terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Faz mal bater às crianças? Parte II

Em relação aos inúmeros comentários a este post, queria saudar a forma civilizada como a discussão está a decorrer, sem demasiadas palmadas verbais (coisa que é raro acontecer na blogosfera). E, de caminho, aproveito para acrescentar algumas notas:

1. No próximo Santo António vou arranjar um manjerico e espetar nele a seguinte quadra: "Quem consegue educar/ sem levantar a mão/ terá para todo o sempre/ a minha admiração." Eu acho que deixei isso claro no meu post: quem acredita nisso, pratica isso, e consegue que isso funcione, faça workshops, por favor. Este blogue prova diariamente - gosto eu de acreditar - que não sou nenhuma espécie de modelo como pai e que deve haver muitas dezenas de milhares de gajos e gajas com muito mais talento para esta actividade do que eu. Se enfio umas palmadas nos rabos dos meus filhos é porque nunca consegui educá-los convenientemente sem lhes chegar a roupa ao pêlo. Pode ser falha minha, com certeza. Mas acho a tal domesticação civilizacional inevitável, e nunca encontrei outra forma eficaz de exercer a actividade. Num dos comentários, a Céu Franco deu o óptimo exemplo de uma criança muito pequena a meter os dedos nas tomadas eléctricas. Alguém sabe convencê-la a não enfiar lá os dedos utilizando apenas pacientíssimos "isso não se faz?". Ensinem-me, sff, que em breve vai dar-me jeito para usar com a Rita.

2. Como explica a Sofia Carvalho no seu comentário, os filhos são mesmo diferentes uns dos outros, e nestas coisas da pedopsiquiatria caseira nós acharmos que existe uma fórmula perfeita e universal é uma grandessíssima treta.  Os filhos, as famílias e as circunstâncias são demasiado complexas e variáveis para alguém ter o atrevimento de achar que existe a solução, única e definitiva. O meu filho Tomás fica muito mais afectado com uma descompostura do que com um açoite, e portanto muito raramente lhe toco com um dedo. Já o meu filho Gui está-se nas tintas para a dialéctica e para todas as teses, antíteses e sínteses que não metam falangetas. E portanto...

3. Ainda nos comentários, a Helena defendeu efusivamente a tese da não-agressão, que eu não me sinto minimamente preparado para rebater cientificamente, embora seja fácil encontrar estudos que dizem o contrário. Mas, como dizia alguém, estudos deste género há para todos os gostos. O que eu queria aqui rebater é uma tese que está implícita nas suas intervenções, que é a de haver países mais avançados em termos de civilização e educação. Eu tenho muito inveja das instituições suecas, mas no que diz respeito à família diria que a cultura mediterrânica não tem muito a aprender ali. Os nossos laços familiares têm uma força com que os suecos nem sequer sonham. Eu não me importava nada de importar o seu Estado social mas deixem-me por favor ficar com as minhas famílias ibéricas trauliteiras. Em relação aos Estados Unidos, então, nem vale a pena falar - basta abrir a televisão.

4. A IndieGirl diz: "Bater nunca é legítimo! Dar um estalo a uma namorada é o fim do mundo, mas bater a um ser indefeso, que está a crescer, é educativo?!?!?" Por favor... Como disse, não só percebo como invejo quem educa sem levantar a mão. Mas comparar uma palmada numa criança com uma estalada numa mulher é um absurdo total. Uma criança de três ou quatro anos está num processo muito inicial de desenvolvimento e o castigo físico só é aceitável por se entender que é a forma mais eficaz de a impedir de repetir um gesto impróprio. Gesto esse que, em última análise, a prejudicaria a ela, como no caso acima citado de enfiar os dedos na tomada. De que forma é isso transponível para um quadro de violência doméstica? Não faz qualquer sentido.


26 comentários:

  1. João Miguel Tavares, concordo plenamente consigo! O meu filhote Tomás (6 anos) também leva umas palmadas no rabo quando tem que ser e é uma criança feliz e sem traumas! :)

    P.S - Só não gosto muito do termo "castigo físico"! Gosto mais do "lembrete físico"! Tipo: para a próxima, lembra-te!!! :D

