segunda-feira, 29 de julho de 2013

Quatro vezes um filho

Esta é a primeira vez que passamos férias em família com quatro miúdos, e à saída de Lisboa a nossa Sharan estava num estado inacreditável. Não cabia uma agulha no porta-bagagens. Por um lado, tive imensa pena da Teresa ao vê-la organizar as malas todas - vamos estar 20 dias fora de casa, e aquilo são autênticos trabalhos forçados. Por outro, tive imensa pena de mim, por ter subido e descido o meu prédio 32 vezes para enfiar 437 objectos no carro. Os números talvez sejam um pouco exagerados, mas demorei para cima de hora e meia, e pelo simples facto de eu ter conseguido fechar a porta da bagageira merecia que me fosse atribuído um doutoramento honoris causa em Tetris por uma universidade da Ivy League.

Mas claro está, dito isto e tendo eu elogiado a capacidade organizativa da minha excelentíssima esposa, devo dizer que ela nunca simplifica coisa nenhuma. A Teresa está sempre preparada para ter de sobreviver três meses sem água nem alimento se o apocalipse desabar sobre nós. No final, sobre a Terra restarão apenas a família Mendonça Tavares e as baratas. Bom, mas o que interessa para aqui é que a certa altura olhei para o material da praia e vi seis baldes de praia. "Seis baldes de praia?", perguntei eu. Sim, seis baldes: quatro para nós, mais dois para o Daniel e para o Ben, os filhos da maninha dela que chega da Irlanda. E olhem que nós nem sequer vamos para a praia. É só para brincarem numas praias fluviais da Beira Baixa, que nem areia têm. Ah, que tamanha capacidade para amar o próximo - geralmente à custa da minha sanidade mental.

É que, infelizmente, a excelentíssima esposa tem um problema: ela ainda não percebeu que tem quatro filhos. A sério. Eles saíram todos da sua magnífica barriguinha, mas ela não reparou nisso. E, portanto, a Teresa não age como tendo quatro filhos. A Teresa age como tendo quatro vezes um filho. O que não é, de todo, a mesma coisa. Ter quatro filhos, é ter quatro filhos. Simplifica-se, desenrasca-se, eles tomam contas uns dos outros, e está a andar. Ter quatro vezes um filho são para aí 12 filhos; é como se cada um fosse um filho único muito mimadinho, mas quatro vezes. Ou seja, é uma loucura todos os dias. Quando chega a altura das férias, então, só quero que me internem num hospício. No preciso momento em que escrevo, já estou doido e as férias ainda mal começaram. Durante os próximos 20 dias, se virem passar o Napoleão, já sabem: sou eu.


8 comentários:

  1. Percebo o ponto de vista do João, mas também percebo o da Teresa. Podem muito bem partilhar os baldes entre eles, não é preciso haver um balde para cada criança, é lógico... Mas, por outro lado, havendo um balde para cada um, evitam-se as guerras por causa dos baldes... Será? É que, a não ser que os baldes sejam todos iguais, pode haver sempre guerra pelo balde maior, ou mais giro, ou...

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  2. Eu só tenho 3 filhos, também não tenho um carro tão grande como um Sharan. Ainda por cima...vamos tambem 20 dias de férias, mas acampar, o que implica levar tenda, 5 cadeiras uma mesa, um fogareiro, panelas, pratos, copos....5 sacos camas 5 colchões...
    E por isso nestes ultimos anos especializei-me na arte de simplificar...
    Patricia

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  3. ó senhor pai, poramordedeus, se entrou nessa dos quatro, agora obedeça à mãe que ela é que sabe e m'ainada! deixe-se de fricotes que é um gajo feliz à brava e faz-de-conta-que-não-sabe-quando-dá-jeito! rejubile por aí com a sua Josefine e pensem é em regressarem mais-ou-menos-de-vez à Beira, terem um casarão com quintal, árvores de fruto e cães (e gatos e aves e até, talvez, um burrico), a mamã, que é médica, escreve um livro sobre as peripécias na província (com ou sem ghost writer) e somos todos felizes para sempre.
    Boa?

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  4. Ora então, como é que eu vou explicar isto... nós por cá somos só 4 (2 adultos + 2 crianças) e vamos passar férias a casa dos avós, com acesso (obviamente) a máquina de lavar roupa, cozinha, etc... A verdade é que o meu marido ralha tal e qual: parece que levas a casa toda atrás, já não cabe mais nada no carro, etc e tal... Das duas uma:
    1. Eu realmente levo tralha a mais... (pouco provável...)
    2. Ele anda a queixar-se de barriga cheia!

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  5. Eu também tenho quatro, dois são gémeos e ainda pequeninos, o carrinho deles ocupa a bagageira toda. Por isso, não levo balde nenhum, e nós vamos para a praia. Conseguir levar roupa já é um milagre. Vai uma pá e umas cenas insufláveis, e os filhos mais velhos que reclamem no turismo, se quiserem.

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    1. Ora aqui está uma boa análise!!!
      Sou filho de um casal com três filhos, rapazes, e lembro-me que até 1988, tinha eu já 17 anos e sou o mais novo, viajáva-mos de VW Carocha 1500. Naturalmente que era colocada uma grade no tejadilho para poder levar mais qualquer coisa. Já naquele tempo tudo parecia demasiado....mas não era e, as observações do meu pai eram iguais às de hoje. Faz parte.

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  6. Confesso que em férias simplifico de outra forma. Baldes e tralhas dessas (incluindo as coisas de higiene das crianças) compram-se no local de férias e lá ficam de um ano para o outro. Era o que me faltava acartar esse tipo de coisas. Já no resto, há máquinas de lavar (roupa e loiça), por isso não preciso de muitas coisas. Assim como assim, andam sempre de calções de banho e t-shirt, por isso... Só levo alguns brinquedos e livros que sejam fáceis de transportar. Sem prejuízo, e como tenho um labrador que me ocupa metade da mala de um monovolume, a nossa bagageira também vai a abarrotar. (A ração do cão também se compra lá, era o que faltava andar a levá-la de Lisboa!).

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