domingo, 28 de julho de 2013

166

Hoje é um dia especial, porque foi o último em que assinei a página "Os Homens Precisam de Mimo", na revista Domingo do Correio da Manhã. A partir de agora, os escritos sobre a família vão ser exclusivos do Pais de Quatro. Na primeira metade do próximo ano, se tudo correr como previsto, lançarei as crónicas do CM em livro. Eis o meu texto de despedida:

Ilustração de José Carlos Fernandes 

Embora os homens continuem – hoje, como sempre – a precisar de mimo, esta é a minha última crónica para o ‘Correio da Manhã’. Nestas ocasiões, os colunistas costumam sair meio acabrunhados, deixando um agradecimento aos editores (obrigado Fernanda, obrigado Paulo), umas indirectas aos directores (não há necessidade), e tchau, adeusinho, até nunca. Contudo, esta página aos costumes sempre disse nada, e por isso invoco o direito à diferença para, em vez de me queixar, celebrar o número que encontram no título: 166.

Durante 166 semanas, sem excepção, eu tive o privilégio de fazer da minha família e dos meus estados de espírito matéria de crónica, trazendo para aqui dúvidas, angústias, tristezas, incertezas, alegrias ou descobertas, cujo destino natural seria ficarem confinadas às paredes da minha casa – ou nem isso, porque nós, gajos, partilhamos tão pouco, que o mais provável é que tudo ficasse confinado às paredes da minha cabeça, acabando por se perder nos caminhos esconsos da memória, sempre tão selectiva.

Nesse sentido, esta página, e esta minha atitude rara (reflectir sobre a vida pessoal ainda é um hábito pouco comum entre os cronistas portugueses), teve uma dupla intenção: fixar histórias e perplexidades à medida que os filhos iam crescendo, para que o esquecimento não desabasse sobre elas; e partilhar aquilo que se ia passando na minha vida, porque somos todos mais parecidos uns com os outros do que provavelmente gostaríamos.

O resultado superou em muito as minhas expectativas. Destas crónicas nasceu um livro bem-sucedido e nasceram centenas, milhares de mails, mensagens, abordagens na rua, sempre com uma simpatia e uma generosidade que estou longe de merecer. Foram essas reacções que me provaram estar no caminho certo, quando no início duvidava se deveria fazer isto, se não seria uma exposição excessiva da minha família, se não pareceria ridículo. Só que aos poucos, em torno de ‘Os Homens Precisam de Mimo’ nasceu uma comunidade de leitores fiéis – e isso é o máximo a que um cronista pode aspirar.

Permitam-me um derradeiro abraço ao meu amigo José Carlos Fernandes, que por 166 vezes tornou as minhas crónicas melhores com as suas óptimas ilustrações. E reservo uma última palavra para si, caro leitor, que me leu semana após semana: acredite que aquilo que você me deu é bem mais do que aquilo que lhe dei a si. Muito, muito obrigado.

12 comentários:

  1. Fico contente pelo livro. Conheci os seus textos no "Diário de Notícias" e alguns deles usei-os nas aulas para grande alegria dos meus alunos e para minha satisfação que tinha matéria interessante para explicar as crónicas e promover a leitura recreativa. Depois, o João "passou-se" para o "Correio da Manhã" e lá passei eu a acompanhar o meu marido ao café para ler os textos que se perdiam entre notícias de faca e alguidar e meninas em trajes reduzidos. Até que Deus o iluminou e abriu este fantástico espaço. E agora?
    Ainda bem que nos tranquilizou e mantém o cantinho da família. Já nos afeiçoámos aos seus "índios" (não é pejorativo, mas recordo uma crónica sua deliciosa...) e seria triste não continuar a vê-los crescer.
    Um abraço para si e para a família.

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  2. O meu comentário sincero é: ainda bem que criou, com a Teresa, o Pais de Quatro, porque só aqui passei a conhecer a vossa simpática família. Nunca li a coluna no CM.

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  3. Olá,JMT. Acredite que,quando o descobri,comprava o referido jornal, só ao domingo, para ler as suas crónicas. Lamento que alguns leitores percam, a partir de agora, a oportunidade de acompanhar as tropelias da sua tão comum e maravilhosa vida familiar. Quanto a mim, vou continuar por aqui, aguardando que esteja qualquer "coisa" escrita por si, à minha espera, cada vez que ligo o meu pc.Obrigada pela sua "generosidade" em partilhar connosco, de forma tão genuína, as suas reflexões que também nos ajudam e, por vezes, obrigam a reflectir ! Bem hajam.

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  4. JM
    Muitos Parabéns pela escrita e pelo arriscar algo de novo!!
    Parabéns tb à Teresa que desde sempre valorizou os teus escritos!!
    Vou também acompanhando por aqui! Gosto muito!
    Bjinhos!

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  5. A minha mãe que já tem 79 anos e não sabe movimentar-se nestes meandros de blogs e afins mas que assim que o meu pai chegava a casa depois de comprar O Correio da Manhã se levantava de propósito para ler a sua crónica... manda dizer que está "zangada! consigo.
    Eu também estou zangada e por isso não há vírgulas para ninguém. Se fizermos as duas birra...adianta alguma coisa.

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  6. Quando morava em casa dos meus pais lia a sua crónica no CM (e só por ela perdoava ao meu digníssimo papá o facto de comprar tal jornal...).
    Já saí de casa dos meus pais... mas o meu pai, todas as semanas, guarda o print da sua crónica para me trazer, à segunda ao final do dia, quando cá passa para dar um abraço à filha caçula :)

    Obrigada por todos estes momentos :)

    Ana Maria

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  7. Oh João :( não pode continuar a escrever a crónica e publica-a aqui?

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  8. Olá JMT!
    Leio-o há muito...e aquilo que não li no CM, li no seu (meu) livro! Adorei, ri, diverti-me e ansiei sempre pela semana seguinte!
    Hoje, é com pena que leio que não vai continuar a publicar no CM mas anseio que continue por aqui, na blogosfera, a escrever e a partilhar o seu dia-a-dia, e da sua família! São momentos divertidos e que, ao mesmo tempo, nos fazem refletir e revermo-nos!
    Parabéns, boas férias...e cá o(s) aguardo!!!

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