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  2. Joao, este debate é sem dúvida muito interessante. Eu nao creio, sinceramente, que bater seja bom para pais ou para filhos. Mas todos somos humanos, já sei isso!
    Nao creio que seja bom bater, primeiro, porque continuamente lhes dizemos que nao batam nos irmaos ou amigos, e por isso constitui uma contradiçao in terminis. Nao quer isso dizer que, em situaçoes de perigo ou de excitaçao extrema, nao tenhamos de usar de certa contençao física e abraçá-los ou aguentá-los com as maos. Mas que seja abraço e nao pancada!
    Ultimamente temos experimentado outras técnicas de educaçao emocional que funcionam muito bem, e até o mais pequeno dos 3, com 2 anos, as começa a aplicar. Em momentos de fúria, podemos começar a fazer respiraçoes com eles (levantando os braços ao inspirar, descendo-os ao expirar), uma das técnicas que aprendem na escola onde vao (em Barcelona) para se acalmarem e conectarem com o interior. Depois, é importante dar nome aos sentimentos ("como te sentes agora?") e buscar uma soluçao entre todos.
    Às vezes também os enviamos ao seu quarto, e o Francesc gosta muito de entrar na sua tenda de índios para se acalmar... E passado um bocado entramos a falar com eles.
    Outra maneira que também pode funcionar é o humor! Por exemplo, ir buscar algum frasco pequenino para apanhar as lágrimas quando começam a chorar, imitar as suas caras...
    Creio que é melhor "premiar" pela positiva que nao "castigar" pela negativa. Valorizar as coisas boas que fazem! Baixar o tom de voz quando eles estao a gritar!
    Evidentemente que cada família é única, cada criança um mundo, e que os pais estamos para ajudá-los, como podemos e sabemos, a ser mais felizes, mais pessoas!
    Um abraço a todos!

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    1. Ontem esqueci-me de referir a nossa técnica n.º 1: distrair os pequenos quando teimam em fazer uma coisa que nao está bem! Nao se trata de abdicar, é muito importante mantermo-nos firmes. Mas às vezes é suficiente atrair a sua atençao com outra história, um segredo, um aviäo que passa na janela, ou fazer um jogo no corredor, pôr uma cançao preferida... Com os mais pequeninos funciona mesmo bem, nem que seja ir à janela e mostrar-lhes os carros que passam lá em baixo ou os meninos no parque! Com os outros, às vezes basta contar-lhes uma história que nos acontenceu quando tinhamos a sua idade...
      Creio que haverá muitas outras técnicas, truques que nos ajudarao a contornar as situaçoes difíceis, e cada um sabe o que melhor funciona com cada filho. Os pais estamos aqui para marcar os limites que têm de ser marcados (cá em casa deitam-se cedo, nisso por exemplo somos firmes, mas sem dramas...), e para ajudar a sair o melhor de cada um, ainda que haja momentos difíceis em que nos fazem perder a paciência (a todos!).
      Um enorme abraço aos 6!

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    2. Muito obrigada pela partilha, também não sou apologista da palmada, mas depois acabo por berrar um bocadinho :-D mas realmente essas suas técnicas são muito positivas. Parabéns.

      Cátia Mendes

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  3. Acompanho regularmente este blog. Nunca tinha sentido que pudesse ser relevante comentar mas, sobre este assunto, gostaria de deixar o meu testemunho.
    Sou psicologa e mãe de três filhos. Actividades que não se misturam porque santos da casa não fazem milagres. Apesar de todo o conhecimento e experiência que, acredito, as vivências profissionais e pessoais nos trazem, nunca consegui fazer uso de estudos e teorias na educação dos meus filhos.
    Da minha experiência enquanto mãe, educar não é algo racional. Nunca consegui planear em que dia ia ensinar o quê nem de que forma reagiria perante alguma situação. A única conclusão a que consegui chegar é que a experiência serve para muito pouco porque o que funciona com um filho, não funciona com o outro. Para mim é tudo novo, todos os dias.
    Educar, cá em casa, tem apenas por base os princípios e valores morais que nos regem, a verdade e muita criatividade para conseguir transformar erros em oportunidades.
    Nesta vivência diária onde, por cada coisa que ensino, acabo por aprender tanto ou mais do que ensinei, aprendi que as crianças têm um profundo sentido de justiça. Ficam magoadas e revoltadas quando não são ouvidas, quando são injustos com elas. Uma palmada na mão ou no rabo, tem tanto peso para elas como as que distribuem entre si. A criança (pelo menos as minhas) distingue perfeitamente um acto violento de uma palmada dada num momento que evita um perigo ou num limite de paciência.
    Hoje em dia os meus filhos já são adolescentes e há muito que não me passa pela cabeça levantar-lhes a mão. Mas lembro-me de duas ou três vezes que perdi a cabeça e lhes dei duas valentes palmadas no rabo. Também me lembro de ter passado o dia com peso na consciência a achar-me a pior mãe do mundo por o ter feito, de me virem as lágrimas aos olhos por achar que era péssima (psicóloga e tal e a bater nas crianças). A verdade é que a única que ficou traumatizada com as palmadas fui eu. Eles, nem por isso. São hoje em dia pessoas felizes e educadas a adolescer sem traumas de maior.
    Se gostava de ter sido capaz de nunca ter gritado e muito menos levantado a mão? Gostava muito. Mas não tive sabedoria para isso. Julgo que quando há amor, justiça, coerência, respeito, limites, regras e valores, as crianças crescem estruturadas. Se são muitas crianças ao mesmo tempo... às vezes o nosso lado mais zen não aguenta e... mesmo com vergonha de confessar... sai uma palmada.

