizados.

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  3. Concordo! Um trabalho a ser valorizado e "formado" pois não é para todos. Ha tanto por fazer!

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  4. Gostei. Música catita, e miúdos ainda mais catitas. Voluntários, sim, sem dúvida. Mas também formação e espírito de missão para os profissionais de saúde, incluindo neste grupo não só médicos, enfermeiros e técnicos, mas também auxiliares, administrativos, seguranças... quantas vezes, mesmo que os primeiros consigam tratar um doente de forma afável e humana, os segundos não deitam tudo a perder ? A fragilidade do doente e de quem o acompanha, é uma realidade, mesmo que disfarçada, e há tanta gente sem um mínimo de sensibilidade que nunca, nunca, deveria sequer aproximar-se de um doente e ainda ser paga por isso...
    (gosto muito do blog, a propósito, e cá em casa somos pais, mas de 5 :P )

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