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  4. Olá João Miguel,
    não concordo nada com o que dizes sobre os suecos, que: "Os nossos laços familiares têm uma força com que os suecos nem sequer sonham."
    Os portugueses (incluindo tu) é que nao sonham o que a família nuclear significa para os suecos. Lá porque os suecos são menos efusivos do que os portugueses, não quer dizer que tenham laços familiares mais fracos. Só o demonstram de forma diferente de nós.

    Só para dar um exemplo de como a família (e os seus laços) tem importância na sociedade: quando se tem filhos pequenos, é perfeitamente normal sair todos os dias do escritório cedo (o mais tardar 4 e muitas vezes mais cedo) para os ir buscar - ninguém comenta ou olha de lado, como seria aí o caso. Os pais com filhos conseguem organizar o dia-a-dia de modo a que são eles que estão com os filhos nas tarefas diárias, e não precisam de depender de avós ou empregadas para estarem com os miúdos até se chegar a casa - como acontece tantas vezes em Portugal, em que muitas vezes se chega tão tarde que já são horas de os miúdos irem para a cama.
    Aliás o Estado social e as instituições suecas nem poderiam ter evoluído para o que são hoje, se a família e os seus laços não fossem tão fortes como são.

    Moro na Suécia há oito anos, tenho montes de amigos da nossa idade e nos quarentas com filhos, desde bébés a adolescentes, e sei bem do que falo. E não sou casada com nenhum sueco, por isso acho que consigo manter a independência nas minhas observações e comparações :-).

    Gosto imenso do vosso blog :-).
    Joana

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  5. João, sei perfeitamente o que quer dizer com diferentes personalidades das crianças. Tenho uma filha a quem devo ter dado 2 palmadas no rabo até hoje. Uma criança a quem, desde que explicássemos as coisas, obedece e compreende. Em ambas as vezes usei a técnica dos 3 avisos. Até hoje, numa situação crítica, digo o 1 e estamos entendidas. E depois tenho um Puto reguila a quem o 1,2,3 só serve para ele gritar não mais alto. A quem não interessam as explicações, porque ele quer. E se quer, quer. E se quer, e não pode, a única maneira de parar a birra ou a asneira é uma palmada na fralda/rabo... Uma mudança drástica na educação dos meus filhos... mas necessária, infelizmente. Estou como tu, aguardo um workshop...

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  6. Meus caros:

    A questão é de que idade estamos a falar? Claro que concordo que com 8,9, 10 anos ou uma idade superior tudo isso de falar com eles resulte imenso e uma palmada poderá ser totalmente desajustada. Agora explicar a situação a uma criança de 2,3,4,5... acham que resultará? Nunca ouviram a célebre expressão "Há uma idade em que as crianças têm os ouvidos no rabo"? Claro que não estamos a falar de espancar os filhos!
    Acho que o que é preciso é ter-se bom senso!

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  7. Eu tenho uma menina de 15 meses e apesar de em quase tudo poder afirmar e (roam-se de inveja) é mesmo uma santinha..ser raro acordar a noite e fazer birras para comer.. também tem as suas ondas e também tem direito aos seus maus dias..e está mesmo naquela fase de testar, de ser teimosa e teimar em fazer as coisas que ela quer e mexer no que ela quer..o que ja me valeu valentes sustos(temendo pela sua segurança). o que quero dizer é basicamente o que o João ja disse..cada criança é unica mas quem me diz que nunca deu uma palmada na fralda nestas idades ate aos 2-3 anos que eles simplesmente ignoram deliberadamente o que dizemos..a serio...venham ensinar-me! eu considero-me muito calma e respiro fundo 3 vezes antes de ir ver os estragos e ralhar com ela..tento explicar..juro que tento.. e quando eu digo que Não se faz e ela estica o dedo e abana e diz não não não percebe perfeitamente que não se faz..e se viro as costas puff la está ela outra vez..é testar os limites e eu também tenho os meus...a palmada não educa... também não acredito que o "oh querido o menino não faça isso sim?" tenha grandes resultados.. é algures um meio termo...
    Mary

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  8. Há crianças a quem dizemos não e elas ficam sossegadas e obedecem. Outras há a quem dizemos "não" 40 vezes e elas ainda assim voltam a insistir na asneira e pior, com cara de gozo e desafio. Acho as teorias nórdicas e a psicologia positiva muito bonita mas na maior parte das vezes não são aplicáveis. Dependendo da idade dos miúdos e da gravidade da situação - algo que as coloque em perigo por exemplo, deve ser primeiro repreendido e explicado - mas se insistirem no erro, aí mais vale uma palmada do que um ferimento sério. Não dou palmadas por causa das birras. Nesse caso, normalmente aplico a técnica do "vai para o quarto fazer a birra e acalmar-te" e corre bem.
    Tenho medo desta geração de crianças cujos pais acham (como li em alguns comentários) que o uso da palmada poderá "traumatizar" ou levar a "bullying". Os míudos têm de ser frustrados , tem que se lhes dizer "não". Alguns acatam a palavra outros precisam de um reforço. Quem não souber dizer não, seja pela palavra ou com uma palmada vai ter muito mais do que um adolescente traumatizado. Vai criar uma criança egoísta, sem noção dos limites e sem qualquer tolerância à frustração.

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  9. Comentei no post anterior que tinha 2 filhos e também utilizava a técnica da palmada, que é tanto ou mais eficaz que com o tempo já nem é necessária, basta o aviso de que a vou aplicar se a asneirada que acontece não se corrigir imediatamente e, normalmente funciona. Isso, acompanhado dos célebre "1, 2, 3", precedido do nome da criança.
    Nas idades dos 2, 3, 4 os miúdos estão a testar os limites de tudo, sobretudo dos pais e experimentar a sua independência. Há limites que se explicam e outros que se demonstram. Não há explicações que funcionem (ainda que devam existir sempre porque as coisas repetidas muitas vezes ficam naqueles micro-discos-rígidos) em miúdos de 2 anos, por exemplo (ou mesmo de 1, quando tentam bater com coisas em cima da mesa da sala), mas para obter alguns efeitos mais rapidamente, sobretudo em coisas que compliquem com o dia a dia, nada como uma palmada ou a sua ameaça para acelerar o processo de aprendizagem.
    Só um apontamento quanto à questão dos suecos e a propósito de um comentário de um leitor, recomendo a visita ao site www.pop.pt e comparem os dados relativos ao dever de amar e respeitar os pais na suécia e cá e vejam: http://www.pop.pt/pt/grafico/a-familia/dever-de-amar-e-respeitar-pai-e-mae/pt-se/?colors=se-1%7Cpt-0.

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  10. Quando soube que estava grávida da minha filha fiz-lhe uma promessa (ingénua): ia tentar nunca perder a paciência com ela.
    A promessa não é difícil, dado que - mais velha de 3 filhos, com dois irmãos que me faziam a vida negra - sempre me treinei para controlar os nervos, as emoções, etc. Sou uma pessoa calma, não porque sufoque a irritação mas porque consigo - fruto desse treino - colocar as coisas em perspectiva. Mas, sinceramente? Preferia ser do tipo de explodir de vez em quando :)
    Seguindo em frente: a minha filha tem 3 anos, e até agora nunca lhe dei uma palmada. Não coloco a ideia de parte, simplesmente ATÉ AGORA tem sido possível educá-la sem recorrer a isso: explico, mostro, ainda que ela não perceba tudo o que digo percebe que há um motivo para eu não permitir certas atitudes e percebe - PERFEITAMENTE, e por agora - quem manda em casa: o pai e a mãe.
    Neste exercício de "não palmada" teve de aprender muita coisa à sua custa: queria mexer no saca-rolhas, fez birra; peguei no dito, piquei-lhe (de forma muito muito leve) a mão, e ela percebeu o significado de "dói". O mesmo com as gavetas: insistia que havia de as abrir e fechar, eu dizia não, não não. Um dia deixei que entalasse o dedito (numa gaveta vazia) e aprendeu que a mãe tinha razão :)
    De certa forma, são palmadas sem ser palmada. Ela vai aprendendo os limites, a razão do não, e assim se vai levando a coisa. Faz as suas birras, eu respiro fundo, a braço-a, digo que gosto muito dela MAS que isso que ela quer não pode ser. E ela acalma, e respira fundo, e segue em frente. É natural que não entenda o porquê, mas sabe um porquê.
    Ah! - e também ainda não foi preciso levantar a voz: reparei um dia que quanto mais alto falava mais alto ela respondia, pelo que desde então a cara séria e o "não!" firme têm resolvido as crises.
    Mas isto sou eu, e a minha filha. Os nossos temperamentos. Só nós duas e o pai. Quando tiver irmãos e a estrutura familiar se alterar, de certeza será diferente; quando a explicação deixar de funcionar, de certeza que levará uma palmada no rabo.
    Para já, vamos assim: pela conversa, pela explicação. Quando for necessário - e sobretudo LEGÍTIMO - usar outro tipo de persuasão, usarei sem remorsos ou peso na consciência... espero :)

    Ana MAria

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  11. João, aplaudo o seu post. É isso mesmo. E quanto à questão das famílias mediterrânicas, isso é mesmo assim e não poderia estar mais de acordo. Não vivi na Suécia mas tenho grande parte da família aí pela Europa fora e que integra diferentes nacionalidades. Que me perdoe o comentário da habitante na Suécia, que felizmente conhece bons exemplos, mas a regra não é essa. Efectivamente, os que cresceram nesses sítios e são filhos de nacionalidades mistas são pessoas completamente diferentes e muito mais individualistas em termos de AFECTOS. E subscrevo, João Miguel - venha o estado social, mas a nossa vivência familiar prefiro-a sem qualquer sombra de dúvida.

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  12. João, acho que me revejo totalmente no seu post. Tenho um menino de 5 e uma menina de 3 e é verdade que o primeiro levou mais palmadas que a mais nova, mas acho que todos os pais interessados com a educação dos filhos, tentam melhorar as atitudes com o passar do tempo. Também tive a tarefa facilitada a partir dos 3 anos com o mais velho pois bastava ameaçar que lhe tirava o Ipad e era remedio santo. Já sei que se vão levantar vozes contra o uso das novas tecnologias em crianças tão pequenas mas sempre é melhor que algumas palmadas. Agora o que me vale é a ameaça que não vai ao treino de futebol e com a mais pequena basta apagar a tv. Serão correctas estas ameaças? se calhar não, mas com a minha familia funciona e não acho que os meus filhos tenham algum tipo de problema psicológico derivado destas ameaças. O que é válido e funciona na minha familia poderá não ser o melhor para outra familia, mas umas palmadas quando proporcionais às asneiras e aplicadas na altura certa são um correctivo como qualquer outro. Noto que grito muito mais com a mais pequena do que gritava com o mais velho e também estou a tentar melhorar neste aspecto, pois sei que não é o melhor método mas ninguém é perfeito, e quem for que faça um workshop se faz favor!

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  13. Eu continuo a achar que uma palmada no rabo, na hora certa, não faz mal a ninguém!!!
    E quando digo palmada, não é um espancamento, é uma palmada, uma sacudidela de pó, como costumo dizer...
    Só em tom de reparo, é por causa destas coisas (ah e tal nao devemos dar uma palmada que é logo violência) que muitos miudos de agora estão como estão...não obedecem aos pais, nem aos professores...e mais não digo...eduquem-se os pais!

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  14. Bom dia
    Pois bem...o meu marido NUNCA bateu no meu filho mais velho e já deu duas palmadas na mão do meu mais novo (em 5 anos de existência). E o meu Pai NUNCA me bateu. Ups, alguêm vai ganhar um prémio...E no entanto, no caso do meu marido, basta ele abrir os olhos que é ver os rapazes em sentido...

    Eu também não tenho o hábito de lhes bater, mas grito, ah se grito...E não gosto de ver pais a baterem nos seus filhos...deixa-me arrepiada. E ainda mais arrepiada fico quando oiço médicos/pediatras/etc, a defenderem a palmadinha na TV.

    O conceito de palmadinha não é igual para todos nem interpretado da mesma maneira por todos. É preciso cuidado. Até porque a mão de um homem no rabinho duma criança não tem o mesmo impacto de uma mãe. E às vezes, quando estamos mais enervados a mão solta-se...

    Uma coisa é certa, e disso não abdico. Eles têm que perceber que quem manda lá em casa são os Pais. E isso pode ser conseguido de outras formas. Dou um exemplo prático. Mando-os sentar no sofá a pensar e a reflectir no que fizeram de mal durante algum tempo...(eles acalmam e eu também). E quando há mais gente em casa, levo-os para o quarto e converso em privado.

    Mas atenção, cada um educa como entende, pode, defende, etc...não faço juízos de valor...mas realmente não gosto da palmadinha e tenho me dado bem neste longo caminho que é a educação dos nossos filhos!!!

    Eu tenho como a idade em que eles começam a entender e a pôr em prática os 500 NÃOS que lhes ditamos diariamente, aí apartir dos 5 anos (pelo menos lá em casa foi assim :)

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  15. Também quero elogiar os comentadores, que estão a fazer um debate muito enriquecedor sobre um tema que é civilizacional e simultaneamente muito pessoal, porque põe cada um de nós e também os nossos próprios pais em cheque.
    Quanto a este post, e seguindo os mesmos pontos:

    1. Workshops: parece-me que a comentadora "Mom's the boss" era capaz de fazer isso. Se há realmente interesse, talvez fosse boa ideia falar com ela.
    Quanto às tomadas eléctricas: na IKEA vendem-se umas tampinhas muito baratas para espalhar pela casa toda. Não admira que na IKEA haja muitos produtos para protecção das crianças: como é proibido bater nos bebés, a sociedade teve de arranjar outras maneiras de os proteger dos perigos.

    2. Inteiramente de acordo: as crianças são todas diferentes. Até há as que nem à pancada aprendem. E a essas, o que se faz?

    3. Sobre esse estudo que afirma que bater às crianças não as traumatiza e até é bom para elas:
    - É verdade que se numa sociedade determinado comportamento é normal e aceite por todos, as crianças ficam menos traumatizadas. O problema é que em Portugal já não é tão aceite por todos que se bata nas crianças. Pelo contrário - até é proibido por lei.
    - No fim do artigo, sugere-se uma hipótese para explicar os resultados estatísticos (que mostram que as crianças que foram educadas sem castigos corporais não têm melhores resultados que as outras): estas crianças serão provavelmente filhas de pais que têm problemas com a sua própria autoridade, e "passam a vida a reinventar a roda". Ora, nós não estamos aqui a discutir a escolha entre educar e não educar, mas entre educar com ou sem violência física.
    Acredito que é possível educar sem violência física, e mais: a partir do momento em que os pais põem esses métodos "pedagógicos" de parte, mantendo contudo as certezas quanto à sua autoridade e à necessidade de serem firmes, encontram facilmente outras maneiras de continuarem a cumprir o seu dever de educadores.
    O problema é que a vida profissional muitas vezes exige tanto aos pais que estes acabam por não ter o tempo, o distanciamento, a calma e a paciência para educar os filhos sem recorrer à palmada. Há aqui uma situação delicada: por um lado, não incutir sentimentos de culpa aos pais a quem a mão às vezes escorrega; por outro lado, não aceitar que a palmada seja um método pedagógico aceitável, só porque os pais não têm tempo nem energia para usar outros métodos.

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  16. (continuação)

    Quanto à minha tese de haver países mais avançados em termos de civilização e educação: de um modo geral, penso que um país cujas famílias e escolas conseguem educar as crianças sem recorrer à violência física é um país mais civilizado que os outros. Com a tónica na palavra "educar". É óbvio que cada sociedade tem uma noção diferente de educação, mas o que se tem visto é que é possível manter os parâmetros educacionais dessa sociedade mesmo sem recorrer à violência física.
    Se falei da Suécia, no caso concreto do post anterior, foi porque, depois de ler tantos comentários afirmando que as crianças precisam de apanhar e é impossível educá-las sem lhes dar uma ou outra palmada, me lembrei do país que tem mais longa experiência em educação não violenta, já que esses métodos foram proibidos em 1979. Teoricamente, os suecos com menos de 34 anos foram todos educados sem palmadas. Não me consta que se tenham tornado um povo muito problemático (ou mais problemático do que já era). Pelos vistos, é possível educar sem bater.
    Em relação aos Estados Unidos: conheço o país de ter vivido lá, e não pela televisão. Claro que só conheço aquilo que eu própria vi, mas sempre é melhor que tentar perceber os EUA pela tv - também ninguém se lembraria de tirar conclusões sobre Portugal a partir do Jornal do Crime. O que vi, na escola dos meus filhos, foi uma mesa chamada "peace table" com duas cadeiras, nas quais os miúdos, mesmo os de 3 anos, se sentavam frente a frente para resolver os seus conflitos com palavras. Também vi uma criança de 6 anos que, por bater noutras e não saber resolver o assunto na Peace Table, levou como castigo escrever cem vezes "I will use my words instead of my hands".

    4. Era boa ideia ler as definições portuguesas de "violência doméstica" (o artigo 152 do Código Penal português não distingue entre mulheres, filhos ou pais - junta-os em igualdade de circunstâncias no artigo sobre "violência doméstica"; não vi lá nada sobre uma "violência moderada", no que diz respeito às crianças) e já agora a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, (nomeadamente os artigos 5º, 19º ("proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental"), 26º, 29º (para além do direito a uma educação não violenta, o direito a uma educação de qualidade).

    Para terminar, um ponto extra: a quem pensa que as crianças pequeninas não entendem, e que até aos n anos não vale a pena falar com elas, etc., recomendo a leitura de:
    - livros de Thomas Gordon, com exemplos de casos práticos para resolver conflitos sem humilhar as crianças;
    - livros da Françoise Dolto sobre o extraordinário poder da palavra. Comprei em Portugal há muitos anos um livro dela chamado "Profissão: pais", que tem um índice remissivo para os temas ("palavrões", "chichi na cama", "agressividade", etc.). Não dá receitas, mas ajuda a entender porque é que a criança tem determinado comportamento.
    Também podia contar da minha própria experiência. Por exemplo quando deitávamos a bebé na caminha, ao fim do dia, e ela começava a palrar e a chamar. O meu marido ia ao quarto e dizia calmamente: "O teu dia chegou ao fim. Agora é a hora de tu dormires para o pai e a mãe conversarem um com o outro". Ela calava-se, e dormia a noite toda. Parecia-me um milagre, mas entretanto já ouvi histórias semelhantes a outros pais.

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  17. Sorry, só mais este acrescento: Quando referi o limite de idade 5 anos, quis dizer o seguinte: até essa idade eu acho (e não sei se isto tem algum valor científico, isto é apenas a ciência de mãe) que eles andam em busca do mundo, a explorar o mundo e é sinal que são inteligentes :) Não acho que o façam para nos testar...nada disso. Por volta dos 5 já os podemos responsabilizar dos seus actos e das suas consequências e começar, aí sim, a exigir mais deles. É apenas nesse sentido. E tb. utilizo a técnica do 1,2,3 (que nem sempre funciona...)Mas sem dúvida que é preciso quilos e mais quilos e ainda mais quilos de paciência...muita :)
    Mas repito, fazemos o que podemos, o que sabemos e o conseguimos. E eles crescem felizes na mesma.

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  18. O meu comentário não ia no sentido de que não é possível educar sem bater - mas de que não me parece que o bater no sentido de que aqui se está a falar traga problemas para as crianças. Também sobre isso, castigos corporais ou violência corporal parecem-me termos exagerados para o que se está a falar aqui...
    Por outro lado, tocou aqui noutro assunto importante. O facto das crianças poderem bater umas nas outras. Nas realidades portuguesas a que assisto parece-me que é bastante importante que a criança se aprenda a defender (não atacar, defender!) - fisicamente - das outras. Quando não o sabem fazer, isso sim, parece-me uma situação causadora de problemas que até poderão ter consequências graves no futuro. Por outras palavras, não estou a ver que por aqui a "peace table" resolvesse esse tipo de problemas sem essa iniciativa por parte das crianças - embora me pareça uma abordagem interessante, obviamente pare ser acompanhada por educadores. Também neste particular há casos e casos: se um dos meus filhos teve que aprender a defender-se fisicamente de quem o chegou a agredir (e esses problemas ficaram resolvidos a partir desse momento), outro tinha a iniciativa de bater primeiro... e esse claramente teve que ser desencorajado a tomar esse tipo de atitude (com muita e calma conversa).
    Já agora, e depois de tanta prosa que já troquei sobre este assunto queria relembrar que no meu primeiro comentário disse precisamente que preferia - e achava mais eficaz - a abordagem "negocial"; e que terei dado muito, muito poucas palmadas nos meus filhos, sendo que na maioria dos casos os presentes, se as sentissem, poderiam achar que estavam mais próximas de festas que de palmadas: a diferença terá estado mais na oportunidade do que na intensidade, se me faço entender.

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  19. Força, João! Estou consigo e com as palmadas. Ocasionais e com um bom fundamento, para sacudir o pó e não para deixar marcas, e para marcar posições verdadeiramente importantes.
    Não há, nem me parece que seja suposto ou saudável haver equilíbrio de forças entre uma criança e um adulto. As crianças precisar de ter quem as guie, quem as cuide, quem lhes mostre o caminho e quem lhes barre os comportamentos anti sociais ou mais primários. Precisam de ter alguém mais forte que elas - a todos os níveis - que as acompanhe o guie na descoberta do mundo mas, também, lhes mostre os limites e as ensine a lidar com as frustrações.
    Não advogo a palmada como método educativo, mas que ela é de extrema utilidade, é. Particularmente quando eles são muito pequenos, e a dialética é absolutamente inútil nos casos mais extremos. Ah ... a propósito disso, acho que não há idade limite, mas sim comportamentos limite. Dei pouquíssimas palmadas à minha filha durante toda a sua vida, mas a última que dei terá sido por volta dos seus 18 anos, porque resolveu que me podia bater com a porta na cara. Foi só um lembrete, mas convém não esquecer que o respeito mútuo é bonito e recomenda-se, em qualquer idade. Ela tem hoje 26 anos, e continua a ter comigo a relação fantástica que sempre tivemos, palmadas aparte ;)

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  20. Viajante,
    a Peace Table era um modo de comunicação e resolução de conflitos inventado pela directora da escola dos meus filhos em San Francisco, que era húngara, viveu os horrores da II GM, foi aluna do filho da Maria Montessori, e acreditava que é possível mudar o mundo para melhor se habituarmos as crianças que a violência não é nunca uma maneira de resolver problemas.
    Pode ler mais (infelizmente há pouco material sobre isso) googleando por Ursula Trush Peace Table.
    Por exemplo: http://www.bcmontessori.org/programs/peace.asp
    Claro que isso se faz com o apoio da educadora ou da professora.
    Aquela escola era extraordinária: havia mais de 25 crianças na sala infantil (2 aos 5 anos), cada uma a fazer uma coisa diferente, e todas elas concentradíssimas no que estavam a fazer. Não havia barulho desagradável, muito menos gritos ou empurrões. A educadora dizia com uma voz segura e calma "we don't do this", e os miúdos não faziam. Impressionante.
    Sobre saber defender-se: curiosamente, o meu filho (que não reconhecia a ninguém, nem aos pais, o direito de lhe "sacudir o pó") (mas de quem todos dizem que é extremamente bem educado, diga-se de passagem) recusava-se pura e simplesmente a defender-se recorrendo à violência. Quando lhe dissemos "bate-lhe também" respondeu "eu não sou desses". As coisas resolvem-se sempre, claro: telefonei ao pai da miúda que lhe andava a bater.
    Também sei que há uma diferença enorme entre "sacudir o pó" e "dar uma tareia". Mas penso que essa diferença é mais de grau que de substância.
    E também "sacudi o pó" aos meus filhos algumas vezes, e senti isso sempre como um fracasso - como se dentro de mim tivesse vencido a força em vez da inteligência.

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    1. Compreendo. Contudo acho extremamente importante que se consigam defender - idealmente sem "violência" (mais uma vez acho o termo exagerado para umas trocas de chapadas entre crianças, não me estou a referir a situações extremas). Quanto ao meu filho mais velho num dos primeiros dias na escola primária vi dois miúdos a meterem-se com ele aos pontapés, ele a chegar junto deles, olhá-los nos olhos e sem medo, e a dizer alguma coisa que os fez parar a afastar. Assunto bem resolvido, portanto.

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  21. Sempre fui apologista do não bater, mas sim de conversar, ralhar e castigar se necessário, mas não fundamentalista a ponto de achar que uma palmada não pode ser dada. Tenho conseguido seguir estas ideias, mas com consciência de que só é possível pela criança que tenho, que tal como o Tomás, fica muito mais sentida ao ralhar do que com uma "sapatada" na mão ou rabo e fica mesmo triste ao ver que ficámos desapontados com o comportamento.
    Conversar, explicar tem resultado, na maior parte das vezes, com a minha de 4 anos, não só na situação da punição, em todas. Além dos castigos, contam-se pelos dedos das mãos as vezes que lhe dei uma palmada.
    Agora ralhar e berrar, mea culpa, mais do que queria. A teimosia, a birra despropositada, tira-me do sério e nem sempre tenho paciência. Sei que se batesse apenas descarregava instantaneamente a fúria... Melhor? Pior?

    Aquilo que é comum em todos os comentários é que todas as crianças são diferentes e também assisto a isso. Até os irmãos são diferentes. Logo cada pai e mãe procura adequar ao que acha que resulta.
    Por isso, considero que algumas generalizações que foram feitas, que são todos mal educados, por culpa dos pais, são isto e aquilo, são excessivas (então considerar isso a causa de todos os problemas nas escolas é muito redutor).
    Comum também é o facto de se notar que a maioria dos pais tenta outras vias antes da palmada.
    Têm que existir limites, regras, educação, respeito, valores, mas a questão é como é que são transmitidos.
    Como ninguém aqui defende o espancamento, nos casos das palmadas não vão prevalecer, na minha opinião, os traumas, porque um lar é muito mais que uma casa de horrores e os putos não estão 100% do tempo a prevaricar. Existe o lado mais importante, os exemplos, o afecto, os carinhos, o mimo, o sentirem-se amados e respeitados. Os valores também se aprendem por aí e é isso que espero que prevaleça na mente da minha filha.

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  22. Esqueci-me de dizer, antes de ser mãe é que tinha teorias...! Tudo água abaixo! Por isso livros, estudos, profissionais ajudam, sim, mas não dá para seguir à risca.

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  23. Quanto aos povos que não mandam uns cascudos nos filhos (será) pergunto me como canalizam a frustração e a agressividade na relação com os filhos. É que se nao sai na forma de uma palmada sai de outra forma qualquer. Se calhar na forma verbal (mas quem me mandou ter filhos, nao devias ter nascido, tu nao prestas. ..) porqque nao acredito que toodo o sueco tenha uns nervos de aço para aguentar as tretas todas dos filhos. E quando a paciencia se esgota, de certeza q a agressividade dos pais salta. Pode nao ser numa palmada fisica mas se calhar é psicologica. ..

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